O orgulho de ser polaco sob a perspectiva de Iarochinski
Cultura / 3 de março de 2011
A palavra polaco foi alvo de preconceito
Centro Sul - Polaco sim, polonês não. Para o jornalista e doutor em Cultura Internacional, Ulisses Iarochinski, é assim que devem ser chamados todos os descendentes de imigrantes da Polônia. No lançamento do seu segundo livro, Iarochinski discute questões polêmicas como preconceito a etnia, culinária polaca adquirida por outros países, criação da palavra “polonês” e a temática ucranianos x rutenos.
O autor esteve em Irati na última quarta-feira (23), para o lançamento do livro “Polaco – Identidade Cultural do Brasileiro Descendente de Imigrantes da Polônia”. A obra é a tradução para o português da sua tese de mestrado, escrita originalmente em polaco e defendida na Universidade Iaguielônia, de Cracóvia, na Polônia. Iarochinski é natural de Monte Alegre (PR), quando esta ainda era Tibagi.
Polaco ou polonês?
Desde o lançamento do seu primeiro livro em 2000 (Saga dos Polacos), o autor revela que já arrumou boas brigas pelo uso do termo. Por julgar que nenhuma editora iria se interessar pela temática e publicaria o livro, Iarochinski confeccionou tudo sozinho. Durante a montagem da capa percebeu que a palavra “poloneses” era muito extensa e resolveu utilizar “polacos”. Mal sabia ele o tamanho da confusão que viria pela frente.
Descendente e neto de polacos, o autor sempre viu as palavras polonês e polaco como sinônimos. “Quando fiz a capa para mim não tinha muita diferença entre polaco e polonês. Bendita a hora em que coloquei esta palavra, nunca imaginei que tivesse tanta encrenca com isso”, conta.
“Saga dos Polacos” foi lançada em 27 cidades do Sul do Brasil com grande porção da população sendo descendentes da Polônia. Irati também foi contemplada com o lançamento durante um evento no “Clube Polaco”, como se refere Iarochinski ao Clube Polonês.
Uma história curiosa e que ilustra a polêmica em que o autor se inseriu aconteceu na cidade de Erechim (RS). “Estava certa vez no município, lançando o primeiro livro, quando levantou um senhor e veio até perto de mim. Ele se abaixou e pensei que iria me falar algo, mas para minha surpresa o sujeito deu um murro em meu braço. E ele ainda gritou: ‘Aqui em Erechim não tem polaco, aqui só tem polonês’. Só fui entender a diferença depois de ir para a Polônia”, lembra.
Iarochinski brinca que usou da sua experiência dentro do jornalismo para fazer com que o lançamento do livro em Curitiba tivesse uma boa divulgação. Como era editor do caderno de Cultura do Jornal do Estado, sabia que os conteúdos para a editoria eram poucos nos primeiros dias da semana. Apesar de ter escolhido uma terça-feira chuvosa para o lançamento, reuniu 350 pessoas, vendeu 150 livros e teve uma ótima repercussão.
E foi a “Saga dos Polacos” que abriu as portas para que o autor pudesse ampliar seus estudos na área. Por meio de um convite do Consulado da Polônia em Curitiba viajou para o país, e lá estudou a cultura e o idioma polaco, depois fez mestrado e doutorado. “Para mim saber das origens sempre foi uma preocupação. Queria saber quem somos e o que fazemos no mundo enfim, porque existimos”, completa.
Após aprender o idioma, Iarochinski virou frequentador assíduo das bibliotecas e esteve sempre em busca de novas descobertas. Ele explica que na Polônia não existe nenhum preconceito e nenhuma diferença entre polonês e polaco. Isso se comprova na tradução, no idioma da Polônia, no qual a única palavra que surge é polak.
O preconceito em relação ao termo polaco surgiu no Brasil. Durante o período em que o país passou por um intenso processo de imigração, o Paraná recebeu principalmente eslavos. Iarochinski conta que os polacos foram considerados analfabetos e burros por não saberem o idioma português. Além disso, o processo de adaptação dos imigrantes da Polônia foi muito difícil, principalmente em comparação aos alemães. Estes vieram para as cidades, eram imigrantes urbanos que conviviam com a classe que falava português, já os polacos foram colocados em cidades do interior, ainda bem pouco desenvolvidas.
“Por exemplo, Irati que está a 150km de Curitiba, naquela época essa distância poderia ser comparada como se fosse daqui até Amazônia, e isso levou os polacos a um distanciamento. Mesmo em Curitiba, quando chegaram as primeiras 32 famílias em 1871 vindas de Brusque (SC), os polacos foram colocados no bairro Pilarzinho e foram descriminados. Imigrantes alemães também foram para o bairro e já odiavam os polacos por toda a situação de conflito entre os países. A partir daí começaram a chamar os polacos de bêbados, burros, analfabetos e ignorantes. Neste cenário surge o preconceito contra a etnia, não contra o termo”, esclarece.
A palavra polaco começou a ter sentido pejorativo no Rio de Janeiro. Em função da escravidão a população carioca era composta por muitos africanos, e o imperador queria “branquear” a população da capital brasileira, então incentivou a vinda de prostitutas europeias. As primeiras a chegarem ao Brasil eram da França, depois vieram trazidas dos Açoures, de Portugal, da Espanha e da Itália.
De acordo com o autor, nesta época uma máfia judia com sede em Buenos Aires e em Varsóvia foi até pequenas cidades que estavam sem estado e por isso se misturavam. Alguns locais eram parte da Rússia e da Prússia (Alemanha atualmente), e ainda outra porção era austríaca. “Aquelas comunidades judias que há mil anos estão na Polônia, passaram a ter olhos azuis e ficar loiros. Estes não são como os palestinos do Oriente Médio, eles viraram polacos”, observa.
Como estas prostitutas que eram trazidas pelos judeus eram loiras e de olhos azuis, começaram a ser chamadas de polacas no Rio de Janeiro e neste contexto surge o sentido pejorativo do termo. “Os próprios descendentes adquiriram preconceito contra a palavra porque não queriam ser chamados de ‘filhos de prostitutas’. Os judeus que estavam em Curitiba também negam que são polacos, pelo convencionalismo adotado”, complementa.
Foi também no Brasil que houve a criação da palavra polonês. O termo foi imposto por uma elite de imigrantes da Polônia que frequentava a Universidade Federal do Paraná e que não queria ser confundida com o “caipira analfabeto”, que aos olhos dos brasileiros por não saber falar português era burro.
Em 1927, foi realizado um evento no Consulado da Polônia em Curitiba, um dos convidados era o embaixador da França. “Durante o encontro, a polêmica era que todos aqueles que ali estavam já tinham acendido da classe agrícola para a Universidade, então não queriam ser taxados de polacos, que é o termo que está no país desde o seu descobrimento em 1500. O termo polonês foi então sugerido por esse embaixador da França”, encerra Iarochinski.
A discussão continua
Na próxima edição você vai poder conferir outras informações e “descobertas” que Ulisses Iarochinski traz em seu livro. Não perca!
Texto: Marina Lukavy, da Redação.
Fotos: Adriana Souza, da Redação