segunda-feira, 18 de março de 2013

Bispos ucranianos lembram a limpeza étnica polaca na Volínia

Catedral de São Jorge, em Lwów, sede da Igreja Greco-católica da Ucrânia
Em todas as igrejas do rito greco-católica na Ucrânia, neste domingo, foi lida uma mensagem sobre os 70 anos dos crimes de guerra ocorridos na antiga voivodia polaca da Volinia
A região foi território polaco desde o século XIV até 1945, em que pese a ocupação russa entre 1795 a 1918. Cidades importantes fundadas por polacos estão nesta região como Łuk, que era a capital da voivodia, Rowne (em 1931 pop. 42.000 hab.), Kowel (pop. 29.100 hab.), Włodzimierz Wolynski (pop. 26.000 hab.), Krzemieniec (pop. 22.000 hab.), Dubno (pop. 15.3000 hab.), Ostróg (pop. 13.400 hab.) e Zdolbunów (pop. 10.200 hab.). 
Nos anos de 1943 e 1944 foram mortos cerca de 100 mil polacos e e 20 mil ucranianos ali. Para relembrar os crimes cometidos ali os bispos ucranianos, neste domingo, escreveram que "Hostilidade mútua para derramar sangue fraterno não é desculpa". Pela primeira vez na história os bispos ucranianos do rito grego-católico se manifestam sobre a tragédia na Volínia e não mencionam de forma concreta sobre uma reconciliação polaco-ucraniana
Stepan Bandera
Como os fatos comprovam a história, na primavera de 1943, partidários da facção nacionalista ucraniana B (do nome do líder Stepan Andriyovych Bandera, que chefiava a OUN- Organização dos Nacionalistas Ucranianos) começou a limpeza étnica da população polaca na Volínia. 
 O objetivo era intimidar ou liquidar fisicamente os polacos, em face da derrota esperada diante da Alemanha nazista, e antes da chegada do Exército Soviético, e com isso formar ali um Estado ucraniano. A "Ação Antipolaca", como foi sacramentada nos documentos da OUN B e seu braço militar do Exército Insurgente Ucraniano, evoluiu para um sangrento massacre de polacos civis, mulheres e crianças. 
Foram queimadas aldeias inteiras, igrejas e escolas. Os guerrilheiros nacionalistas ucranianos foram apoiados por agricultores locais, que muitas vezes eram obrigados a assassinar os seus vizinhos polacos, se não o faziam espontaneamente. 


Os habitantes polacos da Volínia foram inicialmente surpreendidos, mas com o tempo, reagiram às represálias espontaneamente como forma de autodefesa, até que chegasse nestas áreas a 27ª. Divisão de Infantaria da Armia Krajowa. Segundo os historiadores, como resultado do conflito na Volínia, que também se espalhou para a Galícia, foram mortos em 1943 e 1944, aproximadamente 100 mil polacos e cerca de 20 mil Ucranianos. 
Não bastasse os polacos estarem sendo atacados por duas das Forças Armadas mais poderosas da época, Nazista e Soviética, também os guerrilheiros nacionalista ucranianos se aproveitaram da segunda guerra mundial para dizimar seus irmãos e vizinhos polacos. 
"No limiar da celebração do 70º aniversário do conflito ucraniano-polaco na Volínia, nós, os bispos da Igreja greco-católica ucraniana, gostaríamos de apresentar a proclamação que expressa nossa posição sobre estes trágicos acontecimentos - escreveram os bispos superiores - Uma coisa é indiscutível: diante de Deus não há nenhuma desculpa, nenhuma vida humana destruída ou nenhum dano esquecido". 
Swiatosław Szewczuk
 Os bispos manifestam que os polacos e os ucranianos devem ter uma memória coletiva diferente desses eventos, uma avaliação diferente do contexto histórico, e até mesmo dão-lhes nomes diferentes. Na Polônia, falam de "massacres", "limpeza étnica genocida", enquanto na Ucrânia de "Tragédia de Volínia" ou "guerra civil fratricida"
Eles relutantemente admitem que os crimes antipolacos cometidos pelos líderes do movimento nacional, no oeste da Ucrânia são considerados atos nacionais e os líderes são adorados como heróis. 
Os bispos sublinharam que merecem condenação tanto as políticas do B do OUN, que levou ao assassinato de civis e autoridades polacas, como também a política anti-ucraniana de antes da Segunda Guerra Mundial: "A nossa obrigação moral diante de Deus é informar que as razões políticas e ideológicas que pareciam convincente para nossos antepassados, levou ao assassinato de pessoas inocentes e vingança mútua. Isto que alguns parecia ser justo, embora não santificado por Deus, era um cruel pisoteamento de seus mandamentos e o grande eclipse do espírito humano". 
A carta lida nas igrejas era assinada por Swiatosław Szewczuk, arcebispo superior da Igreja Greco-católica da Ucrânia.
A manifestação sem precedentes foi lida em todas as igrejas greco-católica na Ucrânia, que é a religião mais popular no Oeste da Ucrânia, e está intimamente associada com o movimento nacional, embora a Volínia predominantemente ortodoxa. 
A alta hierarquia Greco-católica queria que sua mensagem fosse uma carta conjunta com o episcopado católico na Ucrânia. Mas seu presidente, o Arcebispo Mieczysław Mokrzycki de Lwów (Lviv para os ucranianos) discordou, argumentando que os ucranianos não batem o suficiente em seus próprios peitos. 
Mieczysław Mokrzycki
Sua resistência causou espanto no Episcopado polaco, que ao longo dos anos, envia sinais de reconciliação em cartas à no mesmo espírito manifestado neste domingo pela Igreja greco-católica da Ucrânia. 
O Arcebispo Mokrzycki, ex-secretário pessoal do Papa João Paulo II, é originário de Lwów e tem uma história de relação emocional entre as duas nações. Particularmente ele falou ao Papa João Paulo II sobre reconciliação polaco-ucraniana: "É hora de romper com o passado doloroso, vamos perdoar - dando e recebendo - pois só assim este ato irá se espalhar como um bálsamo de cura em cada coração. Que a purificação da memória histórica que nos une possa ser colocada acima do que o que nos divide, a fim de que possamos construir juntos um futuro baseado no respeito mútuo, cooperação e solidariedade fraterna genuína."