terça-feira, 30 de julho de 2019

Temo o Fascismo

Participante segura cartaz com os dizeres:

“EU TEMO FASCISMO”

Foto - Kacper Pempel/Reuters
Foi durante protesto em Varsóvia contra a violência que ocorreu durante a primeira Parada do Orgulho, na cidade de Białystok, neste mês de julho. Desde então, multiplicaram-se as paradas por outras cidades da Polônia.

Mais de 30 agressores já foram presos pela polícia. Os extremistas de direita machucaram vários manifestantes da parada.

Uma revista distribuiu adesivos com os dizeres: "Zona Livre de LGBT's" e em várias cidades o slogan foi adotado e colocado em vários edifícios e casas, para dizer que ali não querem nenhuma pessoa homossexual, Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.

O principal jornal do país Gazeta Wyborcza criou grupo no Facebook com o nome de "Chcemy Polski bez nienawiści" (Queremos a Polônia sem ódio) e ao contrário da revista com seu adesivo agressivo e descabido, está distribuindo poster impressos em papel jornal com os dizeres:

NIE MA WOLNOŚCI
BEZ SOLIDARNOŚCI

Eu entrei na campanha e já tive esta foto publicada no grupo da Gazeta


Não há liberdade
sem Solidariedade

Cerca de 140 polacos residentes na Polônia já curtiram minha foto e vários outros fizeram comentários em poucas horas.

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Lei da Karta Polaka está em vigor


Depois do presidente da República da Polônia, Andrzej Duda, ter sancionado, em 4 de junho de 2019, a emenda da Lei Sobre Concessão da Carta Polaca, ou Cartão Polaco (no original Karta Polaka), promulgada pelo Congresso Nacional da Polônia, em 16 de maio de 2019 e que veio a prever sua ampliação para atender também aos polacos e seus descendentes de todos os países do mundo, a Lei com suas alterações foi publicada no Diário Oficial do governo da República da Polô4a, o chamado de Dziennik Ustaw (ou Diário das Leis, ou Revista das Leis) no dia 13 de junho de 2019,  a LEI, portanto, ESTÁ EM VIGOR, como atesta seu último artigo, o de número 5:

Artigo 5 - A Lei entra em vigor 30 dias após o dia da publicação. Presidente da República da Polônia: A. Duda

Apenas para que não restem dúvidas e fique bem claro: Sancionada em 4 de junho de 2019 e publicada no Diário Oficial das Leis da República da Polônia em 13 de junho de 2019, a Lei do Cartão Polaco, ou Carta Polaca,  passou a ter validade no dia 14 de julho de 2019.

O Arquivo publicado pode ser encontrado no link do Dziennik Ustaw em seu original polaco de 13 de junho de 2019.

Aqui a tradução da Lei em vigor desde o dia 14 de julho de 2019:


DIÁRIO OFICIAL DAS LEIS
DA REPÚBLICA DA POLÔNIA

Varsóvia, 13 de junho de 2019. Item 1095
LEI de 16 de maio de 2019. Sobre a alteração da lei relativa ao Cartão Polaco, Artigo 1. Na Lei de 7 de Setembro de 2007 sobre o Cartão Polaco (Diário das Leis de 2018, números 1272 e 1669),

Alterações seguintes:

1) O preâmbulo terá a seguinte redação: "implementação das disposições da Constituição da República da Polônia na prestação de assistência aos polacos residentes no estrangeiro, mantendo as suas ligações com o patrimônio cultural nacional, cumprindo a sua obrigação moral para com os polacos que perderam a cidadania polaca devido à mudança do destino da nossa Pátria, satisfazendo as expectativas daqueles que nunca foram cidadãos polacos antes, mas que devido ao seu sentimento de identidade nacional querem obter a confirmação de pertencer à nação polaca, para fortalecer os laços que ligam os polacos à pátria e apoiar seus esforços para preservar a língua polaca e cultivar a tradição nacional, decide como segue: ";

2) No artigo 2:
a) Na Lei, no parágrafo 1 o item 3 passa a ter a seguinte redação: "3) demonstrar que é de nacionalidade polaca ou pelo menos que um de seus pais ou avós ou dos dois bisavós eram de nacionalidade polaca, de organização ou que apresenta uma certifidão confirmando ser polaco ou ser descendente de polacos e ter envolvimento ativo nas atividades para a língua e cultura da minoria nacional polaca ou descendência polaca pelo menos nos últimos três anos; "

b) Os parágrafos 2 e 3 passam a ter a seguinte redação: "2. O Cartão Polaco pode ser concedido a uma pessoa: 1) Que não tenha na data de apresentação do pedido do Cartão Polaco e no dia da concessão da Carta Polaca ou da nacionalidade polaca 2) que não tenha autorização de residência permanente sem visto em território polaco, ou 3) O status de apátrida. 3. Cartão Polaco também pode ser concedido a uma pessoa cuja origem polaca foi confirmada em conformidade com as disposições da Lei da Repatriação, de 9 de Novembro de 2000 (D.U. Diário Oficial das Leis de 2018. Item. 609 e de 1669), fornecida para demonstrar conhecimento do idioma Polaco, pelo menos no nível básico. Disposições do artigo 13 parágrafos 7 e 8 são aplicáveis ​​em conformidade. ",

c) Está suprimido o 4;

3) Na designação utilizada no capítulo 3 e no artigo 9 nos parágrafos 2 e 7 em diferentes casos, a expressão "Conselho para os Polacos do Leste" ela é substituída pela expressão "Conselho para os Polacos no estrangeiro", caso seja utilizada;

4) No artigo 9 está revogado ponto 1;

5) No artigo 13 parágrafo 3 o ponto 7 passa a ter a seguinte redação:
"7) Certifidão de uma organização da diáspora polaca ou de associação de descendentes de polacos que confirme o envolvimento ativo em atividades em benefício da língua e cultura da minoria nacional polaca;";

6) O artigo 19a passa a ter a seguinte redação:
"Art. 19-A. 1. Após a introdução pelo cônsul competente ou no caso referido no artigo 12 parágrafo 4, ou o voivoda, pode apresentar requerimento para concessão do Cartão Polaco ou prorrogação de sua validade ao cadastro referido no artigo 23 parágrafo 1, o Chefe da Agência de Segurança Interna informará as circunstâncias referidas no artigo 19 pontos 5 ou 6.

2. O cônsul competente, no caso referido no artigo 12 parágrafo 4, ou o voivoda pode, independentemente do procedimento especificado no parágrafo. 1, solicitar ao Diretor da Agência de Segurança Interna e, se necessário, a outros órgãos da administração pública, informações sobre as circunstâncias referidas no art. 19 ponto 5 ou 6, indicando as circunstâncias relevantes no caso.

3. As autoridades competentes fornecerão as informações referidas nos parágrafos 1 e 2, no prazo de 30 dias contados a partir da data de entrada do pedido do Cartão Polaco ou da ampliação de sua validade ao registro referido no artigo 23 parágrafo 1. A falta de informação dentro deste prazo será considerada equivalente à ausência de circunstâncias a que se refere o artigo 19 pontos 5 e 6.

4. O cônsul competente, no caso referido no artigo 12 parágrafo 4, ou o voivoda emite decisão sobre a concessão ou recusa de concessão do Cartão Polaco ou decisão de prorrogar a validade do Cartão Polaco, ou a recusa de prorrogar a sua validade no prazo de 30 dias a contar da data de apresentação pelas autoridades competentes das informações referidas nos parágrafos 1 e 2, ou o termo do prazo referido no parágrafo 3.'.

Artigo 2 - O procedimento nos casos relativos à concessão e anulação do Cartão Polaco iniciado e não concluído antes da data de entrada em vigor da Lei será conduzido com base nas disposições anteriores.

Artigo 3 - As disposições vigentes de implementação emanadas com base no artigo 13 parágrafo 4 da Lei alterada no artigo 1 na redação atual, permanecem em vigor até a data de entrada em vigor do direito derivado expedido com base no artigo 13 parágrafo 4 da Lei alterada no artigo 1 na redação dada por esta Lei, mas não mais do que por 6 meses a partir da data de entrada em vigor desta Lei. 

Artigo 4 - O Conselho para os Polacos do Leste, criado com base no artigo 9 parágrafo 1 da Lei mudou no artigo 1 em sua redação atual, tornando-se Conselho para os Assuntos dos Polacos Além das Fronteiras do País.

Artigo 5 - A Lei entra em vigor 30 dias após o dia da publicação.
Presidente da República da Polônia: A. Duda

quarta-feira, 24 de julho de 2019

A banalização do nazismo ou da dor do outro

27 de janeiro de 1945, prisioneiros são libertados do Campo de Auschwitz

Na sala, vó Raquel escuta, entre suspiros, Iídiche Mame” no toca-discos. Quando a música termina, olha para a neta e conta, mais uma vez, sua história – da fuga da Polônia entre as duas grandes guerras, da família e amigos que ficaram por lá e morreram nas câmaras de gás dos campos de extermínio nazista, da chegada ao Brasil. Encerra a conversa pedindo que a neta, caso tenha uma filha, dê seu nome, para que ela nunca seja esquecida.

Não esquecer é uma lembrança que acompanha as vítimas de guerras, ditaduras, genocídios e imigrações forçadas, pelo mundo. No nosso caso, judias e judeus, o jamais esquecer é recordado ainda mais fortemente no Dia de Lembrança do Holocausto, mesma data em que se homenageia o Levante do Gueto de Varsóvia, e no 27 de janeiro, Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto (ou como chamamos, Shoah). Lembramos do crime contra a humanidade que levou ao extermínio de milhões de judeus, ciganos, homoafetivos, comunistas, opositores ao nazismo, negros, deficientes e outros “indesejáveis”. Foi nesse dia, em 1945, que as tropas soviéticas (integrantes dos países Aliados, origem das Nações Unidas), libertaram o maior campo de concentração e extermínio alemão nazista, Auschwitz-Birkenau, nas cidades de Oświęcin e Brzeżinka, na Polônia.

Lembrar para jamais esquecer. E a cada ano, perguntamo-nos:

- Quem irá nos lembrar desse horror, quando os sobreviventes não estiverem mais por aqui?

Trago em mim, neta da vó Raquel, uma resposta: nós, descendentes de imigrantes e sobreviventes da Segunda Guerra Mundial. Nós somos herdeiros dessa história, trazemos impregnado em nossos genes os horrores que nossos antepassados viveram, os medos, as despedidas, as saudades. No meu caso, também pesadelos com campos de concentração.

Apesar disso, passados 74 anos do final da guerra, muitos desconhecem o que foi o Holocausto, tornando a lembrança ainda mais necessária, especialmente no momento em que se ignora a história e o conhecimento em nome de uma guerra ideológica e do ataque a quem é “indesejável” ao governo. O desconhecimento é preenchido com falsas informações e polêmicas. Nesse contexto de vale tudo, mais que esquecida, a Shoah vem sendo desrespeitada e ultrajada, assim como a história de dezenas de milhões de vítimas do nazismo, entre elas seis milhões de judeus. Tentar reescrever a história, inventando um “nazismo de esquerda” como inimigo a ser odiado – como os judeus para os nazistas -, perdoar uma dor que não lhe pertence e que não tem como ser perdoada, divulgar a homenagem a um soldado alemão que serviu ao exército nazista, apresentando-o como “sobrevivente” de guerra. Um insulto à memória das vítimas e dos verdadeiros sobreviventes!

Mas nós, que trazemos essas lembranças para que jamais esqueçamos a que ponto a humanidade pode chegar, também herdamos a esperança de que esses crimes não se repitam, seja com que população for. Por isso, é imperdoável que se deturpe, banalize ou minimize um dos maiores crimes da história em nome de um projeto de poder. E mesmo que tentem contar a história de outra maneira, não muda como ela aconteceu.

Não deveria ser humano apoiar ou desejar extermínio, mais desumano ainda é planejar para que horrores desse tipo aconteçam. Por isso, precisamos lembrar para jamais esquecer. Honrar e respeitar as vítimas, os sobreviventes, aprender com a história e, acima de tudo, estarmos alertas para que não se repita.

Fonte: Jornal do Brasil
Texto: Clarisse Goldberg
Psicóloga, integrante da Coordenação do Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Imagem não vale por mil palavras

No grupo do facebook "Telêmaco Borba memória e fotos atuais" foram publicadas duas fotos de meu albúm de família sem identificação das pessoas que estão nela.

Eu as digitalizei e coloquei há tempos na minha linha do tempo. Uma delas é a do meu pai e a outra do meu avô.

Na foto do meu pai, a pessoa que a republicou, escreveu apenas uma frase: funcionário da Klabin.
Na do meu avô: Amigos e caminhões.

As recoloco aqui para dizer que por trás de uma imagem, uma foto, há muita história que precisa de texto para ser entendida e justificada.

Sobre a foto do meu avô, o texto que poderia ter acompanhado lá no grupo é:

Bolesław Jarosiński, ao centro da foto.

"Este no centro é meu avô Bolesław Jarosiński, nascido na cidade de Wojcieszków, na Polônia, em 1905. Trabalhou como motorista destes caminhões do empreiteiro Sr. Danilo, de 1937 a 1944, participando da construção da Fábrica da Klabin em Monte Alegre.

Morreu em Castro, aos 39 anos de idade, em 1944, devido a uma extração de dente mal feita. A extração do dente infeccionou a boca e como na época não havia ainda penicilina, ele com a boca toda infeccionada, não podia comer... Assim, por causa de um dente, morreu de fome."

Sobre a foto do meu pai, este poderia ter sido o texto:

Cassemiro Iarochinski

"O funcionário da Klabin...é meu pai Cassemiro Iarochinski, conhecido pelo apelido de Karzo (ou Cassemirozinho, em polaco e é o diminutivo do nome Kazimierz, que em português é escrito como Cajo).


Karzo morreu na varanda de sua própria casa, na rua Mato Grosso, nrº 25, a menos de uma quadra da cadeia pública, na Vila Operária, em Harmonia, Monte Alegre (atual Telêmaco Borba), assassinado brutalmente pelo vizinho Nadal Banik, na manhã de 4 de agosto de 1961, com 4 disparos de garrucha.

O assassino fugiu e nunca mais foi encontrado pela polícia para ser julgado, condenado e cumprir pena de prisão. Cajo morreu aos 24 anos de idade, depois de 4 anos de casado e deixou dois filhos (eu) e meu irmão - ambos com menos de três anos de idade - e minha mãe viúva de 23 anos de idade.

Segundo informações de familiares do assassino, ele morreu nove anos depois na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, onde estaria enterrado no cemitério municipal daquela cidade gaúcha. Ao que consta de ataque cardíaco. Morreu, mas sem pagar pelo seu horrendo crime que cometeu, ao tirar a vida de um inocente e mudar completamente o futuro da esposa e dos filhos. Inocente, como ele próprio confessou numa carta enviada para a esposa e interceptada pelo delegado de polícia, onde escreveu que Cassemiro era inocente da motivacão que o levou a matar."

A responsabilidade de se publicar fotos na Internet é grande. Ainda mais, quando elas tem uma história por trás, que apenas um texto pode contar.

O que não existe de história, hein?

Então, tenho que discordar da frase que diz:

"Uma imagem vale mais do que mil palavras".

As duas fotos fazem parte de nosso álbum de família e fui eu que digitalizei e as coloquei identificadas na Internet, ....Sim! Identificadas.

domingo, 21 de julho de 2019

Cidades polacas declaradas zonas livres de LGBT

- Cidades e voivodias polacas declaram "zonas livres de LGBT" enquanto o governo aumenta o "discurso de ódio".

- O líder do partido PiS - Direito e Justiça diz que as pessoas LGBT + são uma "ameaça à identidade polaca, à nossa nação, à sua existência e, portanto, ao Estado polaco"

Manifestantes de extrema-direita enfrentam manifestantes do Orgulho gay em Poznań
Foto: Wojtek Radwanski / AFP / Getty Images)
A música pop dos anos 80 acompanhou cerca de mil ativistas envolvidos por faixas com as cores do arco-íris quando eles desfilaram na primeira Marcha dos direitos LGBT + , da cidade de Poznań, no último final de semana.

Mas a música mal podia abafar as vaias dos espectadores. Os manifestantes LGBT passaram por estandartes empunhados nas calçadas por extremistas de direita, que comparavam gays a pedófilos.

Os contra-manifestantes faziam gestos ameaçadores e outros, católicos, rezavam nas calçadas em protesto silencioso contra os gays.

A cena refletia uma tensão crescente neste país entre um movimento florecente pelos direitos LGBT  e uma reação conservadora dos extremistas de direita católicos.

 É uma tensão que o partido polaco no poder está sendo acusado de abastecer e explorar.

Antes das eleições parlamentares do PiS - Partido Lei e Justiça jogou todo o peso de seu aparato partidário numa campanha que está marginalizando a comunidade LGBT + da Polônia, dizem seus críticos.

O novo foco do partido é combater o que seus membros chamam de "ideologia LGBT ocidental" substituídos amplamente por seus gritos contra migrantes anteriores, disse Michał Bilewicz, pesquisador da Universidade de Varsóvia que acompanha a prevalência de preconceitos contra as minorias no discurso público.

Em 2015, a retórica anti-migração ajudou o partido populista de extrema-direita a chegar ao poder, segundo dados recolhidos por Bilewicz.

Mas mesmo no auge do surto na Europa, a Polônia nunca viu muitos migrantes não europeus em seu território, e a atenção pública tornou-se mais difícil de sustentar quando o fluxo para o continente diminuiu.

Nesta primavera, enquanto o PiS se preparava para as eleições para o Parlamento Europeu, seu líder, Jarosław Kaczyński, destacou outro suposto perigo estrangeiro.

O prefeito de Varsóvia, Rafał Trzaskowski, havia defendido recentemente a integração da educação sexual e das questões LGBT + nos currículos escolares, de acordo com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde.

Segundo Kaczyński, isso foi "um ataque à família" e "um ataque às crianças".

Ele chamou a “ideologia LGBT” de uma “ameaça importada à identidade polaca, à nossa nação, à sua existência e, portanto, ao Estado polaco”.

Um anúncio de campanha do Partido Direito e Justiça mostrava um guarda-chuva com o logotipo da festa protegendo a família da chuva do arco-íris.

Autoridades do partido, desde então, pressionaram para declarar cidades e até mesmo voivodias (Estados) inteiras no Sudeste conservador do país, "livre da ideologia LGBT".

Os ativistas contaram cerca de 30 declarações até agora, incluindo uma na Voivodia, onde a cidade de Kielce está localizada.

O vereador local do Partido Direito e Justiça, Piotr Kisiel, de 37 anos, rejeitou as acusações de que seu partido estava tentando provocar indignação contra indivíduos gays.

Ele disse que o partido estava apenas reagindo ao que considerou serem esforços dos ativistas para impor seus pontos de vista sobre as pessoas heterossexuais.

Aceitação de relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo está desacelerando na Grã-Bretanha, segundo relatório.

Paweł Jabłoński, assessor do primeiro-ministro Mateusz Morawiecki, observou que as declarações “livres de LGBT” não tinham “nenhum significado real em termos de regulamentos”.

Não há sugestão de que ser gay será proibido na Polônia. E uniões do mesmo sexo e adoções por casais do mesmo sexo não são legais de qualquer maneira.

"Mas a mensagem que envia é bastante simples", disse Vyacheslav Melnyk, diretor da campanha contra a homofobia, com sede em Varsóvia. "Não há lugar para as pessoas LGBT na nossa comunidade."

A mensagem foi ecoada e amplificada por setores da Igreja Católica Apostólica Romana, da Polônia, e por meios de comunicação favoráveis ​​ao governo.

Na quarta-feira, um jornal semanal conservador, Gazeta Polska, anunciou que distribuiria adesivos “livres de LGBTs” em sua próxima edição.

Os adesivos, com listras verticais em cores do arco-íris riscadas por um X preto grosso, provocaram uma resposta do embaixador dos EUA na Polônia.

"Estou desapontada e preocupada que alguns grupos usem adesivos para promover o ódio e a intolerância", twittou a ambaixadora Georgette Mosbacher. "Nós respeitamos a liberdade de expressão, mas devemos nos unir do lado de valores como diversidade e tolerância".

O editor, Tomasz Sakiewicz, rebateu: “Liberdade significa que eu respeito suas opiniões e você respeita as minhas. Nós nos opomos apenas à imposição de pontos de vista pela força. Ser um ativista do movimento gay não torna ninguém mais tolerante ”.

A liderança do Partido Direito e Justiça não respondeu a várias solicitações de comentários para este artigo. Mas membros do partido encorajaram explicitamente as declarações “livres de LGBT”.

"Acho que a Polônia será uma região livre de LGBT", disse em março Elźbieta Kruk, então candidata do Partido Direito e Justiça nas eleições europeias.


Na Voivodia de Lublin, o representante do governo local Przemysław Czarnek entregou medalhas a políticos locais que votaram a favor das declarações.

Também mantendo o conflito nas notícias, o ministro da Justiça da Polônia ordenou no mês passado uma investigação da Ikea por demitir um funcionário que expressou opiniões homofóbicas.

E o Tribunal Constitucional da Polônia, lotado de juízes favoráveis ​​do Partido Direito e Justiça - decidiu no mês passado em favor de uma gráfica que se recusou a produzir cartazes para uma Fundação LGBT +.

Jabłoński, conselheiro do primeiro-ministro, rejeitou a noção de que o governo estava buscando explorar o assunto.

Em entrevistas, mais de uma dúzia de observadores de direitos humanos, políticos da oposição e ativistas se preocuparam com o impacto de um novo foco anti-LGBT + em um país que é mais de 95% católico e onde antes muitos se sentiam desconfortáveis ​​em ser gay.

Com seus comentários "à margem do discurso de ódio", disse Adam Bodnar, comissário independente da Polônia para os direitos humanos, "o governo está aumentando os sentimentos homofóbicos".

"Desde o discurso de ódio até os crimes de ódio, é um caminho muito curto", disse Robert Biedroń, o primeiro prefeito abertamente gay do país.

Jabłoński, assessor do primeiro-ministro, disse que tais alegações foram "exageradas".

Vladimir Putin diz que a Rússia tem uma atitude "calma" em relação às pessoas LGBT +.

A Polônia está classificada entre os países mais restritivos da Europa em termos de direitos LGBT +.

As atitudes, no entanto, haviam se suavizado. Enquanto 41 por cento dos polacos disseram em uma pesquisa de 2001 que ser gay não deveria ser tolerado e não era normal, esse número caiu para 24 por cento em 2017, de acordo com o instituto de pesquisas estatais CBOS.

"Parte da sociedade está realmente ficando cada vez mais liberal e aberta", disse a ativista contra a discriminação, a polaca Joanna Grzymała-Moszczyńska.Mas, do outro lado, podemos ver a intensificação de uma narrativa homofóbica”, acrescentou ela.

O país tem sido criticado por não manter registros confiáveis ​​sobre crimes de ódio homofóbico, mas grupos de direitos humanos em toda a Polônia disseram ter notado os recentes aumentos nos ataques homofóbicos.

A vice-prefeita de Kielce, Danuta Papaj, disse que era errado os políticos nacionais ou regionais interferirem no que ela considerava um assunto primordialmente local: garantir a tolerância entre os residentes. Ela alertou para a criação de comunidades socialmente excluídas ou "guetos" sociais.

Em Kielce, a escolha desse termo pesa especialmente. Perto dali, os nazistas exterminaram judeus e outras minorias - incluindo gays - durante a Segunda Guerra Mundial. Mas a matança não parou com o fim da guerra. Dezenas de judeus foram assassinados em Kielce em um pogrom em 4 de julho de 1946.

As matanças convenceram muitos dos judeus remanescentes da Polônia que sobreviveram ao Holocausto nazista de que não havia futuro para eles no país. Bogdan Białek está trabalhando para preservar a memória do passado assombrado de Kielce. Horas antes do primeiro desfile LGBT + da cidade acontecer, o católico de 64 anos estava andando por uma casa que foi alvo do pogrom e hoje abriga uma exposição. Para ele, o pogrom de 4 de julho ilustra como estereótipos e preconceitos podem trazer o mal para as pessoas. O Partido Direito e Justiça, disse Białek, ganhou as eleições anteriores com a "gestão do medo" dos refugiados.

Mas ele argumentou que a forma como a manifestação de agora, voltada para as pessoas LGBT + era potencialmente mais perigosa. Agora, ele disse, "não é a gestão do medo, mas a gestão do ódio".

"É doloroso para mim, realmente", disse Ewa Miastkowska, 54 anos, na marcha da igualdade do último fim de semana em Kielce. A mãe de um filho gay disse que veio de Varsóvia para lutar por seus direitos em Kielce. “Eu choro a cada segundo dia. É repugnante ”, disse ela sobre o tema anti-gay do partido no poder.

Cercada por centenas de policiais, a ativista local de 37 anos, Barbara Biskup, disse que achava que o governo estava transformando pessoas LGBT + em bodes expiatórios, assim como havia feito com os migrantes. Sua esperança, disse Biskup, era que os moradores da cidade percebessem que ela e outros vizinhos gays não eram inimigos do Estado polaco.

"Espero que pelo menos alguns deles vejam que somos pessoas normais", disse ela.

Segundo testemunhas, alguns "hooligans" usavam camisetas com símbolos ultranacionalistas e outros gritavam "Não à sodomia em Bialystok!".

Os "hooligans" se lançaram contra os manifestantes e os policiais, com fogos de artifício, pedras e garrafas, segundo um porta-voz da polícia.

A marcha foi muito criticada pelas mídias católicas e nacionalistas, que organizaram cerca de 40 atos na cidade de Białystok, entre elas um piquenique familiar idealizado pelo prefeito, integrante do Partido Direito e Justiça, de extrema direita que comanda o país.

Texto: Rick Noack
Tradução e adaptação para português: Ulisses Iarochinski
Fontes: Washington Post e The Independent

sábado, 20 de julho de 2019

Aniversário do Blog IAROCHINSKI

Este blog está completando, hoje, 14 anos de existência.




Criei-o para substituir o site "Saga dos Polacos", que havia criado em 1998. Foi formas que encontrei para divulgar minhas descobertas sobre minha polaquice herdada do meu pai.

Meus textos nestes 21 anos de site e blog já foram lidos por mais de um milhão de pessoas de vários países do mundo. Além das milhares de menções em referências bibliográficas em monografias, dissertações e teses acadêmicas. Como referências em reportagens, artigos e crônicas na imprensa escrita, falada, televisada e internetada.


O site virou o livro "Saga dos Polacos - A história da Polônia e seus emigrantes no Brasil", que em novembro do ano que vêm estará completando 20 anos de seu lançamento, na Sociedade União Juventus, de Curitiba.
Nos meses seguintes, o livro foi apresentado em 25 cidades dos quatro Estados do Sul do Brasil e depositado nas bibliotecas, Pública do Paraná, Congresso dos Estados Unidos, Nacional Jagieloński da Polônia e Municipal das cidades de Castro, Ponta Grossa, Telêmaco Borba, Guarani das Missões e das universidades, Federal do Paraná, Varsóvia, Lublin e Cracóvia.

Desde que comecei a ser agredido, não só com palavras e reprimendas, mas com violência física por usar a palavra "Polacos" no título, e não o galicismo preconceituoso terminado em ÊS. Adotei como princípio a determinação de recuperar e dignificar o verdadeiro termo gentílico do povo na Polônia em português, como, aliás, o fazem os outros sete países lusófonos e 27 países hispânicos.
Sim! Fui agredido fisicamente nos lançamentos em Erechim-RS, em São Paulo e em Curitiba. E impropérios de burro, asno, traidor e várias outras ocasiões eventos.
Por isso, desde então, adotei o lema, que vai escrito na coluna lateral do espaço das publicações, que é:

"Neste blog, todos os textos apresentam tão somente as palavras ... polaco e polaca (também no plural), pois o autor está convicto que estes sejam os termos adequados e corretos para denominar o gentílico (e seus descendentes) da Polônia em língua portuguesa, como aliás, fazem os demais 7 países lusófonos ao redor do mundo. Se polaco é pejorativo para alguns, polonês é preconceituoso para outros tantos."


Já o blog, que começou com o artigo "Porque Polaco!" em 2005, passou a ter registro dos leitores apenas em 2010, pelos mecanismos do próprio hospedeiro. Em seus primeiros cinco anos ele já havia registrado 500 mil visitadas segundo dois sites de aferição, então utilizados.

Ilustração da primeira publicação

 Nos últimos 9 anos, ele ultrapassou a marca das 600 mil visualições, conforme esta ilustração com os dez textos de maior número de leitores. Estes são os países com maior número de leitores: Brasil, Estados Unidos, Polônia, Ucrânia, Portugal, Grã-Bretanha, Itália, Alemanha e Argentina.

Nestes 14 anos foram postados 2783 textos, sobre os mais diversos aspectos da cultura, arte, antopologia, sociologia, linguística,  curiosidades, história, idioma, sociedade, política, turismo e as últimas notícias do país.

Ilustração das aferições
Nos últimos dois meses os textos-reportagens mais lidos foram: "Imgrantes Polacos na Guerra do Contestado" com 6126 leitores e "Carta Polaca foi sancionada pelo Presidente" com mais de 5 mil leitores.

Durante o "Congresso dos Jovens Polacos" realizado em Curitiba com o apoio da Wspólnota Polska, Senado da Polônia e Sociedade Piłsudski de Curitiba, curiosamente o texto que voltou a ser lido foi: "Curitiba = Kurytyba" com quase 500 leitores.

Mas os três textos que são diariamente acessados, sem falhar um dia sequer, são:
- Grafia de sobrenomes polacos aportuguesados" (o campeão de visitações)
- Terminações dos sobrenomes polacos"
- Nomes polacos tradicionais - grafia e significado"

Críticos e apoiadores estão sempre sugerindo que eu me permita escrever os termos "polônico" e o galicismo terminado em ÊS, que certamente eu teria muito mais visibilidade.

Mas para quê?

No passado caçoavam (o americanismo booling), faziam chacota, tiravam sarro, discriminavam o representante da etnia, com agressões gratuitas como "Polaco - preto do avesso", "Polaco burro" e "Polaco sem bandeira".

Hoje, posso dizer que tenho uma bandeira, a da dignificação e da honra pelo correto e adequado  termo POLACO em língua portuguesa. Pois, para mim, o outro é preconceituoso e o polônico é divisionista ao taxar em cidadãos de primeira classe (por terem nascido em solo pátrio) e os demais como de segunda classe, mesmo tendo nas veias o mesmo sangue.


segunda-feira, 15 de julho de 2019

A história da Polônia através das pinturas

Na história da arte pictórica da Polônia pode ser muitas vezes difícil explicar o que realmente está sendo demonstrando, que fatos históricos estão sendo representados em algumas de suas pinturas mais famosas.
Este texto pretende tornar mais claros o que significam e que importância tem cada um destes famosos quadros expostos em museus nacionais da Polônia. O primeiro é:

A BATALHA DE LEGNICA  de 1241
Fragmento da "A Batalha de Legnica" em "Vita Beatae Hedwigis" de Nicolau da Prússia e outro pintor desconhecido. O quadro é de 1353. Foi pintado em pergaminho encadernado entre tábuas de madeira cobertas com pele de porco manchada de vermelho. Reprodução: Getty Museum
Em 1241, após a invasão das terras de Kiev, as forças mongóis (ou tártaras) iniciaram uma incursão militar pelas terras da Hungria e da Polônia.

Em março de 1241, os tártaros se apoderaram de Cracóvia e, em 9 de abril de 1241, encontraram-se em Leignica com forças polacas comandadas pelo Duque da Silésia Henrique II - o Piedoso. A batalha foi uma grande vitória para as forças mongóis. Entretanto, imediatamente após a batalha, os mongóis se retiraram e, em 1242, todo o exército retornou à Rutênia de Kiev.

A ilustração acima mostra o início da batalha com as tropas inimigas que ainda estavam em ordem de batalha. A segunda, abaixo, mostra o momento seguinte da batalha e a morte do duque polaco Henryk.

Era característico de artistas medievais incluir elementos inconsistentes com o assunto principal de uma pintura - mesmo aqueles que podem ter acontecido em um lugar ou horário diferentes.

Na imagem abaixo, pode-se discernir a figura do Duque vestido com um casaco azul e com uma águia negra silesiana no escudo e no capacete, no momento exato de sua morte por um dos cavaleiros inimigos. Ao mesmo tempo, podemos seguir alguns dos desenvolvimentos posteriores: seu corpo, decapitado e despojado de armadura, pode ser visto no canto inferior esquerdo, enquanto no canto superior direito, sua alma, juntamente com as almas de outros cavaleiros, está sendo levada para o céu por dois anjos, segurando um lençol branco.

Fragmento II da "Batalha de Legnica" de 1353 - Ilustração: Getty Museum

CASIMIRO E ESTER

"Rei Casimiro - o Grande visitando Ester", de Władysław Łuszkiewicz. Quadro de 1870.
Acervo: Galeria Nacional de Arte de Lwów, Ucrânia.
Ester, Esterka, ou Esterke em iídiche, era a semi-lendária amante judia do rei Casimiro III - o Grande, da Polônia.

O relacionamento amoroso do rei polaco se tornou o grande tema da literarura iídiche da Polônia e  refletiu uma simbiose nas relações entre as populações católica romana e judaica em terras polacas.

Segundo alguns relatos, o casal teve filhos. Enquanto permaneceu incerta ou não a história do envolvimento da judia Ester com o monarca polaca, a comunidade judaica polaca esteve sob proteção real e ascendeu socialmente.

A história teve diferentes versões dependendo da cidade polaca onde era contada, mas uma delas recebeu o nome em polaco e iídiche  de Kazimierz ou Kuzmir. A pequena cidade que recebeu o nome do rei no rio Vístula se tornou o centro mais famoso e próspero da comunidade judaica na Polônia. A paisagem pitoresca e montanhosa da pintura sugere o atual bairro judeu do Kazimierz, em Cracóvia.


 JADWIGA - REI DA POLÔNIA de 1384 a 1399

"Królowa Jadwiga i Dymitr z Goraja" de Wojciech Gerson, quadro de 1869, óleo sobre tela,
Acervo: Museu de Lublin.
Se não tens certeza do que está acontecendo neste quadro, não se preocupe, está longe da obviedade. A mulher está segurando um machado, mas ela não o está empunhando contra o homem,  um velho companheiro.

Uma coisa é certa. Sim, ele tem as chaves. Atrás da porta, presumivelmente, está Guilherme, o duque da Áustria, de quem ela se apaixonou à primeira vista. Pelo menos é o que dizem ...

A lenda conta que a mulher, Jadwiga (ou Edvirges), sacrificou seu verdadeiro amor e astutamente se casou com o duque Jagiełło da Lituânia que se tornaria o rei Władysław II da Polônia.

O casamento resultou na criação de dinastias poderosas na Europa. A dinastia jaguelônica iria construir o maior império da Polônia junto com o Grão-Ducado da Lituânia. Juntos, a polaca e o lituano possibilitaram que anos mais tarde fosse criada a primeira república do mundo moderno: República das Duas Nações Polônia - Lituânia, de 1569.

Parte da lenda afirma que a prudência de Jadwiga exigiu algum reforço de Dymitr de Goray, um rico magnata da corte polaca. O velho companheiro barrou a porta, para que a jovem não pudesse fugir com o belo Wilheln (Guilherme).

Jadwiga primeiramente se tornou rei da Polônia (sim, rei e não rainha - o Rex!). Ela reinou de 1384 até sua morte em 1399. Ela permaneceria a única mulher monarca na história da Polônia.


A BATALHA DE GRUNWALD - 1410


"A Batalha de Grunwald" de Jan Matejko, quadro de 1878, óleo sobre tela, Acervo: Museu Nacional em Varsóvia

A "Batalha de Grunwald", também conhecida também como a primeira "Batalha de Tannenberg" ou a "Batalha de Žalgiris", é uma das batalhas mais famosas da história militar polaca e da idade média europeia..

Esta representação do renomado pintor polaco Jan Matejko é, por sua vez, uma das pinturas mais amplamente reconhecidas na história da arte polaca.

Em Grunwald, na Polônia, um exército conjunto de polacos, lituanos, rutenos e tártaros, comandados pelo rei Władysław II Jagiełło (Ladislau Yogaila), derrotou o exército dos Cruzados Teutônicos. Sua vitória mudou o equilíbrio de poder na Europa Oriental, abrindo caminho para a futura ascensão da Comunidade Polaco-Lituana.

O quadro de Matejko é notório por seu enorme tamanho: a tela mede 4,26 m X 9,87 metros. O rei polaco pode ser visto no canto superior direito. No centro da pintura, Vytautas - o Grande,  governante do Grão-Ducado da Lituânia, parece estar aproveitando o ataque fatal ao Grão-Mestre da Ordem Teutônica, Ulrich von Jungingen, feito por dois camponeses transformados em soldados vestidos de couro, talvez da região da Samogícia. Um deles usa um capacete de forca e empunha um machado - o que sugere que o ato é de justiça decretada.


"STAŃCZY" de 1514

"Stańczyk" de Jan Matejko, quadro de 1862, óleo sobre tela, Acervo: Museu Nacional em Varsóvia
Pintado por Jan Matejko, em 1862, Stańczyk (1480-1560) pode ser o mais representativo representante simbólico da história polaca.

O bobo da corte fabulosamente perspicaz se apresentou na corte dos reis polacos. A profunda melancolia de Stańczyk é uma reação às notícias da captura de Smoleńsk, dos Moscovitas, ocorrida em julho de 1514 (Veja a data na carta sobre a mesa).

Este evento viria a simbolizar o poder crescente dos moscovitas no Oriente durante este período. Um processo que acabaria por trazer o fim do Estado repúblicano polaco-lituano, quase três séculos mais tarde.

O humor grave de Stańczyk e a preocupação com o futuro do país são apresentados em contraste com a atmosfera alegre no salão real, que pode ser visto atrás da porta.


BATALHA DE ORSZA de 1514

"Batalha de Orsza", de 1530 a 1542, atribuída a Heins Kreil - Acervo: Museu Nacional em Varsóvia
A reação do bobo da corte Stańczyk era justificada - a captura de Smoleńsk pelos moscovitas provocou uma reação das forças polaca e lituana.

A batalha de Orsza, localidade atualmente no território da Bielorrússia, foi travada apenas alguns meses após a tomada de Smoleńsk. Embora tenha terminado em vitória para as forças polaco-lituanas unidas, a batalha não levou à recaptura de Smoleńsk.

Isso aconteceria apenas 100 anos depois, e apenas por um curto período de tempo. A pintura desse artista é notável pelo uso da narração "contínua" medieval, apresentando muitos episódios ocorrendo em momentos diferentes. É por isso que alguns números aparecem várias vezes. A pintura deve ser lida da direita para a esquerda e de cima para baixo.

UNIÃO DE LUBLIN de 1569

"União de Lublin" de Jan Matejko - Acervo: Museu Nacional em Lublin
As guerras com a Cidade-Estado de Moscou consolidaram a cooperação militar e política polaca e lituana. No ano de 1569, os dois países assinaram a União de Lublin.

Isso efetivamente criou um novo estado multiétnico, a Comunidade Polaco-Lituana, que já havia se esboçado em 1530 e fundou a primeira república pós-renascimento no mundo: a República das duas Nações. A República Polaca-Lituana viria a ter o maior território bi-nacional da Europa dos séculos 14/15/16 e 17. Território que ocupava as terras que iam do Mar Báltico ao Mar Negro. 

A "União de Lublin" de Matejko foi pintada no 300º aniversário do acordo, em 1869. A figura central, com um crucifixo na mão direita, é o rei polaco Zygmunt I Augustus. O homem ajoelhado com a espada é Mikołaj Radziwiłł, o grande marechal da Lituânia - um ardente oponente do Congresso e o único senador que não assinou o documento.

POLACOS EM MOSCOU de 1610 a 1612

"Os polacos se rendem no Kremlin de Moscou para o príncipe moscovita Dmitry Pozharsky", quadro de Ernst Lissner, de 1938, aquarela sobre papel - Acervo: Galeria Tretnyakov
Em 9 de outubro de 1610, tropas polacas entraram em Moscou. Este evento é relatado na história da Polônia como as Dmitriades, e na história russa como a invasão polaca ou intervenção polaca.

Moscou foi ocupada por tropas polacas até o ano de 1612, quando os polacos entregaram o Kremlin ao príncipe Dmitry Pozharsky.

Em Moscou, este momento é considerado o fim do longo período de turbulência interna chamado "O Tempo das Perturbações".

Desde 2005, este evento é comemorado anualmente como o Dia Nacional da Unidade Russa, de 4 de novembro.

BATALHA DE CHOCIM de 1621

‘Batalha de Chocim’, quadro de Józef Brandt, de 1867, óleo sobre tela - Acervo: Museu Nacional em Varsóvia
Ao longo dos séculos XVI e XVII, a Comunidade Poloca-Litunana travou uma série de guerras com o Império Turco-Otomano.

Durante este período, as elites polacas tenderam a pensar em si mesmas como defensoras das fronteiras de uma Europa cristã, tendo a Polônia como a "antimurale Christianitatis", ou o Baluarte do Cristianismo.

A cidade fronteiriça de Chocim, na Podólia polaca (atualmente no território da Ucrânia), foi o local de pelo menos duas grandes batalhas.

Esta pintura de Józef Brandt retrata a batalha que ocorreu em 1621. Por essa época, a Comunidade Polaca-Lituana atingiu o seu maior tamanho em território, com cerca de 990.000 km² de território e uma população de 11 a 12 milhões de pessoas.

"BATALHA DE VIENA" de 1683

"Batalha de Viena" entre 1633-1685, de Pauwel Casteels, óleo sobre tela,
Acervo: Museu do Palácio do Rei Jan III Sobielski

Esta batalha se lutou em 12 de setembro de 1683. Viena estava citiada há dois meses pelas tropas turco-otomanas.

A batalha foi vencida Legião da Comunidade Polaca-Lituana combinadas com as forças do Sacro Império Romano-Germânico, comandadas pelo Rei Jan III Sobieski da Polônia.

A Batalha de Viena foi vista como um momento decisivo na história e considerada por muitos como a mais importante defesa da Europa Católica feita pelo Rei da Polônia. Sobielski foi o primeiro polaco a ser eleito rei na história da República das Duas Nações.

Após esta batalha, os turcos otomanos deixaram de ser um adversário para as forças cristãs. O conflito também ficou conhecido pela inclusão da maior força de cavalaria da história mundial.

A PRIMEIRA PARTIÇÃO DA POLÔNIA em 1773

"Tadeusz Rejtan", ou a "Queda da Polônia" de Jan Matejko, quadro de 1866, óleo sobre tela
Acervo: Castelo Real em Varsóvia
Outra pintura de Matejko descreve a cena que teria ocorrido no Castelo Real de Varsóvia.

Em Varsóvia, em 21 de abril de 1773, o Sejm (Congresso Polaco-Lituano) declarou a legal a primeira partição da Polônia.

A figura central da pintura, vista à direita, é Tadeusz Rejtan, um dos deputados do Sejm. Rejtan estava tentando, sem sucesso, impedir essa revogação de acontecimentos, impedindo que os membros do Sejm deixassem a câmara.

A CONSTITUIÇÃO POLACA DE 3 DE MAIO  de 1791

"Juramento da Constituição de 3 de maio de 1791" de Jean-Pierre Norblin de La Gourdaine, gravura de 1867,
Acervo: Museu Nacional de Varsóvia

A Constituição de 3 de maio adotada, em 1791, é considerada a primeira constituição moderna da Europa. Foi também a segunda constituição nacional codificada mais antiga do mundo, após a Constituição dos Estados Unidos de 1789.

O estadista irlandês Edmund Burke descreveu a lei polaca como "o benefício mais nobre recebido por qualquer nação a qualquer momento" ... A constituição tentou reformas que reprimiriam o sistema imperfeito da democracia polaca - com as chamadas Liberdades Douradas dos nobres e a anarquia fomentada pelos magnatas do país.

Apesar de seu caráter moderno, acabou sendo um pouco tarde demais. As duas outras partições (invasões e ocupações estrangeiras) da Polônia, que se seguiram em 1793 e 1795, encerraram a existência do próprio país.

Este foi um enorme choque e trauma para as elites polacas, e foi muitas vezes referido como "Finis Poloniae". Em última análise, a Polônia permaneceria fora do mapa da Europa por 123 anos.


A INSURREIÇÃO DE KOŚCIUSZKO de 1794

"Oração antes da batalha de Racławice" de Józef Chełmoński, quadro de 1906, óleo sobre tela,
Mesmo antes da terceira partição (invasão e ocupação estrangeira) acontecer, o primeiro levante nacional polaco tinha começado.

O Levante de 1794 (ou Insurreição, como também é chamado), liderado por Tadeusz Kościuszko, um general polaco, que havia lutado na independência das 13 colônias inglesas para criar os Estados Unidos, abraçou a maioria dos antigos territórios da Comunidade Polaco-Lituana.

O maior sucesso militar do exército insurgente veio em abril com a Batalha de Racławice. A batalha foi vencida graças a um ataque dos "kosynierzy" (foice ou escudeiros), na maioria membros de uma milícia camponesa, armados com foices de guerra.

O Kosynierzy rapidamente se tornou um dos símbolos da luta pela independência da Polônia, mas a revolta ocorreu no mesmo ano.

SOLDADOS POLACOS NO HAITI de 1802

"Batalha em San Domingo", também conhecida como a "Batalha pelas Colina das Três Palmeiras", em janeiro de 1802,
de Suchodolski. Quadro de 1845
A partir de 1797, em uma tentativa de recuperar a independência, os soldados polacos formaram as chamadas Legiões e se juntaram ao exército de Napoleão para lutar na Itália e no Egito, mas também no Haiti.

No Caribe, em uma virada irônica do destino, os polacos que se ofereceram para o exército inspirado pelos ideais napoleônicos de liberdade e igualdade foram agora encarregados de suprimir a rebelião do povo do Haiti contra o domínio colonial francês.


POLÔNIA COMO PROMETEU de 1831

"Prometeu polaco" de Horace Vernet, quadro de 1831, óleo sobre tela,
A Revolta de Novembro de 1830 começou em Varsóvia e logo cobriria grandes partes dos territórios que, depois de 1795, eram ocupados pela Rússia.

Em muitos países ocidentais, a supressão da insurreição, que ocorreu um ano depois, foi recebida com desânimo, na Polônia. Mas ela começou um novo período marcado pela intensa emigração para a França e Inglaterra.

Esta pintura de Horace Vernet simboliza o esmagamento da insurreição, com a águia preta simbolizando a Rússia.

MASSACRE DA GALÍCIA de 1846

"Massacre da Galícia" de Jan Nepomucen Lewicki, óleo sobre tela, quadro de 1871.

O seguinte levante polaco irrompeu, em Cracóvia, em 1846.

A revolta durou apenas nove dias. Liderado por membros da nobreza polaca e dirigido contra o Império Austríaco foi logo reprimido por um protesto social muito maior, o dos camponeses galegos.

Os camponeses, liderados por Jakub Szela, revoltaram-se contra a opressão da servidão e trabalho com arado. No rescaldo da matança galega (também chamada de Revolta Camponesa de 1846), cerca de mil nobres polacos foram mortos e 500 casas foram destruídas.

Os incidentes ficaram famosos por sua brutalidade e, em certa medida, inspirados pela administração austríaca. A pintura mostra camponeses chegando aos representantes da administração austríaca junto com os chefes dos nobres polacos, pelos quais eles receberam uma recompensa.


REVOLTA DE JANEIRO de 1863

"Batalha" da série "Polonia" de Artur Grottger,
A Polônia de Artur Grottger apresenta uma série de nove desenhos em preto e branco, representando cenas da Revolta de Janeiro de 1863, a terceira das revoltas nacionais.

Como nas duas revoltas anteriores, esta também não teve sucesso. O estilo de Grottger foi essencial para desenvolver uma representação da identidade patriótica polaca.

SIBÉRIA

"Morte no Palco" de Jacek Malczewski, quadro de 1891, óleo sobre tela.
O impulso polaco para a liberdade que se manifestou em insurreições nacionais, bem como muitas formas mais brandas de resistência, teve severas repercussões.

Ao longo do século XIX, milhares de patriotas polacos que se opunham ao domínio russo foram deportados para a Sibéria.

"Morte no Palco" do pintor simbolista Jacek Malczewski retrata a morte de um dos deportados ao longo do caminho até o ponto de destino, uma jornada que podia levar vários meses.

REVOLUÇÃO DE 1905


"Demonstração 1905" de Witold Wojtkiewicz, desenho de 1905, Acervo: Museu Nacional em Varsóvia
A Revolta de 1905 levou protestos dos trabalhadores por todo o país. Uma manifestação em Varsóvia que terminou em derramamento de sangue é retratada aqui pelo artista expressionista Witold Wojtkiewicz.


O MILAGRE DO VÍSTULA de 1921

"Cud nad Wisłą" de Jerzy Kossak, quadro de 1930.
Considerada uma das batalhas mais importantes da história do mundo, a Batalha de Varsóvia, em 1920, interrompeu efetivamente a marcha comunista em direção à Europa Ocidental.

Na Polônia, firmou-se a posição e a lenda do marechal Józef Piłsudski. Chamado (inicialmente com intenção irônica) de "Milagre no Vístula", o termo se tornou uma referência comum da batalha na Polônia.

Vestígios dessa perspectiva quase religiosa podem ser vistos nesta pintura, com Santa Maria Mãe de Deus cercada por coros beligerantes descendo do céu.


EXECUÇÕES NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

"Execução VIII (surrealista)" de Andrzej Wróblewski, quadro 1949, óleo sobre tela, 130 x 199 cm
Acervo: Museu Nacional em Varsóvia
Uma das mais representativas representações pictóricas da experiência polaca da Segunda Guerra Mundial foi pintada por Andrzej Wróblewski.

Nascido em 1927, Wróblewski pintou sua série "Execuções", em 1949, ano em que o realismo socialista foi introduzido na arte polaca.

Indiscutivelmente a mais famosa das séries, a "Execução surrealista (VIII)" parece retratar um grupo de homens sendo executado. De fato, é mais a representação de uma pessoa em diferentes fases da morte.


COMUNISTAS RECONSTRUÍNDO O PAÍS

"Passe-me um tijolo" de Aleksander Kobzdej, quadro de 1950, óleo sobre tela, 133x162 cm
Acervo: Museu Nacional em Wrocław
"Passe-me um tijolo" de Aleksander Kobzdej Mais do que qualquer outro trabalho passou a simbolizar a arte do realismo socialista polaco.

Pintado em 1949, esta grande tela mostra uma equipe de três pedreiros (chamados trójka murarska) no processo de construção de uma casa.

O método trójka, no qual uma pessoa prepara o tijolo, um segundo o passa e um terceiro o coloca na parede sendo construída foi desenvolvido após a Segunda Guerra Mundial como a maneira mais eficaz e rápida de construir.

O esforço de reconstrução praticado em numerosos locais de construção da devastada Varsóvia, como Mariensztat ou MDM, foi essencial para levantar a capital das ruínas.

LEI MARCIAL de 1981

"13 de Dezembro de 1981 - Manhã" de Łukasz Korolkiewicz, quadro de 1982, óleo sobre tela, 89 x 190 cm
Acervo: Museu Nacional em Varsóvia

Pintado em 1982 por Łukasz Korolkiewicz, "13 de dezembro de 1981 - Manhã" é uma foto-realista e assumiu um dos momentos mais familiares da história recente da Polônia.

Neste dia, no início da manhã, o general Wojciech Jaruzelski anunciou na TV em rede nacional a introdução da Lei Marcial na Polônia. A medida impediu a oposição democrática e introduziu toda uma série de restrições e repercussões, com os líderes-chave da oposição como o ex-presidente da República (democrática) Lech Wałęsa e o ex-primeiro ministro Tadeusz Mazowiecki serem aprisionados.

Para muitos jovens polacos, a Lei Marcial tornou-se uma experiência de formação cívica.


SMOLEŃSK 2010

"Smoleńsk" de Zbigniew Dowgiałło, quadro de 2011,
Acervo: Museu de Arte Moderna de Varsóvia (MSN)
As artes plásticas polacas continuam acompanhando a história do país. Uma das mais controversas pinturas polacas contemporâneas é a obra "Smoleńsk" de Zbigniew Dowgiałło.

Inspirado na tragédia do acidente de avião presidencial polaco do dia 10 de abril de 2010, nas proximidades da cidade de Smoleńsk, não muito longe de Katyń, na Rússia. Acidente aéreo em que 96 pessoas foram mortas, incluindo o presidente da República Lech Kaczyński e sua esposa, a pintura apresenta vítimas do acidente, com seus corações arrancados de seus peitos no momento da explosão.

A pintura foi uma peça chave em uma exposição dedicada à nova arte nacional exibida no Museu de Arte Moderna de Varsóvia (MSN) em 2014.



Texto: Mikołaj Gliński
Tradução para o português e adaptação: Ulisses Iarochinski