quarta-feira, 13 de março de 2024

OS MONSTROS SÃO PESSOAS COMUNS

Cena do filme

Sim, assisti ao filme "Zona de Interesse"! Sim, acompanho diariamente na internet o genocídio em Gaza! Sim, leio todos os dias em diversos sites sobre os ataques da invasão russa!

E observo também, nos telejornais brasileiros, a proteção excessiva ao governo de Israel. Vejo o comandante das Forças Armadas Israelenses fazendo pronunciamentos sóbrios e comedidos, sempre com uma expressão natural. Assim como testemunho o ministro das Relações Exteriores de Israel, de maneira jocosa e irresponsável, criar piadas - os chamados memes - contra o presidente brasileiro Lula.

Tudo isso acontece com uma aparente tranquilidade!

Exterminar um povo, diga-se de passagem, não é privilégio exclusivo dos nazistas ou dos sionistas. No passado, com as bênçãos do Papa devasso Alexandre VI, os espanhóis católicos exterminaram as civilizações Araucana no Chile, Inca no Peru e Asteca no México. A única exceção foi a Maia da América Central, que já havia desaparecido da face da Terra.

Mas sim, assisti ao filme "Zona de Interesse". Confesso que fiquei intrigado com o título desde domingo, quando este filme ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2024 e o Oscar de Melhor Som de Johnnie Burn e Tarn Willers.

Em polaco, intitulado "Strefa Interesów", em inglês "The Zone of Interest" e em português tenho lido como "Zona de Interesse". Para mim, todos ambíguos, já que a divulgação do filme informa que se trata de uma família que vive além do muro do Campo Alemão Nazista de Concentração e Extermínio, na cidade polaca de Oświęcim, mundialmente conhecida como Auschwitz.

Cartaz do filme nos cinemas da Polônia

Fui encontrar no texto do jornalista polaco Łukasz Mańkowski, do portal onet.pl, a origem do título, "a 'zona de interesse' (do alemão Interessengebiet) que se referia à área de 40 km ao redor do Campo Auschwitz. Foi daí que, em 2014, o escritor Martin Amis escreveu um livro com o mesmo título.” 

Esse livro serviu de ponto de partida para o filme de Jonathan Glazer. O cineasta britânico buscou expressar sua visão sobre a crueldade do genocídio nazista ao reduzir a "zona" presente no título a imagens da vida cotidiana, apenas um registro trivial de uma determinada família privilegiada, desligada do mundo que existe ao seu redor.

O diretor Jonathan Glazer

O resultado do trabalho artístico do cineasta se traduz em sequências com um ritmo singular. Glazer, com a ajuda de uma centena de produtores e técnicos polacos, criou uma obra devastadora, vanguardista e, acima de tudo, penetrante. Sim, porque aquele andamento britânico de imagens calmas e belas, captadas pelo diretor de fotografia polaco Łukasz Żal, vai consumindo o espectador, que espera por um desfecho, no mínimo, violento.
Łukasz Żal

Apesar da estética marcante, do forte simbolismo e da constante tentativa de perturbar a área de conforto do público por meio de sons, ruídos, barulhos, gritos e latidos que ecoam ao longe, o filme é uma obra profundamente conectada ao presente.

Confesso que, durante a projeção, a vontade é sair da sala, pois aquele barulho surdo vai penetrando, incomodando...

- "O que estou fazendo aqui?"
- "Onde estão as imagens fortes dos crematórios, das câmaras de gás, dos fuzilamentos?"
- "Mas afinal, este não é um filme sobre o Holocausto?"

São perguntas que insistem em surgir na mente. E o diretor, com este filme aparentemente tranquilo, está fazendo uma acusação. Não apenas para os personagens do filme, mas para mim, para você que me lê.


A produtora polaca Ewa Puszczyńska

Ao retratar a indiferença do comandante alemão Rudolf Franz Ferdinand Höss e sua família diante do que está acontecendo atrás daquele muro de tijolos vermelhos, ele também está falando da indiferença de todos nós diante dos conflitos que assolam o mundo, como as mortes na Ucrânia e o genocídio de crianças, mães e idosos em Gaza.

O filme "Zona de Interesse" é apresentado como um drama familiar comum. A verdadeira mensagem emerge do que está em segundo plano, nos sons e na cuidadosa representação da banalidade do mal que o diretor encontra na dinâmica do cotidiano, na vida aparentemente comum dos monstros da humanidade.

Se não fossem os sons na abertura do filme, com o quadro claramente esticado e o título, não saberíamos que se tratava de um retrato cinematográfico do Holocausto.

Rudolf, Hedwig e seus filhos vivem próximos ao Campo de Concentração e Extermínio de Auschwitz.
 
O ator e cantor alemão Christian Friedel no papel de Höss

As paredes da casa dessa família alemã são literalmente as paredes da mais sinistra fábrica da morte. Enquanto o filme nos mostra crianças correndo no quintal verde, a esposa regando seu canteiro de flores, ou mostrando aos convidados o impressionante jardim que cultiva, também se ouvem sons surdos de sofrimento (tiros, gemidos, gritos) que ocorrem atrás daquelas paredes límpidas e claras. Não há nelas nenhum rabisco, mancha de mofo, ou sangue. Tudo é limpo e perfeito.

O horror está nos olhos de quem vê, amplificado pela música pulsante do compositor Mica Levi. Este é um filme que busca a irrepresentabilidade, ou seja, utiliza a linguagem cinematográfica para capturar o que parece impossível de apreender, impossível de transferir para a tela do cinema, da TV, ou mesmo para o pequeno espaço de exibição do telefone.
 
 A atriz alemã Sandra Hüller no papel de Hedwig Höss

O desejo evidente do diretor é retratar o holocausto em sons, a arrogância dos criminosos, a inconsciência e os motivos capitalistas por trás dos planos de extermínio.

A essência da "banalidade do mal", descrita por Hannah Arendt, é retratada nas sequências que enfocam o discurso sobre os negócios. Como na cena em que os nazistas estão discutindo os meios de melhorar o funcionamento do campo de extermínio para que o expurgo ocorra mais rapidamente e gere menos perdas econômicas para o Reich, ou naquela cena em que Höss ostenta o dinheiro que recebe por estar naquela zona de interesse.

Sem dúvida, este filme veio ocupar um lugar na atualidade, onde movimentos neonazistas, evangélicos pré-cristãos e sionistas dominam os discursos, as notícias e, em muitos casos, estão muito próximos de nós. Antigos amigos e familiares que, de uma hora para outra, se revelam como pessoas más, ignorantes e desconectadas do amor, onde só o ódio e a intolerância as movem.

Primo Levi escreveu: "Existem monstros, mas são poucos para serem perigosos. Os mais perigosos são as pessoas comuns que estão dispostas a agir sem fazer perguntas." 

SOBRE RUDOLF HÖSS

Ele nasceu em 1901 em Baden-Baden. Em 1929, casou-se com Hedwig Hensel, com quem teve 5 filhos.


Ele serviu, por quase dois anos, como comandante de Auschwitz. Ele foi um dos responsáveis por testar, e depois implementar, vários métodos de matança, entre eles a introdução do pesticida Zyklon B, para executar o plano de Adolf Hitler de extermínio.

Em 25 de maio de 1946, Höss foi entregue às autoridades polacas e para o Supremo Tribunal Nacional. Seu julgamento durou de 11 a 29 de março de 1947.


Em 2 de abril, foi sentenciado à morte por enforcamento. A sentença foi executada quando ele tinha 46 anos, no dia 16 de abril de 1947, na entrada do que fora o crematório 1 do campo de concentração e extermínio alemão nazista de Auschwitz I.


Texto: Ulisses Iarochinski

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Putin: Rússia não vai invadir Polônia ou Letônia

Foto: Gavriil Grigorov/AFP 

O presidente russo, Vladimir Putin, disse em uma entrevista exibida na quinta-feira (8/2) que a Rússia não tem interesse em invadir “a Polônia, a Letônia ou qualquer outro lugar” e disse que falar que Moscou poderia fazer isso seria espalhar ameaças.

Putin fez os comentários durante entrevista de duas horas com o apresentador de televisão norte-americano Tucker Carlson, gravada, em Moscou, na terça-feira (6/2).


Questionado se poderia imaginar um cenário em que enviaria tropas russas para a Polônia, membro da OTAN. Putin respondeu:
Apenas em um caso: se a Polônia atacar a Rússia. Por que? Porque não temos interesse na Polônia, na Letônia ou em qualquer outro lugar. Por que faríamos isso? Simplesmente não temos qualquer interesse.”

A entrevista foi realizada, em Moscou, na terça-feira, e transmitida no tuckercarlson.com. Putin falou em russo e seus comentários foram dublados para o inglês. O presidente russo começou com longos comentários sobre as relações da Rússia com a Ucrânia, com a Polônia e com outros países.

Segundo o Kremlin, Putin concordou com a entrevista de Carlson porque a abordagem do ex-apresentador da Fox News é diferente da reportagem “unilateral” sobre o conflito na Ucrânia feita por muitos meios de comunicação ocidentais.

Há em acredite que Carlson tem ligações estreitas com o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que está, no momento, pleiteando ser o candidato do Partido Republicano nas eleições presidenciais do próximo mês de novembro nos EUA. Trump apelou à desescalada da guerra na Ucrânia, que a administração Biden apoiou fortemente o governo do presidente ucraniano Volodymyr Żeleński, mas reclamou das centenas de milhões de dólares em ajuda enviados até agora àquele país criado, em 1922, por Vladimir Lênin.

Carlson disse que grande parte da cobertura da guerra pela mídia ocidental é tendenciosa a favor de Kiev.

As declarações de Putin, na qual descarta a ideia de invadir a Polônia ou a Letônia, "não têm qualquer credibilidade", considerou no dia seguinte, sexta-feira (9/2), o vice-primeiro-ministro e ministro da defesa polaco, Władysław Kosiniak-Kamysz.



Segundo Kosiniak-Kamysz, "a Polônia tem deveres a cumprir como Estado-membro da Otan e da União Europeia. A Polônia e as suas autoridades têm, acima de tudo, compromissos para com os seus cidadãos", disse ele.

A Polônia compartilha fronteira com a Ucrânia, país que a Rússia invadiu no final de fevereiro de 2022. Como resultado dessa ofensiva, Varsóvia empreendeu um plano milionário para reforçar as suas capacidades de defesa, ao qual atribui até 4% do seu Produto Interno Bruto (PIB).

"Façamos o nosso trabalho, preparemo-nos para situações diferentes, não podemos baixar a vigilância por nada, e palavras como essas, claro, não contribuirão para isso, muito pelo contrário", sublinhou Kosiniak-Kamysz perante a imprensa em Varsóvia.

Fontes: CNN e AFP

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Nova Embaixadora da Polônia em Curitiba

Nesta semana, a nova embaixadora da Polônia no Brasil, Sra. Bogna Janke está em Curitiba, cidade considerada a capital polaca da América Latina.

É a primeira vez que ela vem ao Paraná. Aqui, terá encontro oficial com o Prefeito de Curitiba, Rafael Greca de Macedo, com empresários, na sede da FIEP- Federação das Indústrias do Paraná, e com convidados da comunidade polaca de Curitiba, na Sociedade Polaca Marechal Józef Piłsudski.

Nos dias seguintes visitará comunidades polacas em outras cidades do Paraná.

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Embaixadora Bogna Janke

Ela já apresentou credenciais diplomáticas ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 17 de novembro passado (2023). Quando o presidente brasileiro parabenizou pelo sucesso econômico polaco nos últimos anos. Lula expressou sua vontade de que a cooperação econômica entre Polônia e Brasil aumente significativamente. A entrega das cartas foi acompanhada de cerimônia solene em frente ao Palácio PlanaltoO hino polaco foi tocado e a bandeira da Polônia hasteada.

Embaixadora extraordinária e plenipotenciária da República da Polônia na República Federativa do Brasil, Bogna Janke tem mestrado em filologia alemã pela Universidade de Varsóvia e  pós-graduada em Serviço de Relações Exteriores, na Escola de Economia de Varsóvia.

Bogna Joanna Gawinek-Janke nasceu em 9 de julho de 1973, na cidade de Białystok, no nordeste da Polônia. Cresceu na cidade de Olsztyn. É filha do oposicionista do período da República Popular da Polônia, sr. Wiesław Gawink.

Em 1997, ela se formou em Estudos Germânicos na Faculdade de Neofilologia da Universidade de Varsóvia. Doutoranda na mesma faculdade teve sua tese de doutoramento  fechada. Em 2023, ela completou estudos de pós-graduação sobre Serviço de Relações Exteriores, na Escola de Economia de Varsóvia.

Bogna esteve ligada à mídia durante a maior parte de sua vida profissional. Inicialmente, ela trabalhou na Telewizja Polska - TVP1, na redação do "Teleexpress", depois na redação da TVP2.

A partir de 1998, trabalhou no Departamento de Relações Exteriores da PAP - Agência de Imprensa Polaca nos anos 2001-2003. Foi editora do semanal "Gazeta Południe" da cidade de Piaseczno. De 2004 a 2006, ela trabalhou na televisão TVN24, onde se tornou editora e  do site de informações da Internet. Em 2006, juntamente com o marido, fundou o portal Salon24.pl. Em 2007, ela foi nomeada para o Dariusz Fikus na categoria de editora. Em 2010, ela não teve êxito no conselho da cidade de Konstancin-Jeziorna do comitê local.

Janke é autora de vários artigos publicados na imprensa polaca. Por muitos anos, ela se envolveu socialmente, entre outras atividades, como voluntária no projeto "Mães no Trabalho" da Fundação São Nicolau. Também foi fundadora e presidente da Fundação de Hospitais de Campanha de Varsóvia, cujo objetivo era comemorar as atividades dos hospitais de campo durante o Levante de Varsóvia de 1944.

Em 2021, ela parou de gerenciar seu portal de Internet e vendeu as ações da empresa

Em 13 de julho de 2021, o Presidente da República da Polônia, Andrzej Duda a nomeou como Secretária de Estado, no Gabinete da Presidência da República da Polônia, onde foi responsável pelo diálogo social. Em 14 de outubro do mesmo ano, ela foi nomeada para o Conselho da Juventude no Conselho Nacional de Desenvolvimento.

Bogna Janke encerrou seu trabalho no Gabinete da Presidência da República, em 30 de junho de 2022. Então, começou como colaboradora, entre outros, nos jornais Dziennik, Rzeczpospolita e portal Onet.

Em 8 de setembro de 2023, o Presidente da República da Polônia a nomeou Embaixadora Extraordinária e a representante da República da Polônia na República Federativa do Brasil.

A sra. Bogna Janke é embaixadora da República da Polônia no Brasil desde o último dia 24 de outubro de 2023. Ela fala, além do idioma polaco, o inglês, o alemão e o português.

Ela é casada ​​com o também jornalista Igor Janke, com quem tem dois filhos adultos.

Em sua primeira entrevista à imprensa brasileira concedida à Rádio Senado, em Brasília, Janke afirmou que vai procurar incrementar as relações bilaterais Polônia-Brasil, dando especial atenção e apoio às empresas e empreendedores polacos que pretendam fazer negócios no Brasil.

Janke começou opinando, na entrevista, sobre os principais desafios da União Europeia, que são a migração e a agressão da Rússia à Ucrânia.

"A migração é um problema complexo e abrangente. Os Estados-Membros da União Europeia estão intensificando esforços para estabelecer uma política migratória efetiva, humanitária e segura. Nós temos na Europa várias direções de chegada dos imigrantes. A da África é diferente, por exemplo, daquela que vem da Ucrânia. Quando em 24 de fevereiro de 2022, a Rússia iniciou a agressão militar contra a Ucrânia, milhões de pessoas fugiram da Guerra. O primeiro destino, onde eles encontraram segurança foi o meu país, Polônia. Isto porque fazemos fronteira com a Ucrânia, fronteira que também é a da União Europeia." explicou a embaixadora.

Janke afirmou que, no momento, mais de "3 milhões de ucranianos estão vivendo na Polônia. Eles vivem, trabalham e seus filhos vão para a escola. Todos tem acesso aos serviços sociais comuns aos cidadãos polacos. A Polônia é um país amistoso com os refugiados. A Polônia também se tornou a segunda casa de 250 mil bielorrussos que fugiram das pressões políticas em seu país. Outros países da União Europeia recebem um número muito grande de refugiados de países não europeus. O tema imigração é muito discutido e difícil na União Europeia, mas eu acho que o fluxo de pessoas no mundo é natural. Por exemplo, a sociedade brasileira foi construída por imigrantes. Muitos deles vieram da Polônia."  

O outro assunto abordado por ela foi a agressão russa.

"É claro, um tema muito difícil. A Polônia é membro da União Europeia e esta apóia a Ucrânia. A Rússia também ameaça outros países. Isto tem impacto na segurança da União Europeia e na ordem global. Por isso, é importante enfrentar este desafio. Outro problema importante é o das mudanças climáticas. E nestas relações globais há que se mencionar com destaque o Brasil nesta importante questão. Outros assuntos também importantes são os digitais, como os dados privados, a cyber segurança, a infra-estrutura digital ou a desinformação. Também as desigualdades sociais são de extrema importância".  

Na sequência, a embaixadora foi questionada sobre qual seria o segredo do sucesso econômico polaco, que seu país vem experimentando ao longo dos últimos anos, com um crescimento permanente e significativo.

Embaixadora da Polônia no Brasil: Sra. Bogna Janke

A sra. Bogna antes de entrar no mérito da pergunta fez questão de ressaltar seu imenso orgulho pela sua Polônia e pela economia polaca:

"sim, estou muito orgulhosa da minha Polônia e sua economia. Porque nossa economia está indo muito, muito bem. E é agora a sexta entre as economias europeias. É ótimo, porque vocês sabem, há 30 anos nós éramos um país socialista, com uma economia que se desmantelou. E nesses últimos 30 anos, a Polônia tem tido o mais alto crescimento percapita entre todos os países da OCDE. O PIB da Polônia é o que cresce mais rápido na União Europeia, hoje em dia. Temos uma taxa muito baixa de desemprego, de 2,9%, o que significa na prática que não temos desemprego na Polônia. Precisamos cada vez mais de trabalhadores, inclusive temporários. A Polônia é o terceiro parceiro da Alemanha, depois da França. A Polônia foi o único país europeu que não foi atingido pela recessão mundial de 2008 a 2010."

Para encerrar a entrevista aos jornalistas da Rádio Senado, Ivan Godoy perguntou a sra. embaixadora da Polônia o que ela pretende fazer para avançar nas relações bilaterais entre os dois países. Ela respondeu:

"Nossas relações têm sido muito boas e amistosas por mais de cem anos. Os meus objetivos aqui são desenvolver ainda mais nossos contatos políticos e econômicos. Primeiro, do ponto de vista econômico, eu gostaria de ajudar empresas e empreendedores polacos a fazerem negócios aqui no Brasil. O interesse na Polônia pelo Brasil é muito alto. O Presidente Lula me disse, quando tive a oportunidade de falar com ele, que os nossos dois países, precisam explorar o potencial mútuo para a cooperação econômica. Então, esperamos aumentar a cooperação entre nossos países. Há também que explorar a cooperação cultural, científica e acadêmica. Estamos trabalhando nisso, em nossa Embaixada, agora. O que é importante é que aqui no Brasil temos uma grande comunidade polaca formada por descendentes de imigrantes polacos. E esse é o potencial de cooperação entre nossos países."    

Compilação da entrevista radiofônica e redação: Ulisses Iarochinski

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Os restos mortais do príncipe polaco em Jacarezinho foram para a Polônia

Foto: Prefeitura Municipal de Jacarezinho

 
Os restos mortais do príncipe Andrzej Lubomirski, sepultado em Jacarezinho há mais de 70 anos, voltarão para a Polônia, onde será realizado um funeral com honras de Estado no próximo dia 20 de janeiro.

O príncipe faleceu em Jacarezinho, no dia 22 de novembro de 1953, e foi sepultado no cemitério da cidade.

Além de ser um importante membro da nobreza polaca e administrador de Przeworsk (cidade que fica no sudeste da Polônia), também ficou conhecido pelos polacos como “promotor da indústria nacional”.

Lubomirski usou parte do patrimônio da família para construir estradas, usinas e fábricas que fizeram da região uma das mais desenvolvidas da Polônia, entre o final do século XIX e início do século XX. Ele também foi curador literário, ativista social, político, e lutou pela recuperação da independência do país logo após a Primeira Guerra Mundial.

“O príncipe Lubomirski era um homem que todas as instituições queriam ter nas suas fileiras – fosse associação, fundação ou pequena instituição, porque se sabia que isso era uma garantia de apoio. Onde ele estivesse, todos poderiam ter certeza de que ele seria um verdadeiro defensor das questões levantadas. É a ele que devemos a fábrica de açúcar construída em 1895, bem como a ferrovia que liga Przeworsk a Dynów, concluída em 1904, que hoje torna nossa região famosa como um grande atrativo turístico”, enfatiza Małgorzata Wołoszyn, historiadora e curadora do museu Przeworsk.

O museu está localizado no Palácio Lubomirski, onde o príncipe viveu até o final da Segunda Guerra Mundial.

No ano passado uma comissão foi criada na cidade Przeworsk com a intenção de oferecer ao príncipe um funeral com honras de Estado. Desde então, a equipe deu início aos preparativos para a cerimônia.

Sem alardes os restos mortais do príncipe foram retirados do cemitério de Jacarezinho no final do ano passado e enviados ao país natal dele, numa operação que contou com o suporte do Consulado Geral da Polônia, em Curitiba.

 A cerimônia terá início no dia 19, em Przeworsk, com a exposição da urna com os restos mortais do príncipe e uma missa celebrada pelo arcebispo local. A cerimônia continua no dia seguinte, quando a urna será depositada na cripta da família Lubomirski, na Capela do Santo Sepulcro em Przeworsk.

O Governo Polaco fará Homenagem ao Príncipe, em Jacarezinho. Além das solenidades realizadas na Polônia no próximo fim de semana, também haverá uma celebração em homenagem ao príncipe em Jacarezinho.

Segundo o prefeito Marcelo Palhares, o Consulado pretende colocar uma placa no túmulo onde Andrzej Lubomirski foi sepultado. “Estamos conversando com o Consulado para definirmos a melhor data para a cerimônia. A senhora cônsul geral da Polônia já nos comunicou da intenção de vir a Jacarezinho para participar das homenagens”, explicou.

“É um privilégio. Ele era um homem a frente de seu tempo, um empreendedor muito respeitado em seu país, e que ajudou no desenvolvimento de seu povo. Ficamos honrados em saber que Jacarezinho fez parte da vida desse homem tão importante para o povo polonês, e vamos trabalhar para difundir sua história e preservar sua memória”, destaca o prefeito.

Nascido em Cracóvia no ano de 1862, Andrzej Lubomirski, fugiu da Polônia em 1945, no final da Segunda Guerra Mundial. Depois de passar pela Bélgica e pela França, chegou ao Brasil em setembro de 1952, em companhia do filho Jerzy Lubomirski.

Pouco depois de desembarcar no Brasil, o príncipe veio para Jacarezinho, onde ficou sob os cuidados de Cecylia de Bourbon Duas Sicilias, que era casada com Dom Gabriel de Bourbon, ligado à família Imperial Brasileira.

Cecylia era polaca e sobrinha do príncipe Lubomirski. Andrzej viveu menos de um ano em Jacarezinho. Ele morreu de causas naturais, aos 91 anos de idade.

Durante todos esses anos, pouco se sabia a respeito do príncipe Lubomirski, em Jacarezinho. 

Até que em 2019, o jornalista Fabiano Oliveira começou a pesquisar sobre ele e entrou em contato com o Museu de Przeworsk. “As autoridades polonesas sabiam que Andrzej havia morrido no Brasil. Porém, eles nunca tinham visto sequer uma foto do túmulo. Por isso, assim que enviei algumas fotos, vários jornais poloneses fizeram reportagens repercutindo o assunto e alguns familiares me procuraram para saber mais informações”, conta.

“Confesso que não imaginava uma repercussão tão grande. Mas penso que o príncipe ficaria feliz em saber que finalmente seus os restos mortais descansarão em sua amada Polônia”, conclui.

Fonte: Assessoria de imprensa Prefeitura Municipal de Jacarezinho

Também este blog publicou anos atrás sobre a presença e o falecimento do nobre Lubomirski em Jacarezinho.

Para saber mais leia, em:

https://iarochinski.blogspot.com/2020/06/um-szlachta-polaco-em-jacarezinho.html

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Tusk recupera o controle dos veículos de comunicação estatais

A polícia foi chamada para retirar os ocupantes e impedir
que Jarosław Kaczyński invadissem a sede da TVP

O novo governo da Polônia tomou medidas, nesta quarta-feira, no sentido de tirar o controle da TVP - Telewizja Polska, englobando os canais de televisão, rádio e agência de notícias estatais do país das mãos de partidários do PiS - Partido Direito e Justiça, que perdeu o poder após as eleições parlamentares de 15 de outubro.

A medida faz parte de uma ampla reformulação que levou o novo parlamento a criar comissões especiais para investigar as ações do governo anterior – que esteve no poder desde 2015. O novo governo também está substituindo os chefes dos serviços de segurança.

Separadamente, um tribunal, que não está sob controle político, condenou na quarta-feira dois proeminentes políticos do PiS a penas de prisão por crimes cometidos quando o partido de Jarosław Kaczyński governou brevemente, de 2005 a 2007, quando seu irmão gêmeo Lech era o Presidente da República.

A televisão estatal TVP, a Rádio Polaca e a Agência de Imprensa Polaca (PAP) ficaram sujeitas a uma forte censura política pouco depois do partido de extrema-direita PiS ter conquistado o poder em 2015.

A cobertura foi fortemente distorcida a favor do governo de plantão, algo que os observadores eleitorais disseram ter favorecido bastante o PiS, bem como o presidente da República Andrzej Duda, que é do mesmo partido de Kaczyński e ajudou a mudar o resultado na votação parlamentar de 2019 e nas eleições presidenciais de 2020.

A mídia estatal também apoiou fortemente o PiS na campanha para as eleições parlamentares deste ano.

O governo do Partido Direito e Justiça gastou mais de 2 mil milhões de złotys (2.471.486 milhões de euros) na TVP este ano e mais de 7 mil milhões (8.650.201 milhões) de 2017 a 2022.

Tais gastos desmedidos e situação política foram preponderantes para a tomada de decisão de recuperar o controle dessas instituições de Tusk e o seu governo de Coalizão de Centro-Esquerda antes das eleições locais da próxima primavera e das eleições europeias em junho.

Na manhã de quarta-feira, o Ministro da Cultura, Bartłomiej Sienkiewicz, demitiu os diretores, chefes e editores da TVP, da Rádio Polaca e da PAP. O Ministério indicou que “exerce direitos de propriedade em benefício do erário público do Estado, e detém 100% das ações” em empresas públicas de comunicação social.

O ministério afirmou ainda num comunicado: “O Ministro nomeou novos conselhos de supervisão para as empresas acima mencionadas, que por sua vez nomearam novos conselhos de administração”

Os atuais funcionários ligados ao PiS foram proibidos de entrar nos edifícios dos meios de comunicação social e a polícia foi chamada.

O canal de notícias 24 horas da TVP,  o TVP Info, saiu do ar, brevemente, após o anúncio da decisão, antes de retornar com uma antiga série de televisão sobre um padre que trabalha como detetive (versão polaca do seriado italiano com Terence Hill (nome artístico de Mario Giuseppe Girotti). A TVP1, principal canal de televisão pública do país, apenas transmitiu seu logotipo durante 10 minutos, em vez dos programas regulares do meio-dia.

Um dia antes, o Parlamento aprovou uma moção apelando ao Ministério da Cultura para que tome medidas decisivas para restaurar “o acesso dos cidadãos à informação fiável e ao funcionamento dos meios de comunicação públicos, bem como para garantir… [sua] Independência, objetividade e pluralismo.”

Antes desta votação, o Presidente Duda enviou mensagem ao Parlamento, pedindo aos deputados que “agissem dentro dos limites da Constituição”.

A medida de quarta-feira foi recebida com indignação pelos deputados do Partido Direito e Justiça, muitos dos quais ocuparam a sede da TVP, em Varsóvia, numa tentativa de evitar mudanças administrativas. A eles juntou-se Jarosław Kaczyński, líder do PiS e governante de fato da Polônia desde 2015.

Kaczyński, visivelmente irritado bradou: “Esta é uma defesa da democracia”. Raivoso, ele havia dito na terça-feira, à noite. “Em cada democracia deve haver uma forte mídia antigovernamental.”

Confrontado por manifestantes anti-PiS, na quarta-feira, Kaczyński ficou furioso. Aos gritos ele disse para um manifestante contrário à sua ideologia: “Cuidado, você acaba na cadeia, seu merdinha”.

Voz forte
Os meios de comunicação públicos polacos são financiados através de taxas de licença obrigatórias pagas pela população e, por lei, são considerados isentos de preconceitos. Nos governos anteriores, inclinaram-se para quem estava no poder, mas tentavam ser amplamente justos.

No entanto, quando o PiS venceu as eleições de 2015, este agiu, rapidamente, para demitir  administradores, editores e repórteres que foram considerados não apoiadores do novo governo. O argumento do PiS era que os meios de comunicação públicos eram necessários como contrapeso à televisão e aos jornais privados, que geralmente favoreciam os seus oponentes.

Perder o controle dos poderosos meios de comunicação, imediatamente, após perder o Poder é um golpe duplo para o partido conservador, que buscou levar o país às trevas da idade média.

“O governo Tusk está implementando seu plano de confiscar os meios de comunicação públicos, ignorando a lei”, disse Beata Szydło, antiga primeira-ministra do PiS e agora membro do Parlamento Europeu. Ele disse no site X. “A administração Tusk atropela os princípios básicos da democracia.”

Maciej Swirski, chefe do instituto regulador estatal de mídia apoiado pelo PiS, descreveu a medida como uma “violação flagrante da lei”.

Mas a Nova Coalizão governante celebrou. “Bom dia, mídia livre.” Disse Robert Biedroń, membro do Parlamento Europeu pelo Partido da Nova Esquerda, que faz parte da coligação liderada por Donald Tusk.

Faz parte de um esforço mais amplo do governo Tusk para isolar o PiS das fontes de poder político e dinheiro.

As empresas controladas pelo Estado, a maioria das quais dirigidas por partidários do PiS, estão se preparando para uma verdadeira e imensa purga. Nos últimos dias, o parlamento criou comissões especiais que investigarão irregularidades passadas, como contratos duvidosos da era do coronavírus e o gasto de 70 milhões de złotys para realizar as eleições de 2020 por voto postal, que não foi autorizado pelo parlamento. Na terça-feira, Tusk nomeou novos chefes dos principais serviços de inteligência e segurança, para os postos dos que foram acusados ​​de apoiar o PiS e de espionar os adversários do partido.

Na quarta-feira, o tribunal também condenou dois proeminentes parlamentares do PiS à prisão por abuso de poder, em 2007, na sequência de uma decisão do Supremo Tribunal de que o perdão de Duda em 2015, era falho.

Os dois – Mariusz Kamiński, antigo ministro dos serviços de segurança, e o seu vice, Maciej Wasik – disseram que iriam ignorar a decisão e recusar-se a ceder os seus assentos parlamentares. “Esta decisão, que não reconhecemos, não dá razão para virarmos os nossos assentos. É desprezível”, disse Kamiński no parlamento.

O novo Ministro da Justiça Adam Bodnar disse: “Somos todos iguais perante a lei e obrigados a obedecê-la… Só um tribunal independente pode decidir a culpa. É disso que se trata o Estado de direito.”

O gabinete do presidente Duda insistiu que a decisão era falha. “Perdão, senhores, e o perdão é válido e tem força legal,” disse Małgorzata Babroka, Assessora do Presidente.


Fonte: Agência Reuter
Texto: Paulo Afonso
Tradução: Ulisses iarochinski

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

O governo de Donald Tusk já se decidiu sobre o orçamento

Foto: Zbyszek Kaczmarek / Forum / Forum Polska Agencja Fotografów

O novo governo comandado, agora, pelo deputado da Plataforma da Cidadania, adotou um projeto de orçamento aprimorado para 2024, com base no anterior, preparado pelo Partido que esteve no poder nos últimos 8 anos.

Tusk e sua equipe chegou a conclusão que com o orçamento do Partido Direito e Justiça suas promessas eleitorais não poderiam ser cumpridas. O novo orçamento para 2024 inclui um aumento significativo nos salários dos professores.

> Os professores em início de carreira podem contar com 33 % a mais em seus salários. As disposições propostas também se aplicam aos professores da pré-escola.

> No novo projeto, estão previstos aumentos para outros funcionários do governo que também serão incluídos.

> O déficit orçamentário será maior do que naquele do projeto enviado pelo governo anterior.

> O orçamento foi criado assumindo 3 % de crescimento do PIB para o próximo ano e inflação em 6,6 %.

> O projeto do orçamento do próximo ano dará a 800 złotych a mais, nas pensões de 13º e 14º salários.


Donald Tusk anunciou o projeto do orçamento aprimorado, em um dia politicamente quente, na manhã desta terça-feira 19/dez. A emenda foi necessária, porque durante os cálculos preparados pelo governo de Mateus Morawiecki, não haveria lugar para a implementação das promessas eleitorais feitas pela Coalizão de partidos que agora governam a Polônia.

O projeto Tusk para a Lei para fechar o orçamento de 2024 assume, entre outros arranjos, aumentar o salário médio dos professores iniciantes em 33 %, ou seja, em 1 mil  złotych (R$ 1.230,75 reais). "O valor da quantia base dos professores incluídos no artigo 9 (2) da Lei do Orçamento Projeto de 2024 gera um aumento para professores a partir de 1º de janeiro de 2024, em 30 %", explicou Tusk.

"Também haverá aumentos dentro do novo orçamento para todos os funcionários da esfera do Estado, incluindo soldados e oficiais, funcionários aduaneiros em 20%", disse o primeiro- ministro Tusk.

O déficit orçamentário do Estado, em 2024, equivalerá a 184 bilhões de złotych contra o estimado de 165 bilhões, que foram indicados pelo partido do líder de extrema-direita Jarosław Kaczyński.

"As despesas, deste ano, planejadas no orçamento para 2024 são 866 bilhões de złotych, receitas 682 bilhões de złotych, o que significa um déficit orçamentário de 184 bilhões", disse que o chefe do Ministério das Finanças, Andrzej Domański, que ressaltou que o orçamento foi criado assumindo 3 % de crescimento do PIB no próximo ano e uma inflação em 6,6 %.

"Conseguimos encontrar dinheiro no orçamento para aumentar os salários dos professores, aumentar a esfera orçamentária para muitas tarefas adicionais, como é o caso dos lixões ilegais.  [...] O déficit aumentará em relação à Lei do Orçamento apresentada no Parlamento de uma maneira pequena, acredito, em relação às tarefas que poderão ser  colocadas nesse orçamento", disse que o chefe do Ministério do Clima.

"Em última análise, temos que deixar um déficit tão alto no orçamento e essa é a principal tarefa para o Ministro das Finanças, porque estamos ameaçados com o procedimento de um déficit excessivo, ao qual o governo da extrema-direita unida liderou. Se estivermos cobertos por ele, precisaremos equilibrar as receitas e despesas do orçamento do Estado", disse.

Fontes: Imprensa polaca
Tradução e redação: Ulisses Iarochinski

sábado, 16 de dezembro de 2023

O idioma de 5 Prêmios Nobel de Literatura

Henryk Sienkiewicz, Władysław Reymont, Czesław Miłosz, Wisława Szymborską e Olga Tokarczyk

Uma língua falada por mais de 70 milhões no planeta, uma língua difícil, uma gramática considerada a mais complicada entre todos os idiomas falados no mundo é aquela que conquistou 5 Prêmios Nobel de Literatura. Ela é a língua Polaca!

Dez de dezembro é o dia em que escritores polacos de anos diferentes, receberam a mais importante premiação do mundo para as línguas faladas pelos seres humanos: o Prêmio Nobel da Literatura.

1905
A Polônia teve seu primeiro 10 de dezembro em 1905, quando Henryk Sienkiewicz por realizações notáveis ​​​​no campo da poesia épica e um gênio raro que personificou de forma contundente o espírito de sua nação.

1924
Władysław Reymont recebeu o Prêmio pelo notável épico nacional polaco intitulado "Chłopi", ou Camponeses.

1980
Czesław Miłosz por "expressar com intransigente clareza de percepção as condições a que o homem está exposto num mundo de conflito agudo."

1996
Wisława Szymborska pela “poesia que, com precisão irônica, permite que o contexto histórico e biológico apareça em fragmentos da realidade humana”.

2018
Olga Tokarczuk “pela imaginação narrativa que com paixão enciclopédica apresenta a ultrapassagem de fronteiras como forma de vida”.


Sienkiewicz apareceu na cerimônia do Prêmio Nobel de Literatura com um fraque velho, mas escreveu "seis discursos". Embora Reymont conseguisse costurar um fraque, ele não recebeu o Prêmio Nobel pessoalmente. Miłosz apareceu em Estocolmo com um distintivo do "Solidariedade" na lapela. E Szymborska encantou os suecos com seu recato e vestido Telimena.

No caso do Prêmio Nobel de Sienkiewicz, repete-se frequentemente a opinião errônea de que ele recebeu o prêmio por seu romance "Quo Vadis", publicado em 1896. A razão deste erro foi a grande popularidade que este livro, traduzido para mais de 50 idiomas, gozou em todo o mundo. Ele recebeu o prêmio pelo conjunto de sua obra e - nas palavras de Carl David af Wirsén, então secretário da Academia, o prêmio foi concedido ao autor por "méritos notáveis ​​como escritor épico". Aliás, esta frase frequentemente repetida perde muito quando citada isoladamente de todo o elogio, que na perspectiva de hoje seria um grande ensaio escolar sobre a obra do vencedor do Prêmio Nobel de 1905, com especial destaque para “O Dilúvio”. Por sua vez, o discurso de Sienkiewicz proferido durante a cerimônia de entrega do prêmio ficou registrado nos anais de sentenças solenes em que o autor - escrevendo, como sabemos, para confortar os corações - disse que esta honra é particularmente valiosa para um filho da Polônia: "Ela foi proclamada morta, e aqui está uma das mil provas de que ela está viva!... Ela foi proclamada incapaz de pensar e de trabalhar, e aqui está a prova de que ela age!... Ela foi proclamada conquistada, e aqui está nova prova de que ela sabe conquistar!" 

Em 1924, a Academia Sueca decidiu atribuir o seu prémio a Władysław Reymont pelo "grande épico nacional Camponeses". No campo da batalha literária, este filho da terra de Kielce deixou para trás, entre outros: Thomas Mann (que teve que esperar mais cinco anos pelo Oscar), Maxim Gorky (que nunca o recebeu) e Thomas Hardy (também não o recebeu). Reymont também derrotou um excelente rival polaco, Żeromski, mencionado entre os favoritos, era demasiado anti-alemão para a Academia e para a opinião pública. Reymont não pôde receber o prêmio devido a problemas de saúde (ele morreu um ano depois). O prêmio e um cheque no valor de 116.718 coroas foram enviados à França ao vencedor, que tinha um problema cardíaco. Ele escreveu em carta a Alfred Wysocki, o enviado polaco em Estocolmo: "Terrível! Prêmio Nobel, dinheiro, fama mundial e um homem que não consegue se despir sem ficar muito cansado." O que a Academia gostou tanto neste épico "Camponeses" ambientado na aldeia de Lipce? Per Hallström, presidente do comitê do Nobel, em sua fala notou semelhanças na técnica e abordagem do tema em "Os Camponeses" e no romance "Terra" de Emile Zola (que, aliás, Reymont só poderia ter conhecido por relatos de amigos , seu próprio conhecimento de francês não lhe permitiu lê-lo). 

No entanto, Hallström também observa diferenças: "Em vez de se tornar um romance naturalista, 'Os Camponeses' assume proporções épicas - é certamente um romance naturalista no método, mas de alcance épico." Tão épico! Além disso, há harmonia, como impressão avassaladora que emana da obra: “Para nós, modernos, o que caracteriza o poema narrativo como uma obra épica no mais alto grau é uma certa plenitude e harmonia, um sentimento geral de repouso, por mais que episódios individuais possam ser repletos de sofrimento e luta.” E, finalmente, os próprios camponeses: “Os seus camponeses polacos nas suas condições primitivas - ou talvez apenas como consequência delas - têm uma natureza simples, um certo contorno de carácter arcaico que a arte épica exige - o que é um grande valor estético, que, no entanto, foi alcançado ao preço de certas deficiências em outros níveis."

O prêmio de 1980 para Czesław Miłosz sempre foi discutido num contexto político. É difícil não lembrar que a distinção foi atribuída a um poeta polaco emigrante, no ano em que o Sindicato Solidariedade foi fundado. O Prêmio Nobel para Miłosz foi interpretado como uma expressão de apoio às mudanças políticas que ocorriam no bloco oriental, tal como o posterior Prêmio Nobel da Paz, também de cunho político atribuído a Lech Wałęsa. Este tom político também pode ser ouvido na justificação do veredicto, que afirma que “o poeta polaco recebeu o prêmio pela sua visão intransigente ao revelar a ameaça à humanidade num mundo cheio de conflitos violentos”. No entanto, o discurso de Miłosz durante a cerimônia de entrega do prêmio manteve-se afastado de qualquer traço político. Uma das figuras-chave de seu discurso, Miłosz fez o personagem Nils Holgersson de seu livro infantil "Jornada Maravilhosa", da sueca Selma Lagerlöf, também ganhadora do Prêmio Nobel. É o pequeno Nils, viajando pelo mundo nas asas de um ganso, vendo tudo à distância, mas ao mesmo tempo com grande detalhe, que é para Miłosz o melhor símbolo do papel de poeta. 

Desenvolvendo esta metáfora e referindo-se a outros dos seus escritores favoritos (Simone Weil, William Blake), Miłosz pronunciou palavras que poderiam ser o seu credo poético: “Desta forma, a Terra vista de cima no momento do eterno agora e a Terra que persiste no tempo recuperada podem ser material para poesia.”

16 anos depois de Miłosz, o Prêmio Nobel foi atribuído inesperadamente a Wisława Szymborska pela “poesia que, com precisão irônica, permite que o contexto histórico e biológico venha à luz em fragmentos da realidade humana”. No comunicado de imprensa divulgado pela Academia, há muitas citações dos seus poemas - talvez os membros do comitê sentissem, intuitivamente, que esta poesia era difícil de nomear, que precisava de ser ouvida. Aqui estão os versos que se tornaram parte permanente da língua polaca nos últimos quinze anos, incluindo: o final do poema "Possibilidades":

“Prefiro levar em conta até a possibilidade/de que o ser esteja certo.” 

Não surpreende, portanto, que no final haja um paradoxo – hoje um pouco desgastado – “embora sejamos tão diferentes um do outro quanto duas gotas de água pura”. A poetisa emergiu de toda essa confusão do Nobel com seu charme inato. Seu discurso começa com as palavras: “Dizem que num discurso a primeira frase é sempre a mais difícil." Ao longo dos últimos 15 anos que se passaram desde esta aparição pública - as aparições e situações públicas são, de fato, algumas das situações mais odiadas da poeta - Szymborska tem conseguido manter uma distância admirável da sua imagem e um raro desafio às exigências de desempenho do papel de ganhador de Prêmio Nobel.

Uma segunda polaca, juntou-se ao grupo de vencedores do Prêmio Nobel de Literatura. Olga Tokarczuk recebeu uma medalha de ouro e um diploma do Rei da Suécia, Carl Gustav XVI - na presença de mais de 1.500 convidados e diante de milhões de telespectadores de todo o mundo. Um breve elogio feito por um dos membros da Academia: “A Polônia é a encruzilhada da Europa, talvez o seu coração. Vemos isso na prosa de Olga Tokarczuk. Seu estilo de escrita faz dela uma das escritoras mais fascinantes do nosso tempo", disse Per Wästberg, escritor sueco e membro da Academia Nobel desde 1997.

Terminou o seu discurso em polaco: “A Academia Sueca dá-vos os parabéns. Peço-lhe que receba o Prêmio Nobel da Literatura de Sua Majestade, o Rei da Suécia” - o que, apesar de pequenos problemas de pronúncia, foi um gesto extremamente simpático. Depois, segundo a tradição, ao receber a medalha, o comovido laureado, curvou-se ao rei, depois à Academia Nobel e, por fim, aos convidados reunidos na plateia.

Em 1996, Wisława Szymborska inverteu a ordem - primeiro ela recorreu à Academia, depois ao rei, reconhecendo o seu erro com um encolher de ombros e um sorriso, dizendo: "Só eu poderia fazer algo assim." Tokarczuk evitou cometer erros no protocolo diplomático, recebendo a medalha e o diploma com um sorriso e uma emoção visível. O discurso do autor na palestra do Nobel foi intitulada "The Tender Narrator" e foi proferida em polaco. “A ternura vê os laços, as semelhanças e as identidades entre nós. É um modo de ver que mostra o mundo como vivo, vivo, interligado, cooperante e interdependente”, explicou Tokarczuk a escolha do título. “A literatura é construída sobre a ternura. Este é o mecanismo psicológico básico do romance. Graças a esta maravilhosa ferramenta, a forma mais sofisticada de comunicação humana, a nossa experiência viaja no tempo e chega àqueles que ainda não nasceram e que um dia alcançarão o que escrevemos, o que contamos sobre nós mesmos e o nosso mundo."

O discurso de Tokarczuk foi repleto de referências e fios pessoais, nos quais seu relacionamento com a mãe desempenhou um papel especial. A polaca também se referiu à crise climática e ao papel que os meios de comunicação modernos desempenham na formação da nossa consciência e sensibilidade. “O mundo é um tecido que tecemos todos os dias em grandes teares de informação, discussão, filmes, livros, fofocas, anedotas. Hoje, a gama de trabalho destes teares é enorme. Graças à Internet, quase todos podem participar neste processo de forma responsável e irresponsável, com amor e ódio, para o bem e para o mal, para a vida e para a morte. Quando essa história muda, o mundo muda. Nesse sentido, o mundo é feito de palavras. (...) A crise climática e política para a qual hoje tentamos encontrar o nosso caminho e que queremos combater salvando o mundo não surgiu do nada. (...) A ganância, a falta de respeito pela natureza, o egoísmo, a falta de imaginação, a competição sem fim, a falta de responsabilidade reduziram o mundo à condição de um objeto que pode ser cortado em pedaços, usado e destruído.”

As palavras de Tokarczuk não só suscitou grande interesse entre o público e os meios de comunicação polacos, mas também foi elogiada por muitas manchetes europeias.

Texto: Barbara Brzuska
Tradução: Ulisses Iarochinski

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Kaczyński desesperado ataca Tusk

Momento em que atacou o primeiro-ministro eleito

O líder da extrema-direita polaca, o deputado Jarosław Kaczyński, perdeu a compostura, após o deputado indicado mais uma vez para primeiro-ministro Mateus Morawiecki não ter conseguido o voto de confiança do parlamento e ver seu opositor Donald Tusk ser eleito pelo voto de confiança de 248 deputados da oposição para formar um novo governo.

"Eu sei uma coisa, o Senhor é um agente alemão. Não sei quem eram seus avós, mas sei uma coisa. Você é um agente alemão", Jarosław Kaczyński atacou Donald Tusk desde a tribuna parlamentar. Os policiais reagiram imediatamente e começaram a cantar: "Para Berlim!" Um momento antes, todos os parlamentares cantaram o hino nacional polaco juntos.

Kaczyński invadiu a tribuna parlamentar, no final da reunião, desta segunda-feira. "Há um modo como alguém ofende alguém", ele justificou seu comportamento. Então, atacou Donald Tusk, diretamente.

Naquele momento, o presidente da Câmara dos Deputados pediu que  
Kaczyński deixasse a tribuna. "Esses insultos são estranhos, quando ditos neste momento e neste dia, Sr. Kaczyński", enfatizou Szymon Hołownia. "Desculpe pelo errado e pelo final deste dia sublime", acrescentou depois de um tempo. 

Finalmente, depois das ações polêmicas do Presidente da República, Andrzej Duda, o deputado Donald Tusk foi eleito primeiro-ministro da Polônia. Ele 
foi eleito com votos de 248 deputados contra 201. Quatro deputados da oposição votou junto com o partido de Kaczyński.

Uma vez assegurada sua indicação, Tusk se virou para seu oponente, o presidente do PIS - Partido do Direito e Justiça. O novo chefe de governo decidiu falar e fez um breve discurso. Num certo momento, Tusk dedicou a seus avós à vitória nas eleições de outubro e no voto de confiança do parlamento. Então, voltou-se diretamente para Jarosław Kaczyński e disse:

"Dedico ao Sr. Presidente. Sou culpado por meus dois avós. Hoje, eu também ouvi "vá para Berlim", "Für Deutschland". Todos os dias eu ouvia este álbum gravado há muitos anos por Jacek Kurski. Quando ele gravou este álbum, seu irmão Lech Kaczyński, para mim, disse publicamente, que um bastardo, como Kurski, não viu o que ele fez," afirmou Tusk.  

A história do "Avô Tusk de Wehrmacht" dominou a campanha, antes da segunda rodada das eleições presidenciais, em 2005, graças a Jacek Kurski. Como membro da equipe eleitoral de Lech Kaczyński, em uma entrevista ao semanário "Angora", Kurski disse: "Fontes sérias na Pomerania dizem que o avô de Tusk se ofereceu para a Wehrmacht".

A consequência dessas palavras, foi excluir Kurski do grupo de colaboradores do candidato do Partido Direito e Justiça. Kurski estava, então, temporariamente fora da campanha.

"Eu tenho que me desculpar com você por esse elemento da campanha negra", disse o ex-presidente da República falecido Lech Kaczyński para Donald Tusk durante aquele debate na televisão TVN, naquela eleição presidencial.

O avô Józef Tusk serviu na Wehrmacht, mas pelas informações fornecidas pela família, parece que ele foi incorporado a esta unidade pela força, em agosto de 1944, e não teve qualquer influência sobre ela. Ele serviu nas forças alemãs por vários meses, provavelmente, no deserto ou foi levado ao cativeiro britânico.

"Com isso, as forças armadas alemãs é um limão, mas vamos a elas porque as pessoas sombrias compram essas palavras que são atribuídas a Jacek Kurski como os jornalistas Tomasz Lis, Wiesław Władyka, Tomasz Wołek e Katarzyna Kolenda-Zaleska".


Para jornalistas e políticos não há dúvidas: "Kaczyński não aguentou a pressão. Jarosław Kaczyński não conseguiu suportar a pressão e chamou Donald Tusk da tribuna parlamentar de agente alemão. É isso que é a política de consentimento e o fim da guerra polaco-polaco, que Mateusz Morawiecki falou. Eu ficaria surpreso se Donald Tusk não tivesse a permissão dada pelo presidente," disse Jacek Nizinkiewicz, do jornal Rzeczpospolita, claramente.

"Kaczyński provou hoje o que era PiS. Este é o fim", afirmou Dariusz Joński, da Coalizão cívica.

"Kaczyński se despediu da política hoje. É claro que ele nem fez isso com a classe", disse Krzysztof Śmiszek, do Partido Nova Esquerda.

"É bom que pelo menos Jarosław Kaczyński falhe e mostre seu rosto real. Que ele faça isso com mais frequência. Os polacos se lembrarão", disse Sebastian Białach do site de notícias Onet.

"O presidente Kaczyński está em uma forma de pesadelo. As pessoas olham, os jovens olham o que ele disse sobre agentes alemães. Aqui está faltando o cálculo político. Ele é um homem totalmente perdido neste momento," disse fortemente Janusz Schwertner.

Szymon Hołownia, presidente da Câmara, foi questionado sobre as palavras de Jarosław Kaczyński, de que a queda do governo de Mateusz Morawiecki é o fim da democracia. Assim respondeu:  "Mas ele vai parar de vir para o Congresso? O partido dele enviará alguém para ocupar o lugar dele? Porque desde o fim da democracia, este é um órgão de fachada e somente um edifício. Sr. Kaczyński, o senhor precisa saber perder. Senhoras e senhores, isso é política, os governos mudam. A única questão é como será. Este não é o fim da democracia polaca. Os comentários dele são completamente frívolos."

Fontes: Sites de notícias da Polônia
Texto: Ulisses Iarochinski

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Rydzyk - o padre poderoso da Polônia

O Padre Tadeusz Rydzyk é um personagem da Polônia democrática que acredita piamente nos dogmas medievais. Extrema-direita, fascista, xenófobo, racista são alguns dos adjetivos que lhe são designados.

O Padre poderoso da Polônia, Tadeusz Rydzyk

Provavelmente, seja o maior influenciador da Polônia. Homem decisivo nas eleições presidenciais e parlamentares do país.

Durante os dois dias de votação do plebiscito que decidia a entrada ou não da Polônia na União Europeia levou a maior reprimenda de sua vida, de ninguém mais ninguém menos do que o Papa João Paulo II. Rydzyk era defensor intransigente da não entrada do país no grupo europeu. No primeiro dia de votação, um sábado, o Não estava ganhando e o comparecimento mínimo dos eleitores não seria atingido. Naquela mesma noite, segundo informações da impensa polaca, o Papa telefonou para e ordenou que parasse com a campanha do não. O Papa era e foi o maior defensor da integração de seu país à Europa Ocidental. Ordenou também ao Cardeal Primaz que todas as paróquias do país na missa da manhã de domingo convocassem os fiéis irem votar e no Sim.

Os resultados oficiais finais do plebiscito da Polônia sobre a integração à União Européia (UE) mostraram que 77.45 % dos eleitores apoiaram a entrada e 22.55% votaram contra a adesão.
A participação nas urnas foi de 58.85%, acima dos 50% necessários para que os resultados fossem válidos. Na época, o social-demcrata presidente Aleksander Kwaśniewski disse que a votação expressiva pelo "sim" representava um "retorno da Polônia à família européia". Os votos, que não obrigatórios, numa população de 38 milhões de habitantes, recolocou a Polônia entre os países de maior território e população da Europa.

O padre da Congregação Redentorista, fundada em Scala, próximo de Amalfi, Nápoles, em 1732, pelo Santo Afonso de Ligório, e a mesma congregação que foi expulsa da Polônia em 1808, foi decisivo nas eleições presidenciais dos irmãos Kaczyński, Lech para presidente, e Jarosław para primeiro ministro. O que se viu foi um desastroso governo conservador e de extrema-direita, que fez tudo para se afastar da União Europeia. Aquele governo terminou com a tragédia da queda do avião presidencial polaco em terras russas em abril de 2010, e a morte de Lech kaczyński e os demais 94 ocupantes do avião.

Tadeusz Rydzyk, além do seu púlpito na igreja contruída por ele mesmo, A Bem-Aventurada Virgem Maria, Estrela da Nova Evangelização e São João Paulo II, começou sua prepagação política e religiosa com uma emissora clandestina Rádio Maria, onde faz seus discursos inflamados contra os estrangeiros, contra as raças humanas e políticos à favor do Partido Direito e Justiça, que comanda a Polônia desde 2015, e que levou um grande revés nas  eleições de 15 de outubro último. Além disso, ele possui dois canais a cabo e uma faculdade de jornalismo. O padre está prosa e sempre poderoso. E mais com a língua afiada.

Igreja da Virgem Maria e Santo João Paulo II, em Toruń

Na primeira entrevista após as eleições de outubro, o Padre Rydzyk afirmou que os seus meios de comunicação “dificilmente sobreviverão” e pediu doações. Também avaliou que “o que aconteceu recentemente na Polônia é o resultado de uma grande manipulação” e não poupou palavras de crítica ao presidente da Câmara dos Deputados: "Fez retiros, escreveu livros religiosos, visitou paróquias e foi convidado pelos párocos universitários. E agora está atingindo a Igreja."

Rydzyk foi questionado pela primeira vez sobre como ele conseguiu criar uma mídia católica tão grande. "Em primeiro lugar, não é tão grande como dizem. Quanto isso significa em comparação com a mídia de esquerda ou com capital estrangeiro? As necessidades são muito maiores para que toda a nação seja formada para ter personalidades fortes. Somos inundados por manipulações terríveis. Os meios de comunicação de lá são como Golias, têm recursos financeiros ilimitados e estão fortemente armados. Neste contexto, a Rádio Maria é algo minúsculo. Estamos lutando para mantê-la e pedimos a todos que nos ouvem e assistem apoio e contribuição para este trabalho comum".

O sacerdote buscou palavras duras contra a derrota de seu amado partido PiS (Direito e Justiça): "O que aconteceu recentemente na Polônia - esta é a minha opinião, subjetiva - é o resultado de uma grande manipulação. E penso que não foram indivíduos que atuaram neste teatro de manipulação, foram pessoas organizadas, formadas, financiadas, que fizeram parte de uma grande estrutura, uma grande, como lhe chamo, internacional. Estes são aqueles que odeiam a Polônia, especialmente aquela que tem fé no coração, é fiel à tradição humanista, respeita os seus heróis e santos."

O padre parece indignado com a vitória parlamentar da oposição. "Os polacos devem mobilizar-se, hoje, porque muitas questões estão em risco. Eles também vão querer atacar a Rádio Maria. Mas não só em nós. Não gosto da televisão polaca em tudo, tem algumas coisas más lá, mas hoje, dá voz aos polacos que antes eram silenciados. Eles também querem assumir o controle e destruí-la", disse Rydzyk sobre a tomada do poder na Polônia pela coalizão oposicionista.

O padre disse ainda, que houve um “ataque ilegal ao Banco Nacional da Polônia”, bem como um “ataque” ao CBA e ao Instituto da Memória Nacional. "Isso os incomoda? Ou talvez o desenvolvimento polaco, o fato de a Polônia ter avançado tanto nos últimos anos?", continuou o padre de Toruń.

E os jovens embevecidos com Rydzyk o chamam de Pai.

Rydzyk também criticou o novo presidente da Câmara dos Deputados, Szymon Hołownia. "O próprio Sr. Presidente também me surpreende - afinal, ele fazia retiros, escrevia livros religiosos, visitava paróquias e os párocos universitários o convidavam. E agora está atacando a Igreja. Então eu pergunto – ele não estava nos enganando, levando-nos a cumprir nossas tarefas? Isso não é algum tipo de força-tarefa? Isto é o que parece", ele disse.

Na entrevista, sobre o tema da União Europeia e a discussão sobre possíveis alterações nos tratados, ele se pronunciou assim: "Não somos contra a Alemanha, não somos contra outras nações. Somos contra o mal, a escravização dos polacos. É triste que tenham manipulado os polacos desta forma, com a ajuda dos meios de comunicação social e também com a ajuda de alguns vendedores. Estamos caminhando para a escravidão por nossa própria vontade. Por isso, precisamos despertar a consciência e a consciência. E muito importante: não se deixem dividir, porque eles vão tentar", afirmou padre Rydzyk.

Na entrevista diretor da Rádio Maria foi questionado sobre as ações do novo presidente do Câmara, ele incentiva os polacos a comprar pipoca porque haverá um show divertido no parlamento.

"Este é o caminho errado porque os tempos estão difíceis. O preço de uma abordagem imprudente dos assuntos públicos pode ser muito, muito elevado. O próprio Sr. presidente da câmara também me surpreende. Gostaria de salientar: eles querem brincar constantemente com as nossas emoções, não querem que tomemos decisões racionalmente. Algumas pessoas são tão fascinadas pela Alemanha, que tirem essa dos alemães, porque falam sério de política e de assuntos públicos, não há lugar para esses circos lá"enfatizou o diretor da rádio que há tempos deixou de ser clandestina.

"Lembro-me de como nasceu em mim a ideia da rádio, de como foram e estão a ser criadas questões subsequentes. A segunda parte do milagre é que muitas pessoas aderiram à causa. Você pode ter ideias ótimas e muito boas, mas elas não serão implementadas, os arquivos e bibliotecas privadas estão cheios delas. E sempre houve e há pessoas maravilhosas na rádio que assumiram esta tarefa. Às vezes não sei como agradecê-los.", agradeceu Rydzyk.

Sobre a Polônia e patriotismo ele foi enfático: "Também penso o tempo todo na Polônia, porque a nossa pátria é a mais próxima de mim depois de Deus. Quantas vezes na história a Igreja salvou a Polônia, os Polacos, a Polónia. Aprendo isto constantemente com grandes polacos do passado, incluindo o cardeal Stefan Wyszyński, que pude ouvir várias vezes quando era jovem, e depois, como jovem sacerdote, conheci pessoalmente, uma vez até na rua Miodowa. Ele disse: “Depois de Deus, o que mais amo é a Polónia”. Porque essa é a nossa família, que linda, que corrente maravilhosa de gente marcante".

Segundo o padre mais conservador da Polônia, "no mundo de hoje, sem mídia, somos como mudos. Os adversários da Igreja sabem disso, e os comunistas sabiam-no perfeitamente. Quando supostamente deixaram o poder e caíram, garantiram que a mídia estivesse em suas mãos. E outras estruturas nodais e chave. Por isso fizeram tudo para impedir a criação da Rádio Maria e depois para destruí-la."

Rydzyk acredita na tese de que o Santo São João Paulo II é vitima de um ataque deliberado.
"Todos provavelmente percebem que este é um ataque internacional e coordenado. Eles não conseguiram matá-lo no início do seu pontificado, por isso estão tentando agora, postumamente. Uma tentativa de tirar a dignidade, o bom nome, atribuindo falsamente atos indignos - isto é, afinal, o assassinato póstumo de uma pessoa. Com estes métodos, tentam manipular, especialmente, os jovens que não se lembram daqueles anos, do grande bem que os polacos experimentaram do Papa polaco, do seu cuidado com cada pessoa, da sua sabedoria. Por isso faço um apelo: falemos com os jovens, contemo-los como foi, vamos incentivá-los a procurar fontes de informação que digam a verdade".

E ele continua sua pregação contra o que considera inimigos da religião, do povo e da Polônia. "Os polacos devem mobilizar-se hoje porque muitas questões estão em risco. Eles também vão querer atacar a Rádio Maria. Mas não só em nós. Não gosto da televisão polaca em tudo, lá também há coisas más, mas hoje dá voz aos polacos que antes eram silenciados. Eles também querem assumi-lo e destruí-lo. Assistimos a um ataque muito forte e ilegal ao Banco Nacional da Polônia, que poderá ter consequências econômicas muito negativas para o país. Ataque ao Escritório Central Anticorrupção. Eles planejam atacar o Instituto da Memória Nacional, ou seja, nossa memória. Uma nação que não se lembra do passado morre e não tem futuro. O Instituto da Memória Nacional, por exemplo, mostra-nos soldados firmes e restaura a sua memória nacional. Isso os incomoda? Ou talvez o desenvolvimento polaco, o fato de a Polônia ter avançado tanto nos últimos anos?"

Suas baterias se voltam contra a universidade: "Tudo isto sob os belos lemas de prosperidade e liberdade. Mas quando um homem chega à Universidade da Silésia alertando contra a tragédia da chamada “mudança de sexo”, eles iniciam uma campanha e o reitor não permite que ele compareça. Esta é a liberdade deles? Onde está a busca da verdade pela universidade? Não, este é o pensamento marxista. Não podemos ceder a isto. Queremos um diálogo argumentativo, queremos uma conversa séria sobre o bem comum e o futuro de toda a família polaca neste mundo conturbado".

Como responder aos ataques à Igreja e aos anúncios de “arquivamento dos católicos”, que podem estar agora a entrar na fase de implementação, é a pergunta que foi feita ao padre Rydzyk e a qual ele respondeu assim:  "Quando ouço tais anúncios, sempre pergunto: “você é polaco? Você não sabe como seria a Polônia sem a Igreja? Você não vê o quanto ela deu e está dando à Polônia? O fato do escândalo acontecer em algum lugar, de haver algumas coisas ruins, exige condenação e reparação, há ovelhas negras em todos os ambientes. Mas isto não significa que assim seja a Igreja na Polônia. Todos cometemos erros, somos todos mais ou menos pecadores, devemos advertir uns aos outros - mas com amor. A Igreja é de Cristo e quer conduzir todos nós ao Reino de Deus, à verdade, à justiça, ao amor, à paz e à alegria no Espírito Santo, ou seja, ao Céu."

Em relação à guerra na Ucrânia e ao ataque de Israel na Palestina, o padre acredita que:  "Sim, isto é uma ameaça à independência e é claro que a Alemanha está a tentar fazê-lo. Bismarck falhou, Hitler falhou, mas eles continuam tentando. Não somos contra a Alemanha, não somos contra outras nações. Somos contra o mal, a escravização dos polacos. É triste que tenham manipulado os polacos desta forma, com a ajuda dos meios de comunicação social e também com a ajuda de alguns vendedores. Estamos caminhando para a escravidão por nossa própria vontade. Por isso, precisamos despertar a consciência. E muito importante: não nos deixemos dividir, porque eles vão tentar".

E para concluir, ele é taxativo: "Se vierem para destruir a nação, atacarão primeiro a Igreja. É por isso que todos precisam da Família Rádio Maria. Quando atingem um padre, uma freira ou um católico, as pessoas que pensam, superficialmente, se afastam. Queridos amigos, sabemos e lembramos. Aleluia e mãos à obra na evangelização!"

Não resta dúvida que a guinada à extrema-direta que a Polônia, experimentou na última década é em grande parte responsabilidade deste senhor, que impõe costumes medievais, que se mete na política..e eleva a igreja católica apostólica romana ao status de igualdade como o Estado, quando o assunto é Pátria.

Fontes: wPolityce.pl, onet.pl, agências internacionais de notícias.
Texto: Ulisses iarochinski