Foto: H. Schroeder |
Esta trágica sepultura foi descoberta próxima à aldeia de Koszyce, no sul da Polônia, em 2011. Datada por radiocarbono entre 2880 e 2776 a.C., ela continha os restos mortais de 15 homens, mulheres e crianças, além de bens valiosos. Todos os esqueletos exibiram um traumatismo craniano grave. O motivo dos assassinatos não foi identificado, mas arqueólogos na época sugeriram que esses indivíduos haviam sido mortos durante um ataque em seu assentamento.
Para desvendar esse mistério, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Copenhagen, Universidade de Aarhus, e do Museu Arqueológico em Poznań (Polônia), conduziram uma análise genética dos esqueletos. Os resultados, publicados na semana passada no Proceedings of the National Academy of Sciences, sugerem que todos os indivíduos, com exceção de um, eram relacionados e que estavam posicionados na sepultura de acordo com a sua relação familiar.
As 15 caveiras exibiam fraturas cranianas fatais. Nenhuma ferida de defesa, como lesões nos membros superiores, foi detectada, o que sugere que esses indivíduos foram capturados e executados, e não mortos em um combate corpo a corpo, de acordo com o novo estudo.
Reconstrução artística da sepultura, mostrando como os corpos estavam posicionados. Ilustração: Michał Podsiadło |
Os pesquisadores ainda não têm certeza do que aconteceu, mas eles imaginam que os assassinatos foram de natureza territorial. Esse período em particular marcou a transição do final do período Neolítico para a Idade do Bronze, pois os primeiros agricultores estavam desenvolvendo sociedades mais complexas. Mas também foi uma época turbulenta e violenta, à medida que culturas europeias estabeleciam os primeiros contatos com culturas do leste, inclusive da planície asiática. A expansão dos grupos Corded Ware pode ter resultado nesse terrível incidente.
“Nós sabemos, a partir de descobertas feitas em outras covas, que conflitos violentos aconteceram entre diferentes grupos nesse período”, afirmou Niels Johannsen, arqueólogo da Aarhus University, em comunicado à imprensa. “No entanto, eles nunca haviam sido tão claramente documentados. À parte de toda a violência e tragédia, nosso estudo demonstra claramente que união e cuidado familiar eram muito importantes para essas pessoas, há cerca de 5 mil anos, tanto em vida como na morte”.
De fato, a nova análise genética identificou esses 15 indivíduos como parte de uma grande família. No geral, quatro núcleos familiares foram documentados – mães e crianças majoritariamente. Os indivíduos foram enterrados de acordo com as relações familiares; mães foram enterradas com seus filhos, e irmãos foram posicionados próximos uns aos outros. A mais velha do grupo, por exemplo, foi enterrada ao lado de seus dois filhos, com 5 e 15 anos de idade. Uma mulher com idade aproximada de 30 anos foi enterrada próxima à sua filha adolescente e seu filho de 5 anos. Quatro meninos, todos irmãos, estavam ao lado um do outro. Claramente, todos eles foram enterrados por alguém que conhecia a família.
Na sepultura não foram encontrados pais ou qualquer outro parente do sexo masculino, “o que sugere que talvez tenham sido eles que enterraram seus familiares”, escreveram os autores no estudo.
“Nossa impressão é que eles não estavam no local quando o massacre ocorreu e só retornaram depois, e posteriormente enterraram suas famílias de forma respeitosa”, afirmou o biólogo Morten Allentoft da Universidade de Copenhagen em comunicado.
Apenas um indivíduo, uma mulher adulta, não era geneticamente relacionada a ninguém do grupo. No entanto, ela estava posicionada próxima a um jovem rapaz, o que sugere que “ela pode ter sido tão próxima a ele em vida como na morte”, concluíram os autores.
“A presença de mulheres sem parentescos e homens com parentesco na sepultura é interessante porque indica que a comunidade em Koszyce era organizada segundo linhas de descendência patrilineares, acrescentando à evidência de que esta era a forma dominante de organização social entre comunidades do final do período Neolítico na região central da Europa”.
Tipicamente, sociedades patrilineares são associadas à prática de mulheres se casarem fora do seu grupo social e residirem com a família do homem (ou seja, exogamia feminina). Diversos estudos anteriores já indicaram que casamentos arranjados patrilineares, de fato, prevaleceram em muitas parte da Europa Central durante esse período, segundo o estudo.
Um episódio brutal de um período particularmente brutal da história da humanidade. É uma cena que não seria tão assustadora se estivesse em Game of Thrones, mas, infelizmente, essa tragédia foi real demais.
Texto: George Dvorsky
Fonte: Gizmodo Brasil