sexta-feira, 20 de junho de 2008

Szot - orgulho para o Brasil e para a Polônia

O imenso sorriso de Liza Minnelli recebeu um aturdido Paulo Szot no palco do Radio City Music Hall, em Nova York, na noite de domingo.

Andei viajando e por isso não deu para acompanhar o noticiário brasileiro esta semana. Nem mesmo o noticiário da Polônia foi possível. Assim, que perdi de saber com antecedência sobre a grande vitória de um filho de polacos nos palcos de Nova Iorque.
Paulo Szot, barítono brasileiro-polaco conquistou "Prêmio Tony", a máxima honraria para uma peça da Broadway novaiorquina. Szot (pronuncia-se chót) é o melhor ator de musicais de Nova Iorque pelo espetáculo "South Pacific". A conquista permitiu além da glória, fama, reconhecimento a assinatura de um novo contrato com um aumento salarial de 500%.
A seguir, trecho da entrevista, que o filho do sr. Kazimierz Szot (imigrante polaco que chegou ao Brasil depois da Segunda Guerra Mundial), deu ao jornal "O Estado de SPaulo":



O musical alterou muito sua rotina?

Sim, vivo 24 horas em função do espetáculo. Apesar de não exigir como uma ópera, ou seja, eu não canto tanto como, por exemplo, em Bodas de Fígaro, a responsabilidade é enorme. É a primeira vez que atuo com texto falado, então meu grau de concentração agora é maior do que tudo já fiz na vida.

Como foram as audições?

Inicialmente, eu estava apenas curioso pela experiência, pois não acreditava que um estrangeiro fosse escolhido, especialmente na Broadway, em que o domínio é dos americanos. Mas, na primeira audição, eu já me convenci de que teria chance. Eles analisaram mais a interpretação, pois queriam um cantor de ópera que conseguisse atuar. Depois de escolhido, participei ainda de mais duas audições para escolher o meu par.

Como é participar de um musical? Há uma exigência vocal diferente para um cantor lírico?

A experiência é fascinante, pois atuamos com uma orquestra com 30 músicos, algo pouco habitual até para a Broadway. Vocalmente, não há muita diferença, pois South Pacific é um exemplo daqueles musicais escritos há 60 anos, ou seja, com uma concepção que se aproximava da ópera. Assim, não preciso cantar como nos musicais modernos. Também não tenho muita coreografia. E a expectativa é grande, porque temos casa lotada até junho.

Como ficou sua carreira lírica?

Ainda estou negociando minha participação em duas óperas: Sansão e Dalila, em setembro, em São Paulo, e La Bohème, em outubro, no Rio. Gosto muito de cantar no Brasil. Tenho compromissos agendados em 2009 e 2010, mas minha carreira tomou uma nova direção. Essa oportunidade em musicais vai abrir um novo caminho.

Como você encara o preconceito na ópera contra o cantor lírico que atua em musicais?

Aqui, nos Estados Unidos, também tem isso. É normal entre os puristas, que se fecham em seu mundo. Sempre fui aberto a todo tipo de música - no início da carreira, aliás, preferia musicais a ópera (fiquei emocionado ao assistir Chorus Line). Mas prefiro não falar nada. Cada um deve fazer o que julga ideal.

Perfil de Paulo Szot

Descendente de polacos de primeira geração, Paulo Szot iniciou a carreira ao estudar música a partir dos 4 anos: piano, violino e depois o canto. Começou como tenor e depois passou para o registro mais grave de barítono. Com 18 anos, embarcou para a Polônia, onde aperfeiçoou os estudos vocais. Ingressou na Companhia Estatal de Canto Slask, do Grande Teatro de Varsóvia, no qual atuou durante quatro anos. Lá, experimentou pela primeira vez papéis que, mais tarde, formariam a base de seu repertório. Entre seus papéis na ópera, destacam-se Figaro no Il Barbieri di Siviglia (Rossini) e no Le Nozze di Figaro (Mozart); Escamillo, na Carmen (Bizet); Marcello em La Bohème (Puccini); Silvio em I Pagliacci (Leoncavallo); Lescaut, em Manon (Massenet); o protagonista de Eugene Onegin (Tchaikovsky); e Belcore, em L’Elisir d’Amore (Donizetti).