A artista mineira Marina Amaral realizou um trabalho de restauro e colorização de fotos preto e branco que a levou a ter acesso a quase 40 mil fotos cedidas pelo Memorial e Museu de Auschwitz-Birkenau, na Polônia.
A ideia da mineira foi mostrar com cores o horror escondido nas faces dos prisioneiros do nazismo de Hitler.
Se alguém ainda crê, e pior...espalha que o Holocausto não existiu, deve ser internado num hospício ou condenado a prisão perpétua por divulgar mentiras.
O trabalho de Amaral é mais do que surpreendente é impressionante, por dar mais emoção a quem vê.
Por exemplo, a foto da menina polaca Józefa Glazowska, que aos 12 anos de idade, recebeu o número 26.886 no Campo de Concentração e Extermínio Alemão Nazista de Auschwitz, na Polônia ocupada pelos alemães durante a 2ª Guerra Mundial.
O local foi o maior campo de concentração nazista da Segunda Guerra Mundial. Lá, cortaram seu cabelo, a obrigaram a usar um uniforme listrado e a fotografaram. O preto e branco do retrato desapareceu pelas mãos da mineira Marina Amaral, que humanizou ainda mais o registro.
A artista é idealizadora do projeto Faces of Auschwitz que pretende dar cor a uma parte da história cinzenta do campo de concentração. “Eu tinha feito uma proposta ao Memorial de Auschwitz, que guarda as fotos dos prisioneiros, em 2016. Mas o pessoal ficou um pouco receoso. Só que quando eu postei a foto daquela menina de 14 anos na internet, eles viram que o trabalho era legal. Depois, até replicaram e aí consegui ter acesso ao material”, disse ela.
A menina a que Marina se refere é Czesława Kwoka, de 14 anos, prisioneira do campo de concentração, morta em 1943. O Memorial e Museu de Auschwitz-Birkenau, na Polônia, liberou quase 40 mil fotos para Marina. Até agora ela já coloriu 25. Cada retrato demora quase duas horas para ficar pronto. O trabalho é feito no Photoshop.
12 de março de 1943 | A menina polaca de 14 anos, Czesława Kwoka, nº 26947) foi assassinada em Auschwitz com uma injeção de fenol no coração. Ela foi deportada por alemães da região de Zamość como parte de seu plano de criar "espaço vital" no leste.
“É preciso fazer uma pesquisa para tentar encontrar as cores mais parecidas com a realidade. No caso das fotos do campo de concentração há uma facilidade. O uniforme é padrão, né? Para saber a cor da pele, dos olhos, dos cabelos, há documentos que descrevem as características de cada prisioneiro. No certificado de óbito também é possível encontrar esses detalhes. A gente também buscar saber de que cor era o triângulo bordado no uniforme que identificava os prisioneiros”, disse Marina.
Czesława Kwoka nasceu em 15 de agosto de 1928 em Wólka Złojecka, uma vila rural na região de Zamość. Ela chegou a Auschwitz em 13 de dezembro de 1942 em um transporte de 318 mulheres. Sua mãe Katarzyna (foto acima) também foi deportada. A mãe recebeu o número 26949 e morreu no campo em 18 de fevereiro de 1943.
Além de judeus, o campo de concentração recebia ciganos, gays, deficientes físicos e mentais, além de prisioneiros políticos. Cada “perfil” era identificado com um triângulo diferente. Marina esteve em Auschwitz este ano para conhecer o trabalho do memorial e ainda gravar um documentário sobre os registros.
O estudante Seweryn Głuszecki morreu aos 16 anos em Auschwitz |
“A gente estuda, lê livros, vê filmes, mas não é nada comparado com o que a gente encontra e sente quando está lá. É horrível. É um incômodo físico mesmo. Ficamos quatro dias lá e pudemos ver a sala onde essas fotografias eram tiradas”, contou ela.
O documentário ainda não tem data de lançamento. Já o projeto Faces of Auschwitz já está na internet e vem aos poucos ganhando novas imagens.
Uma delas é de August Kowalczyk. Nascido em 1921, o polaco era ator. Trabalhava no teatro, na televisão e no cinema. Ele se alistou no Exército durante a 2ª Guerra Mundial, foi preso na Eslováquia e levado para Auschwitz. Ele foi um dos poucos a conseguir escapar do campo de concentração.
O mesmo não aconteceu com a holandesa Deliana Rademakers. Presa por ser testemunha de Jeová, ela foi deportada para o campo nazista e morreu um mês depois, em 1942.
“A foto, quando ela é colorida, acaba tocando mais as pessoas. E este trabalho é mostrar como esse período foi forte e terrível. E como essas pessoas sofreram”, disse Marina.
Deliana Rademakers foi mandada para Auschwitz por ser testemunha de Jeová |
Foto: Marina Amaral / Arquivo Pessoal |
Fotos: Marina Amaral / Arquivo Pessoal |
Fotos: Marina Amaral / Arquivo Pessoal |
Fotos: Marina Amaral / Arquivo Pessoal |
Janina foi uma das 50 mulheres que fugiram do campo de Auschwitz.
Em 24 de junho de 1942, Janina escapou de um grupo de trabalho, conhecido como Kommando, que consistia de 200 mulheres polacas trabalhando perto do rio Soła, secando o feno. Depois que ela foi dada como desaparecida, os soldados da SS nazista tentaram, sem sucesso, persegui-la.
Exasperados pela perda de seus prisioneiros, as SS levaram as prisioneiras remanescentes do Kommando de Nowak de volta ao campo. Os oficiais políticos do campo interrogaram os outros membros do Kommando sobre os detalhes de sua fuga.
As mulheres, por sua vez, deixaram seus captores sem respostas. Como os oficiais do campo foram incapazes de punir Nowak por ganhar sua liberdade, a raiva deles foi imposta à suas companheiras.
Naquela noite, como punição, as mulheres do Kommando de Nowak foram forçadas a cortar o cabelo (antes eram apenas prisioneiras judias que tinham o cabelo cortado no campo).
No dia seguinte seguinte, todo o Kommando foi re-designado como uma companhia penal e enviado para um dos sub-campos de Auschwitz, chamado Budy, localizado a cerca de 6 km do acampamento principal.
As acomodações em Budy consistiam em um antigo prédio da escola, um barracão de madeira em ruínas, uma pequena cozinha e latrinas, todas cercadas por arame farpado.
As mulheres da companhia penal foram forçadas a trabalhar em condições extremamente adversas, limpando lagoas próximas, cortando juncos e cavando valas de drenagem - tudo isso foi empreendido como parte de um esquema alemão para transformar Auschwitz em um centro de pesquisa agrícola.
Poucos dias depois, o ex-Kommando de Nowak foi acompanhado em Budy por um grupo de 200 prisioneiras do sexo feminino, composto por judeus franceses e cidadãos eslovacos.
A companhia penal foi surpreendida por um grupo de kapos alemães, que brutalizaram suas acusações em nome do cumprimento das metas de produção estabelecidas por seus supervisores de campo alemães da SS.
Depois de escapar de Auschwitz, Janina Nowak conseguiu chegar a Łódz. Ela evitou as autoridades até março de 1943, quando foi presa.
Em 8 de maio de 1943, Nowak foi levada novamente a Auschwitz, onde recebeu um novo número de prisioneiro - 31529.
Em 1943, ela foi transferida para KL Ravensbrück, onde foi libertada no final de abril de 1945.
MARINA AMARAL
O trabalho repercutiu tanto que a mineira foi convidada a fazer parte do projeto “Faces of Auschwitz” que é uma colaboração entre o Museu Auschwitz-Birkenau, ela, Marina Amaral, e uma equipe de acadêmicos, jornalistas e voluntários.
O objetivo do projeto é homenagear a memória e a vida dos prisioneiros de Auschwitz-Birkenau, colorindo as fotos de registro retiradas do arquivo do museu e compartilhando histórias individuais daqueles cujos rostos foram fotografados.
Em outubro de 2018, a equipe do projeto Faces of Auschwitz viajou na companhia da mineira Marina Amaral para o Memorial e Museu de Auschwitz-Birkenau, na cidade de Oświęcin, onde está localizado o campo de concentração nº 1, na Polônia.
Marina à esquerda acompanhando as filmagens |
Parte da equipe com Marina ao centro |
Texto: Thais Pimentel, G1 Minas e Ulisses Iarochinski (com adaptações e complementos)