segunda-feira, 26 de maio de 2014

Jaruzelski foi uma pessoa honrada e honesta


Uma pesquisa de opinião pública realizada pela CBOS, em dezembro de 2011, dizia que 44% avaliaram a decisão de impor a lei marcial pelo General Jaruzelski como legítima. Dez anos antes, em 2001, para a mesma pergunta 51% por cento pensavam assim também.
"Essa diferença em apoio à decisão de impor a lei marcial é uma diferença geracional medida que o tempo tenderá a diminuir a porcentagem dos polacos que irão avaliar positivamente a decisão de impor a lei marcial. O que não quer dizer que esta avaliação vai crescer inequivocamente para negativa da geral", disse o professor Janusz Czapiński, psicólogo social da Universidade de Varsóvia.
Segundo Czapiński, Jaruzelski foi uma figura clássica de tragédia grega, também nas mentes de muitos polacos e nas mentes daqueles que absolutamente não aceitam suas ações nos anos 80, que culpam-no por tentar implodir o Sindicato Solidariedade. "Mesmo que eles estejam cientes de que ele estava entre a cruz e a espada, ele teve que tomar uma decisão."


Para Czapiński, "Por isso, essa relação nunca será tão inequivocamente negativa, como a do general Augusto Pinochet, no Chile. Este era um formato diferente de homem. Ele não só matou as pessoas, porque ele estava com medo de oposição. Tentou fazê-lo de luvas brancas, através de detenções. Vítimas, sim eram, mas eles não foram vítimas, que ele tenha planejado deter, ao introduzir a lei marcial", disse Czapiński.
De acordo com o sociólogo, ele foi uma figura política extremamente expressiva e assim vai entrar para a história da Polônia. "Os jovens vão julgá-lo pelo prisma de votos de seus pais. Para a minoria daqueles que são hoje, com 15 anos ou até menos, entenderam que ele estava fazendo a sua própria sentença, com base em documentos, livros e materiais de arquivo. Portanto, acredito que os pais jovens passarão a ter uma avaliação muito diversificada sobre Jaruzelski. E entre essas avaliações também irão ter uma positiva", explicou o sociólogo.
Gen. Wojciech Jaruzelski com a esposa  Barbara e a filha Monika
Para o prof. Czapiński, "Nunca houve uma situação em que a maioria dos polacos e até mesmo após vários anos do fim da lei marcial, nutrissem forte ressentimento , acentuado contra o general, ou contra a decisão dele de impor a lei marcial, embora, é claro, uma parte significativa dos seus compatriotas que tinham um forte pesar de que o primeiro sindicato Solidariedade tivesse acabado de tal forma e que o país estivesse pacificado e ainda levando uma longa demora de 8 anos para a tão sonhada independência".
A condução daquela crise por Jaruzelski foi muito mais positiva, mesmo quando essa avaliação vinha de setores à direita da política polaca, especialmente do PiS - Partido Lei e Justiça. Essa relação começou a evoluir e foi ficando cada vez mais negativa. Isto é, a direita polaca viu o general comunista Jaruzelski, depois de 1989, como alguém necessário no processo de independência do país.

Ele foi capaz de manter-se com honra
"Do ponto de vista de muitos polacos o general Jaruzelski é um personagem trágico, muito ambíguo em muitos aspectos; Jaruzelski, sem dúvida, é considerado um homem que se comportou dignamente", explica Czapiński.
A avaliaçao positiva de Jaruzelski nos últimos anos corresponde, na opinião do professor ao comportamento do próprio general. "Quando o Presidente Lech Kaczyński, ferrenho adversário dos comunistas e do próprio general, concedeu-lhe uma grande honra, e mais tarde descobriu-se, que foi um erro de um dos funcionários de seu gabinete, o general respondeu muito rapidamente àquela situação constrangedora para a presidência do país: Ele, Jaruzelski, renunciou às honras. Para muitos polacos, foi o comportamento de uma pessoa honrada e honesta", observou Czapiński.
O sociólogo lembrou também o debate social acalorado quando quiseram saber se o general deveria ir com o presidente Bronislaw Komorowski a Roma para a beatificação de João Paulo II. "O general não esperou pela decisão final sobre o assunto, ele anunciou imediatamente que não iria participar da cerimônia, porque não queria causar problemas para pessoas lembrando de tais comportamentos", observou o prof. Czapiński.
Prof. dr. hab. Janusz Czapiński
Na opinião do professor de psicologia social da Universidade de Varsóvia, na Polônia existe um culto da honra, e, além disso os polacos possuem uma atitude positiva para com o exército. "No contexto de uma percepção positiva do caráter do general Jaruzelski esses dois aspectos se sobrepõem". Segundo Czapińskiego Jaruzelski, "mesmo entre pessoas muito hostis a ele, como compatriotas que se ressentem da introdução da lei marcial, ele sempre foi considerado como um soldado honrado." Completa Czapiński.
Nos últimos anos, processos contra o general Wojciech Jaruzelski e demais acusados ​​pelos homicídios de trabalhadores em dezembro de 1970 foram abertos. "Aquilo foi há 40 anos, aquelas pessoas, hoje, tem mais de 60 anos de idade. As novas gerações tendem a tratar aquele fato como um registro da história. Mas admiram que Jaruzelski já não seja tão hostil como em dezembro de 1970."
"O general Jaruzelski, no entanto, foi importante para alguns polacos pois se ele não se apresentasse ao comando do Politburo russo, deixaria de ser um general,  e não seria ministro da Defesa. O que iria acontecer, em 1981, para muitos polacos Jaruzelski pode ter impedido o derramamento de sangue e o caos no país naquele ano ícone na história recente da Polônia", concluiu o prof. Janusz Czapiński.

Fonte: jornal Gazeta Wyborcza, Varsóvia