terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Cracóvia não é só para um dia

Texto: Ulisses Iarochinski
A cidade mais bela da Polônia, também é o mais importante centro cultural das Europa Central e do Leste. E isto não é frase de efeito. É a mais pura verdade.

Cracóvia experimenta nos últimos cinco anos um crescimento vertiginoso de turistas do mundo inteiro.
De 500 mil turistas recebidos em 2002, Cracóvia ultrapassou a barreira dos 5 milhões de turistas no ano de 2005. E este número só vem aumentando, muito em parte devido à entrada do país na União Europeia, em maio de 2004, e da morte do Papa João Paulo II em abril de 2005.

Cracóvia vista aérea cortada pelo Rio Vístula
Praticamente invadida nos meses de maio a setembro por uma avalanche de mais de 8 milhões de turistas no último verão europeu. A maioria deles, entretanto, vindos em excursões de agências de viagem, dentro de pacotes turísticos que incluem Budapeste, Viena e Praga.

Infelizmente, estes turistas perdem o melhor da cidade, pois passam apenas algumas horas em caminhadas pela praça central e castelo real e vão embora desconhecendo os verdadeiros encantos da cidade.

Para vir a Cracóvia é preciso muito mais do que algumas horas, é preciso viver a atmosfera da cidade medieval, da cidade do período romântico, do período das revoltas contra a ocupação austríaca de 127 anos.
Isto é conhecer Cracóvia.

História marcante
Historicamente ela foi responsável pela reunificação do reino polaco, dividido após a morte do rei Bolesław (Boleslau) III, em 1138, com rei Władysław (Ladislau) I que em 1306, a transformou na capital do Reino da Polônia. Seu apogeu ocorreu no período dourado do Rei Kazimierz (Casimiro) - O Grande - entre os anos de 1333 a 1370.

Catedral e Castelo real da colina de Wawel
De capital da Polônia, ela passou a ser também o maior centro cultural e científico do Renascimento. No período de Casimiro foi criada a Academia de Cracóvia, precursora da Universidade Iaguielônica (Uniwersytet Jagielloński), onde concluíram doutorado Nicolau Copérnico e Karol Wojtyła.

Collegium Nowum da Uniwersytet Jagielloński
Com o reinado da filha de Casimiro, Jadwiga (Edwirges - padroeira da União Europeia e santificada por João Paulo II), Cracóvia se tornou também a capital do maior império da Europa daqueles dias. O casamento da última representante da Dinastia Piast com o Duque da Lituânia, Iaguielo, simbolizou a criação do Grande Reino Unido Polônia Lituânia.

Pátio interno do Collegium Maius da Universytet Jagielloński
Reino que estendeu seus domínios do mar Báltico no Norte, ao mar Negro no Leste da Europa.
Mas os dias de poderio de Cracóvia acabaram em 1596, quando o rei eleito, Władysław (Ladislau) IV, príncipe sueco da Dinastia Wasa, transladou a capital da monarquia parlamentarista da Polônia-Lituânia para Varsóvia.
Apesar da mudança, a catedral do Castelo Real de Wawel continuou sendo a Cripta Mortuária de todos os reinos polacos. A cripta ao receber também os restos mortais de heróis da história, transformou-se em panteão da pátria polaca.

Sarcófago em mármore da Santa Rainha Jadwiga (Edvirges) na Catedral de Wawel

Uma cidade que pulsa
Mas não é só essa história latente que a cidade tem para contar e mostrar. Se no ano 2000 existia na cidade apenas um Albergue da Juventude, denominado “Schronisko”, e os polacos desconheciam a palavra Hostel, desde o primeiro semestre de 2006 surgiram mais de trezentas destas pousadas na cidade, acompanhadas de luxuosos hotéis cinco estrelas.

O número de bares e restaurantes deu um salto vertiginoso. Para se comer um bom “pierogi”, um “bigos” ou uma sopa de cogumelos silvestres numa tigela de pão, nada como os restaurantes “UBabcia Maliny”, “Chłopskie Jadło” e “Bar Mleczny”.
Restaurante U Babci Maliny - ulica (rua) Sławkowska 17
Restaurante Chłopskie Jadło - ulica (rua) św. Agnieszki 1
Bar Mleczny - ulica Grodzka, 43 - restaurante subsidiado com os menores preços
Pierogi ruskiej - pastéis cozidos com recheio de ricota e pure de batata
Zupa z grzybami - sopa de cogumelos secos
Bigos - cozinho de repolho com carnes
Sanduíche polaco típico - Zapiekanka -
meia baguete com cogumelos secos, queijo, creme de tomate e salsinha
Pączek - sonho com recheio de geléia de broto de rosas 
Makowiec - recambole com recheio de sementes de papoula
Kremówka - folheado de creme / Doce preferido do Papa João Paulo II
As cervejas polacas - as mais antigas do mundo
Vodcas polacas - wódki polskie
As mercearias e pequenas lojas que haviam transformado o panorama da cidade comunista em capitalista foram rapidamente sendo substituídas por lojas de grandes marcas mundiais como Puma, Malboro, Sephora e Zara.

A cidade guarda uma raridade

Se o Louvre de Paris tem a Madona Gioconda, o Czartoryski de Cracóvia tem a Madona Cecília Gallerani e seu Arminho.

A Madona e o Arminho - Leonardo da Vinci
Esta madona é um dos ícones gráficos da cidade junto com o dragão.
Depois, ou antes, do museu, é preciso passar algumas horas no Rynek Główny - a Praça do Mercado Central, pois ela certamente é o símbolo da Cidade, colorida e cheia de vida.

Há oito séculos, na Sukiennice (mercado do tecido na praça central), se vende roscas típicas, lembranças, e o melhor do artesanato do país. Pode-se comprar ali o que se desejar.

Rynek Główny  e Sukiennice - Praça do Mercado Central
e prédio do Mercado de tecidos - Museu Nacional
Cópias dos quadros “O tributo prussiano” de Jan Matejko, “O panorama do piedoso samaritano” de Rembrandt, a “Madona e o Arminho” de Da Vinci, o “Altar” de Veit Stoss.

Milenarmente Cracóvia é a cidade das artes por excelência. Por isso Cracóvia tem algo de excepcional. Aqui, pode-se descansar, aqui pode-se permanecer e beber muita cerveja polaca, além de brindar com a palavra “zdrowia”, com a verdadeira vodca.

Mariacka - Basílica de Santa Maria e estátua de Adam Mickiewicz
Na mesma praça está a basílica Santa Maria, curiosa com suas duas torres diferentes, ambas construídas por dois irmãos.

Ah, sim! Também há o famoso toque do trompete. Um dos guardiões ao dar o toque de alarma que os tártaros chegavam foi ferido na garganta por uma flecha. Por isto a melodia executada a cada hora na torre mais alta recorda aquele guardião da muralha.

Visite os arredores Não bastassem os museus, os teatros, os bares, os pubs têm tudo para a alma e desejos.

É bem provável que nesta cidade tenha vivido um dragão. Pois a lenda sobre ele parece real, com seus personagens.

Dragão de Cracóvia

O rei Krakus e a filha Wanda são nomes originalmente polacos, assim como é Casimiro, da palavra Kazimierz, de (“kazić=profanar”) e – (“mierz, do verbo miec = ter”) e que significa “aquele que, quem tem a profanação”.

Kazimierz, também é o bairro mais visitado da cidade. Simplesmente porque ali viveram durante séculos os judeus.
O bairro do Kazimierz, até bem pouco tempo, local de ruínas e “mulambentos” apartamentos se transformou. Novos hostels, bares e restaurantes rapidamente coloriram o bairro das tristes lembranças.

Ulica (rua) Szeroka - bairro do Kazimierz

Tanto que muitos ousam dizer que o Kazimierz (pronuncia-se cajimiéj) seria o novo “Quartier Latin”, “Soho”, ou “Village”. Hotéis como Rubinstein, Ariel e Sarah trouxeram de volta os empresários judeus.

A Prefeitura também faz sua parte
Eventos culturais e artísticos da cidade, como a “Misteria Paschalia”, “Cracow Screen Festival”, “Sacrum Profanum” e Coke Live Music Festival, Festival de Cultura Judaica, são dos mais concorridos no mundo nos últimos três anos.

As quantidades a serem pedidas de canecos de cerveja em idioma polaco
Tudo isto para oferecer aos turistas um “algo a mais” do que o mais bem preservado conjunto arquitetônico da idade média da Europa.

Mas os dias são curtos e os arredores da cidade guardam outras surpresas, como a mina de sal de Wielicka (patrimônio da humanidade), os campos de concentração e extermínio alemão-nazistas de Auschwitz e Birkenau, a cidade onde nasceu o Papa, Wadowice, a cidade que despertou a vocação sacerdotal de Karol Wojtyła, Kalwaria, a capital do inverno polaco, Zakopane e os mosteiros de Kamedłów e Tyniecki.

Mosteiro de Kamedułów do padres camaldulenses da Ordem de São Bento
Catedral nas profundezas da Mina de Sal de Wielicka
Portão de entrada do campo de extermínio alemão de Auschwitz
Zakopane - capital do inverno polaco
Wadowice - terra natal de Karol Wojtyła
Santuário de Kalwaria Zebrzydowska, local onde despertou a a vocação sacerdotal do menino Karol, o futuro Papa
Mosteiro do padres Beneditinos, às margens do rio Vístula em Tyniecka, Cracóvia

Outras informações:
www.krakow.pl
www.cracow-life.com



CRACOW, NOT ONLY FOR A DAY
UlIsses Iarochinski, text

The most beautiful city in Poland, Cracow (in Polish idiom Kraków), is also the most important cultural center from Central and Eastern Europe. And this is not just an effect sentence. This is the purest truth. Cracow experiences in the last five years a growth of tourists from the whole world.

From the 500 thousand people received in 2002, Cracow exceeded the barrier of 5 million tourists in 2005. And that number is increasing, in part due to the admittance of the country in the European Union (May 2004) and the death of Pope John Paul II (April 2005).

The majority of tourists come in excursions from travel agencies with tour packages including Budapest, Vienna and Prague.
They lose the best of the city, because they spend just a few hours in walks through the central square, the royal castle and go away ignoring the real charm of the city.

To come to Cracow involves much more than a few hours, we must live the atmosphere of the medieval city, the city of the romantic period, as well as the period of revolts against Austrian occupation that lasted 123 years.
The city has a prominent gastronomy and to eat a “good pierogi”, a “bigos” or a soup of wild mushrooms in a bowl of bread, nothing compares as the restaurants “UBabcia Malina”, “Chlopskie Jadlo” and “Bar Mleczny”.

There are famous stores as Puma, Marlboro, Sephora and Zara and the Czartoryski Cracow museum houses a rarity: Madonna Cecilia Gallerani and its Ermine.
Another binding tour is passing some hours in Rynek - the Central Market Square, because it is certainly the symbol of the city, colorful and full of life. In Sukiennice (fabric market in central square, it is eight centuries old), sells typical bagels, souvenirs and the best craft of the country. You can buy there anything you want.

Not only the museums, theaters, bars and pubs, the tourist also must visit the districts of the city, as Mr Kazimierz, the “Quartier Latin”, “Soho” of Krakow. The city has cultural events and artistic as the “Misteria Paschalia”, “Cracow Screen Fest”, “Sacrum Profanum” and Coke Live Music Festival Festival, Jewish Culture, one of the most demanded in the world in recent years.


All this to offer tourists “something more” beyond the most well preserved architectonic aggregate from the Middle Ages in Europe. But the days are short and surroundings of the city keep other surprises, such as Wielicka salt mine (patrimony of humanity), the German Nazis concentration and extermination camps at Auschwitz and Birkenau, the city where the Pope was born, Wadowice, the city that prompted the priestly vocation of Karol Wojtyła, Kalwaria, winter Polish capital, Zakopane and monasteries of Kamedłów and Tyniecki.

In Cracow it’s possible to know history and rest drinking a lot of Polish beer, in addition to toast “zdrowia” with the real vodka.
Other information: www.krakow.pl or www.cracow -life.com


Texto publicado originalmente no Aeroporto Jornal
 Ulisses Iarochinski, textos e fotos
 Publicada na edição 111 - março/2009

No São Silvestre, o "sonho" polaco também pode ser oferecido


A verdadeira origem do "sonho" está na Polônia.
O doce foi introduzido no Brasil por imigrantes polacos, mais precisamente em Curitiba.
Recheado originalmente com geléia de broto de rosa, e por isso mesmo chamado de pączek (pronuncia-se pontchék) ou broto, botão, existe desde tempos imemoriais na mesa polaca.
No fim da idade média, um rei da Polônia, trouxe da França um grupo de confeiteiros para tornar mais elegante a culinária do país. Os franceses ao se depararem com o pączek ficaram enamorados....o que fizeram foi acrescentar fermento para que a massa ficasse mais delicada e polvilharam o bolinho frito com açucar...e pronto!
Durante as invasões prussas, os atuais alemães caíram de amores pelo doce polaco e o levaram para Berlim, onde deram ao doce polaco, o nome bobo de "Bolas de Berlim"....
Foi ali, que portugueses foram copiar as suas bolas de berlim. E por que não sonho, como no Brasil? É porque nossos patrícios lusitanos não sabiam da história, que os imigrantes polacos trouxeram para Curitiba.
Ah! E por que se chama sonho e não bolas de berlim, ou pontchek no Brasil? Simples, porque na Polônia, o pączek, com recheio de geléia de broto da flor rosa, tem seu dia nacional.
É a quinta-feira gorda antes do carnaval, quando os polacos reservam o dia para fazer os pączki e saírem nas ruas oferecendo a quem passar por eles. Apenas se pode comer o pączek oferecido.
Aliás para que os "sonhos" tidos enquanto se come, efetivamente se realizem só é permitido comer 2 pączek e meio nesse dia.
Como o pączek é comido no dia nacional do Sonho, na Polônia, os imigrantes polacos do Pilarzinho, Barreirinha, Santa Cândida resolveram abrasileirar o nome do doce e o cunharam como "Sonho"....
Apesar de ser degustado na quinta-feira antes do carnaval, nada impede que no dia de São Silvestre também se ofereça pączki aos amigos para que eles possam ter seus sonhos realizados em 2014...
Feliz Ano Novo, com os cumprimentos de um polaco-paranaense. Ah! Sim, e o recheio brasileiro, na falta da geléia de broto de rosa, pode ser marmelada mesmo...

Receita
Aqui está uma autêntica receita de sonho polaco:
2 kg de farinha de trigo
20 gramas de levedura
1 1/ 2 xícara de margarina
30-40 gramas de açúcar cristal
1 colher de sopa de sal
5 gemas de ovos
1/2 litro de leite
1/2 xícara de vodca
gordura para fritar
açúcar em pó para polvilhar
geléia de broto de rosas

Despeje a farinha em uma tigela, adicione o fermento,  2 colheres de sopa de açúcar e uma pequena quantidade de leite quente.
Quando a massa ganhar a consistência de um creme espesso adicione gemas batidas com o açúcar e o sal.
Amasse e adicione o restante do leite. Em seguida, sem interromper de amassar, adicionar a vodca.
A massa deve ficar lisa, brilhante. A massa agora deve descansar sendo coberta com uma toalha, em um lugar quente para crescer.
Só então começa-se a preparar as bolas com um diâmetro de cerca de 5 cm.  Abre-se uma cavidade e no centro, coloca-se o recheio (geléia  de rosa, marmelada), fecha-se a cavidade.
Cubra com um pano limpo e deixe crescer novamente.
Depois de alguns minutos as bolas recheadas estão prontas para serem fritas em gordura bem quente. Depois de escorrer a gordura, polvilhe com açúcar de confeiteiro.
Deixar esfriar e preparar-se para ter lindos sonhos enquanto degusta os pączki (pontchqui) polacos com recheio de geléia de broto de rosas.