quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Polônia alerta sobre invasão russa na Ucrânia



À medida que as forças leais ao Governo da Ucrânia apertam o cerco aos combatentes separatistas nas cidades de Donetsk e Lugansk, no Leste do país, o Exército russo vai-se estendendo ao longo da sua fronteira, a meia centena de quilômetros, em movimentações que a Polônia e a OTAN interpretam como os primeiros passos de uma invasão.
Os números da Aliança Atlântica são revistos e aumentados praticamente todos os dias – na semana passada, falava-se em 15.000 soldados russos ao longo da fronteira, mas agora serão já 20.000, de acordo com o secretário-geral adjunto da organização, o norte-americano Alexander Vershbow.
Apesar das acusações, a disposição das tropas russas não viola os acordos internacionais – oficialmente são exercícios militares, e não há grupos com mais de 9.000 soldados fora das suas bases, em cumprimento do Documento de Viena de 2011.
Como tem sido hábito desde o início do conflito na Ucrânia, quase todas as acusações, declarações e alegadas provas da culpabilidade de um e de outro lado jogam-se nas redes sociais, e não foi de se estranhar que uma das mais sérias acusações da OTAN tenha chegado através do Twitter. "A Rússia violou a lei internacional sem qualquer justificação, invadiu a Ucrânia, apoia os separatistas, e tem agora cerca de 20.000 soldados na fronteira com o Leste da Ucrânia", escreveu Alexander Vershbow.
É uma guerra com várias tentativas de cerco – no terreno, as forças ucranianas tentam derrotar os separatistas; a liderança da OTAN tenta convencer os seus membros de que é urgente apressar os preparativos para uma guerra; e a Rússia tenta avisar a Ucrânia que uma vitória militar no Leste do país pode sair-lhe cara.
Nesta quarta-feira, o Presidente russo, Vladimir Putin, respondeu às duras sanções aprovadas na semana passada com a limitação ou proibição da importação de alimentos dos EUA e da União Europeia (UE). "Determinados tipos de produtos agrícolas, matérias-primas e alimentos com origem em Estados que decidiram impor sanções econômicas a entidades legais e/ou indivíduos russos, ou que se tenham associado a essa decisão, estão banidos ou limitados", lê-se no comunicado do Kremlin.

OTAN exige mais poder
Nas últimas horas, a OTAN não tem parado de lançar avisos. A porta-voz da organização, a romena Oana Lungescu, disse que "o mais recente reforço militar russo agrava a situação e compromete os esforços com vista a uma situação diplomática para a crise". Mas o mais sério aviso veio do próprio secretário-geral da Aliança Atlântica, o dinamarquês Anders Fogh Rasmussen.
Num artigo assinado no Financial Times, intitulado "Todos os aliados da OTAN devem pressionar a Rússia", Rasmussen apresenta uma série de argumentos a favor do reforço da capacidade da aliança, contra aquilo a que chama "o maior desafio desde o fim da Guerra Fria".
Pondo toda a responsabilidade nas costas da Rússia, por ter "rasgado os compromissos" com a OTAN – que "se esforçou para melhorar as relações com Moscou após o colapso do comunismo" –, Rasmussen voltou a apelar ao reforço dos gastos com equipamento militar por parte dos 28 membros da organização.
A próxima reunião de cúpula da OTAN, que vai decorrer no País de Gales a 4 e 5 de Setembro (a última de Rasmussen como secretário-geral, posição que vai ceder ao norueguês Jens Stoltenberg a partir de Outubro), terá de servir para "aumentar a força de resposta multinacional", porque "as ações da Rússia não podem ser ignoradas".
"A ordem mundial pós-Guerra Fria está em jogo. Por isso, a OTAN é necessária mais do que nunca. Estamos decididos a mostrar que a OTAN está a falar muito a sério", escreveu Rasmussen. A ideia de uma invasão do Leste da Ucrânia pela Rússia não é nova – desde a anexação da península da Crimeia, em Março, que o Governo de Kiev, os Estados Unidos e vários países da União Europeia têm trabalhado com esse cenário em cima da mesa.
Nesta quarta-feira, o primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, disse ter "razões para suspeitar" que a Rússia vai entrar diretamente no conflito na Ucrânia. "Temos recebido informações nas últimas horas de que o risco de uma intervenção direta é sem dúvida mais elevado do que era há vários dias", disse o chefe do Governo polaco em conferência de imprensa.
E, à semelhança do secretário-geral da OTAN, pressionou os seus aliados a prepararem-se o mais depressa possível para esse cenário: "Se se concretizar uma intervenção direta das forças russas na Ucrânia, isso seria obviamente uma situação nova e, na minha opinião, ninguém tem uma resposta boa e inequívoca sobre de que forma o Ocidente deve reagir a isso."

Fonte: jornal "Público", de Lisboa