terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Polônia realizará Congresso Lusófono


A Polônia realiza em abril de 2015 congresso sobre relações com países lusófonos.
O encontro, organizado pelo Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, terá como objetivo principal analisar e discutir as relações entre os países de língua portuguesa e a Polônia.
O 4º Congresso dos Estudantes Lusitanistas da Polônia, dedicado ao tema "Cruzamentos: relações entre a Polônia e os países de língua portuguesa", realiza-se de 13 a 14 de abril de 2015, em Varsóvia. O prazo para inscrever as comunicações durante o congresso vai até 16 de fevereiro próximo.
A organização do evento está a cargo da representação do Camões - Instituto da Cooperação e da Língua em Varsóvia e do Instituto de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos da Universidade de Varsóvia.
O colóquio terá como objetivo principal analisar e discutir as relações entre os países de língua portuguesa e a Polônia. A conferência estará dividida em 4 blocos temáticos: cultura/projetos artísticos, história, economia e relações político-diplomáticas. "Serão bem-vindas comunicações e estudos que apresentem uma perspetiva comparatista entre o espaço lusófono e o polaco", refere uma nota divulgada pelo Camões.
Os estudantes de licenciatura, mestrado ou doutoramento inscritos em universidades na Polônia constituem o público-alvo da conferência. A língua de trabalho será o português.
A apresentação de candidaturas é feita online através do preenchimento da ficha de inscrição disponível no blog Camões em:

blog camoes

domingo, 28 de dezembro de 2014

IDA: Curitiba mais uma vez de fora

Será que os produtores culturais e de entretenimento do Rio e São Paulo sabem que Curitiba e o Sul do Paraná tem a maior concentração da etnia polaca na América Latina?????????




Mais uma vez um filme polaco fica de fora das salas de cinema de Curitiba. Antes foi "Lech Wałęsa" e agora "Ida".

Sim, porque alguns brasileiros privilegiados (sem nenhuma ligação com a Polônia) já podem comprovar todo o talento envolvido na criação de “Ida”.

A obra-prima de Paweł Pawlikowski foi o melhor presente de Natal que os cinéfilos receberam este ano. Infelizmente, este prazer é para poucos, restrito a oito salas apenas – quatro em São Paulo, três no Rio e uma em Goiânia (em Goiás por que?).

O drama polaco “Ida”, um dos filmes mais premiados do ano, já foi eleito o Melhor Filme Europeu de 2014, venceu o Festival de Londres, foi votado o Melhor Filme Estrangeiro do ano pelas associações de críticos de Los Angeles e Nova York, indicado ao Globo de Ouro e ao Critics’ Choice de Melhor Filme Estrangeiro, e é favoritíssimo ao Oscar da categoria (na qual já está pré-selecionado).


Já são mais de 30 troféus no currículo, mas o diretor e roteirista Paweł Pawlikowski (“Meu Amor de Verão”) ainda se surpreende com a repercussão de sua obra. “Eu pensei que estava fazendo um filme pequeno sobre um tema grandioso, mas não esperava isso.
"Tem sido uma grande surpresa”, declarou ele em conversa com a imprensa. Segundo Pawlikowski, filmar esse longa foi diferente. “Todos acharam um suicídio profissional voltar à Polônia e fazer uma produção falada em polaco. Mas esse era um filme que queria fazer. Paradoxalmente, ‘Ida’ se tornou o trabalho mais ressonante e bem-sucedido da minha carreira”, apontou. 

E o sucesso não se dá apenas entra a crítica. A produção vem tendo também boa recepção do público, em países em que não é exilada em um punhado de salas apenas.
Nos EUA, por exemplo, ela arrecadou US$ 3,5 milhões, um valor respeitável para um longa estrangeiro.
Na França, ele teve 600 mil espectadores e se tornou o longa polaco de maior bilheteria já conquistada no país. “Não é todo dia que um conto de fadas como esse acontece”, celebra o diretor.


Filmado em deslumbrante preto e branco – sua fotografia também é premiadíssima – , “Ida” se passa nos anos 1960 e acompanha a história de uma noviça órfã que, prestes a ser ordenada freira, descobre que é judia e sobrevivente do holocausto.
A história de “Ida” é a mais pessoal da filmografia de Pawlikowski. O diretor nasceu na Varsóvia e viveu lá até os 14 anos, quando sua família se mudou para o Reino Unido.
“Primeiro você pensa: ‘Quem se importa com as raízes? Não é nada demais. Eu posso transcender minhas raízes e cultura’. Mas chega uma hora em que você começa a olhar para trás e foi isso que me levou a fazer esse filme.”
A filmagem gerou no cineasta um sentimento de nostalgia. “Queria filmar um longa sobre a Polônia que não existe mais, aquela em que passei minha infância. Meu desejo era dar vida a um universo e a um certo tipo de personagens que existiam naquela época. Mas, principalmente, queria fazer um filme sobre a identidade, o que nos leva a ser o que somos, sobre fé e o que significa ser cristão. Tudo gira em torno das diversas pessoas que somos ao longo da vida e o quanto somos complicados. Nós podemos cometer atos criminosos e, ainda assim, sermos pessoas queridas.”



Mais do que uma história sobre suas raízes, Pawlikowski buscava explorar o significado de ser cristão. “Muitas perguntas rondavam a minha mente enquanto desenvolvia o roteiro: ‘Você pode ser um bom cristão sem ser um polaco católico? A religião é uma demarcação tribal ou é algo espiritual dentro de você? O que define a sua identidade é o sangue que corre em suas veias? Você pode escapar de todas essas definições e ter uma existência puramente espiritual?’. A Polônia é cheia dessas questões.”
Para levantar tais questionamentos em “Ida”, o cineasta optou por filmar de forma diferente, tanto na narrativa quanto na estética. “Precisava fazer um filme como forma de meditação. Estava cansado do cinema, de todos os seus truques, closes, enquadramentos, tomadas aéreas, iluminação perfeita… Eu me senti seguro em não mover a câmera, fazer planos estáticos, não revelar todas as informações nos diálogos. Deu certo e foi a forma que encontrei para escapar do tédio que o cinema estava me dando. Claro que os produtores reclamaram muito disso, me perguntando: ‘Por que você não move a câmera um pouco mais, por que a cena não pode ser mais emotiva? Eles achavam que seria um desastre e agora acho que mudaram de ideia.” Fugindo das técnicas “tediosas”, o diretor também optou por filmar em preto e branco, algo que tinha em mente desde o início do projeto.
“Quando desenvolvia o roteiro, já via que esse mundo precisava ser mostrado dessa forma. Às vezes, os cineastas optam por filmar em preto e branco para tornar seus trabalhos mais interessantes. Mas vi que em alguns desses filmes a cor poderia torná-los ainda melhores. Eu senti que o certo seria realizar ‘Ida’ em preto e branco, em parte porque se passa num tempo antigo, mas também porque não queria que o filme fosse realista, precisava removê-lo da realidade.”


Para realizar a fotografia em preto e branco, foi originalmente escalado Ryszard Lenczewski, habitual colaborador de Pawlikowski. Mas ele acabou entrando em conflito com o diretor e deixou o projeto por diferenças criativas.
Assim, o operador de câmera Lukasz Zal (documentário “Joanna”) foi promovido a diretor de fotografia, fazendo sua estreia na função num longa de ficção. “Eu não tinha escolha”, declarou o cineasta. “Ele é quem estava disponível naquele momento e se tornou uma grata surpresa. Lukasz tem boa energia, coragem e empolgação e isso é o que importa.”

De fato, foi uma revelação. Zal venceu diversos prêmios pelo trabalho, incluindo os prestigiosos European Film Awards, Cameraimage e até um troféu do Sindicato dos Cinematógrafos dos EUA (ASC).
Outra revelação da obra é a atriz Agata Trzebuchowska, que interpreta a personagem-título e foi indicada ao European Film Awards.
O diretor fez diversos testes antes de encontrar a sua Ida, até que uma amiga, a diretora Małgorzata Szumowska (“Elles”), viu a jovem na rua e a convidou para o teste. “Essa jovem nunca atuou, mas eu via que era perfeita para o papel, apesar de não seguir nenhuma religião e não acreditar em Deus. Foi um desafio. Mas, graças a Deus, desculpe o trocadilho, ela foi ótima na pele de Ida”, concluiu o diretor.

A Trama

A trama conta a história de Anna (Agata Trzebuchowska), uma noviça que está em vias de selar seus votos como freira e recebe a missão de conhecer sua única parente viva, a tia Wanda, interpretada pela excelente atriz também polaca, Agata Kulesza.
Para decepção da jovem, sua tia é uma juíza que leva uma vida livre e bem distante dos preceitos católicos seguidos pela religiosa. Enviada ao convento quando criança depois que os pais morreram, Anna não se lembra do passado, que acaba vindo bruscamente à tona nos primeiros minutos com Wanda, que conta sem rodeios que o nome da moça na verdade é Ida e que ela é judia.
Tal revelação vira a vida da jovem de cabeça para baixo já que, ao buscar o paradeiro de sua família, ela começa a questionar sua vocação. O filme vira uma espécie de road-movie quando a dupla decide ir em busca do túmulo dos pais de Ida.
Além da nova identidade, a noviça acaba encontrando o amor e muitos questionamentos sobre o futuro. O filme apresenta a relação conflituosa de tia e sobrinha, suas descobertas sobre si mesmas e a busca pela dignidade de seus familiares, mortos durante a Segunda Guerra Mundial.
Mais do que as doloridas histórias pessoais de Ida e Wanda, o filme de Pawlikowski consegue resgatar a história da Polônia: a invasão nazista e o extermínio de polacos judeus, os anos sob o stalinismo e o poder da igreja católica no país.
Trata-se de um resgate histórico brilhante, intenso e de beleza estética impressionante. A fotografia em preto e branco assinada pelos polacos Lukasz Zal e Ryszard Lenczewski intercala closes com cenas abertas, compondo uma verdadeira obra de arte. Em alguns momentos, tem-se a impressão de que o que está na tela são quadros estáticos, capazes de emocionar qualquer espectador.


Ida
Direção: Paweł Pawlikowski
Roteiro: Paweł Pawlikowski e Rebecca Lenkiewicz
Direção de fotografia: Lukasz Żal e Ryszard Lenczewski
Edição: Jarosław Kaminski
Produção: Eric Abraham, Piotr Dzieciol, Ewa Puszczynska
Elenco: Agata Kulesza, Agata Trzebuchowska, Dawid Ogrodnik e participação especial de Joanna Kulig
Distribuição brasileira: Zeta Filmes
Duração: 80 minutos
País: Polônia e Dinamarca



P.S.  NA ÁREA DA MÚSICA, CURITIBA FOI PRETERIDA PELAS APRESENTAÇÕES DO GRUPO POLACO "MOZART" EM 2013 E 2014.... VÁRIOS PIANISTAS POLACOS SE APRESENTARAM EM SÃO PAULO, BRASILIA, BELO HORIZONTE, PORTO ALEGRE...A ORQUESTRA DE BIDGOSZCZ EM SÃO PAULO E ATÉ O QUARTETO LUTOSŁAWSKI DE WROCŁAW DE APRESENTOU EM SOROCABA.....E KURYTYBAAAAAAA??????

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Livro valioso da coroação da rei Edwirges da Polônia


"Não vou continuar a escrever, porque não me pagaram", - observou o secretário da crônica medieval. Até 30 de Dezembro, no Museu da Arquidiocese do Wawel, é possível ver gratuitamente valiosos livros, de valor incalculável pertencentes aos arquivos da Catedral de Wawel, em Cracóvia, que acabaram de passar por um processo de manutenção e restauro.
Entre eles estão, livros dos séculos XIV e XV que registraram a cerimônia de coroação pontifical da rei Jadwiga (Edvirges) e Władysław Jagiełło. Arquivo de Cracóvia no Capítulo Catedral de Wawel detém a chave para a história da Igreja polaca e livros muito antigos.

A primeira lista de incunábulos é do ano de 1111. São livros medievais da primeira biblioteca capitular criada no Wawel. Muitos deles sobreviveram até hoje.
O mais valioso passou por manutenção e pode ser admirado até o final do ano no Museu Arquidiocesano do Castelo.

O que ver no exposição?

- A Obra-prima do século XIV do iluminismo medieval - o pontifical da "Ceremoniale et Pontificale Episcoporum". O códice em pergaminho é encadernado em couro vermelho e placas, contados nove iniciais ornamentais e centenas de outras menores, feitas de duas cores: vermelho e azul.
O livro contém orações, cerimônias e rituais celebrados pelo bispo. Ele foi o mestre de cerimônia na coroação da rei Jadwiga e Władysław Jagiełło, na Catedral de Wawel.

- Livro do século XV que pertenceu ao bispo Zbigniew Oleśnicki - pontifical "Pontificale Episcopi Sbignei". Livro da cerimônia de coroação de Kazimierz Jagiellończyki de 1447. Contém 70 iniciais em miniatura, de alguma forma o bispo, provavelmente retratou, também o brasão de armas Dębno (dos Oleśnicki). O livro possui uma capa que foi criação mais tarde, datada do século XVI, com os brasões de armas do Bispo Tomicki.

- Incunabulos - a maioria estava na Alemanha (Nuremberg, Colônia, Speyer), mas existem livros também procedentes de Strasburgo, Basileia e Veneza. Entre eles - o mais valioso, que é o mais antigo incunábulo polaco. "Opus restitutionum" de Franciszek Platea i "Opuscula" de Santo Agostinho, gravado em Cracóvia por Kasper Straube.
Do catálogo central de incunábulos das bibliotecas polacas só a Biblioteca no Wawel existem 24 deles.
A impressão de Jan Lapid do "Resolutorium" é uma das duas ainda existentes em todo o mundo.


- de Henryk de Susa está "Summa grande titulis Decretalium" de 1478. Este livro é uma obra do famoso decretalista, o Cardeal Henrik de Susa (1200-1271, chamado de Hostiensis), era professor de Direito em Bolonha e Paris. O trabalho, conhecido como "Summa aurea" foi escrito em 1253. E ele mesmo - mais tarde imprimiu - este incunabulo que é o texto de uma palestra dele com uma síntese do direito canônico e do direito civil de Roma.
A cópia do texto foi tirada pelo brilhante Jan Stanko em 1488. Este doutor em medicina e botânica, médico real e canône de Cracóvia. - 30 volumes de manuscritos que compõem a coleção mais antiga e mais importante dos arquivos armazenados nos arquivos da Cúria Metropolitana da Ulica (rua) Franciszkańskiej, n. 3

- Arquivos da Officialia e Episcopalia Arquidiocese de Cracóvia (a partir do século XV ao século XVIII). 625 volumes Coleção Acta da Officialia e Episcopalia, compõe-se de 625 volumes de uma coleção de livros manuscritos (cada um com aproximadamente 600-800 páginas), apresenta fatos importantes para a história das paróquias em toda a metrópole de Cracóvia e da Comunidade Polaco-Lituana.

É um testamento dos momentos em que a dignidade dos Bispos de Cracóvia eram relevantes tais como as personas de: Wojciech Jastrzebiec (1412-1423) - Arcebispo de Gniezno depois, Primaz da Polônia e da Lituânia; Zbigniew Oleśnicki (1423-1455) - o primeiro cardeal polaco; James de Sienna (1461-1463) - Arcebispo de Gniezno depois, primaz da Polônia e Lituânia; de Frederick Jagiello (1488-1503) - Cardeal, e desde 1493 arcebispo de Gniezno, ao mesmo tempo, primaz da Polônia e da Lituânia; Piotr Gamrat (1538-1545) - a partir de 1541 arcebispo de Gniezno, e ao mesmo tempo, o primaz da Polônia e da Lituânia; Andrzej Zebrzydowski (1551-1560); Jerzy Radziwill (1591-1600) - Cardeal; Bernard Maciejowski (1600-1605) - Arcebispo de Gniezno e depois, primaz da Lituânia, Cardeal; Jan Albert Vasa (1632-1634) - Cardeal; Kajetan Sołtyk (1759-1788).

Transcrições
Neste contexto, a Episcopalia Officialia de Cracóvia é um arquivo com textos originais, fundamentais para a compreensão da história da aristocracia polaca. Ele consiste em uma completa coleção de "rascunhos" (notas) e "czystopisy" (textos prescritos e "suavizados" pelo Secretário) de livros em impressões únicas. Pesquisadores e historiadores podem comparar duas formas de apresentar fatos históricos, observando-se um evento específico conforme a criação de um cronista, um secretário, ou um escriba. Nestes manuscritos estão também os comentários pessoais originais com testemunhos, emoções de funcionários episcopais, como por exemplo do Secretário do texto, que interrompe de repente uma das crônicas com a frase: ".. Não vou continuar a escrever, porque não me pagaram".


P.S. Incunábulo é um livro impresso nos primeiros tempos da imprensa com tipos móveis. A popularização da imprensa começa a ser mais conhecida em 1450, com Gutenberg. Refere-se às obras impressas entre 1455, data aproximada da publicação da Bíblia de Gutenberg, até 1500. Essas obras imitavam os manuscritos. Assim, demorou-se 50 anos para que o livro impresso passasse a ter suas próprias características, abandonando, paulatinamente, as características do livro manuscrito. A sua origem vem da expressão latina "in cuna" (no berço), referindo-se assim ao berço da tipografia.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Quando a Ucrânia era uma colônia polaca

Foto de Juliusz Dutkiewicz - colonos rutenos de Kolomyja - Polônia
A revista Newsweek Polska Historia publicou em sua última edição entrevista de Maciej Nowicki com o historiador francês Daniel Beauvois sobre controvérsias históricas envolvendo rutenos (atualmente chamados de ucranianos) e polacos no século 19.
Estudioso da história da Polônia e da Rutênia, Beauvois nasceu em 9 de maio de 1938 em Annezin, na França. Autor de livros, artigos e traduções. Ele se formou em estudos rutenos (ucranianos) e língua polaca.
Ele é membro da Academia de Ciências Polaca, da Academia do Conhecimento Polaca e da Academia de Ciências da Ucrânia.
Recebeu títulos de doutor honoris causa das universidades de Wrocław, Varsóvia e da Universidade Jagiellonian de Cracóvia.
Foi condecorado com a Cruz de Oficial da Ordem do Mérito da Polônia.
Nos anos 1969-1972 atuou como Diretor do Centro Cultural Francês da Universidade de Varsóvia.
De 1973 a 1977, foi pesquisador do CNRS, em Paris. Quando então, tornou-se diretor do curso de língua polaca em Lille até 1992, e do Centro da História dos Eslavos na Sorbonne, em 1993-1998.
Como historiador, centra-se no tema ucraniano.





Quando a Ucrânia era uma colônia polaca ... 

Camponeses ucranianos, segundo Beauvois teriam sido tratados como escravos, no século XIX, em terras da Polônia ocupadas pelo Reino da Rússia.


Alguns proprietários estavam convencidos de que o homem não tinha alma.

Newsweek História: Como avalias a atitude dos políticos polacos em Maidan?
Daniel Beauvois: Entusiasmado. Admiro o apoio para os patriotas ucranianos. Se estivesse vivo, Jerzy Giedroyc ficaria imensamente alegre. Também me permite pensar que eu contribuí um pouco para esta diametralmente oposta nova atitude. Graças a Deus, a Polônia está renunciando ao antigo complexo de superioridade sobre os ucranianos. Percebendo os horrores dos velhos tempos, ela ainda pode desempenhar um papel completamente novo nesta relação.

Newsweek História: Em seu livro "Triângulo Ucraniano" há uma carta assustadora que se estende por duas páginas: O senhor feudal havia torturado o camponês até à morte, o que era conhecido então como sendo "para cumprir a vontade de Deus"; o mordomo por espancar uma mulher grávida ficou duas semanas detido. Tudo isso acontecia não no século XV, mas na década de 30 do século XIX. E apesar de escrito, o senhor exagera nos acontecimentos, dizendo que há demônios em todos os lugares.

Daniel Beauvois: Mas estes são os fatos descritos em tribunais polacos, e que em seguida foram transferidos para os arquivos russos! O Estatuto da Lituânia, que foi instituído no século XVI, ainda estava em vigor. Ele era extremamente cruel, deixava os camponeses serem tratados como escravos, como gado. Alguns proprietários estavam bastante convencidos de que o homem não tinha alma. Quem será que eram todos aqueles proprietários de terras? É claro,  que estes senhores frequentemente ajudavam seus camponeses durante as inundações, fome ou a seca. No entanto, como regra, o povo com tal referência, era citado bem baixinho e com grande desdém. Naquelas terras, onde hoje é Ucrânia foi ainda maior, o desprezo. Porque o ruteno era considerado um ortodoxo da cisma religiosa, ou seja,  o pior tipo do campesinato.

Daniel Beauvois
Newsweek História: O Padre Walerian Meysztowicz alegou que a margem direita da atual Ucrânia - regiões de Kiev, Podólia e Volínia - era como a Sicília. Ambas as terras eram as regiões mais atrasadas de seus países. A desproporção material ali foi de natureza inimaginável. Em meados do século XIX, 7000 representantes da nobreza polaca estavam na posse de três milhões de "almas".
Daniel Beauvois: Tal comparação é a mais adequada. Aquilo era um mundo, no qual, os polacos de Varsóvia eram simplesmente desprezados. Talvez nenhum lugar foi tão ruim quanto ali. Até a véspera da Revolução Bolchevique, a relação entre os aldeões e os senhores palacianos não era regulamentada e não havia normalidade entre as partes ... No final do século XIX, a terra começou a trazer mais lucros, por isso cada centímetro era contado. Quem era expulso, arrendava as terras para colonos - alemães, tchecos - que pagavam mais. Além da ganância da nobreza polaca, que foi muito grande, ela agia dessa forma contra o campesinato. Tinha o mesmo comportamento em relação à parte da nobreza que foram rebaixados de classe.

Newsweek História: Tenho colegas que pertencem a essa pequena nobreza, originária dessas regiões. Eles dizem algo bastante diferente: a de que havia respeito mútuo lá e que seus ancestrais não eram aceitos de bom grado nos órgãos jurisdicionais ortodoxos e judeus, e que em cada feriado deviam apresentar cumprimentos efusivos. Como existir assimetria nesta relação?
Daniel Beauvois: Em primeiro lugar, memória não é história. A maioria era de serviçais da nobreza. Em segundo lugar, os proprietários de terras, como bons católicos queriam se convencer de que nutriam sentimento por aquelas pessoas. Um sentimento de apreço e reconhecimento humano. Mas quando vemos como, realmente, foram tratados aqueles camponeses, fica um pouco difícil de acreditar. Eu li um monte de memórias de latifundiários. E lá todo mundo estava convencido de sua nobreza - não havia nenhum sentimento de culpa ou dúvida. Todo mundo acreditava firmemente que eram os guardiões da cultura polaca no Oriente, que estavam construindo a grandeza da nação. Isso conta, sobretudo, nos grandes palácios - e não havia tal esplendor na Ucrânia - e nas belas igrejas. E o fato de que as pessoas viviam em condições desumanas é mencionado apenas suavemente. Confraternizar-se com os povos, na maioria das vezes, resumia-se a uma coisa: que o senhor havia caído de amores pelo povo - como era então conhecido - ou de "ajustes" do campesinato. Para os senhores feudais, aquilo era absolutamente normal. O Conde Mieczysław Potocki tinha em seu palácio, em Tulczyń, um harém composto por formosas camponesas ucranianas. Em suma - não faz sentido procurar a verdade nas memórias dos latifundiários. O ódio do povo, que se manifestou ao longo dos séculos, não veio do nada.

Newsweek História: Naquelas terras, continuamente, eclodiram conflitos cujas vítimas foram os polacos: aconteceu na rebelião de Chmielnicki e foi perpetrado pelos muçulmanos; nos sangrentos acontecimentos de 1917 e após, no massacre na Volínia. Os próprios polacos selaram esse destino?
Daniel Beauvois: Em grande parte sim, infelizmente. A opção do escravo, eventualmente, era voltar-se contra ele. Para sair do mundo selvagem de submissão, não havia outro caminho para os rutenos, senão lutar e matar cruelmente. É claro que do lado polaco, as pessoas estavam gritando que não podiam mais, que era hora de acabar com a exploração. Na virada dos séculos XVI e XVII, Szymon Szymonowic pediu um tratamento humano para os camponeses, citando todos esses horrores. No século XVIII, Adam Kisiel defendeu o princípio de que as pessoas podiam ser ortodoxos e polacos ao mesmo tempo. No século XIX, existiu uma associação de camponeses com o mesmo nome, embora implicasse que outros proprietários de terras fossem taxados de loucos. Houve também um famoso "comunard" de nome Jarosław Dąbrowski, que defendia a liberdade de escolha da nacionalidade. Mas, em geral, o ódio entre o campesinato e a aristrocracia só crescia até 1917. Os motins em 1905-1906, durante a primeira revolução, foram um ensaio geral da catástrofe final.

Newsweek História: Os governos polacos na Rutênia foram colonialistas?
Daniel Beauvois: Talvez isso não seja bem a palavra correta, porque tudo começou alguns séculos antes, com essa redação, mas não usei. Talvez fosse mais apropriado dizer: "Era uma forma de expansão feudal". Mas os resultados foram mais ou menos os mesmos que nos casos de colonização. A ideia era assumir uma determinada área, no Oriente, em detrimento da população local. Alguns elementos dessa população concordaram em se polonizarem. Mas a maioria, não muito! Por isso, foi necessário impor-lhes tudo, ou seja, a cultura polaca e o catolicismo apostólico romano. Isto era política, que era naquele momento, equivalente ao que franceses e e ingleses faziam em suas colônias ultramarinas.

Newsweek História: "Vossa Majestade não deve se lamentar demais pela perda do bem público, porque és capaz de salvar o bem do indivíduo" - escreveu logo após a terceira partição, Jan Potocki para o rei Stanisław August. Esta discussão é percebida através de seu livro: as elites polacas usavam o poder tzarista russo para manter sua propriedade.
Daniel Beauvois: Esta é uma das coisas que não foram ditas antes da minha pesquisa. Os arquivos mostram que os proprietários de terras cooperaram com o tzar russo em escala maciça. Sem a ajuda da polícia, no tempo do exército russo, às vezes, os senhores polacos não podiam reprimir rebeliões ou manter a ordem em suas propriedades. Acho que isso pode ser visto claramente durante a revolução de 1905. Os proprietários de terras enviaram para Kiev vários apelos e telegramas para as autoridades, para que a polícia ali alocada, ou que centenas de cossacos viessem ajudá-los. Porque eles estavam cercados por seus camponeses. Eles próprios diziam: "As nossas residências são ilhas de civilização em um mar de barbárie". Eles próprios percebiam-se como pessoas ainda em risco.

Newsweek História: Isto foi colaboração?
Daniel Beauvois: Parece-me que a aristocracia, simplesmente, não tinha uma escolha. Desde o início das partições, ela foi ameaçada de confisco de bens e a partir de São Petersburgo continuavam a vir tais ameaças. Como resultado, a maioria dos aristocratas foram pressionados a estarem presentes na coroação de Paulo I, Alexandre I, Nicolau I, e assim por diante. A reunião da nobreza - os parlamentos distritais ou provinciais - enviavam regularmente garantias de lealdade ao tzar russo. Tinham de mostrar que eram fiéis. Era uma condição de sobrevivência. Além disso, os proprietários tinham uma espécie de álibi patriótico: patrimônio era uma pátria substituta. Terra de defesa. Ter propriedade era um dever patriótico. Mas este álibi foi muito abusado. Muitas vezes, alterado nos princípios: bene ubi, patria ibi - minha casa é o lugar de minha pátria ... Lembremo-nos de nossa origem. A Lituânia tomou parte ativa nos levantes de novembro e janeiro. A participação da Rutênia na Revolta de Novembro foi medíocre e na de janeiro inexistiu. Estes são fatos históricos, infelizmente...

Newsweek História: O senhor mencionou anteriormente sobre a nobreza "rebaixada de classe". Eram centenas de milhares de pessoas. A maior parte da nobreza polaca estava na margem direita da Ucrânia. Após a perda da posição nobiliarca, ela viveu em situação de uma pobreza terrível, muito pior do que a do camponês judeu. Sua história teve uma horrível continuação e está descrita em "Terras Sangrentas" de Timothy Snyder. Para Stalin, esse povo passou a ser objeto para uma gigantesca limpeza étnica, com fuzilamentos e deportações...
Daniel Beauvois: Iss começou ainda no tzarismo. Mas também, os compatriotas polacos não eram muito solidários. Inicialmente, tudo aconteceu com a participação nas Dietas regionais, mas no final eram baseadas apenas nos títulos nobiliarcos. No início do século XIX, o príncipe Czartoryski pensou em conceder aos pobres, pedaços de terra. Infelizmente, ele abandonou a ideia. No início da segunda metade do século, o tzarismo teve uma ideia semelhante, mas um grupo de proprietários de terras expressamente se opôs a isto. Eles diziam algo como: "A terra é nossa. Não, não daremos nada". Estes nobres sempre viveram na órbita dos poderosos: cultivar um pedaço de terra para eles, pagando aluguel, muitas vezes era simbólico. Quando, após a abolição da servidão houve explosão demográfica se podia obter terra para alugar muito mais fácil do que antes, e então começaram a expulsá-los. Eles foram subtraídos de todos seus pertences e escoltados para fora - para dentro da floresta, de carroças - para não voltarem mais. Mas eles voltaram. Novamente, eles foram expulsos, muitas vezes, com a ajuda do exército. Os proprietários de terras nos anos 80 do século XIX, tiveram suas vilas demolidas - bem como seus arredores. Sim - os polacos nas terras da atual Ucrânia não podiam ser equiparados aos exploradores. Pouco antes da Primeira Guerra Mundial, os ricos proprietários de terras eram 3.500 e os pertencentes à nobreza rebaixada, cem vezes mais. E sim - eles eram em sua maioria, pessoas mais pobres do que os camponeses rutenos (ucranianos).

Newsweek História: Em que medida os ucranianos podem ser culpados pelo fato da Ucrânia ter se tornado uma nação tão tarde? Quando, no século XVII, o marechal Filip Orlik, sucessor de Mazepa, apela para o renascimento do Principado da Rutênia, ninguém o escuta ...

Brasão Czartoryski
Daniel Beauvois: A construção do Estado ucraniano era realmente árduo e difícil. A tragédia desta nação era que eles não tinham nenhuma elite. Os magnatas rutenos ficaram fascinados com a cultura polaca - queriam a polonização e converteram-se ao catolicismo romano. E depois de algum tempo, essa gente não diferia dos polacos étnicos como Czartoryski ou Sapieha, mesmo quando se tratava do campesinato. A nova elite ucraniana originada no campo começou a surgir no final do século XIX. Ao longo dos últimos dois séculos - desde Orlik - não havia ninguém para lembrar da Rutenilidade. Mas, graças a Deus,  para os ucranianos - é claro - também existiu a Galícia. Os Habsburgos, em certa medida, foram apoiados pelo povo ruteno quando os russos eram apenas uma máfia obscura. Tudo o que é cultura ucraniana apareceu no século XIX em Lwów, na Galícia. Isto pode ser comparado com o papel desempenhado pelo Piemonte na unificação da Itália. Os historiadores ucranianos justamente colocam Lwów como o berço de sua nação.

Newsweek História: Para os russos, o polacos era seu inimigo número um. Isto ajudou um pouco os ucranianos, porque com isso, a repressão era dirigida em uma direção diferente.
Daniel Beauvois: A presença polaca naquelas terras era significativamente maior do que a russa e isso durou cinco séculos. Não surpreendentemente, os russos viam os polacos como os principais concorrentes. Especialmente porque, apesar das partições, os russos não conseguiram mudar efetivamente a situação a seu favor quando se tratava de propriedade estatal. Antes da revolta de janeiro quase toda a terra estava nas mãos da pequena nobreza polaca e até mesmo um pouco antes da Revolução Bolchevique - o que significava, a metade da terra. Isso também explica por que o principal objeto de ódio dos rutenos era apenas dirigido contra os polacos. Basta ler "Taras Bulba" de Gogol - o maior valentão é sempre um cavalheiro polaco.

Newsweek História: Mas os polacos que estenderam a mão para os rutenos foram tratados muito pior do que senhores feudais cruéis.
Daniel Beauvois: É verdade. Estudantes idealistas da Universidade de Kiev, que prometeram aos rutenos a liberdade ao se juntarem ao Levante de Janeiro foram entregues às autoridades tzaristas e a maioria deles foi morta. Eles não entendiam os pobres e que as proposições - contidas na chamada Associação Hramot de Ouro - eram muito atrasadas. Dois anos após, veio a abolição da servidão pelo tzar. Também porque os camponeses chegaram à conclusão de que era apenas uma outra lacuna polaca.

Newsweek História: Os polacos estão constantemente falando sobre a democracia nobiliarca - onde 10 por cento dos polacos tinham um direito real de decidirem de forma cooperada. O senhor rejeita esta visão argumentando que a direção do Estado polaco era decidida apenas por alguns poucos abastados, e que a máxima, "Um nobre estava ao nível da exploração do voivoda", não tinha nada a ver com a realidade, que isto era uma invenção dos Sarmatas para enganar a nobreza de classe mais baixa. No mundo esclerosado, os rutenos eram uma espécie de caricatura de uma relação pré-existente... 
Daniel Beauvois: A pequena nobreza não teve influência sobre o que aconteceu na Polônia - quer antes da anexação, ou depois dela. Eu sei que na Polônia há um grande movimento de valorização da democracia dos magnatas - e de ser um modelo para toda a Europa. Alguns chegam a afirmar que os polacos inventaram a democracia representativa, mas eu, examinando a história da Polônia, não vi nada parecido. Nunca nos sejmiks (câmaras regionais) apareciam mais de 200 pessoas. Os pobres não exerciam os seus direitos. As decisões eram empreendidas pelos mais ricos e influentes. Uma faixa pequena de uma aristocracia rica - um total de talvez 5 por cento dos nobres da nação. Era apenas um pequeno grupo.

História Newsweek: A Polônia era capaz de manter um Estado multi-étnico? O senhor, muitas vezes, afirmou que os polacos mentem sobre tendências revisionistas, que desejam retornar às fronteiras. Prefiro pensar que os polacos estão felizes de viverem em um país etnicamente homogêneo, sem minoria ...
Daniel Beauvois: Em primeiro lugar, as atuais fronteiras da Polônia não são "mérito" polaco, mas sim de Stalin, que as prescreveu. Hoje, nesses limites, ninguém quer e não pode tocar. Em segundo lugar, sob a forma de uma Polônia multinacional ou anterior às partições, ou da Polônia entre guerras, não haveria nenhuma chance de sobrevivência. Aquela foi uma vida junto a si mesma com a  passagens de diferentes civilizações. Sim - há algumas influências lituanas ou rutenas na cultura romântica. Mas nunca ocorreu um verdadeiro acordo sobre o solo - vamos chamá-lo - universal. Os polacos desperdiçaram várias vezes a chance de se reconciliar com o povo do "local", mesmo durante a rebelião Chmielnicki. Embora esta reivindicação fosse razoável, apenas os cossacos queriam se alinhar com a nobreza. Na mesma linha se recusou - na época da União de Brest - assento aos bispos no Senado Unificado, em nome do desprezo pelos ortodoxos. Espero que, na Polônia, hoje, ninguém pense assim, mas em dezembro, quando começou os conflitos em Maidan (Kiev), vi numa pesquisa do jornal "Rzeczpospolita", que apenas um quarto dos polacos têm uma imagem positiva dos ucranianos. Isso, no entanto, é tão pouco!

Newsweek história: "Triângulo ucraniano" mostra uma versão completamente diferente de um dos capítulos mais importantes da história da Polônia. Mas nessa desmistificação não há nenhuma armadilha? No final do século XIX, na onda do despertar da identidade nacional, a história foi escrita de forma a mostrar o tamanho da nação. Hoje, ela é, por vezes, escrita a fim de mostrar "que tipo fatal eramos."
Daniel Beauvois: Eu sei que os polacos preferem Norman Davies e que o que eu escrevo faz com que os inimigos se voltem contra mim... Meus textos foram  muitas vezes rejeitados - mesmo recentemente pelo Museu da História da Polônia, porque não aceitaram minha abordagem. É terrível que, muitas vezes, em vez de tentar conhecer sua própria história, os institutos da verdade histórica se escondem da realidade. Mas isso está acontecendo não só na Polônia. Escrevi um prefácio para um cântico de Prosper Mérimée dedicado a Bohdan Chmielnicki mostrando que o cântico é um plágio do historiador ucraniano Mikołaj Kostomarov. Meu editor francês não pode esconder o horror. Ele  também me censurou ...



Maciej Nowicki
Jornalista seção "O Mundo"
Revista Newsweek Polska Historia

Nota do autor: * Daniel Beauvois é um historiador francês de estudos eslavos. Na Polônia, seu mais famoso livro é o "Triângulo ucraniano - Aristocracia, tzarismo e o povo da Volínia, Podólia e região de Kiev de 1793-1914". Nele, entre outras coisas, diz que a relação entre polacoss e rutenos (atuais ucranianos) "assemelhava-se principalmente à relação existente entre senhor e escravo. (...) Eles eram cruéis a tal ponto, como nas plantações de algodão entre os norte-americanos, franceses na Martinica francês ou em outro algum lugar na África.


Antiga sinagoga em Kołomyja

P.S. Na região da Galícia, onde segundo alguns historiadores, teria nascido a atual Ucrânia, na cidade, da foto de Juliusz Dutkiewicz (no alto desta páginas), estão colonos rutenos de Kolomyja que viviam em 1913, véspera da Primeira Guerra Mundial em número de 45.000 habitantes. Com 15.000 Polacos, 20.000 polacos de origem judaica, 9.000 Rutenos (atuais ucranianos), 1.000 alemães e outros. Kolomyja era uma cidade polaca sob ocupação do Império Austríaco. Kołomyja ganhou o status de cidade durante o reinado do rei da Polônia, Casimiro o Grande, no século 12. Atualmente, a cidade Kołomyja pertence a região de Iwano-Frankiwsk, no Sudoeste da Ucrânia. No censo de 2001 contava com 65 mil habitantes, em sua grande maioria ucranianos e nenhum polaco, judeu, ou alemão.

Tradução do polaco para o português: Ulisses Iarochinski

domingo, 7 de dezembro de 2014

Irineópolis resgata cultura polaca dos imigrantes

Texto: Ellen Colombo
Fotos: Ellen Colombo
No último dia 3 de dezembro, Irineópolis recebeu a visita do cônsul geral da Polônia, em Curitiba, para reafirmar o interesse da Polônia por esse intercâmbio cultural.
Na oportunidade, será realizada uma festividade polaca de natal com apresentações de cantos, dança e encenações teatrais.
Com uma dose de boa vontade e seguindo uma fórmula que soma carinho, organização, empenho e participação da comunidade, o resgate e a valorização cultural puderam caminhar juntos no Núcleo Escolar Presidente Adolfo Konder, na localidade de São Pascoal, em Irineópolis.
Atualmente, a escola é referência no resgate da cultura polaca, sendo a única escola da rede municipal de ensino do Brasil que possui intercâmbio direto com a Polônia. Szkoła Polskiej Kultury i Tradycji w Irineópolis-Escola da Tradição e Cultura Polaca de Irineópolis, em Santa Catarina, como é conhecida na Polônia.



O início
Tudo começou quando o professor de Educação Física, Quelson Marcelo Brito, observou o grande número de alunos descendentes de polacos no município de Irineópolis, especialmente em São Pascoal. “Isso se percebe pelos sobrenomes das pessoas e, em São Pascoal, por ainda manterem a língua polonesa e seus costumes”, conta. Tendo em vista esses fatores peculiares da localidade, o professor apresentou à diretora Andreia Kaschuk Janiszewski a ideia de um projeto de resgate da cultura com danças, cantos, costumes e a língua.
A diretora abraçou a causa e há quatro anos se empenha pelo projeto na intenção de aproximar os alunos descendentes ou não da etnia polaca e divulgar o município de Irineópolis por meio do folclore Polaco. “A princípio foi uma ideia simples e amadora, mas estamos colhendo belos frutos”, disse.
A diretora comenta que o projeto dá muito trabalho, mas todo o esforço é compensado quando vêm os resultados positivos. “Quando há apresentações e títulos que elevam o nome do município, a gente se sente muito feliz e realizado.” Disciplina As principais dificuldades encontradas no início, há quatro anos, eram em relação às vestimentas, pois o material é caro e necessita ser de qualidade. Atualmente, a administração custeou todos os trajes que são confeccionados e bordados à mão. “Começamos com trajes muito simples pela falta de recurso e com o tempo fomos estudando as coreografias e aprimorando, pois cada apresentação exige um traje diferente”, explica a diretora.
O reconhecimento e respaldo dos pais é grande e é desta forma que o apoio da comunidade acontece. “Temos muita procura de pais que querem que seus filhos façam parte do projeto de dança, contudo, para entrar, é preciso que o aluno tenha alguns critérios como: boas notas, comprometimento, comportamento adequado e orgulho da cultura polaca”, comenta, indicando o perfil dos alunos que integram o projeto.
A diretora acrescenta que, mais que um projeto de dança, a escola tenta resgatar a cultura de um povo, por meio da língua, dos costumes, das histórias, da culinária, entre outros fatores. “As danças folclóricas são um instrumento tanto de preservação da cultura, como para a formação dos alunos, contribuindo na melhoria da qualidade de vida por meio do movimento e da socialização dos participantes”, destaca o professor Quelson.
O professor ressalta ainda que o projeto trabalha toda a identidade cultural polaca, além de trabalhar a lateralidade, força, equilíbrio, memória, coordenação motora, postura e disciplina dos alunos. Conquista Recentemente, o projeto recebeu um reforço especial.
Trata-se da contratação da professora de Língua Polaca, Ludmiła Pawłowski, que ministra aulas duas vezes por mês no Núcleo Escolar Presidente Adolfo Konder. Por meio de músicas, a professora, que mora há quatro anos no Brasil, tem ensinado a pronúncia da língua, que é a considerada uma das cinco mais difíceis do mundo. “Muito interessante foi a vinda da professora que aconteceu por meio de um contato informal que tive com ela em conjunto com a secretária de educação, Lilian Eliane Batschauer Ferreira, e o professor Quelson. Nessa conversa, a professora lançou a proposta e nós apresentamos ao prefeito, ele abraçou a causa e conseguimos trazê-la ao município”, conta a diretora.



Bons frutos
Encantada com as crianças do Núcleo, a professora diz que sua impressão sobre o projeto é muito positiva. “As crianças são muito interessadas em aprender a língua e os adultos também. É muito raro e inusitado que as pessoas se interessem pela língua polaca. Nestes anos que trabalho ministrando aulas, nunca tinha encontrado crianças interessadas em aprender polaco, eu encontro adultos, mas crianças ainda não”, comenta.
Para ela, o projeto é exemplo. “Irineópolis é o primeiro município brasileiro que contratou uma professora de polaco e isso é inédito, o que chama atenção é que o município é pequeno e isso mostra o caminho para outros municípios, pois no sul do Brasil a comunidade Polaca é muito grande, mas espalhada e desligada e não demonstra muito interesse no sentido de introduzir a língua para as escolas, pois pensam que só os adultos têm interesse e que a língua já é extinta”, explica. Ludmiła destaca ainda que o ensino da língua pode ser muito interessante e bem aproveitado no estudo e na aprendizagem dos jovens. “Não se trata somente da questão do idioma, mas por meio da língua vem toda a cultura de uma civilização, oportunidades de negócios e muitas chances”, disse. 



Oportunidade
No dia 3 de dezembro, quarta-feira, o município de Irineópolis recebeu a visita do Cônsul da Polônia. Conforme a professora, ele ministrou uma palestra para os alunos sobre as chances de estudos na Polônia. “Os alunos que hoje fazem aulas de polaco terão a oportunidade de continuar os estudos se formar na Polônia”, destaca.
A visita reafirma o interesse da Polônia neste intercâmbio cultural. “Polônia não é um país rico como Alemanha, ou como a França, mas o que tem melhor é a educação. O nível é muito elevado, então esses alunos poderão se formar e fazer alguns semestres da universidade na Polônia e, os que possuem descendência polaca podem ganhar bolsa de estudos”, comenta.
Ludmiła comenta que por meio de fotos, os alunos da escola polaca que fazem o intercâmbio cultural com os alunos de São Pascoal ficam surpresos por saber que existe uma escola no Brasil que demonstra interesse tão grande em aprender a língua e cultura polaca. “É algo muito original. Agora, como uma prova que nós poloneses valorizamos aquilo que demonstram os munícipes de Irineópolis, teremos a visita do cônsul polaco para mostrar que para nós isso é importante, que valorizamos como algo muito precioso.”

Dinamismo
Quanto às aulas, a professora explica que a primeira coisa que assusta os alunos é a pronúncia, pois é uma língua muito sussurrada. Contudo, o mais complicado é a gramática. “Não é difícil, mas é muito diferente do português. A língua polaca baseou-se na gramática do latim, então quem tem alguma noção de latim já entende a gramática polaca”, explica.
Desta forma, a prática será essencial. Ludmiła está preparando conversações entre os alunos polacos e brasileiros por meio de bate papo online. “Não queremos que seja uma língua morta, ou seja, a língua que o aluno só aprende na sala de aula, então preparamos um intercâmbio com a Escola da Polônia, que se chama Ginasial Escola. Uma vez por mês os alunos vão se conectar pelo Skype e já poderão praticar aquilo que aprendem na sala de aula, além de praticar o inglês também”, conta. Muito satisfeita com a oportunidade de ensinar sobre a língua e cultura de seu país, a professora parabeniza Irineópolis. “O município me surpreendeu positivamente. O interesse da administração de Irineópolis em chamar uma professora de polaco é louvável. Está sendo uma experiência incrível e espero que renda bons frutos”, finaliza.

Fonte: jornal Correio do Norte, Canoinhas -SC

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Quarteto Lutosławski abre Festival de Música de Câmara em Sorocaba


Com o objetivo de derrubar os muros que separam a música erudita da música popular, o Sesc Sorocaba recebe até sexta-feira (5) o 1º Festival Sesc de Música de Câmara.
A abertura da mostra ocorre hoje, às 20h, com apresentação do Quarteto Lutosławski, da Polônia. Formado em 2007, por jovens músicos dedicados em reverenciar o legado musical de Witold Lutosławski (1913 - 1994), considerado o mais importante compositor polaco desde Chopin, o Quarteto já se apresentou nos mais importantes festivais de música erudita do mundo, incluindo Festival Ensemble, da Alemanha, e o Festival Klara, na Bélgica.
Além de resgatar peças deixadas por Lutosławski, o quarteto é conhecido por interpretar obras do período clássico, como Beethoven e Brahms, e contemporâneo, como Shostakovich, Mykietyn e Panufnik, de maneira atual e vigorosa.
O quarteto polaco também se destaca no cenário da música de câmara internacional por executar composições próprias, assinadas pelo segundo violinista Marcin Markowicz.
No programa elaborado para o concerto de Sorocaba, o quarteto tocará "Quarteto em lá menor", de Robert Schumann; "Quarteto de cordas nº 3", de Markowicz; Cinco peças para quarteto de cordas, de Erwin Schulhoff e "Quarteto em sol menor", de Claude Debussy.


Além de Markowicz, o Quarteto Lutosławski é composto por Bartosz Woroch (primeiro violino), Adam Newman (viola) e Maciej Młodawski (violoncelo).
Todos os músicos do grupo também atuam como líderes de naipe na Orquestra Filarmônica de Wrocław, na Polônia.
Os ingressos variam entre R$ 12 (sócios do Sesc) e R$ 40 (inteira) e podem ser adquiridos na bilheteria da unidade ou no site www.sescsp.org.br.

O evento ocorre simultaneamente em 10 unidades do Sesc - SP, tanto da capital quanto do interior e litoral, e terá um total de 44 concertos.
Conforme explica Cláudia Toni, curadora do festival, a programação tem como objetivo promover a desmistificação da música de concerto e o fluir dos vários modos de fazer música. "Esses adjetivos que são dados à música de concerto, como "erudita" ou "culta" são bobagens porque criam a conotação de que é algo intransponível e difícil de entender, o que não é verdade. O prazer e o encantamento da música é acessível a todos. Esses muros que separam [a música popular da música de concerto] são artificiais. E uma das propostas do festival, com concertos na capital e no interior, é ajudar a derrubar esses muros", explica.
Amanhã, em Sorocaba, o Festival Sesc de Música de Câmara prossegue com duas apresentações do quinteto de sopros Calefax, da Holanda.

 Mais informações podem ser obtidas no site www.musicadecamara.sescsp.org.br

sábado, 29 de novembro de 2014

Países e nacionalidades po polsku

Como são grafados os países, seus habitantes e seus idiomas em polaco:


País/Państwo     Homem/Mężczyzna       Mulher/Kobieta       Falam em / Mówią po 

Argentyna             Argentyńczyk                      Argentynka               po hiszpańsku
Urugwaj                Urugwajczyk                       Urugwajka                po hiszpańsku
Chile                      Chilijczyk                           Chilijka                     po hiszpańsku
Paragwaj                Paragwajczyk                     Paragwajka               po hiszpańsku
Brazylia                Brazylijczyk                     Brazylijka               po portugalsku
Peru                        Peruwiańczyk                     Peruwianka              po hiszpańsku
Kolumbia               Kolumbijczyk                     Kolumbijka              po hiszpańsku
Meksyk                  Meksykanin                        Meksykanka             po hiszpańsku
Kuba                      Kubańczyk                          Kubanka                   po hiszpańsku
Portugalia             Portugalczyk                     Portugalka             po portugalsku
Polska                    Polak                                    Polka                        po polsku
Niemcy                  Niemiec                                Niemka                    po niemiecku (Alemanha)
Czechy                   Czech                                   Czeska                     po czesku        (Tcheca)
Słowacja                Słowak                                 Słowaczka                po słowacku   (Eslováquia)
Ukraina                  Ukraniec                              Ukrainka                  po ukraińsku
Białoruś                 Białorusin                             Białorusinka            po białorusku
Litwa                     Litwin                                   Litwinka                  po litewsku      (Lituânia)
Rosja                      Rosjanin                               Rosjanka                 po rosyjsku
Francja                   Francuz                                 Francuzka               po francusku
Hiszpania              Hiszpan                               Hiszpanka             po hiszpańsku (Espanha)
Wielka Brytania     Brytyjczyk                            Brytyjka                  po angielsku
Anglia                    Anglik                                   Angielka                  po angielsku
Belgia                     Belg                                      Belgijka                   po francusku
Holandia                 Holender                               Holenderka              po holendersku
Szwajcaria              Szwajcar                               Szwajcarka              po szwajcarsku (Suíça)
Szwecja                  Szwed                                    Szwedka                 po szwedzku     (Suécia)
Węgry                     Węgier                                  Węgierka                 po węgiersku   (Hungria)
Włochy                   Włoch                                  Włoszka                po włosku        (Itália)
Stany Zjedoczone   Amerykanin                           Amerkykanka        po angielsku
Kanada                    Kanadyjczyk                         Kanadyjka              po angielsku / po francusku
Japonia                    Japończyk                              Japonka                 po japońsku
Chiny                       Chińczyk                               Chinka                   po chińsku




sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Morre o polaco Samuel das Casas Bahia


Texto original de Ralphe Manzoni Jr.
Revista IstoÉ Dinheiro

O empresário Samuel Klein, fundador das Casa Bahia, faleceu na madrugada desta quinta-feira, 20, em São Paulo, devido a insuficiência respiratória. Klein estava com 91 anos de idade. Ele deixa três filhos, oito netos e cinco bisnetos. O velório ocorre no cemitério israelita do Butantã, em cerimônia reservada para família e amigos.
A Via Varejo, controladora da Casas Bahia, divulgou nota na qual expressou seus sentimentos de pesar e agradeceu o empresário por sua contribuição ao País. "A melhor forma de honrarmos seu legado empreendedor é continuarmos crescendo e realizando os sonhos de nossos clientes e colaboradores".


Perfil

Polaco naturalizado brasileiro, Samuel Klein nasceu em Zaklików e cresceu em Lipa, cidades próximas a capital da região lubelska, Lublin, na Polônia, como o terceiro de nove irmãos, filho de um carpinteiro de família de origem judaica.

Aspecto atual da praça central (Rynek) de Zaklików, onde nasceu Samuel Klein, na Polônia

Começou a trabalhar com o tio como marceneiro até a invasão dos nazistas, quando foi levado para Maidanek com o pai. Maidanek, em Lublin, era o terceiro maior campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial.

Uma pousada em Lipa, pequena cidade onde Samuel Klein passou sua infância
Klein foi com o pai para Maidanek, enquanto a mãe e os irmãos foram para Treblinka. Foi levado junto com outros prisioneiros para Auschwitz em 1944, após a libertação da Polônia. Caminharam 50 quilômetros a pé até o rio Vístula (maior rio da Polônia).

Aspecto atual do cemitério judaico de Zaklików
Fugiu dos soldados numa tentativa ousada no dia 22 de Julho. Suas palavras: "Fui me escondendo e entrando no trigal cada vez mais. Não sei para onde estava indo, mas tinha a certeza de me afastar do grupo." Passou a noite na plantação. Ao acordar, encontrou-se com polacos cristãos também fugidos, que o acolheram e ajudaram a fugir.

Restos de sapatos e roupas dos prisioneiros do campo de concentração nazista de Majdanek, em Lublin
Samuel chegou a voltar para sua antiga casa, que estava totalmente arrasada. Trabalhou numa pequena fazenda nas proximidades em troca de comida.
Com o fim da guerra, encontrou-se com a irmã Sezia e o irmão Salomon. Depois da guerra, os irmãos Klein foram para a Alemanha administrada pelos norte-americanos. Conseguiram reencontrar vivo o pai. Viveram em Munique de 1946 até 1951.
Nesta grande cidade alemã, Samuel conheceu Hanna, com quem se casou. Sentiram que era hora de deixar a Europa e reconstruir a vida em outro lugar. O pai foi para Israel, junto com a outra irmã Esther. Samuel queria emigrar para os Estados Unidos, mas não conseguiu. A cota de emigração estava cheia. Decidiu ir para a América do Sul, onde tinha alguns amigos.
Conseguiu visto para a desconhecida Bolívia e lá chegou com a esposa e o filho. Em 1952, a Bolívia vivia uma situação social muito complicada, com disputas políticas violentas e uma revolução em curso. Klein recordou-se de uma tia que vivia no Rio de Janeiro.
Com a mulher e o filho embarcou no primeiro avião de La Paz para a então capital brasileira. Em menos de dois meses conseguiu autorização para viver no Brasil.
Estabeleceu-se em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo com a família. Foi quando começou a trabalhar como comerciante. Tornou-se mascate, vendendo roupas de cama, mesa e banho de porta em porta, com uma charrete.

Primeira loja da futura rede Casas Bahia, em São Caetano do Sul - Sp
Em cinco anos de dedicado trabalho, conseguiu capital para comprar uma loja chamada Casa Bahia, em 1957. Era a sua homenagem a seus fregueses, na maioria retirantes baianos vindo tentar a sorte na região. Em 1964, a loja começa a vender eletrodomésticos.
Seis anos depois, o Bahianinho, o mascote que até hoje é o símbolo da Casas Bahia, foi criado. Junto com ele surgiu o slogan “Dedicação total a você”.


Samuel Klein é considerado por muitos o rei do varejo. Ele também foi o primeiro a vislumbrar o poder de compra dos mais pobres, fornecendo crédito aos que não conseguiam comprovar renda. “Compro por 100 e vendo por 200, tudo parcelado”, costumava dizer ele, o segredo de seu sucesso como empresário.
A Casas Bahia, com o tempo, foi ganhando musculatura. Em 1989, já contava com 100 lojas. Nos anos 2000, tornou-se a maior rede de varejo do Brasil, sobrevivendo ao furacão que varreu do mapa os principais varejistas do Brasil.
Por esse motivo, a Casas Bahia transformou-se no símbolo de resistência de um setor que viu antigos ícones como Mappin, Mesbla, G. Aronson e Casa Centro desmoronarem da noite para o dia. Mas foi também no fim da primeira década dos anos 2000 que marca uma virada na estratégia da companhia.
Em 2009, o controle da Casas Bahia é vendido para o grupo Pão de Açúcar, naquela época controlado com mão de ferro pelo empresário Abilio Diniz. Ela iria se unir ao Ponto Frio, seu arquirrival, comprado seis meses antes pelo Pão de Açúcar, dando origem ao maior grupo de varejo do Brasil.
O casamento, no entanto, foi tumultuado desde o início, com ameaças de rompimento de ambas as partes, logo depois do contrato assinado. Mas depois de acertarem suas divergências, surge a Via Varejo, que combina as operações de Casas Bahia e Ponto Frio.
Raphael Klein, neto de Samuel, foi seu primeiro presidente. A família Klein, atualmente, é minoritária na Via Varejo. Em uma operação de venda de ações, eles ficaram com apenas 27,3% das ações. Michael, filho de Samuel, que comandava o conselho de administração da Via Varejo deixou o posto e mantém duas cadeiras no colegiado.

Cotidiano

De hábitos simples, Samuel Klein mantinha quarto na sede da Casas Bahia Mesmo fora do dia a dia dos negócios, empresário ia até sede da empresa e tinha um espaço decorado para dormir e descansar Fora do dia a dia dos negócios há mais de uma década, o empresário Samuel Klein, fundador da rede varejista Casas Bahia, não deixava de frequentar a sede da companhia, em São Caetano do Sul, na região do grande ABC.
O edifício abriga atualmente, nos quinto e sexto andares, a sede da CB Capital Brasileiro, empresa que toca os negócios de Michael Klein, o primogênito de seu Samuel.
A Via Varejo, holding de eletroeletrônicos que administra a Casas Bahia e o Ponto Frio, fica nos andares abaixo.

Michael Klein

Em fevereiro deste ano, encontrei-me com Michael, seu filho, para uma entrevista que foi a reportagem de capa da revista DINHEIRO.
Era um dia histórico, pois ele acabava de deixar a presidência de conselho de administração da Via Varejo.
De forma simbólica, aquele gesto marcava o fim do comando de um Klein sobre o império de eletroeletrônicos que começou com uma pequena loja, em 1957, ali mesmo em São Caetano do Sul, pelas mãos de seu Samuel.
A conversa girava em torno dos novos negócios de Michael, principalmente na área imobiliária. Quis saber o que significa, do ponto de vista emocional, deixar o comando da empresa que foi fundada por seu pai. “A melhor maneira de sair é quanto você está em alta”, respondeu ele. “Pelé parou e ainda é o rei do futebol. Assim como ninguém vai tirar o mérito de meu pai de ser o rei do varejo. Podem aparecer novos reis do varejo. Mas quem apostou no varejo brasileiro lá atrás e deu crediário para os pobres? Foi ele.”
Nesse momento, ele me disse que seu pai, já com 90 anos, ainda gostava de ir até a sede da empresa, em São Caetano do Sul, embora cada vez mais com menos frequência. “Ele quer ver se as coisas dele estão no mesmo lugar”, brincou. E, para minha surpresa, me convidou para conhecer o quarto em que o seu Samuel, como ele é conhecido, mantinha no quinto andar do edifício em São Caetano do Sul.

“Um quarto?”, questionei.
“Isso mesmo”, respondeu Michael.

Fomos até a sala ao lado, onde Michael trabalha quando está por lá. Ela é decorada com fotos familiares e jatos executivos e helicópteros, paixão do filho de seu Samuel. Antes, era ocupada pelo patriarca da família. Atrás da cadeira, há uma porta que leva para o quarto de seu Samuel. “Muitas vezes ele dormia aqui”, conta Michael.
Na verdade, o espaço é muito mais do que um quarto. É um apartamento enorme, com sala, cozinha, o quarto propriamente dito e um banheiro adaptado para pessoas idosas.
Há fogão, geladeira, televisão e amplos sofás. O local é todo decorado com fotos familiares. Até os armários estavam lotados com as indefectíveis camisas listradas de seu Samuel, o seu traje favorito.


As lições de varejo de Samuel Klein em 13 frases:

1 - “Crise é coisa de rico”
2 - “Eu sei fazer conta. Compro por 100 e vendo por 200, sempre parcelado”
3 - “De um bom namoro sai um bom casamento. Da boa conversa, sai um bom negócio”
4 - “O segredo é comprar bem comprado e vender bem vendido”
5 - “Eles não perdem dinheiro. O desconto que os fornecedores dão para a gente, eles cobram dos meus concorrentes.”
6 - “Damos com uma mão, tiramos com outra”
7 - “Em nossa vida profissional, não podemos falhar. São justamente nossos erros que estragam nossos acertos”
8 - “Um mais um é igual a dois. Mas a soma de uma ideia mais uma ideia não são duas ideias, e sim milhares de ideias”
9 - “Cresci junto com o Brasil, não fiquei parado vendo o país crescer”
10 - “Bobagem. A riqueza do pobre é o nome”
11 - “Quem tem sócio tem patrão”
12 - “Eu vivo e deixo os outros viverem”
13 - “Que país abençoado esse Brasil. O povo também é pacato e acolhedor. O Brasil é um país que dá oportunidades para quem quer trabalhar e crescer na vida”

Herdeiros de Samuel Klein

O filho Michael é um dos maiores investidores imobiliários do Brasil e os netos Rafael e Natalie apostam na mídia digital e no varejo de luxo, respectivamente A família Klein terá seu nome marcado na área de varejo.
Rafael Klein

Afinal, o patriarca Samuel, que morreu nesta quinta-feira 20, ostenta há décadas o título de rei do varejo brasileiro.
A homenagem é mais do que justa, pois foi ele quem descobriu, meio século antes que o tema virasse moda, o potencial da baixa renda.
Pioneiro, Samuel trouxe a periferia para o mercado de consumo, oferecendo crediário para os consumidores de menor poder aquisitivo, que hoje constituem a chamada classe média emergente, em lojas despojadas de luxo e de produtos sofisticados.
Tanto que o celular só foi parar nas gôndolas da Casas Bahia em 1999, quando passaram a ser acessíveis ao bolso do povão.
O DNA do varejo está presente nos herdeiros de Samuel, mas eles estão se enveredando por outros caminhos. A família, que vendeu a Casas Bahia ao Pão de Açúcar, hoje detém 27,3% da Via Varejo, holding criada para administrar os negócios de eletroeletrônicos do grupo atualmente controlado pelo francês Casino.
Michael, o primogênito de Samuel, deixou a presidência do conselho de administração da Via Varejo, embora mantenha dois assentos no colegiado. Hoje, ele dedica a maior parte de seu tempo a administrar os seus negócios imobiliários. Se Samuel é chamado de o rei do varejo, Michael, no entanto, tem grandes chances de ser conhecido como o imperador dos imóveis.“Gosto de brincar de banco imobiliário na vida real”, disse Klein, em entrevista à DINHEIRO, em fevereiro deste ano.

“Em vez da cartolina, prefiro receber a escritura da propriedade.” Não se trata apenas de uma tirada espirituosa ou jogo de cena de Klein. Ele é atualmente um dos maiores investidores imobiliários do País, dono de um patrimônio estimado em R$ 4,6 bilhões e mais de 400 imóveis. Esse patrimônio, no ano passado, gerou uma receita anual de aproximadamente R$ 250 milhões. Quase três quartos desses ativos estão alugados para a Via Varejo, em um contrato que vai até 2030. Os outros inquilinos são grandes empresas, como os bancos Bradesco e Santander e as varejistas Marisa e O Boticário.
A siderúrgica Gerdau, por exemplo, aluga dois galpões industriais. A Petrobras ocupa um prédio de 13 andares em Salvador. Todo o dinheiro ganho com esses aluguéis é reinvestido em novos prédios, escritórios e lojas.
Natalie Klein
Outro interesse de Michael é a aviação. Ele tenta desde o começo do ano autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para colocar no ar sua companhia de táxi aéreo a CB Air. A empresa já conta dois hangares, um no Campo de Marte, em São Paulo, e outro em Sorocaba, no interior de São Paulo, além de helicópteros e jatos executivos.
Só não iniciou sua operação por conta dos trâmites oficiais. Os filhos de Michael também resolveram seguir caminho solo. Raphael, que foi o primeiro presidente da Via Varejo, a holding que reúne Casas Bahia e Ponto Frio, aposta na mídia digital.
Ele fundou a ROIx, uma agência online, depois que deixou o comando da operação de eletroeletrônicos.
Natalie, a outra filha de Michael, é dona da butique de luxo NK Store, uma das mais conceituadas do Brasil.



P.S. fiz algumas correções históricas, acrescentando informações e fotos. Em 2003, tive a oportunidade de trabalhar na produção do especial para a TV Bandeirantes com Roberto Cabrini, o cinegafista Paraíba, o editor Clóvis Rebello,e o também intérprete e produtor Mauro Longaretti Kraenski. Com duração de 60 minutos, o programa foi ao ar, quando o polaco Samuel completava 80 anos de idade.
Além das pequenas cidades e os campos de concentração onde Samuel viveu, também foram feitas gravações em Cracóvia com alguns entrevistados.
Ulisses Iarochinski, Roberto Cabrini e o cinegrafista/iluminador Paraíba, em Cracóvia nas gravações do especial "Samuel Klein - 80 Anos", pela TV Bandeirantes