As estudantes de jornalismo da Universidade Luterana do Brasil, de Porto Alegre, Eliza Maliszewski e Renate Melgar estão fazendo pesquisas sobre os polacos no Brasil, especificamente no Rio Grande do Sul e a terra natal delas Dom Feliciano, cidade gaúcha com predomínio da etnia polaca. Evidentemente que elas ainda não foram tocadas pelo uso adequado e correta da palavra polaco. Assim, abrindo uma excessão bastante grande, o texto abaixo, que foi publicado por elas no blog criado para acompanhamento de suas pesquisas, permanece com o termo galicista "polonês":
"Para conhecer a si mesmo é preciso, antes, conhecer o seu povo"
Os primeiros imigrantes poloneses chegaram em 1869 e estabeleceram-se no Sul do Brasil, enfrentando todas as dificuldades de uma terra deserta e tomada pela mata. No Rio Grande do Sul, eles estão espalhados pelos quatro cantos, como no município de Dom Feliciano, onde as tradições estão bem vivas na Casa de Cultura do Imigrante Polonês e no grupo Solidarność (em português Solidariedade). Os membros apresentam danças típicas e, junto com entidades, promovem eventos como o powieczorek (café da tarde) e obiad (almoço), que reúnem a população e reacendem nos jovens o sentimento dos antepassados.
Grupo Solidarność - Foto: Luciana Rembowski
O jornalista paranaense Ulisses Iarochinski, neto de poloneses, mora na Polônia há sete anos e estuda sobre a polêmica “Polaco x Polonês” no Sul do Brasil em sua tese de doutorado na Universidade Jagiellonski, em Cracóvia. Ele lamenta não ter tido acesso às tradições dentro de casa, mas a curiosidade e as origens falaram mais alto:
− Um dia, em Curitiba, uma senhora descendente da quinta geração, chamou-me de "polaco estragado", porque eu não sabia nada da cultura. Corri atrás. Hoje sei muita coisa, inclusive aprendi o idioma que os filhos daquela senhora ainda não sabem, nem parecem ter interesse. - relembra.
Muitos produtos surgiram na Polônia e, no entanto, poucas pessoas têm conhecimento. Por exemplo: a cerveja foi criada lá e não na Alemanha, assim como a vodca, que é polonesa e não russa. A comemoração do Natal em 25 de dezembro foram os poloneses católicos que trouxeram. Antes o Brasil dos portugueses celebrava a data no dia 6 de janeiro.
Um dos moradores mais antigos do município de Áurea, André Stawinski, 88 anos, só se comunica no idioma de origem. Vovô Stawinski, como é conhecido, não esconde as lágrimas ao relembrar o passado. Ele conta que, na zona rural polonesa, havia muita gente pobre e, seguidamente, bandos de crianças maltrapilhas e famintas vinham pedir um pedaço de pão. A situação estava difícil. Foi, então, que se começou a falar em emigração. De todos os lados vinham chegando ecos de que nas Américas havia terras de sobra para quem quisesse. De acordo com Stawinski foram tempos tristes e, até hoje, a saudade é a pior vilã:
− Quando chegamos aqui não tinha nada. Meu pai queria voltar, mas não tínhamos dinheiro. Passei muita fome, mas consegui meu espaço e formar minha família. O pior é a distância da Polônia. Meu último desejo seria ver aquele céu de novo − emociona-se.
Existem raros estudos sobre a imigração e costumes poloneses e a dificuldade em encontrar dados verídicos é grande. Conhecer sua história é o anseio do homem desde que nasce, assim como, descobrir o porquê dela. Pensando nisso a paulista Silvia Parapinski dedica suas horas vagas a alimentar um site e pesquisar a genealogia. Silvia mantém arquivos digitais de cartas dos antepassados enviadas aos parentes na Polônia, mas que nunca chegaram aos seus destinos. Ela relata que o objetivo é reunir muitos descendentes e trocar histórias:
− Montei o grupo em 2003 e foram entrando pessoas. Alguns se tornaram grandes pesquisadores. Passamos a ajudar outros e hoje somos mais de 500 participantes. É nossa vida, nossa origem. Somos todos frutos da mesma árvore - afirma.