A vitória do polaco Kubica (kubitssa) pode ter surpreendido a muitos, inclusive para aqueles que vivem seguindo o circo da Fórmula 1 pelos quatro cantos do mundo. Geralmente estes jornalistas e comentaristas só têm olhos e atenção para as grandes equipes. E estas há alguns anos se resumem a duas apenas: Ferrari e Mclaren. Com uma breve exceção causada pela Renault. Assim não importa muito quem são os pilotos. Pois senão vejamos, David Couthard que chegou neste Grande Prêmio do Canadá em terceiro, fazia muito tempo que não ganhava espaço na imprensa mundial. E isto não se deve ao fato de que seja bom, ou mal piloto, afinal já foi vice-campeão mundial. Ocorre que desde 2000 e tantos não é piloto da gigante Mclaren. Dessa forma seria exigir muito de colunistas e do público que semanalmente acompanha o campeonato através dos textos e reportagens destes "especialistas" que fazem uma cobertura quase sempre tendenciosa e equivocada do que ocorre nos bastidores, nos treinos, classificações e provas. Basta fazer uma leitura dos principais jornais do mundo e dos comentários dos leitores para perceber que tanto uns quanto outros não conseguem entender aquilo que a tela da televisão está mostrando e de forma quase automática, deixam-se guiar pelos que falam ou escrevem estes "especialistas" em Fórmula 1. Mas nem tudo está perdido! Prova disto é que o jornal El País, da Espanha, que patrioticamente incessa o asturiano Fernando Alonso destacou Manel Torres para entrevistar às vésperas do Grande Prêmio do Canadá o piloto da Polônia, ROBERT KUBICA. A seguir a tradução (informal) desta entrevista publicada em idioma espanhol na edição desta segunda-feira, 09 de junho. Reproduzo esta, por que não encontrei nenhuma outra nos jornais brasileiros pela Internet e tampouco em ornais de outros países.
Inicialmente o jornal traz um texto de apresentação da entrevista exclusiva dizendo que, "A vida mudou para Robert Kubica. Após uma brilhante carreira nos Karts, em que frequentemente superava Lewis Hamilton e Nico Rosberg, e logo em em seguida ser recuperado para o automobilismo por Joan Villadelprat, que lhe deu um volante para a World Series em Epsilon Euskadi, o polaco, de 23 anos (Cracóvia, 7 de dezembro de 1984), se converteu em um dos personagens mais carismáticos do Campeonato do Mundo de Fórmula 1 e ontem, no Grande Prêmio do Canadá, conquistou sua primeira vitória. Em sua terceira temporada com a BMW, a qual também ganhou sua primeira corrida desde que estreou em 2006, Kubica subiu quatro vezes ao pódio e já é o líder, com 42 pontos, á frente do britânico Lewis Hamilton (McLaren Mercedes) e do brasileiro Felipe Massa (Ferrari), ambos com 38. Esta entrevista foi realizada antes de sua vitoriosa corrida de ontem."
Foto: Agência AFP
Torres - O que mudou tanto para que você consiga estes resultados? O carro, ou você?
Kubica - O carro é o mesmo do anos passado. Meu problema era que não conseguia colocá-lo no ponto e não podia tirar o máximo dele. Esta temporada mudei de engenheiro (o espanhol Antonio Cuquerella assumiu o posto), fizemos algumas modificações e tudo acabou funcionando muito melhor.
T - Você já se sente o primeiro piloto da equipe?
R - Não creio que o seja, nem tenho necessidade de o ser. O único que me importa é fazer bem meu trabalho, correr tudo o que possa e tratar de melhorar a cada dia. No final, isso é o que conta: mantener-se concentrado em seu trabalho para poder ganhar corridas.
T - Fernando Alonso sempre te elogia. Assegura que, da nova generação, você é o melhor. E ainda acrescenta que você já ganhava de Hamilton e Rosberg quando vocês competiam com karts.
K - Sou muito amigo do Fernando e gosto que ele diga isso. Eu o aprecio muito como piloto e também como pessoa. E sei que quando ele diz algo é porque pensa realmente nisso. Não é alguém que se prenda a imagem, a mercadotécnica, ou simplemente, para ficar bem. Se um bicampeão mundial afirma isso sobre mim, é para sentir-me satisfeito.
T - Vocês mantém uma boa relação, não é mesmo?
K - Sim. Jogamos baralho muitas vezes e ele é o único piloto do paddock com quem me encontro, inclusive fora das corridas para ir jantar ou para conversar. Embora, quase nunca falamos sobre Fórmula 1 em si mesma.
T - Pode-se ter amigos no paddock?
K - É difícil porque cruzas com muita gente que dá muito mais valor a competição do que ao aspecto humano. Sinto-me bem com Fernando e o considero um amigo. Evidentemente, cumprimento e trato de me dar bem com todo mundo. Mas só com ele mantenho contato fora dos circuitos.
T - Na pista, a rivalidade é notória.
K - Não só com ele, mas com todos os demais. Contudo acredito que ele é um destes pilotos que pode fazer diferença. Tenho muito respeito e creio que ele também tem em relação a mim. Quando vejo vir por trás, tanto nos treinos de classificação como nas provas, tento estar muito atento porque sei que, se me descuido, ele me ultrapassará.
T - Você gostaria de ter Alonso em 2009 como companheiro na equipe BMW?
K - Para mim, não haveria nenhum problema. Gostaria. Não sei o que nos oferece o futuro. Mas se viermos a compartilhar a mesma equipe BMW, poderemos nosdivertir muito.
T - Atualmente, a Renault anda atrás da BMW e tua escuderia não consegue alcançar a Ferrari.
K - Começamos muito bem a temporada e em Barcelona parecia que tinhamos um ritmo muito semelhante ao da McLaren. Contudo na Turquia algo falhou e a McLaren se distanciou de nós e se aproximou bastante da Ferrari. Acredito que recuperamos o terreno com algumas modificações na embreagem. Mas o que não se pode mover é que a Ferrari sempre está três ou quatro décimos à frente de todos.
T - Você acredita que a Renault pode prejudicarlhes depois da melhoria de Barcelona?
K - É uma escuderia que ganhou dois títulos mundias com o Alonso. Melhoraram muito no que diz respeito ao início da temporada e penso que mais tarde, ou mais cedo vão conseguir chegar.
T - A mudança de pneus Michelin para os da Bridgestone costou tanto para você como para o Alonso. Os dois tiveram que mudar a forma de conduzir. Também te afetou a perda do controle de tração?
K - Não tanto. A mudança maior fiz ano passado com a exigência de apenas um jogo de pneus Bridgestone. Estava acostumado a pilotar com Michelin. Ao Fernando acontecia o mesmo. Éramos rápidos na trajetória. Buscávamos o ângulo e logo girávamos e com Bridgestone isso era impossível. Tivemos que nos acostumar a fazer a manobra de modo mais suave. Agora, sem o controle de tração, a diferença é mínima: mas é necessário ser ainda mais suave.
T - De volta ao Canadá, como você se lembra do acidente que sofreu em Montreal (o bólido foi atirado vários metros virado de cabeça pra baixo e com o cock-pit roçando o muro de proteção indo se chocar a 230 km/h) ano passado?
K - Lembro-me de tudo. E constato que quando alguém entra num monobloco já se sabe que está correndo riscos. Em Montreal foi comigo. Mas, felizmente, a segurança dos pilotos melhorou de forma substancial nos últimos dez anos. Em momento algum tive a sensação de que havia sido tão impactante. De fora, visto pela televisão, pareceu impresionante. Mas eu não vivi da mesma forma. Enquanto ocorria o acidente, eu não podia facer nada. E depois, quando o carro parou, mexi todas as pontas do corpo para comprovar que não tinha quebrado nada e fiquei trânqüilo. Recuperei a calma e pensei que, apesar de tudo, não tinha acontecido nada comigo.
T - Voltar a Montreal te refrescou a memória?
K - Não. Em todo caso, o acidente voltou a minha cabeça quando voltei a competir duas corridas depois daquilo. E não me afetou em nada. Em Magny Cours, inclusive, fiquei surpreso porque não pensei nele em nenhum momento. Sou consciente do que me aconteceu, mas não teve nenhuma repercussão no meu modo de dirigir.
T - Sua chegada a Fórmula 1 produziu uma grande explosão na Polônia?
K - Sim. Há apenas quatro anos, a Fórmula 1 era totalmente desconhecida em meu país. Nem se podia ver os grandes prêmios pela televisaõ. Este ano o interesse cresceu ainda mais em função dos meus resultados. E tudo isto despertou um movimento em direção a este esporte. Existem muitas crianças agora querendo pilotar. Mas são poucos os recursos e mínimas possibilidades de dessenvolvimento. Nos falta ainda muita cultura automobilística.
T - Como se vive com fama?
K - É difícil. Gostaria de ter mais tempo para mim mesmo, não sofrer o assédio das pessoas que me perseguem pedindo coisas. Mas entendo que ser um piloto de Fórmula 1 também significa tudo isto.
Kubica - O carro é o mesmo do anos passado. Meu problema era que não conseguia colocá-lo no ponto e não podia tirar o máximo dele. Esta temporada mudei de engenheiro (o espanhol Antonio Cuquerella assumiu o posto), fizemos algumas modificações e tudo acabou funcionando muito melhor.
T - Você já se sente o primeiro piloto da equipe?
R - Não creio que o seja, nem tenho necessidade de o ser. O único que me importa é fazer bem meu trabalho, correr tudo o que possa e tratar de melhorar a cada dia. No final, isso é o que conta: mantener-se concentrado em seu trabalho para poder ganhar corridas.
T - Fernando Alonso sempre te elogia. Assegura que, da nova generação, você é o melhor. E ainda acrescenta que você já ganhava de Hamilton e Rosberg quando vocês competiam com karts.
K - Sou muito amigo do Fernando e gosto que ele diga isso. Eu o aprecio muito como piloto e também como pessoa. E sei que quando ele diz algo é porque pensa realmente nisso. Não é alguém que se prenda a imagem, a mercadotécnica, ou simplemente, para ficar bem. Se um bicampeão mundial afirma isso sobre mim, é para sentir-me satisfeito.
T - Vocês mantém uma boa relação, não é mesmo?
K - Sim. Jogamos baralho muitas vezes e ele é o único piloto do paddock com quem me encontro, inclusive fora das corridas para ir jantar ou para conversar. Embora, quase nunca falamos sobre Fórmula 1 em si mesma.
T - Pode-se ter amigos no paddock?
K - É difícil porque cruzas com muita gente que dá muito mais valor a competição do que ao aspecto humano. Sinto-me bem com Fernando e o considero um amigo. Evidentemente, cumprimento e trato de me dar bem com todo mundo. Mas só com ele mantenho contato fora dos circuitos.
T - Na pista, a rivalidade é notória.
K - Não só com ele, mas com todos os demais. Contudo acredito que ele é um destes pilotos que pode fazer diferença. Tenho muito respeito e creio que ele também tem em relação a mim. Quando vejo vir por trás, tanto nos treinos de classificação como nas provas, tento estar muito atento porque sei que, se me descuido, ele me ultrapassará.
T - Você gostaria de ter Alonso em 2009 como companheiro na equipe BMW?
K - Para mim, não haveria nenhum problema. Gostaria. Não sei o que nos oferece o futuro. Mas se viermos a compartilhar a mesma equipe BMW, poderemos nosdivertir muito.
T - Atualmente, a Renault anda atrás da BMW e tua escuderia não consegue alcançar a Ferrari.
K - Começamos muito bem a temporada e em Barcelona parecia que tinhamos um ritmo muito semelhante ao da McLaren. Contudo na Turquia algo falhou e a McLaren se distanciou de nós e se aproximou bastante da Ferrari. Acredito que recuperamos o terreno com algumas modificações na embreagem. Mas o que não se pode mover é que a Ferrari sempre está três ou quatro décimos à frente de todos.
T - Você acredita que a Renault pode prejudicarlhes depois da melhoria de Barcelona?
K - É uma escuderia que ganhou dois títulos mundias com o Alonso. Melhoraram muito no que diz respeito ao início da temporada e penso que mais tarde, ou mais cedo vão conseguir chegar.
T - A mudança de pneus Michelin para os da Bridgestone costou tanto para você como para o Alonso. Os dois tiveram que mudar a forma de conduzir. Também te afetou a perda do controle de tração?
K - Não tanto. A mudança maior fiz ano passado com a exigência de apenas um jogo de pneus Bridgestone. Estava acostumado a pilotar com Michelin. Ao Fernando acontecia o mesmo. Éramos rápidos na trajetória. Buscávamos o ângulo e logo girávamos e com Bridgestone isso era impossível. Tivemos que nos acostumar a fazer a manobra de modo mais suave. Agora, sem o controle de tração, a diferença é mínima: mas é necessário ser ainda mais suave.
T - De volta ao Canadá, como você se lembra do acidente que sofreu em Montreal (o bólido foi atirado vários metros virado de cabeça pra baixo e com o cock-pit roçando o muro de proteção indo se chocar a 230 km/h) ano passado?
K - Lembro-me de tudo. E constato que quando alguém entra num monobloco já se sabe que está correndo riscos. Em Montreal foi comigo. Mas, felizmente, a segurança dos pilotos melhorou de forma substancial nos últimos dez anos. Em momento algum tive a sensação de que havia sido tão impactante. De fora, visto pela televisão, pareceu impresionante. Mas eu não vivi da mesma forma. Enquanto ocorria o acidente, eu não podia facer nada. E depois, quando o carro parou, mexi todas as pontas do corpo para comprovar que não tinha quebrado nada e fiquei trânqüilo. Recuperei a calma e pensei que, apesar de tudo, não tinha acontecido nada comigo.
T - Voltar a Montreal te refrescou a memória?
K - Não. Em todo caso, o acidente voltou a minha cabeça quando voltei a competir duas corridas depois daquilo. E não me afetou em nada. Em Magny Cours, inclusive, fiquei surpreso porque não pensei nele em nenhum momento. Sou consciente do que me aconteceu, mas não teve nenhuma repercussão no meu modo de dirigir.
T - Sua chegada a Fórmula 1 produziu uma grande explosão na Polônia?
K - Sim. Há apenas quatro anos, a Fórmula 1 era totalmente desconhecida em meu país. Nem se podia ver os grandes prêmios pela televisaõ. Este ano o interesse cresceu ainda mais em função dos meus resultados. E tudo isto despertou um movimento em direção a este esporte. Existem muitas crianças agora querendo pilotar. Mas são poucos os recursos e mínimas possibilidades de dessenvolvimento. Nos falta ainda muita cultura automobilística.
T - Como se vive com fama?
K - É difícil. Gostaria de ter mais tempo para mim mesmo, não sofrer o assédio das pessoas que me perseguem pedindo coisas. Mas entendo que ser um piloto de Fórmula 1 também significa tudo isto.