Em uma vila da antiga região da Caxúbia, voivodia da Pomerânia, no norte da Polônia foi encontrada uma ossada durante escavações ao lado de uma pequena igreja.
Durante as obras para a expansão da Ulica (pronuncia-se ulitssa e significa Rua) Kościelna (da igreja), em Luzino, foi inicialmente avistada pelos operários um esqueleto com a cabeça entre as pernas. Acharam melhor parar o serviço e chamar o padre. Este vendo o inusitado cadáver achou melhor avisar as autoridades, que logo chamaram arqueólogos.
Estes imediatamente começaram os trabalhos. Dos resultados de suas pesquisas emergiu um contexto histórico extremamente aterrorizante. Segundo um dos especialistas, práticas anti-vampirescas foram realizadas em alguns dos mortos. "Acreditava-se que se alguém da família do falecido morresse logo após o funeral, ele ou ela poderia ser um vampiro", Maciej Stromski.
As escavações continuaram e restos mortais de 450 pessoas foram sendo desenterradas.
A vila de Luzino tem muitas histórias, quase lendas a respeito de vampiros. “Durante as pesquisas, descobrimos restos mortais em sistemas anatômicos e também uma enorme massa de ossos soltos depositados em três ossuários. A igreja, onde os esqueletos humanos foram descobertos foi construída no início do século 18, e depois foi ampliada pós 1945. Muito, provavelmente, durante a construção e expansão da igreja, antigas sepulturas foram removidas e em locais no cemitério, grandes quantidades de ossos foram depositados", completou o arqueólogo Stromski.
Pesquisas arqueológicas anteriores mostraram que os antigos habitantes da região da Caxúbia tinham muito medo de vampiros, e é por isso que costumavam organizar funerais anti-vampiros para seus parentes.
“Em cerca de 30 por cento das sepulturas descobertas existem tijolos que foram inseridos na altura das pernas, braços e cabeça do falecido. Nas bocas dos mortos encontramos moedas.
Em uma delas pudemos ler o ano de 1846. O que é raro. Também temos exemplos de decapitações após a morte. Acreditava-se que se um parente do falecido morresse logo após o funeral, ele ou ela poderia ser um vampiro. Portanto, após o enterro, a sepultura era aberta, o corpo desenterrado e a cabeça era cortada, e em seguida, colocada entre as pernas. Também descobrimos, por exemplo, uma mulher após ser decapitada. Apenas o crânio da criança foi colocado em seu colo", explicou Stromski.
Luzino tem atualmente cerca de 7.646 habitantes. A vila remonta ao século 9. A igreja onde foram encontradas as 450 ossadas, é de 1740.
O mobiliário é barroco do século 19 e segunda metade do século 20. Nela se encontram esculturas do século 18, a Via Sacra do século 19, pia batismal do século 18.
O portão de entrada da praça da igreja também é barroco. O objeto mais antigo é uma pedra medieval de uma igreja de madeira. Na torre, há um sino histórico da oficina do fundador do sino de Gdańsk, E. Lindeman, de 1793.
A igreja tem 2 relógios de sol e um relógio mecânico de 100 anos. Dentro do espeço da igreja existe um presbitério histórico e casa de um organista.
No jardim existe um obelisco trasladado do antigo cemitério da igreja. Uma escultura - Jesus entrando em Jerusalém - foi obra de Marian Mielewczyk, moradora de Luzino, constituindo um dos elementos do altar papal de 1999, realizado sob a orientação de um conhecido mestre prof. Marian Kołodziej.
Os corpos eram enterrados com os crânios decapitados alojados entre as pernas e moedas eram colocadas na cavidade das bocas. Esta prática tinha o objetivo de impedir que, se porventura eles fossem vampiros, pudessem se levantar de seus túmulos.
Esta recente descoberta descortina crenças obscuras e medidas extremas tomadas pela população local para evitar o retorno dos mortos de seus túmulos na forma de vampiros. As lendas polacas descrevem os “Vjesci” (vampiros) como figuras pálidas que assombram as ruas iluminadas pela Lua. Conforme a tradição, essas criaturas sanguinárias se escondiam em criptas antigas, emergindo ao anoitecer para atacar almas inocentes.
Tal prática era muito comum até o século 19, na Polônia, e faz parte do que se acreditava ser um ritual para impedir a “maldição de vampiros”, e que remonta ao folclore medieval polaco.
No entanto, esta não é a primeira vez que um cemitério tido como de vampiros é encontrado no país. Em 2014, dois sítios arqueológicos foram revelados no sul e noroeste da Polônia, ambos com características de sepultamento comuns às práticas anti-vampiras da época.
Neles, dentes foram removidos, pedaços de pedra foram colocados na boca e pernas foram estacadas.
Titus Hjelm, especialista em cultos sobre vampiros na Escola de Estudos Eslavos e do Leste Europeu na University College London, explicou que o costume de colocar uma pedra na boca dos mortos tinha como objetivo fazer uma “barreira sobrenatural” entre os mundos dos mortos e dos vivos.
“Segundo algumas fontes, os polacos pensavam que os vampiros nasciam, em vez de serem ‘feitos'”, explicou ele. “Os vampiros eram pessoas normais que podiam viver vidas normais, não eram aristocratas vivendo em castelos distantes. Os problemas só começaram quando essas pessoas morriam. Elas poderiam voltar a viver com suas famílias e até mesmo engravidar suas esposas”, completou Hjelm.
Texto: Ulisses Iarochinski
Fontes: CNN Brasil, History Chanel Brasil, Revista Fakt e TV Morska (nadmorski24.pl)