Ao começar a escrever o livro A Banda polaca - O humor do imigrante no Brasil Meridional - uma das minhas preocupações foi o adjetivo pátrio: polaco ou polonês? Este gentílico ainda é motivo de muita “briga de ripa” entre os imigrantes, por ter se transformado numa expressão pejorativa. Na língua polaca, é “polak”. No espanhol, é “polaco”. No italiano, é “polacco”. No inglês, é “polish”. No alemão, é “polnisch”. Em bom português, é “polaco”. Na língua francesa é onde encontramos “polonais”. Este galicismo foi sugestão do embaixador da França ao cônsul Gluchowisk, em 1927, como forma de substituir o polêmico “polaco”, usado para ofender os imigrantes e seus descendentes. No prefácio da Banda polaca, o jornalista e historiador paranaense Ulisses Iarochinski defende o uso do gentílico “polaco” e faz questão de assim ser chamado, com muito orgulho:
Creio que seja necessário saudar a ousadia de Dante Mendonça ao utilizar a palavra “polaco”. Desde já alerto que ele pode ter problemas com a comunidade “polonesa”, pois não foi uma nem duas vezes que meu trabalho sofreu censura. Justo pelo uso adequado do termo “polaco” na língua portuguesa. Utilizar “polaco” impediu, por exemplo, a publicação do artigo “A etnia polaca no Brasil”, de meu doutoramento na Universidade Jagiellonski de Cracóvia, em uma revista brasileira de estudos científicos. Não bastasse isso, reportagens produzidas por mim para jornais e televisão do Brasil tiveram, sem meu consentimento, mudados os registros do termo “polaco” para “polonês”.
O termo “polaco” sofre há pelo menos 85 anos campanha sistemática pela sua eliminação da língua falada no País. Alguns chegam a pregar sua total extinção dos dicionários e documentos. As gerações mais antigas simplesmente abominam o termo. Quando escrevia Saga dos polacos, publicado em 2001, o presidente de uma associação étnico-cultural do interior do Paraná interrompeu a entrevista quando ouviu o termo “polaco”. O homem, também descendente de imigrantes da Polônia, afirmou que não prosseguiria a conversa se continuasse a ouvir “polaco”. Ele se sentia terrivelmente agredido com a palavra. Perguntei o porquê da irritação. O polonês-paranaense respondeu que era um termo pejorativo.
- Por que, pejorativo?
- Não sei a razão! Meu pai sempre dizia que não aceitasse ser chamado assim, porque essa palavra era muito feia e que significava burrice e que na verdade estavam nos chamando de filho da puta. Agora chega. O senhor não pode sair por aí falando “polaco, polaco”!
Este incidente seria apenas o primeiro. Na fase de lançamento do livro por 25 cidades brasileiras, houve pelo menos outras três situações delicadas. Uma delas, inclusive, com agressão física. Irritado com o título do livro, um senhor chegou a me esmurrar duas vezes durante a seção de autógrafos.
Os estudiosos da etnia apontam que o preconceito contra a palavra “polaco” teria se iniciado na época da importação de prostitutas européias pelo Império Brasileiro. Como naquele momento a maioria das mulheres no Rio de Janeiro era de escravas africanas, o reino queria “branquear” a população. Como as importadas eram em sua maioria loiras como as “polacas” do Sul do Brasil, a população logo começou a qualificá-las de “polacas”. Num momento imediatamente posterior, a população carioca passou a denominar qualquer prostituta, fosse loira, preta, branca, amarela ou índia, com o termo “polaca”. (Ulisses Iarochinski).