segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Vitrine da Braspol em Porto Alegre

Ulisses Iarochinski - Foto de Estácio Nievinski

Momento de emoção ao falar na III Vitrine Literária, em Porto Alegre, neste sábado, dia do meu aniversário (fato desconhecido dos presentes ao evento).
Com uma razoável, mas qualificada plateia o evento da Braspol marcou pela reunião de estudiosos da polonidade brasileira, muitos dos quais nem descendentes de polacos o são.
Simples e muito bem organizado por Sidnei Ordakowski, Estácio Nievinski e Wilson Rodzycz, o evento apresentou palestras e comunicações muito elucidativas e criativas.

As eleições russas interessam?

Há séculos, pelo menos desde que o rei Władzisław, polaco que invadiu e tomou o Principado de Moscou, em 1612, que a Polônia vive às "turras" com a Rússia. Além do comunismo imposto o fato mais recente aconteceu com a queda do avião presidencial polaco em Śmoleński (cidade que no passado foi polaca e hoje está em território russo.
Escrevo isto para justificar aqui neste blog sobre coisas da Polônia e dos polacos o texto abaixo de Fabrício Yuri Vitorino, mestrando pela USP em língua e literatura russa, formado em Jornalismo pela UFF e Letras Português-Russo pela UFRJ, com especialização na MGU de Moscou.
Ter informações sobre o que se passa na Rússia é importante para os polacos. A troca de cadeiras que faz o militar Vladimir Putin na "democracia" russa é impressionante. Ele era o Presidente, que foi eleito primeiro-ministro, que pode voltar a ser eleito Presidente. Leiamos o que diz o Fabrício:

A SOPA DE LETRINHAS DOS PARTIDOS E A BRIGA PELO PODER

Ontem, dia 4 de dezembro, foi dia de eleição parlamentar na Rússia. São 97 mil colégios eleitorais para a eleição de 450 deputados entre quase três mil candidatos de sete partidos.
Na luta por uma cadeirinha na Duma, para um mandato de 5 anos, temos esportistas, como o ex-tenista Marat Safin, o ex-boxeador Nikolai Valúev, o ex-jogador do Chelsea Alexey Smertin e as ex-campeãs mundiais de ginástica Alina Kabaeva e Svetlana Jorkina. Temos ainda a primeira mulher astronauta da história, Valentina Tereshkova, o prêmio Nobel de Física 2000, Zhores Alferov, e o suspeito de matar o agente Alexandr Litvinenko em Londres, Andrei Lugovoi.
Bom, antes de falar um pouco sobre o dia eleitoral e sobre o ‘карусель’, o carrossel, esquema de fraudes mais popular da Rússia, vou tentar explicar um pouquinho quem são os partidos, como eles se alinham e o que se esperar deles.
Единая Россия
O mais importante de todos, atualmente, é o conservador Единая Россия, (Edinaya Rossia, ou Rússia Unida). É liderado pelo premiê Vladimir Putin e domina os quadros nacionais e regionais já há mais de uma década. Até a eleição de hoje, controlava 315 dos 450 assentos da Duma, o que garante ao governo a maioria de 2/3 para aprovar quaisquer alterações à Constituição.
É a base de apoio ao Kremlin (leia-se a Putin). Pelo ER, Putin será candidato a presidente ano que vem, enquanto o atual presidente será o principal candidato ao parlamento. Em seguida, será nomeado premiê. Ou seja, uma troca de empregos.
O ER defende uma estabilidade econômica e social e está sempre buscando reviver o status de superpotência da Rússia. É centrista e conservador, baseando-se nos valores russos e na ideia de uma identidade nacional russa única, o que gerá muita polêmica onde quer que isso seja debatido.
Коммунистическая партия Российской Федерации
Em seguida, levando em consideração a representatividade política, vem o Коммунистическая партия Российской Федерации (Komunisticheskaya Partya Rossiskoi Federasyi, ou Partido Comunista da Federação Russa, PCRF). Liderado pelo sempre polêmico Gennady Zyuganov (que no vídeo abaixo diz que Jesus foi o primeiro comunista e cita a Bíblia para provar), tem a segunda maior bancada na Duma, com 57 deputados.



É o sucessor legítimo, ideológico e político, do Partido Comunista da União Soviética, a maior e mais popular legenda de esquerda do país. Uma enorme e massiva fonte de apoio ao PCRF são os aposentados, trabalhadores comuns e moradores de áreas rurais e distantes do país, os ‘esquecidos’ pela Rússia de Moscou.
Embora seja conhecido como um partido de ‘nostálgicos’ e ‘velhos’, o Partidão Russo tem feito um notável esforço, nos últimos anos, para recrutar jovens a seus quadros. Com o discurso estilo ‘раньше было лучше’ (Ranshe bylo luche – antes era melhor), condenam o capitalismo e focam fortemente no patriotiosmo russo.

Либерально-Демократическая Партия России
Em terceiro lugar, temos o Либерально-Демократическая Партия России (Liberalno Demokraticheskaya Partya Rossii, ou Partido Liberal Democrático da Rússia, LDPR), que tem como líder outra figura lendária da política russa, Vladimir Zhirinovsky. Tem 40 representantes na Duma, cujo interesse primordial é defender… Zhirinovsky. Formado em 1990, É um dos partidos mais antigos da Rússia.
Recentemente, adotou um discurso mais abertamente nacionalista e pan-eslavista, defendendo os interesses do que chamam de ‘russos étnicos’. Assume ser o único partido genuinamente de direita do país e busca criar um ‘estado forte’, com slogans contra o Oeste, a Europa e os EUA. É outra legenda a se fortalecer com a classe trabalhadora e moradores de áreas rurais.
Confere o estilo de Zhirinovsky, quando ele debate com uma estudante os motivos pelos quais a Rússia não seria um país democrático.


Справедливая Россия
Dos quatro grandes, o Справедливая Россия (Spravedlivaya Rossia, ou Rússia Justa) é o mais fraco, com 38 representantes na Duma atualmente. É liderado por um político influente e camaleônico chamado Sergei Mironov, desde 2006, quando foi criado, a partir da união dos partidos Rodina (Pátria-Mãe), do Partido da vida e do Partido dos Aposentados.
Usa slogans socialistas moderados, de centro-esquerda, promovendo justiça social, ordem e estabilidade. Apesar de ter crescido às custas do apoio dado a Putin e Medvedev, recentemente seus quadros mudaram sua política, reposicionando o SR como ferreno oponente do Rússia Unida. Vale lembrar o episódio em que Mironov, dentre outros deputados, não cumprimenta Putin no parlamento.

Российская Объединённая Демократическая Партия “Яблоко”
Do segundo time dos partidos políticos, o Яблоко (Yabloko, ou Partido da União Democrática ‘Maçã’) é o mais ‘cool’ de todos. Social-democrata, é liberal, promove valores democráticos e defende os direitos humanos e a liberdade civil em prol de uma economia de mercado. Ou seja, tudo o que não existe atualmente na Rússia.
É mais conhecido atualmente por sua atividade em protestos do que por ações política, já que perdeu muito do pouco espaço recentemente. Apesar de não ter representantes na Duma, conta com o apoio de muitos intelectuais e foca na eleição de seus líderes, Grigory Yavlinksy e Sergei Mitrokhin, atualmente na Duma da cidade de Moscou.
Agora, maçã? Sim, sim, é uma ideia liberal. A maçã simboliza uma ideia de que todos devem ter direito a uma mordida. Além do mais, Yabloko é um acrônimo dos nomes de seus fundadores: YAvlinsky, Boldirev e Lukin, YABL.

Правое дело
Uma nova força, ainda sem representatividade, na política russa é o Правое дело (Pravoe Delo, ou Causa Direita). Formado em 2007 pelo oligarca bilionário Mikhail Prokhorov, tem orientação centro-direitista, é mais uma representação dos homens de negócios, empregados do setor privado e alta classe em geral.
Defende a diminuição da máquina pública e de seu funcionalismo, é pró-Ocidente e quer, inclusive, que a Rússia se candidate à União Europeia. Tende a ser liberal e modernista, por isso encontra pouco espaço na cabeça dos russos.

Патриоты России
A última e mais estranha representação política significante da Rússia é o Патриоты России (Patrioty Rossii, Patriotas da Rússia). Como diz o nome, tem uma orientação ao mesmo tempo comunista, extremista de esquerda e nacionalista.
Basicamente, defende a construção de um estado forte e sua expansão, através da a nacionalização dos propriedades privadas ilegais, é contra o ocidente e tem estranhos desejos de controle e rearranjo étnico. É liderado por Gennady Smigin, mais um oligarca e ex-poderoso membro do Partido Comunista da FR.