Um artigo indicado por um dos leitores, deste blog, e originalmente escrito em idioma russo e polaco poderia tratar das seculares relações entre polacos e rutenos, mas se concentra apenas nos últimos 100 anos de convivência com os denominados ucranianos.
Como primos eslavos os dois povos têm muito de convivência, de rusgas, de malentendidos, de casamentos e também de muita irmandade.
A autoria do artigo, ao que parece é de Grudeq (soa pseudônimo). Em seu blog Grudeq se apresenta como cientista político, de direita, conservador e anticomunista.
E para apresentar esta tradução livre do artigo, parafraseo o grande Fernando Pessoa em seu poema 'Autopsicografia' - "Se eles não me lêem eu os leio":
Com a teimosia de um maníaco, eu vou defender ucranianos
Quando um homem diante da jaula do tigre tira proveito do fato de que entre ele e o bichano estão as grades de ferro, ele o enfrenta, acenando com sua vara comprida. Mas um dia o tigre escapa da jaula e come o homem. A pergunta sobre de quem é a culpa pela tragédia é do tigre que comeu, ou do homem que o irritou?
Em 1921, os ucranianos foram espancados. Eles, naquele momento, não conseguiram criar um Estado. Algo que foi conseguido por polacos, tchecos, húngaros, estonianos, lituanos e letões. Mas não eles. Os ucranianos perderam para os polacos, Lwów e sua Ucrânia Ocidental, enquanto para os bolcheviques perderam a batalha pelo leste da Ucrânia. Estavam perdidos. Eles eram, depois disso apenas uma nação fraca. Mesmo que em termos numéricos, eles fossem, depois dos russos, a segunda nação eslava.
Será que eles têm muito pouca tradição nacional e do ponto de vista histórico sua nacionalidade foi mínima? Em se tratando de tradição nacional, seriam eles menores que estonianos e letões? Pois estes conseguiram seu Estado. O povo ucraniano estava batido naquele momento. Os polacos poderiam os ter buscado e os tornado os amigos mais fiéis da República da Polônia. Algo que não pode ser feito por Khmelnytsky, pois se isto tivesse ocorrido, os ucranianos poderiam ter desempenhado uma posição importante entre a Polônia, a Rússia e a Turquia. Com a teimosia de um maníaco, eu vou defender ucranianos
Quando um homem diante da jaula do tigre tira proveito do fato de que entre ele e o bichano estão as grades de ferro, ele o enfrenta, acenando com sua vara comprida. Mas um dia o tigre escapa da jaula e come o homem. A pergunta sobre de quem é a culpa pela tragédia é do tigre que comeu, ou do homem que o irritou?
Em 1921, os ucranianos foram espancados. Eles, naquele momento, não conseguiram criar um Estado. Algo que foi conseguido por polacos, tchecos, húngaros, estonianos, lituanos e letões. Mas não eles. Os ucranianos perderam para os polacos, Lwów e sua Ucrânia Ocidental, enquanto para os bolcheviques perderam a batalha pelo leste da Ucrânia. Estavam perdidos. Eles eram, depois disso apenas uma nação fraca. Mesmo que em termos numéricos, eles fossem, depois dos russos, a segunda nação eslava.
Fomos capazes de criar em nosso sudeste da Polônia, um Piemonte para os ucranianos, ensinar nosso conceito polaco na Universidade Iagielônia, dando-lhes a oportunidade de construir um Estado forte para eles no leste. Nós não fomos capazes de forjar um grupo de amigos na República da Ucrânia. Poderíamos começar a provocar o tigre.
Não prometemos a autonomia para os ucranianos do leste da Galicia. Promessas não feitas apenas por causa das dotações da Liga das Nações. Ninguém, no entanto, deu tanta autonomia para eles até 1939, como nós demos. Não prometemos a abertura da Universidade Ucraniana em Lwów. Deputados ucranianos fizeram, em 1924, em Varsóvia, a apresentação de seus projetos. Nada aconteceu. O Partido Nacional Democrático queria a seu tempo a polonização dos ucranianos e, de preferência enviá-los para a lua. Pilsudski queria federalizar os rutenos a uma vez, e depois então polonizá-los. O Tigre poderia ficar louco. O que vocês polacos realmente queriam? Eles são amigos ou inimigos? Todos naturalmente sempre podem dizer que o mais importante é a consistência. Os polacos foram consistentes. Ou seja, na constante mudança de seus planos.
Meu favorito Cat Mackiewicz sempre tratou os nacionalistas polacos como defensores da polonidade. Nossos nacionalistas nunca quiseram uma Polônia forte e grande. A ideia dos nossos governos democratas foi sempre a de construir um pequeno Estado de uma nacionalidade polaca única. Polônia apenas para os polacos, polacos católicos, claro! Mackiewicz queria uma polonidade ofensiva. Queria uma Polônia poderosa, iagielônica, imperial. Uma Polônia em que pudesse conviver com um número igual de nacionalidades e com muitas religiões diferentes. A II República Polaca, infelizmente, não cumpriu com estes sonhos.
A ofensiva da polonidade nas zonas fronteiriças dos ucranianos pedia a renúncia da fé, enquanto eles queriam ir para a faculdade. Para serem admitidos nas escolas era preciso ter um certificado de batismo católico. E assim, de alguma aldeia da Volinia se apresentava na universidade, um polaco, mas seu colega ucraniano não podia, isto só porque ele era um ortodoxo do rito grego. Ofensiva polaca nestas zonas fronteiriças privilegiava o mais fraco de caráter, aquele que admitia abandonar suas tradições, sua religião, de modo que para ter uma vida melhor, ele consentia em ser polaco. Nós não poderíamos dessa forma criar uma amizade com os ucranianos. Fortes, gozavam assim da amizade da autoridade de seus compatriotas ucranianos na Polônia.
Quando, em 1939, invocou-se o parlamento polaco no exílio, o Conselho Nacional, foi representado por todos os partidos políticos polacos, como os representantes de Opole - Silésia e as minorias judaicas. Mas não compareceu nenhum ucraniano. O Estado em que os ucranianos constituiam 16% da população se permitiu ao luxo de retirar essa nacionalidade da representação parlamentar. Nenhum comunicado foi emitido para a população ucraniana nas zonas fronteiriças. Como chegamos aqui, esquecendo qualquer representação no parlamento, não se poderia pensar em uma reestruturação. Os ucranianos cooperaram com as tropas alemãs, em setembro de 1939. O tigre continuou sorrindo. Os russos disseram que pelo menos uma de suas Repúblicas Socialistas Soviéticas era da Ucrânia. A Alemanha também ofereceu aos ucranianos algum tipo de ilusão. Polônia e os polacos, no entanto, esperaram pelo retorno da Segunda República.
Só numa coisa não se antecipamos. Isso de Lwów (Lviv) voltar para nós é como um tigre que fugiu de sua jaula e começou vingar-se por toda a humilhação sofrida. Que interesse tinha a Alemanha para com o tigre? Nada. Que negócio representava isto para os bolcheviques? Nada. Os papéis estavam invertidos. Já não era o Exército polaco, que tão eficientemente pacificou as aldeias ucranianas nos anos 30. Louvamos assim, antes de tudo, que temos um exército forte. Os ucranianos viram força quando enfrentamos Zalischyky e Sniatyn. O Tigre tinha tudo o que podia.
O abate na Volínia, é terrível, estúpido e cruel. Mas não podemos tratar esse evento, mesmo em tempo de paz, mesmo para todos os amantes ao redor, e para os irritados polacos, que nós atacamos os ucranianos de forma estúpida e mesquinha. Se exigimos dos ucranianos que continuam a bater no peito para as acções da UPA, não podemos também ser atingidos no peito pela estupidez do nosso governo sobre o caso das fronteiras, não como a mesma estupidez de antes, da nossa aristocracia? Tanto se conversa, hoje, sobre a necessidade de uma aliança estratégica com a Ucrânia. Temos de repetir constantemente a nós mesmos que, uma Ucrânia independente e relacionada nos mesmos moldes da aliança com o zloty polaco do século XVI é impossível, e mesmo assim, com a Rússia longe de nossas fronteiras, fomos privados do celeiro da Transnístria. Tanta discussão e ainda tratamos os ucranianos como "os do leste" (para o que são exatamente os mesmos, que nos fazem revanche). Tanta conversa ao mesmo tempo, mas sem qualquer pensamento de permitir a entrada no espaço Schengen, esquecendo que esta conversa, desvia-nos de toda uma multidão na fronteira ucraniana.
Vamos tentar entender o ponto de vista da história pelo lado da Ucrânia. Somos nós, de repente insensíveis de que Alemanha pretenda na Montanha de Santa Ana abrir ao lado do Cemitério dos insurgentes da Silésia, um cemitério dos defensores alemães da Silésia? Comparação ruim? Somente a partir do ponto de vista polaco. Pessoas na fronteira Polaca-ucraniana dependem da amizade entre Varsóvia e Kiev e diplomaticamente sempre vão estipular que tais coisas não vão ser faladas. Nesta discussão, polacos e ucranianos ainda têm de crescer muito. O Conflito Polaco-Ucraniano é um conflito de família. Sentemos primeiro à mesa da família. Busquemos por aquilo que nos une e vamos dar crédito que a nossa parceria dependa do bem, do bem desejado, para cada um de nós. Verdadeiramente devemos nos irmanar. E, quando esse dia chegar, você poderá explicar tudo.