quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Marceneiro pessimista – um Kieślowski menos conhecido


Krzysztof Kieślowski - Foto: Wojciech Druszcz / Reporter / East News

De seus sonhos de menino que desejava se tornar um foguista de trens, para seu encontro com a mulher que amava e sua paixão por estações de trem, aqui estão fatos menos conhecidos sobre Krzysztof Kieślowski.


Em movimento

Ele passou a infância em malas de viagem. Sua família estava constantemente em movimento, sempre de uma cidade para outra. Seu pai sofria de tuberculose, assim, sua família mudava-se para lugares onde ele poderia ser cuidado: sanatórios, locais com clima melhor, cidades sem paisagem industrial. Uma das paradas foi no balneário polaco de Sokołowsko. Em sua homenagem, a pequena aldeia nos Sudetos, conhecida como a Davos Silesiana (em referência a Davos da Suíça), hospeda o Festival Hommage à Kieślowski.



Casa em Sokołowsko, onde morou a família Kieślowski.

Foguista - bombeiro

"Para dizer a verdade, eu nunca quis ir para a escola ", admite o cineasta Krzysztof Kieślowski: Sou mais ou menos. "Eu queria ser foguista. Nas casas em que vivi não havia aquecimento central , você tinha que se aquecer nos fornos. Eu tinha um amigo chamado Skowron que já era foguista, e eu pensei que era a melhor coisa que se podia fazer na vida. Meus pais não compartilhavam do meu entusiasmo, então eles tentaram me colocar na escola, qualquer tipo de escola. Papai me enviou para uma escola de bombeiros, uma jogada muito inteligente da parte dele [ ...] porque lá eu entenderia que definitivamente eu iria querer ser um bombeiro. Provavelmente, se meu pai tivesse tentado me deixar em torno do forno, eu poderia entender rapidamente que eu não queria ser um foguista".


Nas coxias do teatro

Ele não se tornou bombeiro, nem foguista. Seus pais o mandaram para Varsóvia, onde ele pode ir para uma escola de ensino técnico para futuros trabalhadores teatrais. Seu tio era o vice-diretor da escola, o que ajudou a garantir um lugar para Krzysztof. Pouco tempo depois, sua irmã se juntou a ele, na mesma escola. Ele olha para trás,

"a escola era fantástica. Mostrou-me que havia mais na vida do que apenas produzir coisas que se destinam a ser utilizadas [ ...] , que existe uma esfera diferente de vida, uma que dá um tipo diferente de combustível. Pode-se arrogantemente dizer que é o alimento para a alma e a mente."

Ele queria trabalhar no teatro, mas ele não queria ser pintor, nem camareiro, mas um diretor. Contudo, se quisesse ficar estudando na escola teatral, ele precisaria ter um diploma de outra escola superior.


Fazedor de filme

Kieślowski no episódio estudantil no filme, "Don Gabriel" de Ewa e Czesław Petelskich -  Foto Fototeka.Filmoteki Narodowej
"Eu pensei que embora devesse terminar os estudos, porque eu precisava estudar história , letras, ou sociologia, se queria de imediato ir na direção certa, ou seja, um curso que tivesse quase um mesmo nome: Direção Teatral. Pensei que, se eu queria me formar em Direção de Cinema, seria muito importante eu saber algo sobre Direção teatral, então poderei ver [ ...] Era para ser uma etapa, não meta." 


No entanto, ele não entrou na escola. Não pulou o muro para ser cineasta. Ele foi reprovado duas vezes no exame de admissão.

"Mas eu era muito teimoso [ ...] Já que os filhos da puta não me querem, vou mostrar-lhes que eu entro de qualquer jeito". Recordava depois de anos - Quando, após a terceira tentativa, finalmente ele conseguiu, na saída do local do exame, deu uma cambalhota no gramado em frente ao prédio, jogou os óculos no chão e quebrou-os com os sapatos.



As mulheres

Fotograma do filme "Trzy kolory. Niebieski",  direção de Krzysztof Kieślowski, na foto Juliette Binoche - Foto  MK2/CED/FRANCE 3/East News
Teve muita sorte. Os colegas de Liceu tinham ciúmes, sempre que ele trocava de namoradas. Tudo mudou na universidade. Certo dia, ele e um colega tiveram um duplo encontro. Kieślowski deveria se encontrar com uma garota que ele já gostava e era para ela para trazer uma amiga. Mas durante o encontro, tudo mudou. Maria Cautillo, a moça trazida para entreter o colega, foi a que chamou a atenção de Kieślowski. Depois de duas semanas, ele propôs casamento. Maria Kieślowska foi sua esposa até que a sua morte.


Após o sucesso do filme "Krótkiego filmu o miłości" (Filme curto sobre amor), e depois dos filmes “Trzy kolory: Biały (Três Cores: Branco), atrizes de todo o mundo sonharam atuar em seus filmes. Catherine Denevue queria trabalhar sem receber cachê, apenas para poder atuar em “Trzy Kolory: Niebieski” (Três Cores: Azul).
E entre aquelas que se orgulhavam de ter se fascinado pelo cinema de Kieślowski estava Nicole Kidman.


Kieślowski-ator

Kieślowski como guerrilheiro em "Stawce większej niż życie" de Janusz Morgenstern - Foto Fototeka Filmoteki Narodowej
Quando começou a estudar na Escola Superior de Cinema de Łódź (pronuncia-se uudji e não lóds), ele não apenas fez assistência a outros diretores, mas criou seus próprios filmes curtos. De vez em quando ele ficava na frente da câmera para atuar em episódios.

Em seu próprio “Koncert życzeń” (Concerto dos Desejos), ele interpretou um ciclista pastoreando uma vaca, no filme de Ewa e Czesław Petelski, “Don Gabriel”, ele foi um soldado.
Sua carreira de ator terminou com um papel em um episódio de “Przepraszam, czy tu Biją? (Desculpe-me, aqui brigam) de Marek Piwowski.



Documentário - O mundo em uma gota de água

Na Escola de Cinema teve três deuses: Bresson, Bergman, Karabasz – tal qual aparecia esta tríade. O mais próximo a ele foi Karabasz, professor na Escola de Cinema de Łódź, eminente documentarista e pedagogo.

Durante a exposição, "Krzysztof Kieslowski. Traços e Memória", em um Cinema de Paris - MK2 Bibliothèque, foram mostradas fotografias tiradas pelo diretor enquanto estudava na Escola de Cinema de Łódź nas "fotografias da cidade".  Exposição retrospectiva que acompanhava os criadores de cinema aconteceu de 29 de agosto a final de setembro de 2012.
Ele ensinou Kieślowski que, a fim de ser capaz de fazer filmes, você tem que ter o seu próprio mundo para contar. O mundo ao redor era muito triste – recordou Kieślowski no documentário de Krzysztof Wierzbicki - o mesmo não era preto e branco, apenas preto. Talvez cinza. Isso está ligado ao local onde a Escola de Cinema está localizada, ou seja, Łódź.
A cidade é incrivelmente fotogênica, suja, arranhada. Assim é toda a cidade, então, em algum sentido - o mundo todo. O rosto das pessoas eram iguais aos muros e paredes da cidade - cansado, triste, com algum tipo de drama em seus olhos, o drama de sentir o absurdo, o sentimento rastejando, o que resulta em nada.

"Em documentários ele descreveu esses micromundos comunistas, mostrando pessoas comuns em suas vidas ordinárias. Aqueles eram mundos em gotas de água. “Szkoła podstawowa” (Escola Primária) , “Szpital” (Hospital) , “Fabryka” (Fábrica), Urząd (Órgão Público) - a partir desses pequenos pedaços de realidade Kieślowski montou a imagem verdadeira do mundo da República Popular da Polônia."



"Cartas ao Poder"

Após a Escola Superior de Cinema, ele começou a trabalhar para o “Wytwórnia Filmów Dokumentalnych na Chełmskiej” (Estúdio de Filme Documentário na rua Chełmska”, em Varsóvia. Ali realizou a “Kroniki Filmowe” (Crônicas fílmicas). Este foi o lugar onde ele conheceu Jacek Petrycki, um jovem cinegrafista, que mais tarde se tornaria seu colaborador mais próximo. Embora, ele mesmo nunca tivesse se envolvido na política diretamente, descreveu a realidade, revelou as mentiras do sistema comunista. Essas foram “cartas ao Poder" – disse Tomasz Zygadło sobre seus filmes.

Kieślowski constantemente equilibrado sobre a fronteira entre o que as autoridades permitiam, e o que era censurado. “Estávamos com medo de cair em desgraça e caímos o tempo todo." – lembrou ele anos mais tarde.

"Você fez do cara um cretino bom"- Fim dos Documentários


Um documentário fundamental em seu trabalho foi “Z punktu widzenia nocnego Portiera” (do ponto de vista do porteiro da noite). Nele capturou o totalitarismo em miniatura. A história de um porteiro, que deleita-se na glória de seu "poder", era uma acusação aberta à um sistema que desmoraliza a pessoa.
Kieślowski se tornou amigo de seu protagonista e anos mais tarde lançou-o em partes episódicas em vários papéis pequenos. "Bem, você fez do cara um cretino bom" – disse Agnieszka Holland sobre Kieślowski quando o filme foi exibido no Festival de Cinema de Cracóvia.

Olhando para o comportamento do protagonista, o público estourava em risadas de vez em quando, e Kieślowski afundava-se mais e mais em sua poltrona. Seu filme não tinha sido feito para ser uma comédia . "Eu acho que é onde tudo começou - ele parou de fazer os documentários que queria" – comentou o ator Jerzy Stuhr sobre os acontecimentos daquela noite. Ele próprio contou sobre sua decisão de deixar o cinema documentário:

“Por dez anos eu fiz documentários. Eu amei o gênero e foi com pena e vergonha que eu abandonei isso, eu me senti como um ser humano que está fugindo de um navio afundando em vez de salvá-lo ou ir para baixo com ele com honra. O documentário afundou. Ele desapareceu com a falta de interesse geral.”

Marceneiro


Gostava de fazer peças de marcenaria. Seus colegas dizem que em todos seus momentos livres, quando não estava preocupado com suas “namoradas", ele gastava o tempo em lojas a procura de parafusos, rolamentos de motocicleta, ferramentas.
"Graças a ele, todos seus amigos conheceram lojas de autopeças em Varsóvia", disse Janusz Skalski, um velho amigo de Kieślowski.
Relembrando sobre o talento do diretor, Krzysztof Piesiewicz (roteirista, advogado, senador), amigo e sócio disse:




"Ele sabia como desmontar e montar um relógio. Desmontar e montar uma motocicleta. Desmontar um motor e colocá-lo novamente para funcionar. Quando eu tinha algum tipo de trabalho de casa para ser feito, ele chegava com sua caixa de ferramentas e já ia ajustando todos os parafusos, porcas, lustres, ele arrumava todas as fechaduras das portas."

Seus amigos ficavam felizes com a ajuda de Kieślowski nos pequenos trabalhos caseiros. Sławomir Idziak até brincou: "Muitas pessoas tinham uma estratégia quando se tratava da prontidão de Kieślowski para consertar coisas, eles começavam a mexer no carro na sua presença sabendo em um momento qualquer, Krzysztof diria a eles para se afastar e consertava o que era necessário".

Carpintaria era seu hobby. "Eu gosto de trabalhar com madeira", disse ele no documentário de Krzysztof Wierzbicki . "Infelizmente eu não tenho talento para isso. Eu provavelmente já fiz mais de cem coisas de madeira, coisas úteis, simples que requerem ângulos retos. E eu ainda não consegui fazer um único ângulo reto".

Estações Ferroviárias

Fotograma do filme "Przypadek". Bogusław Linda -  Foto: Filmoteka Narodowa / www.fototeka.fn.org.pl
Elas apareceram na maioria de seus filmes. Os protagonistas constantemente se despedem em saudações nas plataformas das estações, este é o lugar onde o destino de alguns deles foi decidido: o futuro para alguns e liberdade, ao som da partida trens, para os outros. Quando jovem, ele viajou muito pela Polônia e classificou os melhores bares de estação ferroviária. Ele sabia onde você podia encontrar os melhores “schnitzels” e em quais restaurantes tinha as costeletas de carne picada (kotlety mielone).

Na cena de  "Przypadku" comTadeusz Łomnicki e Bogusław Linda - Foto; Romuald Pieńkowski
 / Fototeka Filmoteki Narodowej
Mas em um certo momento as estações de trem, tornaram-se sua maldição. No programa de TV “100 pytań do” (100 Perguntas Para) ... , disse ele: “Eu gosto de viajar de trem [ ...] Mas, horrível, não gosto de fazer fotos nas estações de trem, não gosto de cenas com animais e crianças. Enquanto isso, ultimamente, o que quer que faça com Piesiewicz sempre há uma estação, um trem, crianças e animais.”

Sedução Partidária

Quando ele filmou “Robotnicy 71” ( Trabalhadores 71), o triste retrato coletivo da classe trabalhadora, os membros do partido comunista decidiram que a obra não estava apta a ser mostrada para o grande público, mas, por outro lado, mostrava Kieślowki interessado na política. Ele, então, deveria ser orientado politicamente e queriam dar-lhe uma formação no modelo comunista. Em vão.

“Życiorys” (Currículo) é um filme feito em parte a pedido do partido. Tadeusz Sobolewski, crítico e conhecedor da obra de Kieślowski, comentou: “Ele fez o filme a quatro mãos junto com os líderes comunistas, os quais contavam usá-lo, uma vez pronto, com objetivos de propaganda. Mas o filme de Kieślowski foi absolutamente outra coisa. Porque Kieślowski todo tempo retratava seu modo de fazer as coisas - ele não renegava sua independência, e nem se deixava ser levado pela pressão da oposição, que na época atingiu uma grande parte das pessoas à sua volta.” 

"Lágrimas do bardo do Partido"

Quando ele faleceu, as pessoas do mundo cinematográfico teceram elogios intermináveis a seu respeito. Mas ele, nem sempre foi bem compreendido por seu meio. Seus amigos ironicamente o chamava de " Lágrimas do bardo do Partido", lembrou Agnieszka Holland. Tinham sobre ele a ideia de que "colaborava" com o sistema, que ele se recusava a aceitar numa carta de protesto , onde assinava que não fazia filmes sobre o Solidarność, mas somente sobre pessoas que desejam um pouco de estabilidade: casa, família e o suficiente para viver.

Com Jerzy Nowaki na cena de "Amatora" -  Foto: Romuald Pieńkowski/ Fototeka Filmoteki Narodowej
Lá, onde eles esperavam uma narração preto e branco, ele via ambiguidade. Em uma das cenas de “Amatora”(Amador), ele deu razão aos comunistas, no que ele foi criticado pelo meio cinematográfico. Quando em “Bez Końca” (Sem fim), o advogado interpretado por Aleksander Bardini convenceu um membro da oposição a abandonar a rebelião vazia contra o regime e salvar a sua liberdade, Kieślowski foi atacada por todos os lados: pela oposição, pelas pessoas do seu meio profissional, pela Igreja e pelos comunistas, que não apreciaram o significado geral do filme. Mesmo alguns de seus amigos pararam de lhe dar a mão.

Política

No cenário de  "Krótki film o zabijaniu", 1987.  Krzysztof Kieślowski - Foto: Filmoteka Narodowa/www.fototeka.fn.org.pl
Interessavam-lhe retratar pessoas comuns, e não os grandes da política. Ele não tentava dizer quem estava certo e quem estava errado. Como diretor, ele tentou ser como o anjo do “Dekalog” (Decálogo), - Observador cheio de empatia e compreensão. Mas da política, nada lhe escapava. Ele falou sobre isso, a seu próprio modo, evitando diagnósticos fáceis e fervor revolucionário.
Quando ele estava começando o “Decálogo”, não conseguia encontrar um cinegrafista, porque todo mundo ao redor alegava que após os acontecimentos de 13 de Dezembro, as pessoas só deveriam fazer filmes sobre Solidariedade, o comunismo e imprensa clandestina.

No entanto, os acontecimentos políticos influenciaram seus filmes. “Przypadek” (Casualidade) e “Krótki dzień pracy” (Dia curto do Trabalho) foram sua reação ao fenômeno do Solidariedade , “Bez Końca” (Sem fim) – era uma resposta à imposição da lei marcial . A morte do protagonista interpretado por Jerzy Radziwiłowicz, do memorável “Człowiek z marmuru” (O Homem de Mármore) do filme de Andrzej Wajda, era a morte simbólica de um determinado pensamento.

Moscou, 1979. Krzysztof Kieślowski (terceiro a partir da esquerda), no Kremlin,  brinda com os amigos com o sucesso de seu filme "Amador". Entre os convidados Wojciech Marczewski, Krzysztof Mętrak - Foto de Jerzy Kosnik / Fórum
Após a Lei Marcial, ele disse que já não estava interessado em filmar. Talvez, porque a lente da câmara, seria como apontar uma metralhadora, e ela sozinha iria ser tratada como arma na luta: "se uma metralhadora poderia ser colocado na lente da câmera e ela poderia ser usada como uma arma na luta armada. Ao mesmo tempo, ele se recusava a assinar cartas de protesto." 

“Política é atroz. A única coisa que me interessa é ter papel higiênico para quando eu for ao banheiro”. Disse a seu aluno Andreas Veiel.
 

Mundo invisível, ou um elefante em Głupczyce

Fotograma do filme "Duże zwierzę" de Jerzy Stuhr segundo roteiro de Krzysztof Kieślowski
“Quando eu tinha seis anos, eu vi um elefante na rua. Eu tenho certeza que eu o vi. Mais tarde me explicaram que isso era impossível, que eu não vi um elefante, porque onde haveria de ser ver um elefante no mercado em Głupczyce.”


Lembrou essa história, quando perguntaram a sobre a fonte do “misticismo" em seu cinema. Ele acreditava no segredos.
Ele estava angustiado com o fato de que o mundo sensível em que vivia não era tudo o que havia, de que existia algo além dele.
Esse sentimento de transcendência não foi o resultado da leitura das obras de filósofos ou descobertas cinematográficas, mas o acompanhou desde que era menino, um menino que viu um elefante no mercado de uma cidadezinha provincial.
Essa situação também deu origem à ideia do roteiro de “Dużego zwierzęcie” (Grande animal), o qual foi filmado depois de sua morte por Jerzy Stuhr.

Poster


Kieślowski escrupulosamente escolhia os autores de seus cartazes. Ele dava muita liberdade para aqueles em quem ele podia confiar.

No final dos anos 80 ele escreveu,

“Não importa quem faz o cartaz. Há alguns que eu confio - se ele fez o cartaz, eu tento conseguir o ingresso. Em outros eu não confio – Para mim tudo dá na mesma, o que eles gostam. Nesse sentido, o autor de um cartaz se torna um co-autor do filme. Por último dei lhe liberdade.” 


"Você faz cartazes, eu faço filmes, você não se mete com meus filmes, então por que eu deveria me meter com seus cartazes?" - Ele perguntou retoricamente a Pagowski, o criador regular dos cartazes da maioria dos seus filmes.












Ocidente

Krzysztof Kieślowski, Irene Jacob e Marin Karmitz na premiere do filme "Trzy kolory: Czerwony"
, Festiwal Cannes, 1994 - Foto: Jerzy Kośnik - Forum
Após o sucesso do “Decálogo”, foi regularmente convidado para os maiores eventos cinematográficos. Mas ele nunca se sentiu grande amor pelo Ocidente. “Onde quer que seja que eu estava no exterior”, ele costumava dizer:
“Eu sempre me sinto como um estranho e eu sempre me sinto mal. E para ser honesto, eu sempre quero voltar para casa o mais rápido possível”. Hollywood nunca o atraiu. “Na América, há algo que simplesmente não é para mim" - disse ele. Isto é conversa sobre nada e bom, decididamente bom, e mesmo de muito bom humor. Eu me encontro com meu agente americano e eu lhe pergunto: “como você está?”. Ele sempre diz: “muito bem”. Nunca pode ser “ok” ou “bem”. Tem que ser “extremamente bem”. Eu, por outro lado, não estou "extremamente bem”. E em geral eu não estou mesmo “bem”. Simplesmente: “estou mais ou menos”.

Pessimismo

Ele sempre viu o copo meio vazio. “Eu tenho um bom traço de caráter que consiste em me ser um pessimista” - disse ele em tom de brincadeira . “Eu sempre imagino o pior. O futuro é para mim um buraco negro. Se há algo que eu tenho medo, é o futuro."

Deus? Estímulo!


Ele raramente falava sobre suas próprias convicções religiosas. Quando, após a estreia de “Bez Końca” (Sem fim), Krzysztof Klopotowski num exame para um semanário católico escreveu, que Kieślowski não era católico e alertou o público para não se enganado por sua metafísica, ele se sentiu particularmente ofendido.
Anos mais tarde, ele transformou em piada, mas sempre se sentiu como uma pessoa que não pertencia à comunidade eclesiástica, aos dogmas e respostas simples a questões escatológicas.
Em meados dos anos noventa em uma entrevista para a televisão francesa, ele foi perguntado: "Se o senhor, criador do – Decálogo - morresse e fosse para o céu, o que achas que Deus iria dizer sobre isso?" Ele respondeu: "Porque se eu estivesse lá, eu teria que dizer: Acorda! Olhe o que está acontecendo!"

Transcrito de culture.pl
Autor: Bartosz Staszczyszyn,
traduzido por Ulisses Iarochinski 08.01.2014

Fontes:
- Krzysztof Kieślowski, "Autobiografia", coordenadora Datuna Stok, Kraków 2006 r.
- Stanisław Zawiśliński [redator], "O Krzysztofie Kieślowskim: refleksje, wspomnienia, opinie", Warszawa 1998 r.
- Stanisław Zawiśliński, "Kieślowski: ważne, żeby iść", Warszawa 2005 r. - Mikołaj Jazdon, "Dokumenty Kieślowskiego", Poznań 2002 r.
- “Krzysztof Kieślowski: I'm So-So", diretor Krzysztof Wierzbicki
- “Still alive. Film o Krzysztofie Kieślowskim", diretora Maria Zmarz-Koczanowicz