quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Nobel para Sendlerowa

Foto: Kubik
De repente começaram a circular e-mails pela Internet manifestando surpresa e crítica pela existência e atos de uma heroína de nossos tempos. Os críticos dizendo que a Schindler de saias foi esquecida pelo mundo. Por que não apareceu um Spylberg para contar sua vida? É uma das justificativas. Se alguém tivesse feito um filme igual ao feito pelo diretor de Hollywood sobre com o playboy alemão que virou dono de fábrica de panelas em Cracóvia, e salvou da morte mil judeus durante a segunda guerra mundial, também Sendlerowa seria mais conhecida. Já os surpresos, nunca tinham ouvido falar da mulher polaca que salvou 2500 crianças judias da morte, também durante a segunda guerra mundial.
Talvez os cinéfilos não saibam quem é e o que fez a polaca católica Irena Sendlerowa Krzyżanowska, mas desde sempre seus atos foram conhecidos na Polônia. E pelo menos desde 1965 ela é conhecida em todo o mundo judeu. Isto porque, naquele ano, ela foi reconhecida pelo Instituto Israelense Yad Vashem como uma Justa entre as Nações do Mundo. Tal honraria foi confirmada, em 1983, pelo Supremo Tribunal de Israel.
O interessante é que precisou um professor Norte-americano, Norm Conard, em 1999, numa escola de ensino médio de Pittsburg, Kansas, propor um trabalho escolar de investigação sobre os atos heróicos de Irena para seus alunos, para que mais gente em todo o mundo passasse a conhecer os feitos desta enfermeira polaca. O mais curioso é que a partir de então, ela deixou de ser Sendlerowa Krzyżanowska para ser conhecida apenas por Sendler, uma palavra que está mais para sobrenome judaico do que polaco católico.
Mas seja como for, nesta sexta-feira, ainda que muito tardiamente, o Comitê do Prêmio Nobel, em Oslo, na Noruega anuncia o nome do ganhador do Nobel da Paz 2007 e entre os 181 candidatos, está a mulher que salvou da morte 2.500 crianças polacas judias entre 1942 e 1943, no gueto de Varsóvia. Embora a lista dos mais prováveis vencedores ser um dos mais bem guardados segredos, as apostas para o Nobel da Paz deste ano estão entre Sendlerowa; a ex-presidente da Finlândia, Martti Ahtisaari; o ex-vice presidente dos Estados Unidos, Al Gore; a canadense que luta contra as mudanças climáticas no Pólo Ártico; e o cantor de rock Bono, líder do grupo U2.

QUEM É IRENA SENDLEROWA KRZYŻANOWSKA
A jovem, de 29 anos, trabalhava como enfermeira no Departamento de Bem Estar Social, de Varsóvia, em 1939, quando os alemães invadiram a Polônia. Em 1942, quando os nazistas criaram o gueto de Varsóvia, Irena decidiu se unir ao Conselho de Ajuda aos Judeus, conseguindo para ela e outras companheiras crachas da unidade sanitária. Como os alemães tinham medo que se alastrasse uma epidemia de tifo no gueto, permitiam a entrada de Irena naquele campo de concentração improvisado. Irena tinha a incumbência de controlar doenças contagiosas. Dessa maneira, Irena pode oferecer ajuda às famílias. Sua maior preocupação era tirar as crianças dali e salvá-las da morte certa. Era um objetivo quase impossível, começava que as mães não queriam se separar de seus filhos e muito menos acreditavam, que aquela católica pudesse salvá-los. Todos os dias Irena voltava ao gueto e tentava persuadir as mães. Aos poucos elas foram cedendo, pois já tinham visto muitas famílias serem enviadas para os campos de concentração e separadas definitvamente de seus filhos. Vencida a primeira batalha, Irena tinha que encontrar meios para efetivamente tirar aquelas crianças daquele inferno encravado no meio da cidade de Varsóvia. O momento mais díficil para ela, era justamente a separação de mães e filhos. Durante um ano e meio, Irena se valeu de todo tipo de meios. Quando não transportava as crianças judias em ambulâncias como vítimas de tifo, ela as escondia em caixas, em sacos de batatas, e etc. Irena tinha uma segunda preocupação, além dos perigos que enfrentava. Ela acreditava que uma vez terminada a guerra, os filhos voltariam para seus pais. Assim, passou a fazer um "estranho" arquivo. Em pequenos pedaços de papel escrevia os nomes originais das crianças junto as novos nomes que ganhavam ao serem adotadas pelas famílias polacas católicas. Krzyżanowska guardava estes papelzinhos em frascos de vidro e os enterrava próximo a uma árvore frutífera no quintal de um vizinho.
Porém, a sua sorte estava lançada: a enfermeira foi capturada pela Gestapo. Era 20 de outubro de 1493, quando ela levada para a prisão de Pawiak e ali, torturada de todas as formas. Os alemães lhe quebraram os pés e pernas e a sentenciaram à morte. Pois Irena, nada revelou: nem seus colaboradores, nem as famílias adotivas e tampouco sobre seu estranho arquivo com 2.500 frascos no quintal do vizinho. Quando estava sendo encaminhada para execução, um dos guardas lhe gritou para que corresse. E ela correu sem olhar para trás mesmo com pés destroçados. O guarda tinha sido subornado com muito dinheiro pelo Conselho de Ajuda aos Judeus. Assim, apesar de fazer parte da lista dos executados, Irena Krzyżanowska, sobreviveu.
Com nome falso, ela voltou a ajudar os judeus. Em 1944, durante o Levante de Varsóvia, Irena entregou dois frascos ao Doutor Adolfo Berman, presidente do Comitê de Salvamento dos Judeus Sobreviventes. Com o término da guerra poucas famílias escaparam e somente por isso parte daquelas crianças puderam voltar para seus verdadeiros pais.
Aquelas crianças, no entanto, sempre recordavam daquela "Jolanta", a enfermeira que lhes permitiu viver. Anos mais tarde, muitos deles reconheceram sua foto, publicada em jornais, quando os primeiros reconhecimentos e prêmios começaram a ser conferidos. Muitos encontros então, passaram a ocontecer entre aquela mulher de coragem e aquelas ex-crianças.
Irena Sendlerowa Krzyżanowska nasceu, em 15 de fevereiro de 1910, em Varsóvia e durante a segunda guerra mundial morava em Tarczyna. Seu pai era um médico que lhe disse um dia: "não importa se é católico, protestante, cigano, judeu, branco ou negro, todos os pacientes merecem a mesma atenção". Em 2003, o governo polaco lhe conferiu a Ordem da Águia Branca e também a Cruz de Comandante e a Estrela da Ordem do Renascimento da Polônia. Em 2004, Anna Mieszkowska lançou um livro com a biografia da heroína intitulado, "Matka dzieci Holocaustu. Historia Ireny Sendlerowej", (matca djietchi holocausto. Historia Ireny Sendlerovei - Mãe das crianças do Holocausto. Historia de Irena Sendlerowa), publicado pela Editora Muza de Varsóvia. Se realmente for apontada como o Nobel da Paz de 2007, ela entrará para a galeria dos 8 polacos agraciados com o Nobel e a terceira mulher polaca a receber a honraria. Antes dela apenas Maria Skolodowska Curie (Química, ganhou duas vezes) e Wislawa Szymborska (poetisa). E será a segunda pessoa da Polônia a receber o Nobel da Paz, o outro foi Lech Wałęsa. Os outros ganhadores foram os escritores Henryk Sienkiewcz (Quo Vadis), Władysław Reymont (Terra Prometida) e Czesław Milość.
Neste vídeo aos 97 anos, Irena Sendlerowa, em seu idioma pátrio, conta um pouco do que fez. A heroína polaca ainda vive num asilo de Varsóvia.