Prof. Zbigniew Brzeziński |
"O Polaco enérgico com conhecimento das áreas potencialmente de maior risco seria uma escolha muito boa como novo secretário-geral da OTAN", declarou em uma entrevista para a Agência Governamental de Notícias - PAP, da Polônia, o professor Zbigniew Brzezinski.
Brzezinski foi conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos durante a presidência de Jimmy Carter, nos anos de 1977 a 1981, e no momento membro do Centro de Washington para Estudos Internacionais (CSIS).
Zbigniew Kazimierz Brzezinski nasceu em Varsóvia, em 28 de Março de 1928. Recebeu do governo da Polônia a condecoração de cavaleiro da Ordem da Águia Branca. Imigrou com os pais para Montreal, no Canadá, em 1938, onde seu pai exerceu o cargo de Cônsul Geral da Polônia.
Em 1953, defendeu tese de doutoramento em Ciências Políticas na Universidade de Harvard. Em 1958, obtêm cidadania Norte-americana...e desde então nunca mais deixou os Estados Unidos.
Conhecido por sua posição intervencionista em política externa, em uma época na qual o Partido Democrata tendia de modo crescente ao isolacionismo, sua política externa realista é considerada por alguns como a resposta Democrata ao realismo de Henry Kissinger, do Partido Republicano.
PAP: Como a admissão na OTAN em 1999, dos três primeiros países pós-comunistas Polônia, Hungria e República Checa mudou a ordem internacional?
Zbigniew Brzezinski: Simplificando, o alargamento da OTAN(Organização do Tratado do Atlântico Norte) acabou com a divisão da Europa. Se os antigos países comunistas da OTAN fossem excluídos, tudo o que aconteceu no final dos anos 80 e no início dos anos 90, eles estariam constantemente expostos ao perigo, e até mesmo - como mostram os recentes acontecimentos na Ucrânia - a uma ação hostil. Há um velho ditado americano: " Boas cercas fazem mais por melhores vizinhos. Adesão à OTAN é como uma cerca, para que, num relacionamento de longo prazo com uma superpotência agressiva, o que fica a leste, torna-se mais cordial.
PAP: Há 15 anos nos EUA, no entanto, existiam vozes contrárias que expressaram preocupação de que a expansão da OTAN iria piorar as relações com a Rússia. Como o senhor avalia isso hoje?
ZB: Sim, havia pessoas que expressam tais pontos de vista, mas eles eram muito míope. Como os eventos recentes, não só na Ucrânia, mas antes na Geórgia e é possível que, no futuro, na Ásia Central, tendo em conta as aspirações territoriais da Rússia sobre o Cazaquistão, a Rússia pode vir a ser muito agressiva.
PAP: Que papel nas negociações para a admissão na OTAN, desempenhou o caso do polaco coronel Ryszard Kuklinski e sua reabilitação na Polônia?
(obs. Kuklinski, foi um oficial do exército polaco que desde o início dos anos 70, tornou-se uma das mais valiosas fontes de inteligência dos EUA no bloco soviético. Ele foi condenado à revelia por traição pela Polônia Comunista e tornado herói pela Polônia democratizada).
ZB: Kuklinski foi importante para reforçar a segurança dos EUA, de modo que seria irônico se a América concordasse com a adesão da Polônia OTAN e ao mesmo tempo, a Polônia continuasse a demonizar e a punir Kuklinski. Era simplesmente uma questão de bom senso. Compreendo que o presidente Kwaśniewski e o primeiro-ministro Miller depois de várias conversas comigo "apertaram os dentes" e foram capazes de resolver esse problema.
PAP: Em junho o senhor escreveu no Twitter que "a Polônia, é o maior aliado da OTAN na Europa Central, e portanto, merece o cargo de Secretário-Geral da organização." Cinco anos atrás, um candidato para o cargo foi o ministro das Relações Exteriores Radosław Sikorski, mas reunidos na reunião de cúpula em Estrasburgo os líderes escolheram o dinamarquês Anders Fogh Rasmussen. Por que agora escolheriam um polaco?
Z.B: Eu não mudei de idéia. Talvez os acontecimentos das últimas semanas na Ucrânia sejam ainda a confirmação da minha opinião de que o enérgico e bem- informado ministro seja o Secretário-Geral da OTAN, com sensibilidade para os problemas dos potenciais de maior risco ele seria uma escolha muito boa. Mas se não for desta vez, então será o próximo.
PAP: O senhor aconselharia uma maior expansão da OTAN?
ZB: Na minha opinião, a adesão na OTAN não é um ato de caridade, mas um ato de garantia mútua pelo estado de prontidão em participar plenamente da Aliança e contribuir para a sua eficácia militar. Eu acho que os países, percebendo como ato de caridade, simplesmente enfraquecem a OTAN. Alguns países podem ser membros da União Europeia, sem ser membro da organização. Na verdade, esses países, se jogarem um papel positivo na UE, são indiretamente protegidos pela OTAN. O maior problema é, na minha opinião que estes países, sendo membros da União Europeia e da OTAN, em várias ocasiões se comportam na organização como um bloqueio potencial, usando a exigência de unanimidade nas decisões da Aliança.