sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Curitiba: Mil anos de Judeus na Polônia


Cônsul Dorota Joanna Barrys. Foto: Ulisses Iarochinski

Foi aberta, na noite desta quinta-feira, 04 de setembro, no saguão de entrada da Biblioteca Pública do Paraná, a exposição "Mil anos de Judeus na Polônia".  Promoção do Consulado Geral da República da Polônia em Curitiba, a exposição foi organizada pelo Instituto Adam Mickiewicz de Varsóvia e vai estar aberta até 18 de setembro. Depois deve percorrer outras cidades brasileiras.
Em muitos anos foi a primeira vez que se viu num mesmo evento patrocinado pelo Consulado da Polônia, reunidas as comunidades polacas de credos católico apostólico romano e judaico. Lado a lado estavam os senhores Edward Kondera (polaco católico) e Maurício Schulman (descendente de origem polaco-judaica) entre dezenas de outros.

Inicialmente a cônsul Geral Dorota Joanna Barys saudou o público para em seguida convidar para ver as dezenas de cartazes contando a história do povo judeu em terras da Polônia. Barys lembrou as palavras do consultor da mostra Piotr M.A. Cywiński constantes na revista da exposição onde ele diz: "Mil anos de união e divisões. Mil anos de diálogo e conflitos, favores e sofrimento, desenvolvimento e crise, autonomia e dependência, felicidade compartilhada e crueldade, até o Shoah."

Prof. Manoel Knopfholz. Foto: Ulisses Iarochinski

Em seguida, foi a vez do representante da comunidade judaica de Curitiba, Prof. Manoel Knopfholz, discursar para os presentes.  Ele lembrou das origens comuns na cultura, na culinária, nos costumes e da contribuição dos polacos judeus para a humanidade através de vários expoentes como ganhadores de prêmios Nobel e cientistas renomados, além dos horrores do holocausto perpetrados por inimigos comuns como os alemães-nazistas e os russos-stalinistas.

Para Bogdan Bernarczyk-Słoński, responsável pela concepção da mostra, "Pagar tributo aos que não estão mais aqui é revivê-los em nossa memória, junto com as suas alegrias e tristezas, suas vitórias e derrotas, suas grandezas e fraquezas. É também a descoberta da herança que nos deixaram. É finalmente, uma maneira de chamá-los pelos nomes."

Mais adiante Bernarczyk-Słoński relembra que "O holocausto, a tragédia monstruosa do povo judeu, que exterminou quase 3,1 milhão de judeus polacos, borrou por muito tempo a memória dos 1000 anos da sua história e cultura inscrita em nosso passado e inseparavelmente ligada a nossa identidade cultural. Ao procurar a sua identidade e ouvir com atenção as vozes da memória coletiva, os polacos contemporâneos compreendem com pavor e tristeza a ausência dos Judeus, os nossos irmãos." 

Foto: Ulisses Iarochinski

A exposição no Brasil conta ainda com o apoio de Ephraim Teitelbaum, da Federação Israelita do Rio Grande do Sul e tradução do texto polaco de Hanna Węgrzynek e Katarzyna Wieczorek, para o português de Alina Prałat.

Foto: Ulisses Iarochinski

P.S. Que esta exposição possa de alguma forma estreitar os laços de uma comunidade brasileira com origens iguais na Polônia, mas mutilados por agressões de outros povos.

Grotowski: o mestre polaco do teatro


Embora o grande público brasileiro, telespectador de telenovelas, não possua conhecimento suficiente para render homenagens, o Brasil e a Polônia estão ligados pela arte teatral. O Pai do moderno teatro brasileiro foi um polaco, nascido em Wielicka, nos arredores de Cracóvia. Em 1947, Zbigniew Ziembiński revolucionou os palcos brasileiros ao introduzir uma nova linguagem teatral, além de pela primeira vez na história ter iluminado um espetáculo com jogos de luz coloridas a partir de projetores elétricos. O grande Procópio Ferreira iluminava seus espetáculos até então com lamparinas a gás, a querosene, ou quando muito, com uma única luz branca proveniente de uma única lâmpada elétrica.
Ziembinski ao apostar nos dotes dramatúrgicos do polêmico jornalista Nelson Rodrigues trouxe a cena pela primeira vez o texto “Vestido de Noiva” e com ele marcou para sempre as artes da encenação no Brasil.
Só isto bastaria para ligar Brasil e Polônia através desta arte milenar, mas para aqueles profissionais que vivem do teatro no Brasil, um outro nome polaco teve um grande reconhecimento e respeitabilidade em suas vidas. Apesar de Tadeusz Kantor ser muito mais valorizado em terras polacas, a verdade é que no mundo, nenhum outro artista dos palcos teve tanto reconhecimento mundial como o diretor de teatro, teórico, pedagogo e criador de métodos de interpretação, como Jerzy Grotowski.
Grotowski
Ao lado do russo Stanislavsky (com seu método de construção do personagem e preparação do ator) e do alemão Bertold Brecht (com seu distanciamento), o polaco Grotowski é um dos maiores da arte de representar do século vinte.
Grotowski nasceu, em 11 de agosto de 1933, na cidade de Rzeszów, Sudeste da Polônia e viveu até a idade de seis anos em Przemyśl. Durante a Segunda Guerra Mundial a família se separa. Sua mãe Emilia Kozłowski muda-se com ele para Nienadówka. Seu pai Marian serviu como oficial no exército polaco indo para a Inglaterra. Grotowski, sua mãe e seu irmão conseguiram fugir dos nazistas e se refugiaram numa fazenda de seu tio. Este era arcebispo em Cracóvia e foi nesta época que Grotowski despertou para a vida espiritual que orientaria toda sua vida artística. Grotowski morreu, em 14 de janeiro de 1999, em Pontedera, na Itália. Seu epíteto é ter sido um dos maiores reformadores de teatro do século passado.
Grotowski se formou da Escola Pública Superior de Teatro de Cracóvia graduado que foi em interpretação, no ano de 1955. Depois foi em estudar direção teatral no Instituto Lunacharsky de Artes de Teatro (GITIS), em Moscou, entre 1955-1956. Lá aprendeu sobre técnicas de interpretação e abordagens artísticas com os maiores do teatro russo como Stanislavsky, Vakhtangov, Meyerhold e Tairov.
Ao voltar à Polônia, assumiu o cargo de professor assistente na Escola de Teatro em Cracóvia e começou a estudar direção de palco (1956-1960). Debutou como diretor, em 1957, no Stary Teatr (Teatro Velho) de Cracóvia, onde colaborou com Aleksandra Mianowska numa produção de Eugene Ionesco “As Cadeiras”. Grotowski também criou programas de rádio para o Rádio-Teatro polaco por esta época. Estes eram baseados principalmente em lendas chinesas e tibetanas e numa peça antiga indígena, “Sakuntala”. Também neste período preparou e conduziu uma série de conferências sobre filosofia asiática no Clube Estudantil "Pod Jaszczurami" (Debaixo do signo dos Lagartos). Em 1958 dirigiu num seminário uma produção de Prospero Mérimée, a “O Diabo fez uma mulher”, espetáculo de fim de ano dos estudantes do quarto ano do Departamento de Interpretação da Escola Pública Superior de Teatro de Cracóvia, além da produção de “Bogowie Deszczu / Deuses da Chuva”, uma peça contemporânea de Jerzy Krzyszton, no Teatr Kameralny (Teatro de Câmara) de Cracóvia.
Ele voltaria tempos depois a fazer esta peça, ao mesmo tempo em que produziu uma nova versão para o Teatr 13 Rzędów (Teatro da Fila 13) em Opole. Em 1959, dirigiu uma produção de “Tio Vanya” de Anton Chekhov para o Stary Teatr (Teatro Velho) de Cracóvia, simultaneamente a um movimento artístico permanente em Opole, onde assumiu a direção do Teatro da Fila 13. A instituição contratou também um novo diretor de dramaturgia, Ludwik Flaszen (Dramaturgo e crítico de teatro, que havia sido previamente diretor de dramaturgia do Teatro Juliusz Słowacki de Cracóvia). A cooperação entre Grotowski e Flaszen permitiu a criação de um teatro vanguardista que se tornou um efervescente centro de pesquisa das artes teatrais.
A primeira produção teatral em Opole, o “Orpheus” de Jean Cocteau, teve sua estréia em 1959. Um ano depois, Grotowski dirigiu o “Cain” de George Byron, no mesmo teatro, junto com “Mistério-Buffo” de Vladimir Mayakovsky e “Sakuntala” de Kalidasa. Na produção seguinte, Grotowski começou a ter a colaboração do arquiteto Jerzy Gurawski. Desta cooperação surgiu um novo espaço teatral que aboliu finalmente a divisão entre palco e platéia.

A única produção que Grotowski criou neste momento fora de seu teatro foi “Faust” de Johan Wolfgang Goethe, produzido para o Teatr Polski (Teatro Polaco) de Poznań (1960). Para este espetáculo, Grotowski contou com a colaboração do artista plástico Piotr Potworowski, na criação dos cenários. Nesta fase pública do Teatro da Fila 13, o diretor reuniu duas produções denominadas fato-montagens, em 1961, “Turysci / Os Turistas” e Gliniane Gołębie / Pombos de Barro” baseadas em documentos autênticos, filmes documentários, gravações de áudio. No mesmo ano, em Opole, Grotowski dirigiu “Dziady” de Adam Mickiewicz, seguida um ano depois por outro drama romântico, “Kordian” de Juliusz Słowacki. Também em 1962, Grotowski trabalhou com Józef Szajna na primeira e segunda versão de “Akropolis”, baseadas em texto escrito por Stanisław Wyspiański. Antes disto, o cartaz para a produção refletiu o nome do novo teatro de Opole, ou seja, “Laboratorium 13 Rzędów (Teatro de Laboratório da Fila 13”, em 1965, Grotowski dirigiu uma série de outras produções ali, inclusive “Tragiczne Dzieje Doktora Fausta / O Destino Trágico do Doutor Faust”, baseado no texto de Christopher Marlowe (1963), “Studium o Hamlecie / Um estudo sobre Hamlet”, de William Shakespeare escrito por Stanisław Wyspiański (1964), e uma terceira versão de “Akropolis / Acrópole” de Wyspiański (1964).
Com encerramento do teatro em Opole, Jerzy Grotowski e sua turma se mudaram para Wrocław. A primeira estréia do “Teatro de Laboratório da Fila 13”, na nova casa foi uma quarta versão de “Akropolis” Wyspiański (1965), preparada, tal como todas as versões prévias tinham sido, ou seja, com a cooperação de Józef Szajna. Os criadores da produção finalmente reuniram a quinta e última versão dois anos depois, em 1967.  
Ainda em 1965, o teatro de Wrocław, que Grotowski também chamava de “Instytut Badania Metody Aktorskiej” (Instituto de pesquisas do método de interpretação do ator), teve duas versões de Słowacki adaptadas de Calderon “O Príncipe Constante”. Grotowski apresentou uma terceira versão deste espetáculo em 1968. Em 1967 Grotowski e seu grupo abandonam os trabalhos da produção intitulada “Ewangelie / Evangelhos”. Antes disto, porém, a trupe assegurou um ensaio aberto de jogos teatrais e várias outras exibições fechadas. Estes “estudos”, enquanto descreviam a vida de Cristo e uma posição contemporânea de dimensão Cristã, era a continuação de uma produção inovadora do teatro de Grotowski intitulada “Apocalypsis Cum Figuris” que retirava citações da Bíblia e dos trabalhos de Fyodor Dostoyevsky, Thomas S. Eliot e Simone Weil. “Apocalypsis Cum Figuris” que ao lado de “Akropolis” e “O Príncipe Constante” tornaram-se as mais famosas das produções de Grotowski ao redor do mundo e foi finalmente reconhecido em três versões diferentes: A primeira em 1968, seguida das versões subseqüentes de 1971 e 1973. Todos estes espetáculos foram produzidos no teatro de Wrocław que adquiriu um nome novo em 1971, ou seja, “Instituto dos Atores - Teatro de Laboratório”. Grotowski criou estas produções em cooperação com seu ator principal, Ryszard Cieslak. Nos anos sessenta, o “Teatro de Laboratório” fez uma série de excursões ao exterior, tendo participado da maioria dos principais e significativos festivais de teatro do mundo.  
Em uma de suas primeiras produções, o controverso “Bogowie Deszczu / Deuses de Chuva”, Grotowski o diretor, como Zbigniew Osiński registrou por escrito, "colidiu com o autor, enquanto seu teatro colidiu com a literatura. Grotowski não só mudou o título da peça (o original era Rodzina Pechowcow / A Família Azarada), mas entrelaçou o texto original com fragmentos de outros trabalhos poéticos e adicionou um filme como prólogo. No programa do espetáculo, Grotowski citou uma das máximas de Meyerhold: - Ao selecionar a peça de um autor, não pretendia compartilhar as visões dele. - Ele era posterior e se explicou melhor isto em uma entrevista: - Em termos de minha atitude para o texto dramático, penso que o diretor deveria tratar isto somente como um tema no qual ele constrói uma obra de arte nova que é o spectacle teatral (de R. Konieczna, premiera “Przed Pechowcow. Rozmowa rezyserem /” Antes da Estréia de 'O Unlucky' - Uma Conversa com o Diretor”).
Deste momento em diante, ele defenderia o direito de um diretor trabalhar no texto constantemente, bem como na maioria de suas produções subseqüentes construídas "de acordo com" ou "baseado nas palavras do "autor do texto”. O desejo dele era não contar a história de uma maneira tradicional. Ele tentou ao invés disso transformar peças em “stagings” mentais coerentes. Com “Orfeusz / Orpheus” E “Kain / Cain”, Grotowski questionou a função que literatura tradicionalmente joga no teatro, enquanto ia editando suas produções como um “filmmaker” poderia editar um filme. Ele foi acusado de focalizar excessivamente a experimentação formal. Ele admitiria depois, que aquele “Cain” era "mais um exorcismo de teatro convencional que uma proposta para um programa" (Jerzy Grotowski,” Teatr Laboratorium 13 Rzędów” /” Teatro Laboratório da Fila 13,” em:” 5. Festiwal Polskich Sztuk Wspólcześnych” /” 5º Festival de Peças Polacas Contemporâneas, "Wroclaw, 17-25 de outubro).
Grotowski construiu seu próprio "programa”, enquanto pesquisava profundamente a relação palco e audiência e, por conseguinte, entre ator e platéia. Em “Sakuntala” a platéia assumiu o papel do herói coletivo, enquanto na “... Antepassados” eles foram tratados como os participantes de um ritual. Em “Kordian”, as pessoas do público eram os pacientes de uma custódia psiquiátrica, enquanto em “Faust” eles se tornaram o confessor do herói. Durante este tempo, o diretor e sua trupe focalizou acima de tudo a procura de novas formas de expressão para os atores. O trabalho que a trupe fez em “Sakuntala” provou especial “significante” a este respeito. Como Grotowski colocou isto, "Nesta produção nós testamos as possibilidades de criar sinais dentro do teatro europeu. Nossas intenções não foram privadas completamente de mischievousness: nós buscamos criar uma produção que seria uma imagem de teatro oriental, não completamente autêntico, mas semelhante à maneira pela qual, os europeus imaginam isto. [...] Porém, debaixo da superfície desta procura que era imediatamente irrisória e dirigida contra o espectador, havia um plano escondido - o esforço para descobrir e revelar um sistema de sinais que seriam apropriados para nosso teatro e se destinariam a nossa civilização”. Grotowski admitiu que este caminho conduziu à criação de sinais que seriam um padrão fixo, mas ao mesmo tempo, era um trabalho desta produção que em seguida, ele coloca como, "para a iniciação de uma procura no reino das reações orgânicas humanas, e para a criação de uma estrutura destas reações. Isto é o que resultou mais frutífero nesta aventura que é a história da nossa trupe, especificamente, resultou em nossa pesquisa na arte de interpretar" (Jerzy Grotowski,” Teatr um rytual” /” Teatro e Ritual”).
Em 1965, em artigo para a publicação mensal “Odra”, Grotowski publicou um esboço intitulado "Ku teatrowi ubogiemu (Para um Teatro Pobre)”. O qual se tornou depois o título de um livro que foi publicado primeiro na Dinamarca e subseqüentemente (em 1968) apareceu nos Estados Unidos com prefácio de Peter Brook. Este estudo de Grotowski foi publicado em mais que uma dúzia de países... Com exceção da Polônia. Tornou-se um livro de ensino para teatros exploratórios dos anos sessenta. "Para um Teatro Pobre” resumindo, foi o primeiro período criativo do diretor durante o qual ele focalizou como amoldar métodos de interpretação e formular a idéia de “teatro pobre”. O trabalho físico dos atores consistia em treinamentos sincréticos que duravam muitas horas e utilizavam técnicas orientais asiáticas. Também foi prestada atenção significativa aos ressonadores de voz. Grotowski tentou bater nas fontes da antiga expressão. Fascinado com os pensamentos de Carl Jung, procurou arquétipos que provariam a utilidade da construção de papéis e que transformariam os esforços de seus atores em um ato de sacrifício. Não foram registradas, entretanto, as técnicas de interpretação estáticas do Teatro de Laboratório para se alcançar o estado de transe, mas foi bastante preciso em criar o estado da consciência afiada.
“O Príncipe Constante” e “Apocalypsis Cum Figuris” foram o apogeu da ação estática, e também exemplificou o conceito de "teatro pobre" sobre o qual Peter Brook escreveu em “O Espaço Vazio”, publicado em várias partes do mundo.  
"Na Polônia existe uma pequena companhia dirigida por um visionário, Jerzy Grotowski que também tem um objetivo sagrado. O teatro, segundo ele acredita, não pode ser um fim em si mesmo; como a dança, ou a música como em certas ordens “dervish”, o teatro é um veículo, um meio para auto-estudo, auto-exploração, uma possibilidade de salvação. O ator se atém ao seu próprio campo de trabalho. [...] Visto deste modo, interpretar é um trabalho de vida, enquanto o ator está estendendo seu conhecimento passo a passo por circunstâncias dolorosas e sempre variáveis do ensaio e a uma tremenda busca de pontuação em sua performance. Na terminologia de Grotowski, o ator permite um papel para se “penetrar”; no princípio, ele é todo o obstáculo a isto, mas através de trabalho constante, ele adquire domínio técnico sobre seus meios físicos e psíquicos pelos quais ele pode permitir derrubar as barreiras.” Auto-penetração está relacionado com a exposição: o ator não hesita em se mostrar exatamente como ele é, porque ele percebe que o segredo do papel exige, sobretudo sua abertura, enquanto ele próprio vai descobrindo seus segredos. De forma que o ato de desempenho está ligado ao ato de sacrifício, de sacrificar o que a maioria dos homens prefere esconder - este sacrifício é o presente que ele dá ao espectador. [...] Grotowski faz da pobreza um ideal; seus atores dão tudo, exceto seus próprios corpos; eles possuem o instrumento humano e o tempo ilimitado, ou seja, nenhuma maravilha, eles sentem o teatro mais rico do mundo". (Peter Brook, "Pusta przestrzeń" / "The Empty Space", Warsaw, 1977).
Nos anos 70, Jerzy Grotowski lentamente começou a abandonar o teatro e deixou completamente de montar produções teatrais. Ele aprofundou seus estudos de cultura Centro-asiática e escolas da espiritualidade. Em 1970, fez sua terceira viagem ao Oriente, viajando para a Índia. (Anteriormente, ele tinha navegado para a Ásia Central em 1956 e visitado a China em 1962.) Ele também começou a ensinar, em classes especiais exercícios quase-teatrais para atores polacos e estrangeiros. Começou a convidar espectadores de suas produções anteriores a participar destes projetos. Num programa de persuasão ativa para a cultura, que ele tinha formulado nos anos setenta, Grotowski começou a focalizar as relações interpessoais em uma dimensão nova, especificamente, a da "celebração ao vivo da nova cultura" projetada por ele para conduzir um face-a-face nas reuniões entre seres humanos. Na última produção de teatro de Grotowski, “Apocalypsis Cum Figuris”, foram unificados o espectador e o ator ao grau máximo possível, mantendo entretanto, uma divisão entre participantes ativos e passivos.
Esta divisão desapareceu nos projetos de “treinamento/performance” dos novos artistas que ele começou a organizar em 1973. No modelo de cultura postulado por Grotowski, ninguém era um consumidor, enquanto todo mundo tinha o direito de criar. Foi dada intensa publicidade a seus empenhos subseqüentes, chamados de projetos e abertos a todos que estivessem dispostos a participar. Participantes de várias partes do mundo viajavam a Wrocław e Brzezinka, perto de Oleśnica onde os projetos eram executados. O Teatro de Laboratório também começou em 1973 a administrar programas de treinamento-perfomance no exterior, enquanto Grotowski trabalhava nos Estados Unidos (1973, 1975, 1977), na França (1973, 1976, 1977), na Austrália (1974), na Áustria (1974, 1975), na Itália (1975, 1977), na Suíça (1976, 1977), na Alemanha Ocidental (1977) e no Canadá (1977). Muitos gostaram de seu “Projeto Especial (1973), ou Przedsięwzięcie Góra / Projeto da Montanha (1977)”, que ele levou em forma de sessões de grupo que tinham uma dimensão ética e psicoterápica. Eles constituíram uma tentativa de se achar uma nova forma de entender o intrapessoal, completamente baseado na sensibilidade mental e relacionando a comunidade com a ação. Estes jogos teatrais consistiram, entre outras coisas, construir sistemas intrapessoais de comunicação usando lentamente primeiros movimentos e depois finalmente a voz, para o grupo cantar. Também foram promovidos seminários intensivos quase-teatrais em 1975, durante “Exploração universal para um Teatro de Nações” que foram organizados por Grotowski e pelo Teatro de Laboratório. Naquele momento, as pessoas que representavam teatro exploratório ao redor do mundo viajaram a Wrocław, muitos deles inspirados pelo pensamento de Grotowski. Entre os participantes se incluíam Peter Brook, Jean-Louis Barrault, Joseph Chaikin (Teatro Aberto), Eugênio Barba (Odin Teatret), Luca Ronconi e Andre Gregory.  
Em 1976, Jerzy Grotowski apresentou um programa de pesquisa novo que ele chamou de “Teatr Źródeł" ("Teatro da Fonte"). Ele procurou realizar este programa na região próxima a cidade de Białystok, bem como nas suas viagens para o México, Nigéria, Índia e Haiti. Etnológico e antropológico por natureza, Grotowski procurou estas explorações com seu grupo internacional de colaboradores. Esta pesquisa consistiu em olhar para rituais de várias partes do globo e tentar achar o denominador comum entre eles, explorando ao mesmo tempo suas formas teatrais. Durante seu trabalho no campo, os participantes confrontavam suas técnicas com as velhas formas existentes em cada tribo. Porém, Grotowski declarou que o projeto dele não poderia ser visto como um zero dentro do exótico, ou como alguma celebração folclórica, ou ainda como um festival de culturas do Terceiro Mundo" ("Wyprawy terenowe 'Teatru Źródeł'“ / "The Voyages into the Field of the 'Theatre of the Source'," edited by R. Rozycki, "Notatnik Teatralny" / "Theatrical Notebook"). Bastante, foram projetadas As técnicas foram muito aplicadas para reafirmar um sentimento de conexão com o mundo natural.
Em 1982, depois da declaração da Lei Marcial na Polônia, Grotowski emigrou para os Estados Unidos. Inicialmente, ele foi professor na Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Em 1983, foi designado professor na Universidade de Califórnia onde ele imaginou seu próximo projeto, conhecido como “Drama Objetivo”. Em 1984, os membros do Teatro de Laboratório votaram para fechar o centro do grupo Wrocław. Em 1985, Grotowski se mudou a Pontedera na Itália. Lá ele trabalhou em um centro que ostentava seu próprio nome (Centro de Trabalho de Jerzy Grotowski - Centro di Lavoro di Jerzy Grotowski) com um grupo de internos internacionais, focalizando em programas intitulados "Jogos Rituais”. Neste período que ele trabalhou de perto com Thomas Richards que reuniu documentação sobre as pesquisas de Grotowski naquele momento e pretendeu publicar os trabalhos de Grotowski. "O Trabalho com Grotowski em Ações Físicas” seria um dos títulos mais significativos publicado como resultado de seus esforços. Jerzy Grotowski passou os últimos anos de sua vida criativa em constante trabalho de laboratório. Foram mostrados para seus estudantes os estudos de isolamento e os resultados de seu trabalho inicialmente a um círculo restrito de pessoas e só depois disponibilizado ao grande público. O programa conhecido como "Drama Objetivo” consistia em procurar terra comum, posições cruz-culturais e movimentos que poderiam se tornar universais, enquanto conduziam à criação de artes que seriam ritualista em sua natureza.
Prêmios e distinções: 
1971 - designado Professor Pleno da “Ecole d'Art de Supérieure Dramatique” em Marselha.  
1972 - Prêmio estatal de primeira classe no reino das artes pelas "atividades criativas com o Teatro de Laboratório, e organização e pesquisa na arte de interpretar"; Diploma de Mérito do Museu Nacional dos EUA” pela contribuições excepcionais para o desenvolvimento de teatro mundial”.  
1973 - criação da Instituição americana para Pesquisa e Estudo da Obra de Jerzy Grotowski cujo objetivo primário era popularizar as descobertas artísticas de Grotowski e idéias no EUA”; “Doutor Honoris Causa” da Universidade de Pittsburgh;
1975 - Vencedor do Prêmio Cidade de Wrocław pelas "suas atividades criativas no reino de teatro".
1985 – “Doutor honoris causa” da Universidade de Chicago.
1991 – “Doutor honoris causa” da Universidade de Wrocław.
1997 - Professor do “College de France”

P.S. tradução baseada em texto de Monika Mokrzycka-Pokora publicado em 2002, na Revista "Polish Culture" e outras fontes.