quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Brasileiro na Polônia - 1

Há 3 anos atrás, o Consulado Honorário do Brasil, em Cracóvia, estimava que havia cerca de 30 brasileiros vivendo na cidade, entre estudantes bolsistas, ex-estudantes e esposas e/ou maridos de polacas(os). Na mesma época, a Embaixada Brasileira informava que extra-oficialmente deveria existir do país em torno de 150 brasileiros, sendo a maioria estudantes e religiosos.
Na atualidade, com a desativação do Consulado Honorário de Cracóvia (em vista da morte do então cônsul Paweł Świderski) e a chegada de mais estudantes e alguns brasileiros com contrato de trabalho, além de outros que vieram para aqui só para se casar, este número é uma incógnita. Muitos dos estudantes voltaram formados, outros não conseguiram vencer o "banzo", a depressão e o frio e desistiram no meio da caminhada, outros o casamento não lhes deu o que esperava, ou seja a cidadania e o passaporte polaco. Estes arrumaram as malas e voltaram para algum país da União Europeia. 
O blog JAROSINSKI do Brasil quer apresentar estes brasileiros que vivem aqui. Deseja saber o que os impactou na Polônia, saber de seus gostos e desgostos na terra de João Paulo II. A opinião de cada um está sendo filtrada através de um questionário padrão. A primeira a responder foi a estudante Denise Formicki Beganskas, uma paulista, que há dois anos e meio chegou aqui para fazer o curso de "Estudos de Gestão Internacional" na Universidade Iaguielônia de Cracóvia. As perguntas são as mesmas para todos e os escolhidos, o são, porque de alguma forma mantêm algum contato comigo, ou com o blog, mas está explicitamente aberto a outros que oficialmente tem "zameldowania", ou seja realmente residem na Polônia. Basta copiar as perguntas, responder e enviar pelo email, iarochinski@gmail.com , com uma foto retrato (rosto), ou que o identifique como estando na Polônia.

JAROSINSKI do Brasil - Por que você veio parar Polônia?

Denise - Tudo aconteceu por acaso, queria vir pra Polônia no curso de idioma de verão, quando o cônsul foi mais longe me perguntando se eu não gostaria de fazer uma faculdade aqui. Não tinha nada a perder, já que não estava em condições de estudar no Brasil.

JAROSINSKI do Brasil - O que você mais gosta da Polônia?

Denise - Da liberdade de poder andar na rua tranquilamente, sem ter medo da violência, como em São Paulo.

JAROSINSKI do Brasil - O que você não gosta da Polônia?

Denise - Não gosto da frieza das pessoas e principalmente das "tias" que trabalham em mercados. Quando você vai pedir presunto, elas vem com aquela cara emburrada e perguntam bem de mal-humor “Co dla Pani”? Isso é terrivel!!!

JAROSINSKI do Brasil - Quais as maiores dificuldades que encontrou na Polônia?

Denise - Adaptação com a cultura do País.

JAROSINSKI do Brasil - O idioma é assim tão difícil como se orgulham os polacos?

Denise - É! Mas não é impossível de se estudar e de aprender. O Idioma polaco não e difícil de falar, nem de entender, mas a gramática deles e todas as declinações, prefixos e sufixos dos verbos são terríveis. Quando comecei a aprender polaco, minhas professoras vinham com as regras, na verdade tinha uma regra e uma lista de centenas de exceções. Costumava dizer que a única regra da gramática é que não tem regra nenhuma, tudo e exceção. Hoje em dia, acho um dos idiomas mais bonitos.

JAROSINSKI do Brasil - É possível viver aqui sem aprender o idioma polaco?

Denise - Acredito que não, vir pra cá mesmo como turista é difícil, não existem placas em inglês, principalmente nos pontos turísticos. Ponto de informação nas estações de trem não tem uma pessoa que fale inglês. Nos trens é engracado porque, as placas de instruções de emergência estão nos idiomas: Polaco, Alemão, Francês e Russo. Inglês não tem. Acho isso uma comédia. Quando cheguei aqui, no comeco era muito difícil sem falar polaco, qualquer coisa que precise resolver, como na prefeitura, ou seguro saúde, sem o idioma é uma tarefa quase impossível.

JAROSINSKI do Brasil - A Polônia que você encontrou é diferente daquela cultuada pelos descendentes de imigrantes no Brasil?

Denise - Os costumes continuam praticamente os mesmos. A comida não muda, é a mesma desde sempre, nem um tempero diferente eles experimentam. Aquela coisa da tradição é muito forte por aqui. Eles nunca desistem de suas tradições e religiosidades.

JAROSINSKI do Brasil - Você acredita que a Polônia já se libertou de seu passado comunista?

Denise - Não sei responder.

JAROSINSKI do Brasil - Como você define a juventude polaca?

Denise - Diferentemente de nós brasileiros, eles não tem malícia. Se você disser para um deles que é sim, será sim, não será não, para eles não existe meio termo.

JAROSINSKI do Brasil - Qual sua opinião sobre os idosos polacos?

Denise - Não tenho muito contato com idosos aqui, mas como em qualquer lugar do mundo, alguns são amáveis, outros nem tanto. É legal quando estou no ônibus e algum deles puxa conversa, mas infelizmente isso raramente acontece.

JAROSINSKI do Brasil - Que nomes famosos polacos você cita sem muito esforço?

Denise - Sou péssima pra nomes, ainda mais em polaco.

JAROSINSKI do Brasil - Qual o prato da cozinha polaca que você mais gosta?

Denise - Pierogi, mas tem um detalhe, gosto mais do pierogi que é feito no Brasil.

JAROSINSKI do Brasil - Qual prato da cozinha polaca você sabe preparar?

Denise - Batatas! Não tem segredo.

JAROSINSKI do Brasil - Beber aqui é um prazer, ou uma imposição ditada pela tradição?

Denise - Acredito que seja um pouco de imposição. É aquela velha estória, você está no meio dos amigos e se você não bebe é o careta da turma. Mas acredito que eles bebem tanto quanto nos demais países, por exemplo, o Brasil. 

JAROSINSKI do Brasil - Com que frase você define a Polônia?

Denise - Terra que meu avô amava.

JAROSINSKI do Brasil - Qual teu conselho para quem vem para visitar a Polônia?

Denise - Se vier no inverno se prepare pro frio. Se for possível aprenda o idioma, pelo menos as frases básicas, pra não passar aperto e estude bem um roteiro, pesquise bem antes de vir os lugares e como chegar lá, porque como eu disse antes, aqui e difícil encontrar placas de informações em inglês.

JAROSINSKI do Brasil - Volta para o Brasil com saudades do que viveu na Polônia?

Denise - Sem dúvida. Tenho amigos aqui, bons amigos. Conheci muita gente boa que me ajudou. Todos os momentos, bons e ruins, ficarão marcados pra sempre. A experiência de voltar pra terra dos meus avôs não tem como explicar em palavras, só mesmo vivendo pra saber.

Szymborska recitando novos versos


Wbrew wiedzy i naukom geologów,
kpiąc sobie z ich magnesów wykresów i map
sen w ułamku sekundy piętrzy przed nami góry tak bardzo kamienne,
jakby stały na jawie

Estes são os primeiros versos de uma das poesias do livro que foi lançado no último mês, em Cracóvia, com o título de "Tutaj". A própria autora recitou o verso nesta última terça-feira, na Ópera de Cracóvia.
Wisława Szymborska, a poeta polaca Prêmio Nobel de Literatura de 1996 continua poetando e recitando. Este é o terceiro livro dela desde a premiação pela Academia de Estocolmo. Em 2002, foi "Chwila" e em 2006, "Dwukropek". E o novo livro com poucos dias nas livrarias está se tornando o mais novo "best-seller" da Polônia.
A apresentação na Ópera Krakowska começou as 19 horas junto com Mariana Stali e Tomasz Stańko e foi em comemoração aos 50 anos da Editora Znak, que desde 1959 publica livros de autores como Karol Wojtyła, Joseph Ratzinger, Czesław Miłosz, Leszk Kołakowski, ks. Józef Tischner, Norman Davies, Umberto Eco, Josif Brodski e Ryszard Kapuściński, além é claro da expoente cracoviana Wisława Szymborska.


A capa do novo livro de poesias que está custando 26,00 złotych ( algo em torno de 18,50 reais) e abaixo a poesia "Sen" no próprio manuscrito da grande poeta: