quinta-feira, 26 de julho de 2012

Um filho de Chełm vira livro no Brasil


“As catorze vidas de David — o menino que tinha nome de rei” é o título do livro que conta a história de David Lorber Rolnik, a partir de Chełm, cidadezinha natal no interior da Polônia, e viveu até os seus 19 anos. Quando o país foi ocupado pela Alemanha de Hitler e pela Rússia de Stalin, na Segunda Guerra Mundial, seguiu-se uma implacável perseguição aos judeus. Forçado a abandonar o lar e a família, sobreviveu a uma aktzia nazista — uma marcha mortal —, enfrentou perigos, fome, frio intenso, medo e até a morte que esteve à sua espreita muitas vezes. “Vivi o inferno e não sei como escapei”, contou anos depois, recordando aquele triste período.
O lançamento da obra será na Livraria Cultura do Shopping Curitiba, dia 9/8, às 19h. A história é contada pelos seus filhos Szyja e Blima Lorber, numa homenagem póstuma ao sobrevivente do Holocausto, reconstituindo momentos cruciais de sua vida ante a barbárie praticada pelos nazistas e também pelo comunismo de Stalin. Mostra como pessoas foram arrancadas de suas casas e de seus afazeres, maltratadas, aterrorizadas e executadas por seguir princípios religiosos, posições políticas e partidárias diversas que não se enquadravam nos padrões de uma pseudo “raça pura”. 

A narrativa biográfica também revela a personalidade do homem que não se abateu diante das desventuras enfrentadas na Europa e que atravessou meio mundo para reconstruir no Brasil seu lar e a família. 
Para a professora Maria Luiza Tucci Carneiro, da USP, e coordenadora do Arqshoah – LEER, Arquivo Virtual sobre Holocausto e Antissemitismo, autora do prefácio, as recordações dolorosas de David, são “como peças de um grande quebra-cabeça, que refletem uma difícil imposição do legado às futuras gerações — a reconstrução da memória”. 
“David respira para ganhar ar entre um e outro sufoco. Sua trajetória é singular por registrar cada uma das etapas que marcaram o avanço dos nacional-socialistas em direção ao Leste europeu. As suas lembranças ajudam-nos a investir contra as políticas do esquecimento interessadas em apagar vestígios, em assassinar a memória”, diz a professora Tucci Carneiro. 
Já a jornalista espanhola Pilar Rahola, que contribuiu com textos de apresentação, destaca que os relatos são uma aventura de dor e força, de perdas e reencontros, de morte e renascimento. “Sobrevivente da tentativa de extermínio e também dos gulags soviéticos, foi maltratado e teve a morte a persegui-lo, cercando-o e o ferindo ao longo da sua vida, levando brutalmente sua família e amigos, destruindo a memória do seu ancestral povoado polaco, assassinando a alma da vida judaica europeia, e cavalgando no dorso dos dois grandes totalitarismos do século XX: o nazismo e o stalinismo”, explica ela. 
Apesar dos fatos contundentes da guerra, o livro é também uma história de amor, a de David — o menino com nome de rei tantas vezes perseguido e destinado a sobreviver — pela jovem Małka. Após desencontros causados pela guerra e suas consequências, os dois puderam, finalmente, dar continuidade às suas vidas. “As catorze vidas de David” aponta como a bondade venceu a maldade e a memória superou o esquecimento, honrando milhões de pessoas que perderam suas vozes, suas vidas. Como diz Rahola: “Esta é uma história de luz sobre as trevas e de amor sobre o ódio. A história de um ser humano que, com seu testemunho, dignifica a humanidade inteira”. 
Serviço: Título: “As catorze vidas de David - O menino que tinha nome de rei” Autores: Blima R. Lorber e Szyja B. Lorber Editora: Sêfer, SP. 2012, 304 páginas. Lançamento: 9/8/2012 às 19h Local: Livraria Cultura/Shopping Curitiba Rua Brigadeiro Franco, 2300 Piso L3 / L4 Tel.: (41) 3941-0292

P.S. Tive a oportunidade de visitar a cidade de Chełm em busca de documentos para uma família de São Paulo. Conversei bastante com pessoas no cartório da cidade, na biblioteca municipal e também na prefeitura. Um secretário municipal quando me apresentei dizendo-me de Curitiba, chamou-me até a janela, atrás de sua escrivaninha, para mostrar um edifício no outro lado da rua. "Está vendo ali? Aquela casa onde está o Banco? Pois é propriedade de um senhor que imigrou muitos anos atrás. Ele retornou não faz tempo com sua filha. Ela também é jornalista como o senhor." Perguntei então pelo nome dos dois e ele soube me responder que era Rolnik (de agricultor). Como sempre conheci o Szyja pelo sobrenome Lorber.... não atinei na hora que podia ser o sr. David, pai do amigo. O polaco judeu, como o chamou aquele secretário de Chełm (pronuncia-se Réum) ainda é muito popular em sua cidade de nascimento, lá quase na fronteira com o atual território da Ucrânia. Parabéns Szyja e Blima pelo livro.