quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Cidades polacas dizem não à extrema-direita

Foto: Jakub Porzycki/Agencja Gazeta
O partido que governa a Polônia, o PiS - Partido Direito e Justiça perdeu em Varsóvia, Cracóvia e outras grandes cidades do país. A derrota é um sinal de rejeição dos eleitores polacos a atitudes antidemocráticas e conflitos do governo central da Polônia de ideologia de extrema-direita com a União Europeia.

Os resultados das eleições municipais da Polônia, divulgados nesta segunda-feira (05/11), revelam que a legenda populista de extrema-direita Direito e Justiça (PiS), que governa o país, sofreu um forte revés, perdendo não apenas nas principais cidades como também em várias outras de tamanho médio e pequeno.

No primeiro turno da votação, no dia 21 de outubro, a coalizão opositora liderada pelo partido de centro o PO - Plataforma Cívica conquistou Varsóvia, além de cidades importantes, como Wrocław, Poznań e Łódź. No último domingo, no segundo turno de votação, a oposição venceu em outros municipíos importantes, como Gdańsk, Cracóvia e Kielce.

Enquanto os opositores festejavam, os líderes da legenda governista exaltavam o bom desempenho do partido nas votações para as assembleias regionais. Mas o resultado das eleições para prefeito nos principais centros urbanos do país refletem o aumento da rejeição ao PiS, acusado de colocar em risco a democracia com tentativas de subjugar os tribunais do país e transformar a imprensa estatal num veículo de propaganda oficial.

O governo da Polônia esteve em diversas ocasiões em rota de colisão com a União Europeia (UE), que denuncia práticas antidemocráticas adotadas pelo PiS em temas como imigração e preservação do Estado de Direito.

Apesar do resultado das eleições ser visto como um novo impulso ao PO - Plataforma Cívica e outros partidos de oposição, alguns analistas ressaltaram que uma parcela significativa da votação da oposição resulta da rejeição ao partido governista. Para terem uma chance de governar o país, essas legendas devem se tornar mais atraentes aos eleitores, e a derrota dos opositores para candidatos independentes em algumas regiões é um sinal dessa vulnerabilidade, afirmaram.

O editor-chefe do jornal Rzeczpospolita, Michal Szuldrzyński, afirmou que o resultado demonstra que o primeiro-ministro Mateusz Morawiecki e o partido governista "fracassaram em reconquistar o centro moderado e ganhar o apoio da classe média". Segundo Szuldrzyński, um dos fatores que fizeram com que o governo perdesse apoio seria o "flerte" de Morawiecki com grupos radicais, com atitudes e palavras que visam agradar os nacionalistas de extrema direita.

Ele mencionou ainda os embates com a UE e um controverso discurso do primeiro-ministro no início do ano sobre o Holocausto, que gerou uma crise com Israel. O jornalista considera este episódio a mais grave crise diplomática do país desde o fim da União Soviética, da qual a Polônia fez parte por 40 anos como país satélite, em 1989.

O ex-primeiro ministro polaco Donald Tusk, que atualmente preside o Conselho Europeu, se declarou surpreso com as dimensões da derrota do PiS, que, segundo ele, devem servir de alerta ao governo na sua relação com a UE.

Tusk, que já foi um dos líderes da Plataforma Cívica, ressaltou que o governo polaco deve agir com bom senso e se conscientizar sobre seu lugar na Europa para evitar erros de cálculo políticos que possam resultar numa saída do país da UE. Ele lembrou que o ex-premiê britânico David Cameron não tinha a intenção de retirar seu país do bloco europeu, mas isso acabou acontecendo após um referendo convocado por ele.

"Não é determinante se [o líder do PiS] Jarosław Kaczyński de fato planeja deixar a UE ou se apenas inicia processos que poderão resultar nisso", disse Tusk. "A vontade [entre os Estados-membros] de manter a Polônia na UE é menor do que a de manter o Reino Unido", alertou.

OS ELEITOS
No segundo turno, 649 prefeitos, entre wójtów, burmistrzów e prezydentów miast (ou 44 prezydentów miast e 179 burmistrzów) foram eleitos.

Na Polônia, dependendo do tamanho da cidade, o cargo de prefeito tem três denominações diferentes: Wójt é o cargo de prefeito de cidade bem pequena, Burmistrz é o prefeito de cidade de média população e Prezydent Miast (presidente da cidade) é  prefeito de cidade grande.

Candidatos do Partido Direito e Justiça competiram em 25 segundos-turnos e perderam em 23 cidades. Os presidentes-de-cidade do PiS governarão apenas cinco cidades da Polônia.

O maior deles é Zamość (65.000 habitantes), onde Andrzej Wnuk venceu no primeiro turno.

A Coalizão Cívica venceu dez segundos turnos, melhorou o resultado do PO - Plataforma Cívica de quatro anos atrás e tem agora um total de 28 presidentes de cidade (prefeito de cidade grande). A participação no segundo turno foi menor do que no primeiro turno, mas chegou a 48,8%.

Resultados das eleições nas principais cidades:

BIAŁA PODLASKA - Michał Litwiniuk (Coalizão Cívica) derrotou o presidente Dariusz Stefaniuk do PiS. No segundo turno, Litwiniuk ganhou 53,1 por cento, Stefaniuk 46,9%.

BIELSKO BIAŁA - Jarosław Klimaszewski (Coalizão Cívica), recebeu 55,5% dos votos, ele ganhou do candidato do PiS Przemysław Drabek que obteve 44,5%.

BRZESZCZ -  Radosław Szot tornou-se o novo prefeito com 60,23% dos votos. Seu rival Robert Adamczyk (PiS) arrecadou 39,77% dos votos. Brzeszcze é o berço político da ex-primeiro ministro Beata Szydło do PiS.  Beata também foi diretora da Casa da Cultura da cidade, entre 1998-2005, também foi prefeita e vice-chefe do corpo de Bombeiros Voluntários.

BYTOM - Mariusz Wołosz (Coalizão dos Cívica) com 53,5% de apoio dos eleitores derrotou o atual presidente da cidade, Damian Bartilla (45.5%).

CHEŁM - Jakub Banaszek (ZP - Direita Unida) derrotou a atual presidente Agata Fisz. Banieszek fez 50,9% dos votos, enquanto Fisz fez 49.1%

GDANSK - Paweł Adamowicz (WG - Tudo para Gdańsk) foi eleito presidente da cidade pelo sexto mandato. Ele foi apoiado por 64,8% dos eleitores. No segundo turno derrotou o candidato da ZP -Direita Unida, Kacper Płażyński, que fez 35.2%.

JELENIA GÓRA - O ex-vice-prefeito George Luzniak (KO) derrotou Krzysztof Mroza, senador do PiS. Łuznia foi apoiado por 69,8% dos eleitores, Mroza por 30.2%

KIELCE - Bogdan Wenta (Świętokrzyskie Project - Projeto Santa Cruz) derrotou o atual presidente  de cidade Wojciech Lubawski. 61,3% foram dados à Wenta e em Lubawskiego 38.7%. O perdedor, após os resultados das pesquisas divulgou que está deixando a vida pública. Segundo Lubawski, a Polônia se dividiu de tal forma que ele, como candidato associado ao PiS, simplesmente não conseguiria vencer.

KONIN - Piotr Korytkowski (PO - Plataforma Cívica) derrotou Zenon Chojnacki (PiS). O candidato da Coligação Cívica obteve 55,8% de apoio, enquanto seu adversário 44.2%

CRACÓVIA - Jacek Majchrowski (sem partido) com o apoio de 61,9% foi eleito para seu quinto mandato.  Vai completar 20 anos como prefeito da segunda maior cidade da Polônia. Ele derrotou Małgorzata Wasserman (ZP - Direita Unida) que obteve 38,6%.

LEGNICA -  Tadeusz Krzakowski atual prefeito derrotou o candidato da Coalizão Cívica Jarosław Rabczenkę com 64,76% contra 35,24%

ŁOMŻA - O atual prefeito Mariusz Chrzanowski (comitê próprio, antes pertencia ao PiS) ganhou da candidata do PiS Agnieszka Muzyk com 76% contra 24% dos votos.

MYSŁOWICE - O candidato sem partido Dariusz Wójtowicz (No primeiro turno era da Coalizão Cívica) derrotou Wojciech Król. Wójtowicz teve 54,1% contra 45,84% dos votos dos eleitores.

NOWY SĄCZ - O candidato sem partido Ludomir Handzel com 58.3% dos votos derrotou o candidato da ZP - Direita Unida, Iwona Mularczyk que fez 41.7%. E isso apesar da candidatura da esposa do deputado Mularczyk ser apoiada pelo Presidente de República Andrzej Duda (PiS).

OLSZTYN - Piotr Grzymowicz ainda será o presidente da cidade. Ele fez campanha com seu próprio comitê e com o apoio dos partidos Nowoczesna, PO e PSL, e com isso obteve 54,5% dos votos. Ele ganhou com o ex-presidente Czesław Małkowski que fez 45,5%. Os dois políticos competiram um contra o outro pela terceira vez. Małkowski foi acusado de crimes sexuais contra quatro mulheres e em 2015 foi condenado a cinco anos de prisão por violação e tentativa de violação. Um ano depois, o Tribunal Distrital de Elbłąg ordenou uma reavaliação do caso. Devido ao fato de Małkowski não ter recebido uma decisão final, ele pode participar nas eleições municipais.

OSTROŁĘKA - Łukasz Kulik venceu com 64,5% votos. Seu rival, o atual prefeito Janusz Kotowski (PiS), obteve 35,5%. Após 12 anos de governo ininterrupto, o PiS perdeu poder nesta cidade. O derrotado Kotowski, tornou-se recentemente bastante conhecido nacionalmente devido a ter probido a exibição do filme "Kler", no cinema da cidade. "Kler" (Clero) é o filme polaco de maior bilheteria na história recente da Polônia.

OTWOCK - Ganhou o conselheiro municipal ligado ao PiS, Jarosław Margielski. Fez 55,2% dos votos, derrotando Ireneusz Paśniczka, que fez 44,8%.

RADOM - Radosław Witkowski (eleito com o apoio dos partidos KO, PSL, SLD e ambiente radomski) com 53,8% dos votos dos eleitores e continuará a ser o presidente (prefeito) desta cidade. Ele derrotou o candidato do PiS, Wojciech Skurkiewicz, que obteve 46,2%. Vencer em Radom daria uma vitória de prestígio para o PiS. No domingo, 28 de outubro, o PiS organizou uma convenção eleitoral em Radom, durante a qual Jarosław Kaczyński (líder nacional do PiS) assegurou que o candidato do seu partido "lida bem com a boca da oposição".

SANDOMIERZ - Marcin Marzec, apoiado pelo PSL e pela Coalizão Cívica obteve 58,52 por cento. votos e será o novo prefeito da bela cidade Sandomierz (uma das mais bonitas da Polônia). Ele derrotou o prefeito Jerzy Borowski, que teve 41,48%.

SIEDLCE - O candidato sem partido Andrzej Sitnik ganhou com 56% votos, derrotando o candidato do PiS Karol Tchórzewski, que fez 44%.

SZCZECIN - O presidente (prefeito da cidade) em exercício Piotr Krzystek (candidato sem partido) venceu Bartłomiej Sochański do PiS. Krzystek teve 78,2 % e o derrotado apenas 21,8%.

TARNÓW - Roman Ciepiela (Coalizão Cívica), com suporte de 58,1% dos votos dos eleitores ganhou de Kazimierz Koprowski (ZP - Direita Unida), que obteve 41,9%.

WŁOCŁAWEK - Marek Wojtkowski, candidato da Coalizão Cívica obteve 63% votos e ganhou de Jarosław Chmielewski do PiS que fez 37%.

CRACÓVIA, UM CASO A PARTE
Foto: Jakub Porzycki

Recorde de frequência na capital real da Polônia. Cracóvia teve o comparecimento 54,6% dos eleitores nas urnas.

O professor Jacek Majchrowski defendeu seu cargo contra Małgorzata Wassermann e venceu com 61,9% dos votos dos cracovianos, que deram apenas 38,6% para a candidata do governo nacional.

O predomínio do professor foi tão alto que sua vitória nunca esteve ameaçada. A experiência conquistada como se fosse um jovem autoconfiante. O Presidente de Cidade (denominação de prefeito de cidade grande) Majchrowski é um recordista, pois este será seu quinto mandato. Nenhum dos prefeitos históricos da cidade ficou tanto tempo na cadeira da segunda mais importante cidade do país (para muitos a mais importante).

Apenas Juliusz Leo, também professor na Universidade Iaguelônica e também não nascido em Cracóvia, ocupou o cargo por quase 16 anos no período que antecedeu o renascimento do Estado polaco independente. No entanto, cinco mandatos consecutivos para prof. Majchrowski significa que sua presidência de cidade pode cobrir um total de 21 anos, dos quais 16 anos ele já cumpriu, igualando Leo.

Jacek Maria Majchrowski nasceu em 13 de janeiro de 1947 na cidade de Sosnowiec. É advogado e professor da Universidade Iaguelônica (uma das mais antigas do mundo), professor de ciências jurídicas, historiador de doutrinas políticas e jurídicas, ex-membro do Tribunal de Estado. Um especialista na história da Segunda República da Polônia, documentando sua história, especialmente as atividades dos partidos de direita.

Majchrowski está no cargo de presidente da cidade de Cracóvia desde 2002. Mas sua vida está ligada, não só a história da cidade mas também da primeira universidade da Polônia, fundada em 1364.

Ele concluiu o mestrado em 1970 na Iaguielônica. Em 1974, obteve um doutorado na Faculdade de Direito e Administração e em 1988 obteve o título de professor associado de ciência jurídica. De 1987 a 1993, ele foi o catedrático da Faculdade de Direito e Administração.

Ele também fez parte do corpo docente Instituto de Ciências Políticas da Faculdade de Administração e Administração da Universidade Jan Kochanowski de Ciências Humanas e Naturais em Kielce.

A partir de 1965, ele foi membro do Partido dos Trabalhadores Unidos da Polônia.

Nos anos de 1996-1997, ele foi o voivoda de Cracóvia (quando a região da cidade foi também uma voivodia). Ele contribuiu, entre outros para a criação da Zona Econômica Especial de Cracóvia e para assinar um acordo inicial sobre a construção do Centro de Concerto e Congressos.

Ele também resgatou o Teatro Stu antes da liquidação.

Além disso, como o voivoda da Aliança da Esquerda Democrática (SLD), transferiu as sepulturas de soldados soviéticos enterrados no Parque Planty, perto do Barbacan (portal norte da cidade), para o Cemitério de Rakowicki. Assim terminou com o conflito agudo da cidade, marcado por muitas manifestações públicas de protesto contra estes túmulos no parque que circunda a cidade medieval de Cracóvia.

Ele foi membro do partido SLD (de esquerda) desde 1999, mas ele suspendeu sua filiação durante o mandato de prefeito de Cracóvia.

Membro da Sociedade Histórica Polaca, Sociedade Polaca de Ciências Políticas e sociedades científicas estrangeiras, ele é vice-presidente do Comitê Social para a Restauração dos Monumentos Históricos de Cracóvia.

Ele é autor de muitos estudos científicos e 14 livros históricos, principalmente sobre a Segunda República da Polônia, incluindo Forte-Curto-Pronto, Pensamento político no campo da União Nacional (1985), Grupos monarquistas nos anos da Segunda República Polaca (1988), O preferido César Bolesław Wieniawa-Długoszowski: esboço da biografia (1990).

Sob seu comando editorial também foi publicado em 1994 o livro Quem era quem na Segunda República da Polônia. Em 2010, o Presidente da República da Polônia, Lech Kaczyński, nomeou-o membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento. Em 2015, ele foi um dos fundadores do comitê eleitoral de Bronisław Komorowski na eleição presidencial.


Fontes: RC/rtr/ap/ Polityka