quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Estudar na Polônia não é fácil

Uniwersytet Jagielloński de Cracóvia
Hoje recebi um email de um jovem querendo saber detalhes da vida de estudante e da possibilidade de permanecer na Polônia depois de se formar numa universidade polaca.
Respondi assim a ele: Ganhou a bolsa de quem? Você é descendente de polacos?
Bem, vamos às minhas impressões e comentários:
O ano letivo na Polônia começa dia primeiro de outubro, o que coincide com o outono, a temporada de ventos, do frio e do escurecer mais cedo.
Desde 1971, quando os jovens brasileiros descendentes de imigrantes polacos começaram a ser contemplados com bolsas de estudo do governo da Polônia, até 2002 (ano em que ganhei minha bolsa) o consulado da Polônia em Curitiba enviou 200 destes brasileiros para a Polônia.
Destes, apenas 24 concluíram seus estudos....a maioria retornou dois meses depois de chegar lá, pouco antes do natal.
Por que? Porque as condições climáticas (15 graus negativos em média, nessa época, com o dia escurecendo às 4 da tarde, o não conseguir se comunicar ainda no idioma, praticamente ficar trancado dentro da sala de aula do curso de idioma com outros estudantes estrangeiros e no quarto do "Akademiku" (Casa de Estudante) é muito muito difícil... A depressão ataca fortemente!
Assim, tua disposição de dizer que vai ficar lá para sempre, é no mínimo ousada. Mas você, só recebe visto de estudante com validade de um ano. Para renovar o visto, tem que passar nas disciplinas na universidade; o diretor da faculdade tem que lhe fornecer ano a ano uma declaração de que você realmente está estudando e passou.Isto, para que o visto seja renovado.
Se a bolsa é do governo da Polônia, através do Ministério da Educação, este também precisa ser comunicado de que você passou de ano, pois só assim renovam a bolsa.
A casa de estudante também precisa desta declaração do diretor da faculdade para renovar tua permanência na casa. Para continuar ali, a gerente do "Akademik" fornece declaração de que você realmente reside ali. Com esta "Zaświadczenie" (declaração), pode-se registrar na prefeitura e obter a "Zameldowania" (registro de residência).
Somente com estas declarações todas, o serviço de imigração concede o visto temporário. Quando você se formar....depois de 7 anos (um ano de curso de idioma, cinco anos de graduação e o mestrado) você precisa sair do país....pois o visto não será mais renovado.
Como se vê, não é assim tão fácil permanecer e trabalhar na Polônia.....um país que desde a entrada na União Europeia tem se desenvolvido bastante economicamente. Mas que tem o mais baixo salário entre todos os 28 membros da União.
A Polônia é certamente o único país do mundo (incluindo Cuba) em que o índice de analfabetismo é zero, todos os universitários acabam saindo da universidade com o diploma de mestre. Para se ter uma idéia da importância da educação na Polônia, a rica Holanda tem 17% de analfabetos em sua população.
Assim a mão de obra é altamente qualificada, mas os salários são baixíssimos... O que fazem então, os polacos?
Imigram para a Inglaterra, Irlanda, Alemanha, França... Somente na Grã-Bretanha vivem um milhão e meio de jovens polacos formados... Outros dois milhões, na Alemanha.
ENFIM... NÃO querendo desestimular, não é fácil viver, estudar lá (é a segunda gramática mais difícil do mundo). Aliado a isso, os professores polacos não gostam de estudantes estrangeiros, e de brasileiro.
Respondendo tua questão: não existe nenhum privilégio lá. Essa história de que brasileiro é bem recebido lá fora é balela. Ao contrário, são vistos como gente que não consegue aprender o idioma local, vivem em bandos (ou seja, só tem amizades com outros brasileiros que também não aprendem a língua).
Engenharia elétrica é um campo que tem emprego em qualquer lugar do mundo. Mas dizer que está em alta, na Polônia, é sonhar. Emprego, nessa área lá, só para polaco mesmo.
Mas depois de todas estas dificuldades e você conseguindo se formar, terá então, que revalidar seu diploma numa universidade federal para conseguir trabalho no Brasil... e fica muito caro fazer isso (tem que traduzir todo o conteúdo das disciplinas, em tradutor juramentado, ao custo de 50 reais cada 21 linhas traduzidas).
Por exemplo, fiz mestrado em ciências da cultura, e doutorado em história, nem posso revalidar meu mestrado, pois o curso simplesmente não existe no Brasil.  E por não ter mestrado revalidado, também não posso revalidar meu doutorado em história (este existe no Brasil)... ou seja, estou lascado depois de dois anos de curso de idioma polaco, dois anos de mestrado e 4 anos de doutorado na Polônia. E mais, o Brasil rejeita quem estuda no exterior... a inveja talvez seja uma das causas....sabe se lá! Ainda não entendi, por que preferem um recém formado no Brasil, à um mestre ou doutor formado no exterior.