terça-feira, 6 de abril de 2010

Cracóvia, amante ciumenta

Foto: Pawel Ulatowski

Dia a dia aumenta o número de estrangeiros que escolhem viver em Cracóvia. O tempo dos estudantes estrangeiros descendentes de imigrantes polacos vai ficando no passado. A cidade de agora tem recebido uma quantidade enorme de estrangeiros trabalhadores, sem nenhum vínculo com a Polônia. Vieram para cá, como poderiam ter ido para Berlim, Praga ou Budapeste. Muitos ainda nem sabem onde fica no mapa do mundo, a Polônia. Sabem se comunicar num inglês "macarrônico" e olhe lá. Do idioma polaco não sabem pronunciar nem escrever: "dzień dobry". Outros escolheram Cracóvia, porque ouviram falar, que aqui estão as moças mais belas e delicadas da Europa.
Mas também é claro, que estão se instalando estrangeiros, que optaram viver em Cracóvia pelo o que ela é… um centro histórico e cultural inigualável. Como é o caso do ator, escritor, jornalista e professor de Inglês, John Marshall. O inglês teve um artigo publicado no jornal Gazeta Wyborcza, onde expressa seu sentimento em relação a cidade, aos moradores e como veio parar aqui.

"Minha história sobre Cracóvia começou há cinco anos na Inglaterra, quando dois estudantes de Poznan convidaram-me a conhecer a Polônia. Embarquei no avião e ... logo me fixei aqui. Antes de tudo fiquei, porque sou professor de Inglês e escritor. Além disso, estou entre as três categorias comuns de estrangeiros: professor de Inglês, escritor/artista/músico e empresário (e homem, isto porque a falta de mulher estrangeira fazendo negócios em Cracóvia é incrível!)."

E Marshall segue em seu relato contando suas experiências e impressões:

"Embora os dois países tenham religiões diferentes e estejam separados por milhares de quilômetros, polacos e ingleses são muito semelhantes entre si: são bravos, fortes e independentes, além de manterem uma saudável desconfiança das autoridades. Ao longo dos últimos anos, na Grã-Bretanha, os polacos encontraram seu lugar entre centenas de milhares de estrangeiros e imediatamente passaram a ser reconhecidos como pessoas que prezam a família, trabalhadores, dedicados a religião. Na verdade, quando os polacos começaram a frequentar Missas e se confessarem, muitas igrejas católicas no Reino Unido verificaram um inédito crescimento de fiéis, algo que não acontecia nessas igrejas, desde os dias, em que Charles Dickens ainda era um menino."

O jornalista inglês fala agora do exotismo encontrado em Cracôvia pelo turista desavisado:

"Para ingênuos recém-chegados de outro país, a Polônia parece ser um país exótico, lindo e cheio de pessoas também exóticas, mas interessantes. Mas com o tempo começa a notar que os nativos, por vezes, têm costumes diferentes dos deles. Por exemplo, os britânicos discretamente fazem filas nos pontos de ônibus, nos caixas, etc. Estão sempre em silêncio, humildemente, nas lojas ou nos pontos de ônibus. Consideram este costume uma forma eficiente, sem stress e equitativa para sobreviver. Em Cracóvia, ao contrário, um estrangeiro ingênuo tem que aprender a perdoar, ceder seu lugar, especialmente quando passar um determinado grupo de senhoras idosas. Esta falta de ordem nas filas, embora frustrante para um estrangeiro, provavelmente é compreensível: antigamente, na época do comunismo, o estado das filas nas lojas, por horas, ou dias, eram desesperadores. Esperavam tanto, para eventualmente ver as prateleiras vazias. Essa ojeriza a filas deve ter passado, ao longo das gerações, pelos genes dos polacos."

Agora, o inglês fala da hospitalidade polaca:

"Os moradores de Cracóvia, por vezes, parecem frios aos recém-chegados, não sorriem na rua, reservando-se ao calor e a abertura das portas das casas de suas família apenas para os amigos. Sim, é verdade, que os polacos, são conhecidos pela sua grande hospitalidade com aqueles a quem chamam de amigos. Mas oito em dez estrangeiros concordam que a promoção de "conhecido" comum para o status de "amigo" leva um tempo maior do que em muitos outros países." (Aqui, discordo quando Marshall diz que os polacos não sorriem nas ruas. Foi o sorriso das polaquinhas na praça central de Cracóvia - Rynek - que me fez trocar o bom emprego na Holanda, pela vida de estudante bolsista na Polônia. Mas tenho que concordar com a promoção do conhecido para amigo. Aliás, a mesma mal interpretada característica dos Curitibanos, de serem gente difícil de fazer amizade. Creio que os curitibanos herdaram esta característica dos imigrantes polacos. Na verdade, ambos, não são de poucos amigos, mas sim desconfiados. E os polacos, com tantas invasões que sofreram através dos séculos têm incorporado em seus genes esta característica).

Para finalizar, o inglês John Marshall fala do "buraco negro" que Cracóvia aparenta ser para aqueles que chegaram aqui sem ligações amorosas com um nativo, ou nativa:

"Embora às vezes possa parecer claustrofóbica, Cracóvia, lentamente inspira o amor dos estrangeiros e sua fidelidade. Eu sou um dos que me incluem nessa categoria. Naturalmente, muitos de nós estrangeiros chegamos aqui por causa do amor. Casamentos multiculturais são cada vez mais comuns e assim começa uma nova era para as próximas gerações de polacos. E evidentemente, os polacos não fazem piada sobre a "teoria do buraco negro de Cracóvia": alguns daqueles que vêm para esta cidade, viajaram para aqui sem pensar e pesar muito. Na Europa, existem belas cidades, como Praga, Viena ou Paris. Mas Cracóvia, tem algo que nenhuma outra tem. Cracóvia envolve e se envolve em torno de você todos os dias, anos, mais e mais como uma amante pequena, mas sensível e certamente uma ciumenta amante."