segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Busca demorada pelas origens

Muitos leitores do blog e também de meu site "Saga dos Polacos" entram em contato querendo saber sobre buscas de documentos de ascendentes nascidos na Polônia. O desejo, quase unânime de todos, é solicitar a cidadania polaca, para com esta, ter a possibilidade de um passaporte polaco, que em última instância facilitaria uma residência em algum país europeu e não necessariamente na Polônia. Vou contar aqui um pouco da minha experiênciua pessoal na busca de documentos na Polônia. Creio que serve de informação e de alerta a todos quantos estão neste caminho de buscas.
  1. Antes de qualquer coisa é preciso dizer que os consulados da Polônia no Brasil só recebem pedidos de cidadania se todos os documentos exigidos estiverem em ordem e corretos.
  2. Para tanto é necessário, entre outras coisas, um documento (com fotocópia autenticada) do original em polaco sobre o ancestral nascido na Polônia. Ou seja, este documento pode ser, ou o registro de nascimento, ou a certidão de casamento, ou o certificado militar, ou ainda o passaporte.
  3. Muitas vezes, estes documentos estão no idioma da nação invasora da Polônia, ou seja, pode estar escrito em alemão, russo, ou mesmo, latim. Então é necessário traduzir aquele assentamento encontrado em livros de arquivos, igrejas ou cartórios, em oficial juramentado, para o idioma polaco.
  4. Atenção: certidão de casamento entre polacos, expedida por autoridade Brasileira, não vale. É necessário que o registro de nascimento do ancestral tenha sido expedido por autoridade polaca.
  5. Com os modelos de cartas que disponibiliza o site "Saga dos Polacos" é possível solicitar estes documentos diretamente a um Cartório na Polônia. A probabilidade de resposta é quase nula, pois...
  6. Fiz esta tentativa. Na época nada consegui, pois não sabia que a grafia correta de Iarochinski, em polaco era Jarosiński. Mais tarde consegui com uma prima em Castro, uma tradução do passaporte do meu bisavô Piotr Jarosiński. A tradução foi feita, em 1956, por um tradutor de idioma alemão, de Curitiba. Ocorre que o passaporte estava em russo. e o tradutor só sabia alemão. Assim, fez um trabalho muito mal feito. Os nomes das cidades simplesmente não correspondem aos nomes das cidades no mapa da Polônia atual.
  7. Indo ao Arquivo Nacional no Rio de Janeiro, localizei uma ficha de tia Maria, irmã de meu avô Bolesław Jarosiński. Era uma ficha da Polícia Federal, de 1941, onde Tia Maria solicitava uma carteira de identidade de estrangeiro. Pelo jeito, meus Iarochinski nunca se naturalizaram, a não ser esta tia-avó. Pois não encontrei nenhuma outra solicitação parecida dos demais parentes, tampouco a de meu avô. Naquela ficha consegui, pela primeira vez, localizar o nome de uma cidade na Polônia, que poderia ser a origem de meus ancestrais. Em todos os documentos que havia conseguido localizar nos cartórios do Paraná, apenas era escrito: “naturais da Polônia”.
  8. Finalmente na Polônia, fui até a cidade que estava apontada naquela ficha. Tratava-se de Łuków (pronuncia-se: uucuv). Nesta cidade encontrei um primo Jaroszyński (observe a grafia). A esposa dele, Elżbieta, ajudou-me bastante. Com ela, fui ao arquivo da Igreja, da prefeitura, da biblioteca, da polícia....Mas infelizmente, não encontramos nada.
  9. Contudo, portava aquela tradução do passaporte de meu bisavô. Um funcionário da prefeitura local, ao analizar o documento, descobriu o mistério.
  10. O tradutor alemão de Curitiba tinha traduzido o nome da vila, da paróquia e da cidade grande mais próxima da forma mais errada possível. Entretanto, um daqueles nomes parecia ter sentido e era justamente o de Lukow. Pudemos entender então, que a Vila Gerchanov, que estava na tradução do passaporte, era Hermanów. E havia na região, um distrito com esta denominação. A localidade estava distante dali uns 25 km.
  11. O funcionário alertou que, talvez, os documentos estivessem numa outra localidade distante 18 km. Aconselhou a passar primeiro em Wojcieszków (que o tradutor curitibano tinha colocado como Weitzeschovsk), pois era ali que poderia estar o cartório com os registros de Hermanów.
  12. No cartório de Wojcieszków, perguntei primeiro pelo registro da Tia Maria. Nova decepção: nada estava registrado com este nome. Pedi então pelo registro do avô Bolesław Jarosiński, o qual havia nascido em 1905.
  13. Qual não foi minha emoção quando o cartorário, mostrou-me, naquele livrão grande de 1905, todo escrito em russo antigo, o nome de meu avô. Chorei bastante de emoção.
  14. Perguntei então se era possível continuar procurando pelos outros irmãos de meu avô que nasceram na Polônia, ou seja, Wiktoria e Józef. Encontramos apenas o de Wiktoria.
  15. Acabamos por encontrar também, a certidão de casamento dos meus bisavôs Piotr e Anna. Pude então saber, quais eram os nomes dos meus trisavôs. Pelo lado de Piotr Jarosiński eram Jan Jarosiński e Wiktoria Jackowska e pelo lado de Anna Filip eram Antony Filip e Katarzyna Ognik.
  16. Aquela Vila Gerchanov, da tradução, na verdade era: Helenów - um bairro de Wojcieszków.
  17. Através da certidão de casamento soube que Piotr tinha nascido em outra região da Polônia. Piotr nasceu na vila de Poręby, Paróquia de Dobre, em Mińsk Mazowiecki.
  18. De posse daquelas segunda-vias originais, expedidas por aquele cartório na Polônia, voltei ao Brasil, decidido a fazer a solicitação de cidadania.
  19. Além dos documentos encontrados na Polônia, foi exigido o preenchimento de um formulário em polaco e o pagamento de taxas consulares.
  20. A solicitação foi então enviada pelo cônsul de Curitiba para o Mistério das Relações Exteriores da Polônia. O Ministério, por sua vez, encaminhou para o governo da região a solicitação para ser analisada.
  21. São os governos das voivodas (região, ou província) que analisam e decidem sobre a solicitação.
  22. Ainda estou aguardando a decisão.