Wałęsa em 1980. Foto: Bjoern Elgstrand AP
Wałęsa com Dalaj Lama ontem. Foto: Beata Kitowska / Agencja Gazeta
"Não existe liberdade sem solidariedade”, afirmava Lech Wałęsa, quando de sua mesa-redonda com o governo comunista da Polônia dos anos 80.
A frase foi lembrada na Conferência Internacional “Solidariedade para o Futuro”, promovida pelo Instituto Lech Wałęsa, neste fim de semana, na cidade de Gdańsk, por ocasião dos 25 anos que o sindicalista polaco recebeu o Prêmio Nobel da Paz. O polaco não pode comparecer a cerimônia em Oslo, em 10 de dezembro de 1983, pois o governo comunista de de Jaruzelski não permitiu. Em seu lugar recebeu sua esposa Danuta.
Jerzy Buzek, euro deputado e ex-primeiro-ministro, abrindo os trabalhos apresentou uma brochura que foi distribuída clandestinamente para informar à população que o líder da solidariedade havia ganhado a mais importante premiação do mundo. A brochura teve apenas 1000 exemplares publicados, mas isto não impediu que os polacos soubessem que a escuridão comunista estava começando a clarear. Burzek anunciou também os três temas que serão discutidos neste fim de semana: A globalização da Paz, o fortalecimento do continente europeu e o desenvolvimento econômico do mundo no futuro.
A festa promovida na capital do Báltico é uma resposta a nível mundial de Wałęsa ao Instituto da Memória Nacional, aos dois historiadores que em livro acusaram o eletricista de ter sido agente do serviço secreto comunista polaco e ao próprio atual Presidente Lech Kaczyński, que no último feriado nacional, não convidou Wałęsa para as comemorações do Centenário da Independência da Polônia.
Agora, quando, Wałęsa recebe presidentes, prêmios Nobel e autoridades do mundo inteiro, Lech Kaczyński, está visitando Japão e Coréia do Sul. Mas na abertura da conferência, não só estava ao lado de Wałęsa, o atual primeiro-ministro Donald Tusk, que foi o terceiro a falar, justo depois do homenageado. “Os moradores desta cidade estão felizes hoje por receber grandes personalidades, pessoas que mudaram os rumos de nossa civilização. O fenômeno solidariedade, aqui em Gdańsk, teve em Wałęsa um herói da luta pela liberdade.” Concluindo seu discurso Tusk afirmou “Foste, és e será sempre uma lenda. E herói de nossas lendas nacionais e ponto final.”
O último líder da União Soviética, Michaił Gorbaczow, disse ter conversado várias vezes com Karol Wojtyła - Papa João Paulo II - e se diz amigo de Wałęsa, "Quando se fala de Wałęsa também há que se falar de Jaruzelski. O general também foi importante para a queda do poder ditatorial. Tenho trabalhado em conjunto com Wałęsa em várias frentes internacionais, temos um ótimo diálogo e realmente é um herói."
Foto: TVN
Para as câmeras de televisão, o ministro das relações exteriores da França, Bernard Kouchner levantou os braços e olhando para o céu, gritou: "Lech Wałęsa é meu herói e não só meu mas de todos os europeus e de muita gente no mundo".
Para convidados e presidentes de vários países do mundo, o francês Nicolas Sarkozy, presidente da França e da União Européia, afirmou algo que o mundo Ocidental tomou como símbolo da queda do comunismo: "Gdańsk, Lech Wałęsa são os verdadeiros e únicos símbolos desta luta pela queda do comunismo e não o Muro de Berlim. Precisamos reconhecer esta verdade histórica, se queremos construir com Solidariedade a União Européia."
O também prêmio nobel da Paz, o advogado Shirin Edadi assim se referiu a cidade anfitriã: "Aqui foram colocados os fundamentos da liberdade das sociedades contra o fanatismo e o despotismo."
O português José Manuel Barrozo foi o quarto a falar em nome dos portugueses, que há vinte e cinco anos atrás foram os primeiros a enviar felicitações e encorajamento a Wałęsa. Como presidente atual da Comissão Européia, Barrozo se disse envaidecido pelo convite e afirmou que, “o Solidariedade ficou sendo símbolo da paz, da liberdade e dos tempos.” Depois disse “A União Européia só está sendo possível porque nesta cidade, neste país existiu um movimento chamado Solidariedade. Paz, justiça e liberdade são três princípios da União Européia. Precisamos de Solidariedade, no mais alto nível, neste contexto de globalização. Lech Wałęsa e o Solidariedade foi uma grande e ambiciosa empresa que permitiu que a União Européia pudesse se desenvolver. Sem ele não teria caído a cortina de ferro, não estaríamos aqui falando de paz, justiça, liberdade, desenvolvimento e principalmente solidariedade.” E em idioma polaco agradeceu: “bardzo dziękuję (muito obrigado).”
As televisões polacas desde ontem emitem programas de entrevistas com visitantes e especialistas polacos. O Prof. dr hab. Andrzej Friszke, historiador, disse a TVP3, que “hoje não é só um feriado de Wałęsa, mas um feriado nacional de toda a Polônia”. Em seguida afirmou que o livro dos historiadores que há um ano vem lançando manchas na vida de Wałęsa, “não apresentam em seu livro nenhuma prova concreta daquilo que acusam o líder do Sindicato Solidariedade”.
O presidente do Congresso da Polônia, em sessão especial, transmitida ao vivo para todo país, nesta sexta-feira, deputado Bronisław Komorowski, defendeu Wałęsa contra o que chamou de “inverdades dos historiadores do Instituto da Memória Nacional. Lech Wałęsa é o herói que derrubou a ditadura comunista”. O presidente do Senado, Bogdan Borusewicz repetiu frase que está sendo dita em todo o país, "Este não é um feriado só de Lech Wałęsa, mas de toda a Polônia."
Além de Dalai Lama, estão em Gdańsk, o rei da Arábia Saudita, Abdullah bin Abdulazi, o presidente da França Nicolas Sarkozy, Michaił Gorbaczow, os também prêmios nobel da Paz, o ex-presidente da África do Sul Willem de Klerk, o iraniano Shirin Ebadi, o argentino Adolfo Esquivelem e o presidente do Comitê do Prêmio Nobel prof. Ole D. Mjos. E figuras importantes da atualidade polaca como Tadeusz Mazowiecki, Jan Krzysztof Bielecki, Jerzy Buzek, prefeita de Varsóvia Hanna Gronkiewicz-Waltz, Zbigniew Bujak, Czesław Bielecki, Leszek Balcerowicz, Marek Borowski, Janusz Kaczmarek, Edmund Wittbrodt e Jolanta Kwaśniewska. Além disso, estão nas margens do Báltico polaco, a maioria dos presidentes e primeiro-ministros dos países europeus.
Niguém mencionou e parece que também não sentiram a ausência do Presidente Lech Kaczyński e seu irmão gêmeo Jarosław.
Lech Wałęsa nasceu em 29 de setembro de 1943 em Popowo, próximo a Lipno, na região de Dobrzyń. Seu pai Bolesław, um carpiteiro, era respeitado e estimado na comunidade local, foi enviado ao campo de trabalhos forçados dos alemães durante a II Guerra Mundial. Quando retornou toda a localidade tinha sido devastada. A mãe de Lech, Feliksa Kamieńska, nasceu em uma família de fortes tradições polacas e passou a seus filhos um extremo sentimento de patriotismo. Com a morte do marido Bolesław foi ajudada por seu irmão a criar seus filhos. O jovem Lech Wałęsa estudou nas escolas de Chalin e Lipno. Mais tarde começou a trabalhar como eletricista no Centro de Construções de Máquinas. Logo ele estava conspirando contra o serviço militar obrigatório em Koszalin. Ali aparecia pela primeira vez as qualidades que o transformariam num líder capaz de mudar o mundo. Depois de cumprir contra sua vontade o serviço militar decidiu mudar-se para Gdańsk em busca de melhores trabalhos. Conseguiu uma vaga de eletricista de navios no Estaleiro Lenin. Em 8 de dezembro de 1969, ele se casou com Danuta Gołoś.
A primeira menção sobre Lech Wałęsa é como um dissidente em 1968, quando ele encorajou seus colegas a realizar um boicote no estaleiro em apoio as greves estudantis. Em dezembro de 1970, ele participou atividamente nos comites de greves e se ofereceu ao posto de presidente do Comitê de Greves. Depois dos trágicos acontecimentos daquela greve de 1970, quando 39 trabalhadores morreram, ele prometeu que nunca mais esta situação se repetiria. Pouco depois se torna membro do Sindicato Livre de Trabalhadores. Suas atividades "subversivas" para as autoridade no Sindicato Livre causa sua expulsão em 1976 dos estaleiros. Vai trabalhar então na companhia ZREMB. Continuava sua missão de ensinar os trabalhadores sobre seus direitos. Logo seria desligado da ZREMB por razões políticas. Em maio de 1979, ele estava empregado na companhia Elektromontaż, mas só trabalhou até dezembro daquele ano. Foi demitido por participar das comemorações das greves de 1970.
Até o início de agosto de 1980 ele ficou desempregado. Ele foi um dos maiores instigadores das greves daquele agosto. Quando os trabalhadores dos estaleiros começaram a protestar em frente ao prédio da administração Lech Wałęsa deu o famoso "pulo sobre a cerca de arame" e colocou-se no coração dos acontecimentos. Tudo o que aconteceu naquele agosto afetou o curso da história polaca, mas também da Europa e de todo o mundo. Lech Wałęsa, queria negociar, forçava as autoridades comunistas do governo a sentar-se pela primeira vez, desde a introdução do comunismo no mundo sociético para conversar com os trabalhadores. Ele falava em nome do Sindicato Independente dos Trabalhadores Solidariedade. Surpreendentemente ela consegue a primeira vitória dos trabalhadores. Mas o regime totalitário impõe a Lei Marcial em 13 de dezembro de 1981. Lech Wałęsa foi um dos primeiros a ser preso. Foi mantido, inicialmente em Chylice, depois em Otwock, e finalmente em Arłamów, até novembro de 1982. Um ano depois ele reassume seu posto de eletricista no Estaleiro de Gdańsk, onde oficialmente trabalha até 22 de dezembro de 1990, para assumir o posto de Presidente da República da Polônia, nas primeiras eleições livres e democráticas desde a Segunda Guerra Mundial.
Em 1983, sua luta pela liberdade foi reconhecida no mundo todo com a conquista do Prêmio Nobel da Paz. Impedido de ir a solenidade foi representado em Oslo pela esposa Danuta e um dos filhos, Bogdan.
Em 15 de novembro de 1989, Lech Wałęsa se tornou o primeiro estrangeiro na história a abrir a seção de trabalhos do Congresso dos Estados Unidos.