domingo, 31 de agosto de 2014

O polaco Donald Tusk é eleito presidente do Conselho Europeu

O primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk foi eleito presidente do Conselho Europeu, neste sábado em Bruxelas.
Em seu primeiro discurso prometeu construir compromissos, saindo na frente das preocupações do Reino Unido, bem como atividades para combinar a disciplina fiscal e crescimento. Tusk assumirá o cargo em 1º de Dezembro.
Até lá, o presidente do Conselho Europeu por dois mandatos de 2,5 anos continua sendo o belga Herman Van Rompuy. O primeiro-ministro polaco sublinhou que a UE tem de ser corajosa, mas não ​​radical no que diz respeito ao conflito na Ucrânia. Ele apontou também para os perigos da situação na Síria. Falando sobre a situação econômica, disse que poderá combinar a disciplina fiscal com crescimento econômico da Europa. "Eu percebo que os principais problemas que enfrentamos não vão desaparecer até dezembro. Um deles é uma crise que ainda se faz sentir na zona do euro." - Disse o chefe do governo polaco.
Tusk também presidirá as reuniões dos países da zona euro. O primeiro-ministro disse que a principal tarefa do presidente do Conselho Europeu continua ser a de construir compromissos. "80 por cento dos meus compatriotas acredita profundamente no sentido da União Europeia e não está à procura de alternativas", - disse ele.


Tusk também enfatizou herança polaca, sua experiência, que pode se tornar uma importante fonte de energia, para as necessidades da UE e no futuro, isso se fará sentir mais do que nunca. Ele ressaltou que os eventos dramáticos em toda a Europa vão exigir a opinião comum de toda a comunidade. "Todos os dias temos de responder à pergunta - para o confronto na Ucrânia, mas também para a situação na Síria, Líbia. Quem somos, como nós juntos podemos responder a este desafio que deve ser a capacidade de construir uma perspectiva comum para a Ucrânia. Nós podemos ajudar e vamos ajudar os nossos vizinhos. Seremos capazes de construir um ponto em comum, sem ambiguidades e, por isso, precisamos ser um tanto corajosos e responsáveis, com imaginação e senso comum podemos estar juntos. Sobretudo tendo em conta os desafios que (...) são tão dramáticos na vizinhança da UE",salientou Tusk.
Ele acredita que a posição da UE sobre o conflito ucraniano deve ser ousada, mas não radical. Em sua opinião, entende-se que vários países da UE têm diferentes níveis de sensibilidade e diferentes pontos de vista, mesmo quando se trata do conflito na Ucrânia.

O Conselho Europeu (também referido como Cúpula Europeia), é o mais alto órgão político da União Europeia. É composto pelos Chefes de Estado e de Governo dos países membros da União, juntamente com o Presidente da Comissão Europeia. A sua reunião é presidida pelo membro do Estado-Membro que atualmente detém a Presidência do Conselho da União Europeia.
O Conselho Europeu não é uma instituição oficial da UE, embora seja mencionada nos Tratados como um organismo que "dará à União os impulsos necessários ao seu desenvolvimento".
Fundamentalmente, define a agenda política da UE e, portanto, tem sido considerado o motor da integração europeia. Para além da necessidade de fornecer "impulso", o Conselho tem desenvolvido novas funções; para "resolver questões pendentes de discussões num nível mais baixo", a liderança na política externa - externamente agindo como um "Chefe de Estado coletivo", "ratificação formal de documentos importantes" e "participação na negociação dos tratados".
O Tratado de Lisboa criou o cargo de Presidente do Conselho Europeu, ocupado por uma personalidade independente dos Chefes de Estado ou de Governo dos Estados-Membros. Com mandato de dois anos e meio, o presidente é eleito pelo Conselho Europeu através da maioria qualificada, podendo o Conselho Europeu pôr termo ao seu mandato pelo mesmo meio.

Depois de ser eleito para presidir o Conselho Europeu, Tusk terá deixar a posição de primeiro-ministro, processo que envolve a renúncia de todo seu governo. Em tal situação, a Constituição define os próximos passos a seguir.
Após a aprovação da renúncia - ao abrigo da Constituição - o presidente da República deverá nomear um novo primeiro-ministro, fazendo sua proposta ao Conselho de Ministros. A partir da data de nomeação, o primeiro-ministro tem duas semanas para apresentar ao Sejm, seu programa do governo e obter voto de confiança para o seu governo.
O Parlamento dá voto de confiança ao governo por maioria absoluta de votos (e, portanto, deve haver pelo menos um voto mais "para" do que votos "contra" e "abstenção"), na presença de pelo menos metade do número legal dos deputados - o que no momento da votação parlamentar deve ser de pelo menos 230 membros.
Se na primeira etapa constitucional o Sejm não der o voto de confiança no Conselho de Ministros, segundo a Constituição, o Parlamento toma a iniciativa, de dentro de duas semanas formar um governo e dar-lhe o voto de confiança.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Cracóvia inaugura exposição de artistas curitibanas


Cracóvia recebe exposição de 6 artistas plásticas curitibanas, em seu coração O famoso Rynek - praça central do centro histórico da cidade.
As portas do Dom Poloni (Casa do Polaco do Estrangeiro) para a exposição "Brazylijska Natura - spojrzenia i inspiracje" (Natureza Brasileira - olhares e inspirações).
A abertura é hoje, 28 de agosto de 2014, às 18:00hrs. A exposição das seis artistas descendentes de imigrantes polaco  Dulce Osinski,  Everly Giller · Heliana Grudzien,  Márcia Széliga,  Mari Ines Piekas,  Schirlei Freder. · aborda o tema da natureza brasileira e é composta por trabalhos inéditos em gravura, pintura, fotografia, desenho e técnicas mistas das artistas brasileiras.

Local: Galeria Dom Poloni na cidade de Cracóvia - Rynek Główny 14






BRASIL - Realização: Consulado Geral da República da Polônia em Curitiba; Casa da Cultura Polônia Brasil. - Apoio: Prefeitura Municipal de Curitiba Braspol Nacional 

POLÔNIA - Organizadores: Associação Wspólnota Polska - Kraków Consulado Honorário do Brasil em Cracóvia -  Grzegorz Hajdarowicz 
Patrocinador: Prefeitura da Cidade de Cracóvia - Apoio: Sika IM Patecki - Dealer Kia Kraków Stowarzyszenia Oświat i Kultury Polskiej - SOiKP

Mais informações:


quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Uma nova Katyń é encontrada na Ucrânia

Em uma antiga prisão da NKVD - Comissariado do Povo para Assuntos Internos (ou Ministério do Interior) da Rússia Soviética, na de Vladimir, na região da Volínia polaca (atualmente em território ucraniano) foram encontrados os restos mortais de cerca de 1.000 pessoas.
Entre eles estão soldados. policiais e civis polacos. A exploração e exumações estão sendo feitas nas ruínas do antigo castelo do Rei polaco Kazimierz Wielki (Casimiro o Grande), na localidade de Vladimir, hoje, pertencente ao território da Ucrânia, e a 15 km da atual fronteira.
Nos anos de 1939 a 1956 existiu ali uma prisão do Ministério do Interior russo. A exploração arqueológica está sendo realizada por um grupo binacional de cientistas ucranianos e polacos.



"No momento já foram encontrados os restos mortais de cerca de 950 pessoas. Entre elas estão soldados polacos, mas também há civis. Também foram encontradas no local, pistolas TT junto aos mortos que possivelmente que foram mortos pela NKVD em 1940 e 1941", declarou Aleksiej Złatogorski, chefe da equipe ucraniana de arqueólogos.
A doutora em arqueologia, a polaca Dominika Siemińska, chefe da equipe polaca, acrescentou que "Os restos mortais estão em muito mau estado. Foram cobertos com cal. Já foram abertas duas cavidades na sepultura coletiva. Muitos deles, provavelmente foram abatidos a coronhadas e depois enterrados com escavadeira".
As exumações levará mais algumas semanas. O lado ucraniano inicialmente determinou que os restos dos corpos serão enterrados novamente em 23 de setembro, no cemitério municipal de Vladimir, na Volínia. Cidade, onde viviam polacos, rutenos, ciganos e judeus, antes da segunda guerra mundial, quando a região ainda era território da Polônia.


Uma nova Katyń?
É o que está se perguntando a sociedade polaca com as recentes descobertas. Katyń, também conhecido como Massacre da Floresta de Katyń, foi uma execução em massa ocorrida durante a Segunda Guerra Mundial contra oficiais polacos prisioneiros de guerra.
Eram policiais e cidadãos comuns acusados de espionagem e subversão pelo NKVD - Comissariado do Povo para Assuntos Internos, a polícia secreta soviética, comandada por Lavrentiy Beria, entre abril e maio de 1940, após a rendição da Polônia à Alemanha Nazista.
Através de um pedido oficial de Beria, datado de 5 de março de 1940, o líder soviético Josef Stalin e quatro membros do Politburo aprovaram o genocídio. O número de vítimas é calculado em cerca de 22.000, sendo 21.768 o número mínimo identificado.
As vítimas foram executadas na floresta de Katyń, na Rússia, em prisões de Kalinin e Karkov e em outros lugares próximos.
Do total de mortos, cerca de 8 mil eram militares prisioneiros de guerra, outros 6 mil eram policiais e o restante dividido entre civis integrantes da intelectualidade polaca - professores, artistas, pesquisadores, historiadores, etc - presos sob a acusação de serem sabotadores, espiões, latifundiários, donos de fábricas, advogados, funcionários públicos perigosos e padres.
O termo "Massacre de Katyń" originalmente refere-se especificamente ao massacre na floresta de Katyń, perto das vilas de Katyń e Gnezdovo, localizadas cerca de 19,5 km a oeste de Smolenski.

A TV Cultura de São Paulo, exibiu no último sábado o filme "Katyń", realizado pelo maior cineasta polaco de todos os tempos Andrzej Wajda, cujo pai foi um dos oficiais assassinados em Katyń.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Capa da revista Przekrój de 1948


Ilustração de Zbigniew Lengren "Plaża" na capa da revista da revista cultura de maior circulação da Polônia,"Przekrój", edição de 11 julho de 1948. A revista sócio-cultural da esquerda-liberal é publicada desde 1945.
Até 2002 foi editada em Cracóvia. Mas entre 2002 a 2009, passou a ser publicada em Varsóvia. Voltou em 2009 para Cracóvia onde continuou a ser publicada.
O magnata Grzegorz Hajdarowicz foi o responsável pela volta da revista a Cracóvia, quando a comprou e a instalou em Zabłoce, cidade próxima a Cracóvia.
Em outubro de 2013, o Cônsul honorário do Brasil, em Cracóvia, Hajdarowicz vendeu a revista para o fotógrafo Thomas Neviadomski.
A última edição de Przejkrój editada por Hajdarowicz ocorreu em 30 de setembro de 2013.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Polônia escolheu seu candidato ao Oscar 2015


A Polônia já escolheu seu representante para a disputa do Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira de 2015.
Trata-se de “Ida”, do diretor Paweł Pawlikowski (“Estranha Obsessão”), um drama de época feito em preto e branco, sobre uma noviça que descobre um sombrio segredo familiar.
A informação é do Site The Hollywood Reporter. O filme vem acumulando prêmios e críticas positivas, além de conseguir se destacar no circuito dos cinemas arte, tendo arrecadado US$ 3,6 milhões nas bilheterias dos Estados Unidos e US$ 9 milhões na Europa.
Isto faz dele um dos filmes polacos mais bem-sucedidos de todos os tempos no mercado internacional. Entre as muitas honrarias conquistadas, “Ida” venceu o prêmio de Melhor Filme nos festivais de Londres, Gijón e Varsóvia, o Prêmio da Crítica no Festival de Toronto e foi o grande vencedor na premiação Eagle Awards da Polônia, um dos prêmios mais importantes de cinema do país, faturando os troféus de Melhor Filme, Diretor e Atriz (para Agata Kulesza).
Ambientado na década de 1960 na Polônia, a trama gira em torno de Anna (Kulesza), uma jovem noviça, que está prestes a fazer seus votos religiosos, quando descobre um terrível segredo de família, da época da ocupação nazista no país. “Não temos dúvidas de que de “Ida” de Pawlikowski é o filme polaco que tem a maior chance nesta categoria muito competitiva”, disse Agnieszka Odorowicz, diretor-geral do Instituto de Cinema Polaco.
“Ele não serve apenas como um exemplo fantástico do trabalho de seu cineasta, mas do cinema polaco como um todo.” A Polônia é um dos primeiros países a apresentar o seu candidato ao Oscar 2015. Até então, apenas a Hungria, com o filme “White God”, de Kornel Mundruczó (“Delta”), e a Turquia, com o drama “Winter Sleep”, do diretor Nuri Bilge Ceylan (“Era uma Vez na Anatolia”), tinha divulgados seus representantes ao próximo Oscar. Ida ainda não tem data para estrear no Brasil.

domingo, 17 de agosto de 2014

Gombrowicz, ainda pouco conhecido no Brasil


Em entrevista ao sobreCultura, Marcelo Paiva de Souza questiona o estranho silêncio no Brasil em torno de Witold Gombrowicz, escritor polaco que viveu por duas décadas exilado na Argentina e deixou uma obra vigorosa e inovadora. Circunstâncias fortuitas levaram ao exílio na Argentina o escritor polaco Witold Gombrowicz, nascido em Małoszyce, em 1904.
Gombrowicz deixou seu país com destino à América do Sul e, após o desembarque em Buenos Aires, foi surpreendido com a notícia da eclosão da Segunda Guerra. Apesar das dificuldades que se descortinavam em seu horizonte, decidiu ficar.
Escritor já com boa reputação na Polônia, teve que buscar meios de renascer das cinzas em um mundo estranho e hostil no qual viveu por mais de duas décadas.
Os 50 anos de seu retorno à Europa, em 1963 – já com prestígio consolidado e obras traduzidas para várias línguas –, têm sido lembrados por admiradores e estudiosos de sua obra, como Marcelo Paiva de Souza, doutor em ciência da literatura pela Universidade Jagielloński, em Cracóvia, Polônia, e professor de literatura polaca da Universidade Federal do Paraná.
Nesta entrevista ao sobreCultura, Marcelo descreve a trajetória vitoriosa de um escritor que soube dar a volta por cima, fala da importância de sua obra no panorama da literatura mundial e tenta encontrar razões que expliquem o relativo silêncio em torno do nome de Witold Gombrowicz no Brasil.

sobreCultura: Como apresentaria Gombrowicz ao leitor brasileiro?

Marcelo Paiva de Souza: Seria interessante dar a palavra ao próprio escritor, cuja verve é pródiga em autocomentários, para se ter uma amostra de seu trabalho de linguagem. Outro modo de apresentá-lo seria remontar ao início de sua carreira. Ele estreou na literatura nos anos 1930; seu primeiro livro, a coletânea de contos "Memórias da época do amadurecimento", é de 1933. A obra despertou nos críticos uma reação ambígua: reconheceram o talento do jovem escritor, mas não fisgaram o alcance de seu projeto criativo.
Na mesma década surgiram a peça "Ivone, princesa da Borgonha" [1935; primeira edição, 1938] e o romance "Ferdydurke" [1937]. Esses textos revelam a versatilidade do autor e um universo literário inovador e inconfundível. Ferdydurke, sobretudo, é corrosivo, insolente, afronta a cultura letrada da época, mostrando, com humor, como forças exteriores formam/conformam/deformam o indivíduo.
Em suma, Gombrowicz faz considerável barulho na literatura polaca da década de 1930. Não se filia a ‘panelas’ literárias mais prestigiadas nem a grupos de vanguarda; mantém-se fora, deseja estar fora. Cabe sublinhar isso, pois de algum modo a experiência do exílio que se abateria sobre ele potencia uma situação que, intrinsecamente, já experimentava em seu país.

- Quando ele deixa a Polônia?
Em 1939, por circunstâncias fortuitas, tomou um navio que o levou a Buenos Aires. Após o desembarque, veio a notícia da eclosão da Segunda Guerra e da invasão da Polônia pela Alemanha. Gombrowicz decidiu ficar em Buenos Aires, mesmo sem conhecer ninguém ali, sem falar espanhol e com apenas 200 dólares no bolso. Tem início então o longo período, de mais de 20 anos, em que viverá na Argentina.
Oriundo de uma família de média nobreza, acostumado a uma vida confortável e já dono de considerável reputação literária na Polônia, na Argentina ele não era ninguém. Até conseguir emprego em um banco, em fins dos anos 40, viveu em hospedarias precárias e enfrentou muitos outros obstáculos. Mais tarde irá expor em seu "Diário" o outro lado da moeda. Apesar das dificuldades, aquele período teve para ele qualquer coisa de libertação. Nesse sentido, o desenraizamento e a pobreza são para Gombrowicz um rejuvenescer, um lançar-se ao voo.


- Como era a relação de Gombrowicz com o mundo letrado em Buenos Aires?
Difícil, para dizer o mínimo. O escritor falará disso em seu "Diário" e no volume "Testamento", que surgiu de suas conversas com o crítico e romancista francês Dominique de Roux. Nessas obras, Gombrowicz reflete sobre seus malogrados contatos com os notáveis do mundo literário portenho. Simplificando a questão, o desentendimento nasceu de sua recusa a fazer o papel tradicional do escritor exilado que busca convívio com o establishment cultural da localidade em que foi dar. Com calculado esnobismo, declara-se conde, desdenha da forçosa peregrinação ao salão da escritora Victoria Ocampo, olha atravessado para o escritor Jorge Luis Borges e seus acólitos...
Se, por um lado, houve desencontro, não faltou, por outro, o contrapeso das afinidades eletivas, das simpatias e amizades, especialmente entre figuras mais jovens do universo intelectual de então em Buenos Aires, como Virgilio Piñera, Alejandro Russovich e outros, que se deixam fascinar por ele. Graças a esses contatos, a literatura gombrowicziana enfim passa a existir no exílio do escritor. Primeiro, com a tradução de Ferdydurke para o espanhol, levada a cabo pelo autor, com a ajuda de ‘assessores’ locais, e publicada em 1947. O espanhol em que Ferdydurke se materializa soa anômalo, estrangeiro. O escritor Ricardo Piglia verá nessa tradução uma obra-prima, por conta das possibilidades que ela abre em termos de exploração do idioma. A essa altura, Gombrowicz conclui sua segunda peça, "O casamento", traduzida para o espanhol também com a ajuda de parceiros. O texto foi publicado primeiro na Argentina, em 1948; só em 1953 sai em polaco.


- Quando Gombrowicz alcança reconhecimento na França?
De certo modo, as traduções de suas obras para o espanhol vão auxiliar nisso. O crítico e ensaísta polaco Konstanty Jeleński, colaborador do Instituto Literacki, sediado em Paris, faz com que essas versões cheguem a seu amigo François Bondy, que publica um artigo sobre Ferdydurke na influente revista Preuves. Foi assim que Maurice Nadeau conheceu a obra de Gombrowicz, tomou-se de admiração por ela e decidiu publicá-la em tradução para o francês sob o prestigioso selo Les Lettres Nouvelles, série que dirigia na editora René Julliard.
O Instituto Literacki e sua revista Kultura eram iniciativas de intelectuais e escritores polacos dissidentes que haviam optado pelo exílio com a stalinização do país, após a Segunda Guerra. Publicavam basicamente obras de polacos dissidentes, em polaco, para que circulassem livres da censura comunista.
Gombrowicz encontra nesse grupo interlocutores fundamentais. Graças a esse apoio, vai pouco a pouco se infiltrando no universo letrado francês e, por extensão, no europeu. Em 1958, sai a tradução francesa de Ferdydurke, um momento capital na carreira do autor. Nesse meio tempo ele vinha publicando na revista Kultura, em fragmentos, textos que mais tarde comporiam os três volumes de seu "Diário". Pode-se a partir daí falar da recepção de Gombrowicz em escala mundial. Ele continuou vivendo em Buenos Aires, mas se mantinha ativamente ligado ao Instituto.

- As décadas de 1950-1960 parecem ter sido um período fértil na carreira do autor, não?
Nesse período aparecem várias de suas obras mais importantes: os romances "Transatlântico", "Pornografia" e "Cosmos". É uma verdadeira explosão criativa. Parece que as energias represadas no período inicial de exílio se desencadeiam em sucessivas obras, todas geniais. São de um vigor ímpar, em diferentes âmbitos, pois, além dos romances, publicou a peça "Opereta" e a prosa fascinante do "Diário", em que há, além de diário no sentido estrito do termo, passagens memorialísticas, efusões líricas, crítica literária e debate de ideias, além de pura e simples ficção. É uma obra em que expande com ímpeto máximo, de modo abrangente e prismático, o aspecto intelectual de seu projeto literário. Mais que mero relato autobiográfico, é um mosaico de experimentação de escrita e de pensamento, um tour de force inventivo, crítico e polêmico.

- Qual a situação do autor na Argentina após a ‘conquista’ da França?
A conquista da França e da Europa vai gradativamente alterar o modo como era visto pela intelectualidade argentina, que o ignorava. A essa altura, porém, surge a oportunidade de regresso ao Velho Mundo, e em 1963 ele segue para Paris. Passa um período em Berlim e, com a saúde debilitada, fixa residência no sul da França, em Vence, onde morre em 1969, com prestígio consolidado e obras traduzidas para várias línguas. No contexto polaco, já é tido nesse momento como um dos maiores autores do país no século 20. A partir de sua morte, até hoje, a escalada é permanente. Multiplicam-se as traduções, e a recepção de sua obra é impulsionada sem cessar pela pesquisa especializada desenvolvida na Polônia e no mundo.

- Como a obra de Gombrowicz foi recebida aqui?
"Bakakai" é seu primeiro livro publicado aqui, em 1968, com tradução de Álvaro Cabral a partir da versão francesa da obra. O volume, que saiu originalmente em 1957, reúne os contos do livro de estreia, "Memórias da época do amadurecimento", dois fragmentos de "Ferdydurke" e três contos esparsos do autor. Infelizmente, não houve o cuidado de se fazer uma introdução, apresentando Gombrowicz e sua obra ao leitor brasileiro.
Em parte talvez isso explique o pequeno impacto da obra entre nós; sem o amparo de alguma informação e esclarecimento crítico, talvez tenha ficado indefesa demais. Ainda na primeira onda de assimilação de Gombrowicz no país, temos a publicação, em 1970 – pela mesma editora que publicou "Bakakai", Expressão e Cultura –, de "A pornografia", vertido do francês por Flávio Moreira da Costa. Reproduziu-se no livro o prefácio escrito por Gombrowicz para a tradução francesa do romance.

- O que teria motivado editores brasileiros a traduzir Gombrowicz?
Seu nome já era mundialmente reconhecido quando começa a ser editado no Brasil. Ao longo dos anos 1960, a reputação de Gombrowicz no universo do teatro torna-se fenomenal. Em 1963-1964, o diretor argentino Jorge Lavelli encenou "O casamento", em Paris, e a montagem teve enorme repercussão. Em seguida, o autor foi encenado por grandes nomes do teatro europeu. Para continuar com "O casamento", sucedem-se montagens em Estocolmo e Milão. Na então Berlim Ocidental, Ernst Schröder dirige a peça com cenografia do tcheco Josef Svoboda, um dos maiores cenógrafos do século 20. Em 1972, Lavelli encena "Ivone, princesa da Borgonha", em Buenos Aires, com grande sucesso. A carreira de Gombrowicz nos palcos alcança tal dimensão que deve ser vista como uma das molas propulsoras da divulgação de sua obra literária propriamente dita.

- Quais as outras ‘ondas’ de assimilação de Gombrowicz no Brasil?
Em 1986, a editora Nova Fronteira publicou nova tradução de "A pornografia", novamente a partir do francês. Mas essa versão, de Tati de Morais, foi revista com base no original polaco pelo dramaturgo e crítico teatral Yan Michalski. O lançamento teve certa ressonância, mas, de novo, a recepção crítica ficou muito aquém da força do romance.
Nos anos 2000, pela primeira vez, temos Gombrowicz traduzido no Brasil diretamente do polaco. A Companhia das Letras publicou três romances, todos traduzidos por Tomasz Barciński: "Ferdydurke" [2006], "Cosmos" [2007, vertido em parceria com Carlos Alexandre Sá] e, de novo, "Pornografia" [2009]. Traduzi a peça "Ivone, princesa da Borgonha" – montada no Rio de Janeiro em 2001 pela companhia L’Acte, com direção de Thierry Trémouroux [o texto não foi publicado] – e o conhecido ensaio ‘Contra os poetas’, publicado na revista Poesia Sempre – Polônia, da Biblioteca Nacional, em 2008. Além disso, saiu recentemente o livreto "Curso de filosofia em seis horas e quinze minutos", traduzido do francês por Teresa Fonseca e publicado em 2011 pela José Olympio.

- Acha que o autor finalmente alcançou no Brasil o lugar que merece?
Creio que ainda há flagrante distância entre Gombrowicz e o leitor brasileiro. Penso no leitor de forma ampla, mas levo em consideração nesse juízo também o leitor especializado, o pesquisador de literatura. Gombrowicz me parece ser um nome relativamente conhecido no país hoje, mas sua obra não ‘funciona’ no sentido rigoroso do termo. Não é algo que se estude, que se discuta, sobre o qual se escreva e se publique, algo que esteja de fato presente na rotina dos eventos acadêmicos na área de letras ou no âmbito da vida literária em geral. Resta não pouco a fazer em termos de tradução – e de crítica das traduções existentes. Antes de tudo, porém, o que falta mesmo é que se leia Gombrowicz! Espero ter ficado claro até aqui, porque estou convicto de que vale muito a pena.


Texto originalmente publicado no sobreCultura 16 (julho de 2014)

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A poesia "Óculos" de Julian Tuwin


Biega, krzyczy pan Hilary:
 « Gdzie są moje okulary? »
Szuka w spodniach i w surducie,
W prawym bucie, w lewym bucie.
Wszystko w szafach poprzewracał,
Maca szlafrok, palto maca.
« Skandal! – krzyczy – nie do wiary!
Ktoś mi ukradł okulary! »
Pod kanapą, na kanapie,
Wszędzie szuka, parska, sapie!
Szuka w piecu i w kominie,
W mysiej dziurze i w pianinie.
Już podłogę chce odrywać,
Już policję zaczął wzywać.
Nagle zerknął do lusterka…
Nie chce wierzyć… Znowu zerka.
Znalazł! Są! Okazało się,
Że je ma na własnym nosie.


Em português:

ÓCULOS,
Julian Tuwin

Corre, grita o Sr. Hilary:
"Onde estão meus óculos?"
Procura nas calças e casaco,
No sapato direito, no sapato esquerdo.
Tudo derruba nos armários,
apalpa seu roupão, apalpa seu casaco.
"Escândalo! - grita - não acredito nisso!
Alguém roubou meus óculos!"
Sob a cama, no sofá,
Procura em todos os lugares, rosna, sibila!
Olha no forno e na chaminé,
No buraco do rato e num piano.
Já no chão quer se rasgar,
Já começa a chamar a polícia.
De repente, olha-se no espelho ...
Não quer acreditar ... novamente olha.
Encontrou! Ali eles estão! Encontra-o
Sobre seu próprio nariz.

Tradução livre
de Ulisses Iarochinski

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Polônia alerta sobre invasão russa na Ucrânia



À medida que as forças leais ao Governo da Ucrânia apertam o cerco aos combatentes separatistas nas cidades de Donetsk e Lugansk, no Leste do país, o Exército russo vai-se estendendo ao longo da sua fronteira, a meia centena de quilômetros, em movimentações que a Polônia e a OTAN interpretam como os primeiros passos de uma invasão.
Os números da Aliança Atlântica são revistos e aumentados praticamente todos os dias – na semana passada, falava-se em 15.000 soldados russos ao longo da fronteira, mas agora serão já 20.000, de acordo com o secretário-geral adjunto da organização, o norte-americano Alexander Vershbow.
Apesar das acusações, a disposição das tropas russas não viola os acordos internacionais – oficialmente são exercícios militares, e não há grupos com mais de 9.000 soldados fora das suas bases, em cumprimento do Documento de Viena de 2011.
Como tem sido hábito desde o início do conflito na Ucrânia, quase todas as acusações, declarações e alegadas provas da culpabilidade de um e de outro lado jogam-se nas redes sociais, e não foi de se estranhar que uma das mais sérias acusações da OTAN tenha chegado através do Twitter. "A Rússia violou a lei internacional sem qualquer justificação, invadiu a Ucrânia, apoia os separatistas, e tem agora cerca de 20.000 soldados na fronteira com o Leste da Ucrânia", escreveu Alexander Vershbow.
É uma guerra com várias tentativas de cerco – no terreno, as forças ucranianas tentam derrotar os separatistas; a liderança da OTAN tenta convencer os seus membros de que é urgente apressar os preparativos para uma guerra; e a Rússia tenta avisar a Ucrânia que uma vitória militar no Leste do país pode sair-lhe cara.
Nesta quarta-feira, o Presidente russo, Vladimir Putin, respondeu às duras sanções aprovadas na semana passada com a limitação ou proibição da importação de alimentos dos EUA e da União Europeia (UE). "Determinados tipos de produtos agrícolas, matérias-primas e alimentos com origem em Estados que decidiram impor sanções econômicas a entidades legais e/ou indivíduos russos, ou que se tenham associado a essa decisão, estão banidos ou limitados", lê-se no comunicado do Kremlin.

OTAN exige mais poder
Nas últimas horas, a OTAN não tem parado de lançar avisos. A porta-voz da organização, a romena Oana Lungescu, disse que "o mais recente reforço militar russo agrava a situação e compromete os esforços com vista a uma situação diplomática para a crise". Mas o mais sério aviso veio do próprio secretário-geral da Aliança Atlântica, o dinamarquês Anders Fogh Rasmussen.
Num artigo assinado no Financial Times, intitulado "Todos os aliados da OTAN devem pressionar a Rússia", Rasmussen apresenta uma série de argumentos a favor do reforço da capacidade da aliança, contra aquilo a que chama "o maior desafio desde o fim da Guerra Fria".
Pondo toda a responsabilidade nas costas da Rússia, por ter "rasgado os compromissos" com a OTAN – que "se esforçou para melhorar as relações com Moscou após o colapso do comunismo" –, Rasmussen voltou a apelar ao reforço dos gastos com equipamento militar por parte dos 28 membros da organização.
A próxima reunião de cúpula da OTAN, que vai decorrer no País de Gales a 4 e 5 de Setembro (a última de Rasmussen como secretário-geral, posição que vai ceder ao norueguês Jens Stoltenberg a partir de Outubro), terá de servir para "aumentar a força de resposta multinacional", porque "as ações da Rússia não podem ser ignoradas".
"A ordem mundial pós-Guerra Fria está em jogo. Por isso, a OTAN é necessária mais do que nunca. Estamos decididos a mostrar que a OTAN está a falar muito a sério", escreveu Rasmussen. A ideia de uma invasão do Leste da Ucrânia pela Rússia não é nova – desde a anexação da península da Crimeia, em Março, que o Governo de Kiev, os Estados Unidos e vários países da União Europeia têm trabalhado com esse cenário em cima da mesa.
Nesta quarta-feira, o primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, disse ter "razões para suspeitar" que a Rússia vai entrar diretamente no conflito na Ucrânia. "Temos recebido informações nas últimas horas de que o risco de uma intervenção direta é sem dúvida mais elevado do que era há vários dias", disse o chefe do Governo polaco em conferência de imprensa.
E, à semelhança do secretário-geral da OTAN, pressionou os seus aliados a prepararem-se o mais depressa possível para esse cenário: "Se se concretizar uma intervenção direta das forças russas na Ucrânia, isso seria obviamente uma situação nova e, na minha opinião, ninguém tem uma resposta boa e inequívoca sobre de que forma o Ocidente deve reagir a isso."

Fonte: jornal "Público", de Lisboa