terça-feira, 23 de novembro de 2010

Polaco enrustido

Dentro das comemorações dos 92 anos da Independência da Polônia, 90 anos do estabelecimento de relações diplomáticas Brasil Polônia e 90 anos de criação do Consulado Geral da Polônia em Curitiba (a primeira representação diplomática da Polônia na América Latina, o jornalista e mestre em Cultura Internacional lança seu livro “Polaco – Identidade Cultural do Brasileiro descendente de imigrantes da Polônia”, nesta quarta-feira, dia 24 de novembro, em Curitiba.
O cineasta paranaense, Eloi Pires Ferreira, diretor dos filmes longa-metragens "Sal da Terra" e "Curitiba zero grau" já leu o livro e conta sobre suas reações com a leitura do livro de Iarochinski: 

Costumo dizer que sou polaco enrustido visto que o sobrenome português herdado de meu pai oculta a minha metade eslava presenteada pela minha mãe. Acredito ser mais polaco do que qualquer outra coisa, já que 50% do meu sangue tem essa origem contra minha outra metade composta de uma boa dose mediterrânea, uma pitada germânica, com alguma porção indígena e certamente outra africana e sei lá mais o quê. Mas acima de tudo sou brasileiro, com muito orgulho. E acho que o que mais me agrada em ser brasileiro é essa misturança étnica toda que nos torna um povo no mínimo interessante.
Talvez por ter nascido e crescido em Curitiba (uma das cidades mais polacas do mundo, fora da Polônia), e certamente pelo fato de, na minha infância, a convivência com meus parentes maternos ter sido muito intensa - e porque mãe é mãe - a sonoridade da língua polaca soa como música nos meus ouvidos. Ela é familiar e doce. E desde piazinho eu convivi pacificamente com as duas expressões cujo antagonismo causou a obsessão do Ulisses: polaco e polonês.
Portanto, mesmo não falando e sequer entendendo lhufas a língua dos meus antepassados, sinto-me credenciado a entrar nesse debate (polaco X polonês) e tecer meus humildes e parcos comentários.
Eu já sabia, mesmo que superficialmente, que a Polônia é um país de uma exuberância histórica e cultural invejável, infelizmente pouco conhecida por nós brasileiros. Sabia o tanto de contribuição que ela prestou à humanidade, em diversos campos, e de forma mais vistosa nas artes em geral. O quanto seu povo é bravo e teimoso, tendo resistido até o talo e não capitulando durante o covarde arrastão nazista, na segunda guerra. E também sabia o quanto o indivíduo polaco é teimoso, ranheta e do contra, a ponto de onde tiver dois polacos, haver três ideias divergentes. Mas devo dizer que, nessa matéria, aprendi muito com o Ulisses, especialmente na viagem a Polônia, na qual ele me levou a tiracolo, ano passado. Após conversas e conversas e conversas, que, aliás, são bem anteriores à viagem saí convencido de uma coisa: sim, o resgate do termo "polaco" é necessário não por motivos linguísticos ou etimológicos. Nem porque originalmente era o termo único a designar as coisas relacionadas à Polônia, em nossa língua portuguesa. Ou porque em Portugal, na Espanha, na Itália, etc. a palavra corrente é essa. Ou mesmo porque "polonês" é galicismo e invencionice. Mas simplesmente porque a tentativa espúria de se impor o “polonês" em substituição ao "polaco" e a mais espúria ainda tentativa de se banir o "polaco" da fala e até mesmo do dicionário é tudo fruto de preconceito (gerado externamente e, pior, assumido internamente pela comunidade de origem polaca). E preconceito, esse sim, qualquer que seja, insisto, qualquer que seja, deve ser banido definitivamente das nossas atitudes.
Eloi Pires Ferreira / Diretor de Cinema


O livro “Polaco – Identidade Cultural do Brasileiro descendente de imigrantes da Polônia”, de autoria de Ulisses Iarochinski está sendo lançado nesta quarta-feira, 24 de novembro, às 19:30 horas, no Centro Paranaense Feminino de Cultura, Rua Visconde do Rio Branco, nº. 1717.
O livro é a tradução do original polaco “Tożsamość kulturowa Brazylijczyków polskiego pochodzenia: Polaco czy Polonês?”, defendido como dissertação de Mestrado em Ciências da Cultura Internacional, na Universidade Iaguielônica de Cracóvia, na Polônia.