sábado, 29 de março de 2008

Kurytyba-Curitiba faz aniversário

Totem das cidades parceiras de Cracóvia.
No alto, a placa de Kurytyba, a única cidade gêmea de honra da capital da alma polaca.
Foto: Ulisses Iarochinski

Kurytyba a 11.500 km de distância de Cracóvia está fazendo 315 anos de existência. Sim, a capital dos paranaenses é a única cidade do Brasil que possui grafia própria no idioma polaco. Pois se fosse grafada como em português, os polacos diriam Tssuritiba e não Kurytyba.

A cidade do segundo planalto paranaense é mais conhecida em Cracóvia do que a mundialmente famosa Rio de Janeiro, ou Buenos Aires (capital do Brasil para desavisados europeus).

A prova disso é o diálogo com um motorista de táxi:

Taxista: O senhor é búlgaro, não?
Brasileiro: Búlgaro, por que?
Taxista: Porque o senhor tem cabelo escuro e apesar de falar bem polaco tem um sotaque bem estranho. O senhor não é polaco!
Brasileiro: Não! Não sou búlgaro... Sou de muito mais longe, além oceano.
Taxista: Ah! Já sei. O senhor é brasileiro... de Curitiba.
Brasileiro: Mas como o senhor sabe que sou de Curitiba?
Taxista: Ora! Porque Curitiba é a capital polaca da América do Sul, a terceira maior cidade polaca do mundo. Só perde para Chicago e Varsóvia. E convenhamos um carioca não iria saber falar tão bem o idioma polaco.

Curitiba, ou Kurytyba é mais do que isso para os polacos em geral e para a Polônia, em particular. Destino de milhares de imigrantes nos séculos 19 e 20, Curitiba, durante muito tempo foi cantada em versos e prosa como a "terra onde corria leite e mel". Terra abençoada que teria sido escolhida por Nossa Senhora e indicada pelo Papa ao Imperador brasileiro Dom Pedro II como o paraíso buscado pelo sofrido e oprimido povo da nação Polônia.

O primeiro polaco a chegar à pequena Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais deve ter sido o capitão do exército, Edward Kasper Stepnowski, que chegou ao Brasil em 1826. Foi ele o primeiro polaco a se estabelecer no Paraná comprando terras na cidade de Castro, mais precisamente em 1858.

Depois dele foi a vez de Hieronim Durski, que reimigrou de Joinville e se estabeleceu, em 1863, na Vila do Príncipe, atual Lapa, a 65 km de Curitiba. Mais tarde o professor viria morar em Curitiba e seria considerado o "pai das escolas polacas do Brasil". Hoje Durski é nome de rua no bairro do Bigorrilho.

Mais tarde, em setembro de 1871, chegaram mais 32 famílias de silesianos polacos (que tinham vivido por dois anos em Brusque), conduzidas pelo padre Antoni Zielinski e pelo jovem silesiano Sebastian Edmund Wos Saporski, este chamado de "o pai da imigração polaca no Brasil" (e também nome de rua em Curitiba).

Os chefes daquelas famílias pioneiras eram: Franciszek Polak, Mikolaj Wós, Bonawentura Polak, Tomasz Szymanski, Szymon Purkot, Filip Kokot, Michał Prudlo, Szymon Otto, Dominik Stempki, Kasper Gbur, Balcer Gbur, Walenty Weber, Antoni Kania, Franciszek Kania, Andrzej Pampuch, Stefan Kachel, Fabian Barcik, Grzegorz Chyły, Leonard Fila, Baltazar Gebrza, Leopold Jelen, Andrzej Kawicki, Marcin Kempka, Błazej Macioszek, Walenty Otto, Wincenty Pampuch, Paweł Polak Marcin Prudlik, Jozéf Purkot, Jozéf Skroch, Tomasz Szajnowski e August Walder. No total eram 164 pessoas.

A partir de então, o movimento de polacos nunca mais parou. A última a chegar certamente é Alina Prałat, de Gryfino, cidade do Noroeste da Polônia, em março de 2007. Alina, mestre em geografia pela Universidade de Berlim, casou com o curitibano Leandro Rocha e espera o nascimento nos próximos dias do último curitibano desta imensa lista de polacos-brasileiros que nasceram na "terra de muitos pinhões", em mais de 150 anos de imigração polaca em Curitiba.

QUANTOS POLACOS?

Já em 1938, o Consulado da Polônia, em Curitiba, realizou um recenseamento sobre a etnia no Estado e constatou que os polacos representavam 10 por cento da população do Paraná e 15 por cento dos curitibanos.

Na década de 70, quando Curitiba chegava ao milhão de habitantes e o médico, historiador e ex-deputado Edwino Tempski apresentou uma pesquisa onde estimava que os polacos eram mais de 350 mil em Curitiba, seguidos por 210 mil moradores de origem alemã, 120 mil de origem italiana, 80 mil de origem ucraniana, 47 mil de origem síria e libanesa e 18 mil polacos-judeus.


Não por isso: possuir uma comunidade tão expressiva! Mas muito mais por influência cultural importantíssima; por tanta fumaça com cheiro de pierogi saindo das chaminés das casas de madeira (patrimônio polaco-paranaense) é que a etnia polaca exerceu e exerce sobre a capital de todos os paranaenses esta atmosfera impressionante de "cidade de todas as gentes".

Curitiba está em dezenas de livros sobre imigrações polacas para o mundo. E em quase todos estes livros está este poema do curitibano-polaco-negro Paulo Leminski:

Meu coração de polaco voltou
Coração que meu avô
Trouxe de longe pra mim
Um coração esmagado
Um coração pisoteado
Um coração de poeta
Paulo Leminski, Polonaises, 1980
Kurytyba - Curitiba... Mais polaca impossível... Tuas ruas... tuas casas... tuas avenidas de chorões... teu verde das matas preservadas dos bairros ao Norte, ao Oeste, ao Leste, ao Sul... tua tez clara, teus cabelos loiros e teus olhos azuis te denunciam. Por isso nesta data querida é preciso ouvir e cantar um parabéns na quarta língua mais importante da cidade, depois do português, do curitibanês, do caingangue... o parabéns para você em polaco:

Sto lat, sto lat, sto lat
Niech żyje żyje żyje nam
Jeszcze raz
Sto lat, sto lat, sto lat
Niech żyje żyje żyje naaaaaaaaaammmmmm

Tradução dos versos da canção de aniversário polaca:
Cem anos, cem anos, cem anos,
viva, viva, viva para nós,
mais uma vez,
cem anos, cem anos, cem anos, viva, viva, viva para nnnnnnnóóóóóóóóóóóóóssssssssssssssss.

Buscador de origens em Lomza

Foto: Ulisses Iarochinski
Esta semana tive sucesso em mais uma busca de certidão de nascimento de um ancestral de brasileiro descendente de Polacos. Além de enviar o documento encontrado para a pessoa que solicitou meus serviços de "buscador" de origem, costumo fazer uma espécie de relatório. Faço isso para demonstrar a honestidade do serviço, das dificuldades encontradas e também porque sempre ocorrem situações inusitadas. São estas surpresas que conferem os atrativos para que continue procurando documentos em terras da Polônia. Não fosse por conhecer a história da Polônia, a história da imigração polaca, dominar o difícil idioma polaco e a índole dos polacos de hoje, com certeza não teria como fazer estas buscas. Esta semana fui ao Noroeste do país, quase 500 quilômetros distante de Cracóvia (onde moro e estudo há cinco anos).
1. Antes disso, semana passada fui a Białystok, a 493 km de Cracóvia. Estive no Arquivo Nacional (que tem departamentos regionais). Mas a viagem foi frustrante. Não encontrei nenhum registro do ancestral pesquisado. Como não tinha mais tempo de ir procurar em outro lugar, em função das minhas aulas na universidade, voltei a Cracóvia. Como é de se esperar tive gastos com trem, ônibus e alimentação.
2. Mas como não desisto, esta semana enfrentei outros 469 km até Łomża (pronuncia-se uomja). Viagem cansativa. Três horas de trem até Varsóvia, depois um segundo trem local até a saída dos ônibus regionais. Lá tomei um ônibus até Łomża, ou seja, mais 3 horas. Cheguei já quando era noite. Temperatura de 5 graus negativos. Nenhuma viva alma nas ruas. Andando a esmo encontrei uma moça e perguntei: "Onde é o hotel mais próximo?" E ela respondeu: "O mais próximo? Você quer dizer o único?". Então, ela indicou-me a direção. Era preciso andar umas dez quadras a pé com aquele vento frio que cortava até não sei o quê. Mas encontrei o hotel naquela escuridão. As ruas de muitas cidades da Polônia são mal iluminadas. Consegui dormi, mas o hotel foi mais caro do que tinha planejado.
3. Dia seguinte fui ao Arquivo Nacional (sub-departamento de Łomża do regional de Białystok. Perguntei se poderiam me dar indicações de onde era Zabiele. A funcionária me disse que havia pelo menos 3 localidades com este nome nas redondezas. Disse então, que esta Zabiele ficava em Kolno. Perguntei também se o Arquivo Nacional fornece certidão de nascimento. Ela disse que não.
4. Fui então para estação de ônibus. Peguei o primeiro, das 10.30, para Kolno. A viagem, naquele ônibus antigo foi vagarosa. Mas muito bonita. Sol forte, céu azul, terra arada. Fui imaginando a vida dos imigrantes nos séculos passados nesta terra. Fiquei emocionado. Como é que saíram desta terra bonita para se meterem no meio das florestas do Paraná? Tinham que ser uns corajosos mesmos estes nossos bisavós. Tirei fotos pelo caminho de dentro do ônibus mesmo. Depois de um tempo apareceu o totem de boas vindas da cidade de Kolno.
5. No caminho até a estação, o ônibus passou em frente a prefeitura e cartório da cidade. "Menos mal, já sei onde é", pensei!
Prefeitura e Cartório de Kolno. Foto: Ulisses Iarochinski
6. Desci na estação e logo fui perguntar no guichê de vendas de passagens. "Por favor tem ônibus para Zabiele?" A funcionária respondeu com pergunta: "Mas qual Zabiele? tem três". Respondi: "de Kolno". Ela então: "Sim tem!" Perguntei: "Fica longe? É aquela onde deve ter uma igreja antiga... do século dezenove, pelo menos?" A mulher respondeu: "Não! Lá só tem propriedade rural... Fica pertinho aqui da cidade. A igreja antiga mesmo... é a de Kolno".
7. Fui caminhando então até o prédio da prefeitura. Céu azul, sol, mas frio de rachar. Fui direto à sala do Cartório, que ficava no térreo. Apresentei-me para duas senhoras que estavam lá. Disse que era do Brasil e que estava buscando registro de nascimento do bisavô de uma amiga. A mulher disse então: "Não! Para o senhor não vamos dar nada. A amiga é que tem que vir retirar". E inqueri: "Mas como? A senhora sabe que o Brasil não fica ali na esquina! Tem um oceano no meio e pelo menos 12 mil quilômetros de distância". E sorri.
8. Ela perguntou pelo ano de nascimento da pessoa que eu estava buscando. Disse que era 1906. A mulher retrucou: "Ihhh! Então nada feito. Não temos livro de assentamentos deste ano aqui". E Mostrou a prateleira com os livros de registros. "Eu sei, minha senhora. Mas na paróquia tem, não?", retruquei. Ela falou muito séria. Até ali, a conversa tinha transcorrido em meio a sorrisos: "Pode ser que tenha, mas eu não tenho aqui comigo e se o livro não existe aqui não posso fornecer a segunda via da certidão de nascimento. É lei!" Dizendo que não concordava com ela e que em outros cartórios que já tinha estado, eles aceitavam a fotocópia do assentamento no livro da igreja, pedi onde ficava a paróquia. A mulher me indicou o caminho. Saí dali e fui procurar a igreja.

Igreja de Santa Anna de Kolno. Foto: Ulisses Iarochinski

9. Encontrei a igreja. Bati na porta na casa do padre, que ficava nos fundos. Atendeu um padre e convidou-me para dar a volta e entrar pela porta do escritório ao lado. Lá dentro me apresentei, contando o que tinha vindo buscar. O Padre foi até um armário fechado que estava num canto e abriu as portas. Estava cheio de livros. Pegou um com a inscrição 1906 e começou a folhear aquelas páginas amareladas pelo tempo tentando encontrar o assentamento. Encontrou! "Aqui está!" Disse ele. Nesse momento me invadiu uma tremenda emoção. Fiquei emocionado da mesma forma que anos atrás, numa outra localidade da Polônia, encontrei o registro do nascimento de meu avô. Engraçado! Pela enésima vez eu me emocionava com o achado sobre o ancestral polaco de um brasileiro.
10. Pedi uma cópia do assentamento. O Padre disse que estava escrito em idioma russo, por causa do período da invasão russa nas terras da Polônia por 127 anos. Colocou então, o livro no "scanner" e fez uma, duas, três cópias até achar aquela que tinha ficado bem impressa. Em seguida procurou carimbos da igreja e dele e carimbou com tinta vermelha. Depois assinou com a declaração de que a fotocópia correspondia ao registro autêntico. Perguntei o preço e ele respondeu que era o quanto eu quisesse oferecer. Paguei então com uma nota de 10 zl. Agradeci muito. Ele sentiu que eu estava emocionado e me desejou boa sorte no Cartório.
11. Voltei com a preciosa fotocópia autenticada ao Cartório. O tempo já havia mudado, estava nublado e mais frio ainda. Mais uma vez estava diante da cartorária. Ela viu a fotocópia e disse: "Infelizmente é a lei. Não posso dar uma segunda via de algo que não possuo. E aqui não tenho este livro. Ele já foi enviado para o Arquivo Nacional. Nossa lei é esta. Todos os documentos com mais de cem anos devem ser enviados para o Arquivo Nacional. Não posso fazer nada". Mas argumentei: "Entendo, minha senhora, mas veja, aqui está a prova. E o livro está ali na igreja.". Ela foi decisiva: "Não adianta. Não posso lhe dar o que me pede". Quase desiludido, perguntei quem era o chefe e ela respondeu que era o prefeito. Pedi que indicasse onde estava o prefeito e ela disse que era no primeiro andar daquele mesmo prédio.
12. Na sala da secretária perguntei se o prefeito estava. A moça loira retrucou apenas: "Quem deseja falar com o prefeito?" Respondi com meu sobrenome e que era do Brasil. Usando o interfone, ela perguntou se poderia receber o sr. Iarochinski. Porta aberta, entrei para falar com o prefeito.
13. Apresentei-me. Disse que além de jornalista brasileiro era doutorando em história na Universidade Jagiellonski de Cracóvia. Então o prefeito disse: "Ah! Então temos uma visita especial em nossa cidade. O senhor quer café, chá, bolo?" E levantou-se trazendo em seguida um livro, um chaveiro e uma flâmula da cidade de Kolno. Conversamos...disse que a cartorária não queria fornecer o registro de nascimento. Ele então chamou a secretária e pediu para que a cartorária viesse conversar. Olhando pela janela, atrás do prefeito vi a nevasca que estava caindo, forte. Mas como era possível há uma hora atrás estava um céu azul e um sol forte. Decididamente esta primavera polaca está muito estranha este ano. A mulher do cartório entrou na sala do prefeito nesse instante e repetiu a mesma história de que não tinha o livro, que este se exisitiu ali no cartório teria mais de cem anos e que possivelmente foi enviado para o Arquivo Nacional. Então, o prefeito pediu para a secretária fazer uma ligação telefônica com o Arquivo sediado na cidade mais importante da região: Łomża. Ligou, conversou e encerrando a ligação, disse para mim: "É... Não vai dar mesmo! Mas o senhor vá até Łomża. Lá eles podem lhe dar uma declaração oficial do registro de nascimento do bisavô".
14. Não houve jeito. Saí dali sem a segunda via oficial da certidão de nascimento. Corri até a estação de ônibus para voltar a Łomża Eram 13 horas e o Arquivo Nacional iria fechar o expediente as 15 horas. Cheguei em Łomża as 14.20 horas. Corri até o Arquivo. Uma senhora me atendeu já com o livro de 1906 nas mãos. Mas disse que eu teria que fazer um requerimento e pagar a taxa. Mas esta só podia ser paga no Correio. Contudo, não haveria mais tempo de fazer isto hoje, pois ela encerraria o expediente dali a 20 minutos. Encarecidamente pedi que ela fizesse o favor de fornecer o documento neste mesmo dia, pois não tinha mais dinheiro para pernoitar na cidade. Ela resignada com meu pedido, auxiliou-me a escrever o requerimento. Voei até a agência de correio, paguei 26 zl e voltei na mesma desabalada corrida. Eram 15.08 minutos. A Declaração do Arquivo Nacional já estava redigida em cima da mesa. Tal declaração segundo a chefe do Sub-Departamento Regional do Arquivo Nacional de Łomża substitui a segunda via do Cartório. Pois, segunda a lei civil polaca, uma instituição só pode fornecer uma segunda via de um documento, desde que tenha estes registros em seu próprio arquivo. Como já se passaram mais de cem anos do registro só o Arquivo Nacional pode expedir esta declaração.
Correio de Łomża. Foto: Ulisses Iarochinski

15. Tarefa cumprida, mais uma vez tive sucesso na busca de documento que comprova que o ancestral de um brasileiro nasceu em terras da Polônia e que portanto, era sim... um polaco, em que pese invasões estrangeiras.

Festa polaca no Sul brasileiro


No dia 06 de abril de 2008 será realizada em Mariana Pimentel, cidade do Rio Grande do Sul, festa conjunta de aniversário dos 16 anos do município e 119 anos de colonização polaca naquela região. Os festejos começam às 08 horas da manhã, no Centro de Atividades Culturais, com Café Colonial Polaco, depois as 10 horas será celebrada a Santa Missa da Igreja Católica Romana Apostólica. No período da tarde, a partir das 15 horas o palco da festa recebe várias apresentações artísticas polacas e estas se encerram à noite, com o show da Banda Brilhasom. No almoço, os gaúchos polacos de Mariana Pimentel além da tradicional comida típica polaca poderá degustar o famoso churrasco gaudério.