terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

"Guerra Fria" em cartaz no Brasil

"É um poema ajudado não apenas pelas músicas, mas pela incrível fotografia e delicadeza de imagens e sentimentos".
Rubens Ewald Filho


Este é um dos filmes mais premiados deste ano, em todo o mundo. Este romance foi nomeado para 12 Eagle Awards (incluindo melhor diretor e filme) e também o European Awards (5 prêmios).

O romance após guerra é uma coprodução entre França, Polônia e Inglaterra. Este ano no Oscar, ele foi indicado a concorrer como melhor filme estrangeiro, melhor diretor e fotografia. Sem esquecer quatro indicações para o BAFTA britânico.

A história é baseada na vida dos pais do diretor do filme Pawlikowski e foi todo rodado em preto e branco, ou monocromático, o que o torna mais romântico e trágico o complicado romance entre músico (Tomasz Kot) e sua musa (Joanna Kulig).

Pawlikowski foi também premiado como melhor diretor no Festival de Cannes.

Dados importantes: o romance entre os principais personagens foi inspirado na vida real de seus pais, que romperam o casamento algumas vezes chegando a se mudarem de uns pais para outro. O filme é dedicado a esses seus “pais”, inclusive usando os nomes reais dos protagonistas.

Este foi o primeiro filme de língua polaca desde 1990 a ser exibido no Festival de Cannes (bem depois de outros polacos como Polański e Kieślowski). O sucesso foi tão grande que teve uma ovação de 18 minutos.

Importante: os personagens principais foram baseados na vida real de uma famosa escola e grupo folclórico polaco que se chamava Zespól Pieśni i Tanca Mazowasze (no filme o sobrenome foi mudado para Mazurek).

Foi assim que Tadeusz e Mira se casaram e depois da guerra se mudaram para o interior onde procuraram cantores e dançarinos folclóricos. Eles também compuseram a canção Dwa Serduzka, Cztery Oczky são as que servem de motivação para o filme.



Joanna Kulig fez antes também um papel de cantora em outro filme de Paweł Pawlikowski , chamado "Ida". A influência dela foi tentar ficar parecida com a atriz americana Lauren Bacall

Outra informação importante: Paweł chamou para o grupo dançarinos do grupo Mazowsze (que ainda estava ativo até hoje) que ilustrava a sociedade e polaca da época.

O Mazowsze além de um grupo folclórico de canto e dança também é uma escola. E está para as danças folclóricas de todo o mundo, como o Bolshoi russo está para as danças clássicas.  Os estudantes moram na própria escola, numa cidadezinha nos arredores de Varsóvia.

O filme era para ser feito a cores (se reparar bem, apenas a cena em que a Joanna canta há certo tom de cores). Todos os números de Jazz foram executados por Marcin Masecki. Este foi o único filme do Oscar deste ano que foi indicado como melhor diretor e não apenas filme.

Conclusão artística: tantos elogios, tanta repercussão para um filme musical e de amor. Só que é muito mais. Certamente é um dos poucos filmes recentes da Polônia corajoso o suficiente para questionar o passado e colocar o amor mais importante do que se sacrificar pelo comunismo stalinista. É um poema ajudado não apenas pelas músicas, mas pela incrível fotografia e delicadeza de imagens e sentimentos. Não perca.

Paweł Pawlikowski - Foto: Mario Anzuoni/Reuters
"Guerra Fria" fala de paixão sob o stalinismo
Luiz Carlos Merten, O Estado de S. Paulo

Foi no fim do ano passado. Quando conversou com o Estado, pelo telefone, o diretor polaco Paweł Pawlikowski estava em Los Angeles para promover "Guerra Fria" entre os votantes da Academia.

Indicado pela Polônia, o longa – em cartaz nos cinemas – terminou entre os cinco indicados que disputam na categoria de melhor filme em língua estrangeira, na premiação de domingo, dia 24.

Pawlikowski, que já venceu o Oscar por "Ida", concorre pela segunda vez. É sinal de prestígio, mas, dessa vez, trombando com "Roma", do mexicano Alfonso Cuarón, que também está na disputa, será mais difícil.

É curioso que ambos estejam concorrendo não apenas com filmes pessoais, mas autobiográficos.

“A história de um casal que não consegue viver junto nem separado já é antiga no meu imaginário. Me persegue há muitos anos e, na verdade, é a história de meus pais. E porque mexe com coisas que são muito profundas e até dolorosas para mim, eu queria, mas não sabia como abordar um tema tão pessoal. Foi uma longa caminhada. Cada filme me aproximava do meu objetivo. E creio que a solução veio com Ida, com sua narrativa elíptica. Deixei de pensar num roteiro construído como encadeamento de causas e efeitos, mas como uma sucessão de momentos fortes, emotivos e plásticos, com o mínimo de palavras e o máximo de ambientação. Atirei-me com paixão, a paixão de meus pais, mas nunca me senti tão inseguro num set. O tempo todo me perguntava se daria certo. Estava assumindo um risco.”

Há alguns anos, Pawlikowski quase contou essa história, mas disfarçada. “Seria um filme sobre os poetas Sylvia Plath e Ted Hughes. Eles também se amavam, e brigavam, e Sylvia se matou quando Ted a abandonou. Era uma história parecida com a de meus pais, mas seria uma grande produção hollywoodiana, com astros e estrelas, e eu senti que não teria espaço para o tipo de intimismo que queria criar. Desisti. Veja que, no filme, dei os nomes de meus pais aos personagens, Wiktor e Zula, diminutivo de Zuzanna. O problema é que, quanto mais me aprofundava na história, menos entendia as motivações de meus pais. O que ajudou foi o contexto histórico, o stalinismo, o folclore. O background deu consistência e coerência à dupla.”

A música vira personagem. “Demorei meses pesquisando as músicas do filme. São canções folclóricas em versões de jazz. O próprio jazz tem um significado. Era sinônimo de decadência no stalinismo, e por isso mesmo foi sempre associado, na Polônia, a contestação e resistência.” O plano-sequência, na cena do check-point, não é só tecnicamente brilhante.

“Como todo o filme, foi muito pensado. Metaforiza a dificuldade de decidir. Filmei em seis meses, que é muito tempo. Achava a história pesada. Foi na hora, no set, ao filmar o fim, que tive o insight de fazer Zula dizer aquela frase. Faz toda a diferença na relação do filme com o público. E prova que improvisar também pode ser bom.”

Guerra Fria (Cold War)
Polônia, França, Inglaterra, 2018.
Direção de Paweł Pawlikowski.
Roteiro e direção de Paweł, colaboração de Janusz Głowacki e Piotr Borkowski.
Atores: Joanna Kulig, Tomasz Kot, Borys Szyc, Agata Kulesza, Cédric Kahn, Jeanne Balibar.

O filme está em cartaz em Curitiba, esta semana, numa das salas do Cinema Itaú Cultural, do Shopping Cristal, nos horários de 15h40, 17h40 e 21h40.

Jovens polacos cada vez mais direitistas

Foto: TV Republika
Partidos conservadores e de direita receberam apoio de dois terços do eleitorado jovem nas últimas eleições gerais na Polônia.

Defendendo valores pós-materialistas, juventude anseia por tradição e segurança.Nas comemorações do centenário de independência da Polônia, em novembro último, os espectadores se depararam com uma cena incomum: jovens marchando por Varsóvia, com o corpo enrolado em bandeiras brancas e vermelhas e cantando o Hino Nacional polaco.

Somente uma marcha patriótica ainda poderia atraí-los para as ruas. Porque quando os mais velhos se manifestam contra a política conservadora do governo, os mais jovens ficam em casa. Eles defendem valores conservadores e votam em partidos de direita.

A guinada para a direita da geração mais jovem na Polônia não é uma tendência temporária nem uma expressão de protesto. Ele representa uma nova autoimagem que cresceu com a política dos últimos anos. Os jovens polacos se voltam para valores pós-materialistas, que foram desprezados durante um longo tempo. Eles anseiam pela Igreja, por tradição e segurança.

Nas eleições gerais de 2015, a guinada para a direita da geração mais jovem foi percebida pela primeira vez. Dois terços de todos os eleitores com idade entre 18 e 29 anos votaram em partidos à direita do centro do espectro político. O extrema-direita PiS, atualmente no poder, angariou 27% de seus votos.

Outros 21% foram para o novo movimento populista de direita Kukiz'15, e 17%, para a legenda antissistema Partido da Liberdade. As eleições regionais de outubro confirmaram o padrão: o PiS conquistou o maior número de votos dessa faixa etária, e também o Kukiz'15 continuou a contar com esse apoio.

Os jovens não só votam nos conservadores e direitistas, mas também pensam dessa forma. Isso foi demonstrado num estudo publicado em novembro pelo Instituto de Opinião e Pesquisa - IQS. Os cientistas entrevistaram poloneses sem filhos e na faixa dos 16 aos 29 anos de idade.

"Nos últimos três anos, os jovens poloneses se voltaram para valores ainda mais conservadores", resumiu a psicóloga social Marta Majchrzak, uma das coautoras do estudo. "Eles confiam em autoridades, sonham com o casamento e têm orgulho de serem cidadãos polacos." O estudo classificou apenas 9% dos entrevistados de "cosmopolitas" e "abertos à alteridade".

Esquecendo o socialismo
A atitude conservadora da geração mais jovem pode ser explicada pelas reformas econômicas após o fim da União Soviética. Polacos com menos de 30 anos já não se lembram do socialismo. Eles cresceram numa época em que seus pais montaram seus próprios negócios.

O sucesso econômico passou a vir em primeiro lugar, com o Ocidente como ideal. Os pais prometiam aos filhos que sua nova Polônia logo se tornaria um membro igualitário da União Europeia (UE) e que iria se desenvolver até estar em pé de igualdade com os vizinhos alemães.

Mas logo as promessas foram seguidas de decepção. Sob o partido liberal de centro-direita PO, que governou o país de 2007 a 2015, a economia cresceu, mas não a segurança econômica dos mais jovens. O desemprego juvenil aumentou até atingir o pico de mais de 27%, em 2013.

Aos jovens polacos restaram contratos temporários de emprego, com salários menores que o esperado. Após ainda terem ajudado o PO a vencer a eleição de 2007, eles se afastaram do partido nos anos seguintes e votaram em nacional-conservadores, que lhes prometeram uma política mais voltada para o lado social.

De acordo com o estudo do IQS, a geração mais jovem vê o país como um enclave seguro, que a protege das incertezas do mundo. Três em cada quatro entrevistados disseram ser contra o acolhimento de refugiados. Quase um terço afirmou que abriria mão da liberdade pessoal em prol de mais lei e ordem.

Isso não significa, no entanto, que os jovens polacos estejam se afastando dos valores democráticos. "Esta geração não é de forma alguma de extrema direita", aponta Henryk Domański, sociólogo e diretor do Instituto de Filosofia e Sociologia da Academia de Ciências de Varsóvia. "Os jovens poloneses são apolíticos, por esse motivo os votos para os partidos mais radicais pesam mais".

Isso também foi demonstrado na eleição regional no fim do ano passado: a principal disputa eleitoral ocorreu entre PO e PiS. Desde 1990 não se viam tantas pessoas votando: o comparecimento eleitoral foi de 51%. Mas apenas 37% dos eleitores entre 18 e 29 anos foram às urnas.

"Um partido de direita como Kukiz'15 só conseguirá se beneficiar de forma temporária do conservadorismo dos jovens", afirma Domański. O sociólogo recorda os partidos antissistema Ruch Palikota (Movimento Palikota) e o Samoobrona (Autodefesa), que conseguiram conquistar a preferência do eleitorado jovem alguns anos atrás. Politicamente, ambas as legendas já não têm, há muito, mais nenhuma importância.

Domański disse estar convencido de que os jovens polacos permanecerão leais ao conservador PiS nas eleições do ano que vem. Além disso, aqueles com menos de 30 anos deverão continuar conservadores.

Atualmente, vê-se crescer uma geração de jovens na Polônia, cujos pais emigraram para países do Oeste da UE em busca de melhores salários. Os chamados "euro-órfãos" cresceram longe dos pais ou mães duranre meses. Eles também anseiam por tradição e segurança.

Tradução: Nossa Polonidade, Nosso Orgulho
Uma outra Pesquisa
A pesquisa do CBOS (Centro de Pesquisa e Opinião Social) mostra claramente que os jovens polacos na faixa etária dos 18 aos 24 anos estão se tornando mais direitistas em seus pontos de vista do que esquerdistas e bem mais que as pessoas que viveram os tempos do comunismo.

Tradução: Os pontos de vista políticos declarados dos entrevistados de 18 a 24 anos acabou em segundo plano. Médias móveis centralizadas de três meses. Esquerdista (18-24 anos) - Direitista (18-24 anos),  (total)

De novo a tradição, cultura e história polacas, simplesmente a polonidade se torna mais fria para os jovens.

A ideologia esquerdista está experimentando um declínio total de sua existência na Polônia.  A pesquisa tenta admitir que cada vez mais os jovens polacos estão levando a vida a sério, além de "serem capazes de distinguir entre ideologias que levam à destruição da tradição e dos valores daqueles que a valorizam", opina o redator do site da Telewizja Republika (de extrema-direita).

O redator da Republika afirma que não é surpreendente que a pesquisa do CBOS mostre que a ideologia de direita está se tornando um pão diário para a maioria dos jovens polacos.

Apelando de forma nada jornalística, o redator da TV Republika afirma que "com certeza", o poder do atual governo de extrema-direita contribui para a mudança ideológica dos jovens, "porque pela primeira vez desde 1989 temos 100% de um governo da Polônia, que não é de escravos de russos, nem de alemães! Há também jovens que consideram a fé católica algo importante, e não apenas para avós e avós".

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Fontes: Rádio Deutsche Welle (Estatal alemã)  e Telewizja Republika