quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Uma missão para a cultura da Polônia moderna

Prestes a deixar o consulado polaco, a diplomata Dorota Barys utilizou a arte como principal meio de aproximação com o Brasil.
Dorota Barys - Foto: Henry Milléo 

por RAFAEL COSTA

Vinda de uma experiência diplomática de quatro anos no México e um na Noruega, a diplomata Dorota Barys assumiu o Consulado Geral da Polônia em Curitiba em 2007. Sabia o que esperar da cidade que concentra a maior comunidade de descendentes de imigrantes polacos no país (e que é a única a ter grafia própria no idioma: Kurytyba). Mas se inquietou diante do foco das manifestações culturais dessa comunidade no folclore – mais presente por aqui que no próprio país de origem. “Senti que estava em falta mostrar a Polônia moderna”, diz Dorota. “Essas pessoas conhecem a Polônia dos contos dos avós, ou a que vê no bosque João Paulo II, que tem o que a imigração fez em seus primeiros anos. As casas são belíssimas, mas isso pertence ao passado”, diz.
A cônsul deu a partida em uma série de atividades para despertar a consciência de uma Polônia cosmopolita e modernizada por meio da cultura, utilizando cinema, patrocinando a participação de músicos polacos na Oficina de Música de Curitiba e colaborando com o curso de Letras-"Polonês" da UFPR, além de organizar apresentações como a que acontece hoje, um dia antes da comemoração da independência da Polônia (veja quadro ao lado), ou a da cantora Anna Maria Jopek, que cantou com Ivan Lins no mês passado. “A reação das pessoas só confirmou que deveríamos nos focar na Polônia moderna”, diz Dorota.

“Quando falava para amigos brasileiros que temos uma cantora que canta bossa nova, eles quase não acreditavam, porque são mundos geograficamente muito distantes um do outro. O show da Anna Maria foi também uma tentativa de mostrar que, na verdade, se falamos de arte, sempre é perto. As correntes de arte daqui e da Polônia são muitas vezes as mesmas. Só ganham essa identidade particular vinculada com a herança cultural. Juntar esses dois mundos no palco do Canal da Música resultou em um concerto fabuloso”, diz.

Missão diplomática

A atuação do Consulado sob o comando de Dorota ampliou sua abrangência, focando menos na comunidade polaca de Curitiba e direcionando as atividades para os curitibanos em geral. “Acho que a difusão cultural é uma das mais importantes funções das missões diplomáticas de cada país”, diz. Segundo a cônsul, o papel de uma instituição como o Consulado, além de cuidar de documentos, emitir passaportes, vistos, e outras questões do tipo, também é promover o país de origem, “aproximar os dois mundos e criar relações”. “Você não consegue proceder com questões políticas sem aproximação dos dois países. A arte, para mim, é um dos melhores veículos para essa aproximação”, diz.

No ano passado, fizemos um concerto dos dois pianistas no Guaíra [Adam Makowicz e Krzysztof Jabłonski, em março de 2010]. Após esse concerto, alguém falou que se poderia investir milhões de reais em fábricas, mas não se conseguiria um efeito de promoção tão forte quanto o que aconteceu. Porque arte não tem linguagem, fala a todos.”

A missão de Dorota está chegando ao fim. Provavelmente, já no início de 2012 a cônsul volta à Polônia, fazendo um apelo para que os curitibanos se interessem por conhecer o país. “Varsóvia é a uma hora de voo de Paris”, lembra a diplomata.

* publicado originalmente no jornal Gazeta do Povo, 10 nov 2011.


P.S. fiz algumas correções ao texto do colega jornalista.... embora do sexo feminino Dorota é Cônsul e não consuleza, pois este termo é usado apenas para a esposa do ocupante do cargo de cônsul...assim como é o caso de embaixatriz.

Roteirista de Kieślowski sob investigação

 Krzysztof Piesiewicz - Foto: Marzena Hmielewicz
No dia seguinte do fim da imunidade parlamentar, com a posse dos novos deputados e senadores  no Congresso polaco, o Ministério Público de Varsóvia anunciou a retomada das investigações por posse de drogas do ex-senador e mundialmente conhecido roteirista de cinema Krzysztof Piesiewicz.
Com a tomada de posse dos senadores recém-eleitos - que aconteceu na terça-feira - o mandato de Piesiewicz expirou e consequentemente sua imunidade.
Na filmografia de Piesiewicz constam filmes premiados no exterior e reconhecidos mundialmente como obras primas. Em sua carreira cinematográfica ele foi o parceiro fiel de um dos maiores diretores da história do cinema na Polônia, Krzysztof Kieślowski (pronuncia-se kchischtóf kiéchlóvski).
A trilogia das cores ("A liberdade é azul" com Juliete Binochet, "A igualdade é branca” com Zbiniew Zamachowski e “A fraternidade é vermelha” com Irene Jacob), o "Decálogo" (série de 10 filmes para TV, que rendeu dois longas-metragens "Não Matarás" e "Não Amarás". Além de outros filmes como "A Dupla Vida de Véronique".
A parceria com seu amigo cineasta começou em 1982, quando Krzysztof Kieślowski estava planejando dirigir um documentário sobre os julgamentos políticos na Polônia sob lei marcial. Piesiewicz concordou em ajudar, mas ele duvidou que um filme poderia ser feito dentro dos limites do sistema judicial, da época. Na verdade, os cineastas descobriram que a presença deles no tribunal parecia estar afetando os resultados dos casos, muitas vezes melhorando as perspectivas do acusado, mas tornando difícil a captura dos abusos judiciais.
Kieślowski decidiu explorar a questão através da ficção e assim, os dois colaboraram pela primeira vez como roteiristas na produção do filme "No End", lançado em 1984.
Logo após, Piesewicz voltou para sua carreira de advogado, mas permaneceu em contato com Kieślowski e três anos mais tarde, foi persuadido a criar uma série de filmes baseados nos Dez Mandamentos. Nesta série, de dez filmes de uma hora de duração, encomendada pela TVP - Telewizja Polska, Piesiewicz explorou o interesse dele e do amigo cineasta pelos dilemas éticos e morais na vida social e política contemporânea, e conseguiu (tardiamente) aclamação da crítica em todo o mundo.
Suas colaborações mais tarde, em "A Dupla Vida de Véronique" e nas três cores (azul, branco, vermelho), com foco em questões metafísicas e aparentemente apolítica, a ideia de Piesiewicz foi dramatizar os ideais políticos franceses da liberdade, igualdade e da fraternidade, da mesma forma que anteriormente tinha dramatizado os Dez Mandamentos.
Piesiewicz foi creditado como co-roteirista em todos os projetos de Kieślowski, depois de "No End", inclusive no último "Nadzieja" (esperança) dirigido por Stanisław Mucha, após a morte de Kieślowski. Ele então começou a escrever uma nova série de filmes, como "Estigmatizado", sendo o primeiro deles, "Silêncio", dirigido por Michał Rosa, lançado em 2002.
A carreira política de Piesiewicz começou em 1989, quando foi trabalhar no Movimento de Solidariedade Social para Ação Eleitoral (RS AWS), originalmente a ala política do sindicato Solidariedade e do principal partido da coalizão de centro-direita AWS. Em 1991, ele foi eleito para o Senado polaco, cumprindo um mandato de dois anos. retornou ao Senado em 1997. Em 2002, a RS AWS mudou seu nome para RS e elegeu Piesiewicz como seu líder.
Nesta quarta-feira o Vice-Procurador Distrital do escritório do bairro de Praga, em Varsóvia, Mariusz Piłat, afirmou que "Vamos notificá-lo para comparecer a audiência. Queremos ouvir sua explicação". O promotor principal da investigação sobre a posse de cocaína por parte de Piesiewicz, Józef Gacek tinha já declarado, em agosto deste ano, que o perito encarregado do inquérito mostrou claramente que o senador Piesiewicz estava de posse de cocaína. O Tribunal Distrital da zona central de Varsóvia, prevê uma condenação ao ex-senador de 1,5 anos de prisão. Zbigniew Sz. é culpado de chantagear o senador, e de Joanna D.Halina S. realizarem o ato colocando a cocaína junto aos pertences de Piesiewicz.

"Hoje, nos meios de comunicação eletrônicos ainda são reproduzidos materiais gravados de forma criminosa por criminosos. Nesta situação, aconteceu com um candidato ao Senado", reagiu no mesmo dia Krzysztof Piesiewicz.