domingo, 7 de dezembro de 2014

Irineópolis resgata cultura polaca dos imigrantes

Texto: Ellen Colombo
Fotos: Ellen Colombo
No último dia 3 de dezembro, Irineópolis recebeu a visita do cônsul geral da Polônia, em Curitiba, para reafirmar o interesse da Polônia por esse intercâmbio cultural.
Na oportunidade, será realizada uma festividade polaca de natal com apresentações de cantos, dança e encenações teatrais.
Com uma dose de boa vontade e seguindo uma fórmula que soma carinho, organização, empenho e participação da comunidade, o resgate e a valorização cultural puderam caminhar juntos no Núcleo Escolar Presidente Adolfo Konder, na localidade de São Pascoal, em Irineópolis.
Atualmente, a escola é referência no resgate da cultura polaca, sendo a única escola da rede municipal de ensino do Brasil que possui intercâmbio direto com a Polônia. Szkoła Polskiej Kultury i Tradycji w Irineópolis-Escola da Tradição e Cultura Polaca de Irineópolis, em Santa Catarina, como é conhecida na Polônia.



O início
Tudo começou quando o professor de Educação Física, Quelson Marcelo Brito, observou o grande número de alunos descendentes de polacos no município de Irineópolis, especialmente em São Pascoal. “Isso se percebe pelos sobrenomes das pessoas e, em São Pascoal, por ainda manterem a língua polonesa e seus costumes”, conta. Tendo em vista esses fatores peculiares da localidade, o professor apresentou à diretora Andreia Kaschuk Janiszewski a ideia de um projeto de resgate da cultura com danças, cantos, costumes e a língua.
A diretora abraçou a causa e há quatro anos se empenha pelo projeto na intenção de aproximar os alunos descendentes ou não da etnia polaca e divulgar o município de Irineópolis por meio do folclore Polaco. “A princípio foi uma ideia simples e amadora, mas estamos colhendo belos frutos”, disse.
A diretora comenta que o projeto dá muito trabalho, mas todo o esforço é compensado quando vêm os resultados positivos. “Quando há apresentações e títulos que elevam o nome do município, a gente se sente muito feliz e realizado.” Disciplina As principais dificuldades encontradas no início, há quatro anos, eram em relação às vestimentas, pois o material é caro e necessita ser de qualidade. Atualmente, a administração custeou todos os trajes que são confeccionados e bordados à mão. “Começamos com trajes muito simples pela falta de recurso e com o tempo fomos estudando as coreografias e aprimorando, pois cada apresentação exige um traje diferente”, explica a diretora.
O reconhecimento e respaldo dos pais é grande e é desta forma que o apoio da comunidade acontece. “Temos muita procura de pais que querem que seus filhos façam parte do projeto de dança, contudo, para entrar, é preciso que o aluno tenha alguns critérios como: boas notas, comprometimento, comportamento adequado e orgulho da cultura polaca”, comenta, indicando o perfil dos alunos que integram o projeto.
A diretora acrescenta que, mais que um projeto de dança, a escola tenta resgatar a cultura de um povo, por meio da língua, dos costumes, das histórias, da culinária, entre outros fatores. “As danças folclóricas são um instrumento tanto de preservação da cultura, como para a formação dos alunos, contribuindo na melhoria da qualidade de vida por meio do movimento e da socialização dos participantes”, destaca o professor Quelson.
O professor ressalta ainda que o projeto trabalha toda a identidade cultural polaca, além de trabalhar a lateralidade, força, equilíbrio, memória, coordenação motora, postura e disciplina dos alunos. Conquista Recentemente, o projeto recebeu um reforço especial.
Trata-se da contratação da professora de Língua Polaca, Ludmiła Pawłowski, que ministra aulas duas vezes por mês no Núcleo Escolar Presidente Adolfo Konder. Por meio de músicas, a professora, que mora há quatro anos no Brasil, tem ensinado a pronúncia da língua, que é a considerada uma das cinco mais difíceis do mundo. “Muito interessante foi a vinda da professora que aconteceu por meio de um contato informal que tive com ela em conjunto com a secretária de educação, Lilian Eliane Batschauer Ferreira, e o professor Quelson. Nessa conversa, a professora lançou a proposta e nós apresentamos ao prefeito, ele abraçou a causa e conseguimos trazê-la ao município”, conta a diretora.



Bons frutos
Encantada com as crianças do Núcleo, a professora diz que sua impressão sobre o projeto é muito positiva. “As crianças são muito interessadas em aprender a língua e os adultos também. É muito raro e inusitado que as pessoas se interessem pela língua polaca. Nestes anos que trabalho ministrando aulas, nunca tinha encontrado crianças interessadas em aprender polaco, eu encontro adultos, mas crianças ainda não”, comenta.
Para ela, o projeto é exemplo. “Irineópolis é o primeiro município brasileiro que contratou uma professora de polaco e isso é inédito, o que chama atenção é que o município é pequeno e isso mostra o caminho para outros municípios, pois no sul do Brasil a comunidade Polaca é muito grande, mas espalhada e desligada e não demonstra muito interesse no sentido de introduzir a língua para as escolas, pois pensam que só os adultos têm interesse e que a língua já é extinta”, explica. Ludmiła destaca ainda que o ensino da língua pode ser muito interessante e bem aproveitado no estudo e na aprendizagem dos jovens. “Não se trata somente da questão do idioma, mas por meio da língua vem toda a cultura de uma civilização, oportunidades de negócios e muitas chances”, disse. 



Oportunidade
No dia 3 de dezembro, quarta-feira, o município de Irineópolis recebeu a visita do Cônsul da Polônia. Conforme a professora, ele ministrou uma palestra para os alunos sobre as chances de estudos na Polônia. “Os alunos que hoje fazem aulas de polaco terão a oportunidade de continuar os estudos se formar na Polônia”, destaca.
A visita reafirma o interesse da Polônia neste intercâmbio cultural. “Polônia não é um país rico como Alemanha, ou como a França, mas o que tem melhor é a educação. O nível é muito elevado, então esses alunos poderão se formar e fazer alguns semestres da universidade na Polônia e, os que possuem descendência polaca podem ganhar bolsa de estudos”, comenta.
Ludmiła comenta que por meio de fotos, os alunos da escola polaca que fazem o intercâmbio cultural com os alunos de São Pascoal ficam surpresos por saber que existe uma escola no Brasil que demonstra interesse tão grande em aprender a língua e cultura polaca. “É algo muito original. Agora, como uma prova que nós poloneses valorizamos aquilo que demonstram os munícipes de Irineópolis, teremos a visita do cônsul polaco para mostrar que para nós isso é importante, que valorizamos como algo muito precioso.”

Dinamismo
Quanto às aulas, a professora explica que a primeira coisa que assusta os alunos é a pronúncia, pois é uma língua muito sussurrada. Contudo, o mais complicado é a gramática. “Não é difícil, mas é muito diferente do português. A língua polaca baseou-se na gramática do latim, então quem tem alguma noção de latim já entende a gramática polaca”, explica.
Desta forma, a prática será essencial. Ludmiła está preparando conversações entre os alunos polacos e brasileiros por meio de bate papo online. “Não queremos que seja uma língua morta, ou seja, a língua que o aluno só aprende na sala de aula, então preparamos um intercâmbio com a Escola da Polônia, que se chama Ginasial Escola. Uma vez por mês os alunos vão se conectar pelo Skype e já poderão praticar aquilo que aprendem na sala de aula, além de praticar o inglês também”, conta. Muito satisfeita com a oportunidade de ensinar sobre a língua e cultura de seu país, a professora parabeniza Irineópolis. “O município me surpreendeu positivamente. O interesse da administração de Irineópolis em chamar uma professora de polaco é louvável. Está sendo uma experiência incrível e espero que renda bons frutos”, finaliza.

Fonte: jornal Correio do Norte, Canoinhas -SC