quinta-feira, 2 de abril de 2009

Quatro anos sem ele...

Lembro que era uma sexta-feira, de sol de primavera. Terminadas as aulas no curso de idioma polaco, voltei pra casa. Liguei a TV enquanto preparava o almoço e ao sintonizar um canal qualquer percebi que estava com uma imagem do Vaticano. Percorri os outros canais e a imagem era a mesma. Então pude ouvir a tradução pelo jornalista polaco do pronunciamento em italiano do Cardeal Navarro Vals. "Sua Santa Santidade Papa João Paulo II está em seus estertores de vida, pedimos a todos que orem por ele". Foram mais ou menos estas as palavras do porta-voz da Santa Sé.
Não esperei mais, mesmo sem terminar de fazer o almço, quanto mais de comer alguma coisa, peguei a câmara de vídeo, microfone e tripé e fui para o único local que me ocorreu naquela hora: a Cúria Metropolitana de Cracóvia, onde o então cardeal Karol Wojtyla viveu de 1964 a 1978. Se havia algum lugar no mundo nessa hora onde pessoas podiam estar reunidas rezando pela sovrevida de João Paulo II, este era o lugar.
Cheguei lá e diante da Cúria, embaixo da janela onde tantas vezes aquele polaco falou com seu povo, uma pequena multidão se aglomerava. Comecei a filmar. Não sabia ainda para quem mostraria e nem quando mostraria estas imagens. Ainda era primeiro de abril, o Papa polaco ainda não havia morrido.
De repente toca meu celular e de Curitiba, da Rádio CBN chama o jornalista José Wille querendo saber como o povo de Cracóvia estava reagindo às últimas notícias de Roma. Respondi a todas as perguntas. Não sabia que estava começando uma verdadeira via-sacra para mim. José Wille ainda me perguntou se o autorizava a dar o número de meu telefone para outros órgãos de imprensa brasileiros. Disse que não havia problema.
Não demorou muito e celular tocou novamente, agora era a TV BandNews de São Paulo. Nova entrevista. Finalizando, o jornalista da Band perguntou se poderia voltar a ligar, pois com toda certeza o Papa iria morrer e eu era até onde ele sabia, o único brasileiro em Cracóvia. Disse então a ele que havia dado a entrevista na condição de um brasileiro que estava aqui. Mas que se ele quisesse me ouvir mais, então seria preciso acertar os honorários, pois afinal de contas, ele estava falando com um jornalista (repórter e cinegrafista), que no momento, aliás, estava justamente filmando a reação dos católicos polacos de Cracóvia.
Mais tarde sou interrompido nas minhas gravações pelo chefe de jornalismo da Rede Bandeirantes de Televisão que desejava acertar para que eu fosse o correspondente internacional da Band em Cracóvia para o Telejornal da Band. Acertamos e ele já queria o material gravado para esta mesma noite.
Depois de entrevistar alguns brasileiros que chegaram no local, postei-me diante da câmera apoiada no tripé e gravei o encerramento da reportagem, que mais tarde editei e enviei para que fosse assistida por todos os telespectadores brasileiros. No decorrer daqueles dias fiz outras reportagens. Uma delas, que causou maior repercussão entre os telespectadores da Band foi essa sobre os monges enclausurados do Mosteiro de Kamedlów. Ela pode ser conferida adiante:


Naquela noite de sábado, as 21:37 horas, quando o Papa João Paulo II morria no Vaticano, o pesado sino de Zygmund, na Catedral de Wawel soou tristes badaladas. Ele só toca em horas importantes da nação polaca. E aquela era mais do que uma hora importante. Morria em Roma, o polaco mais conhecido no mundo desde Mikolaj Koperniko. A Polônia havia se transformado numa grande igreja de quase 40 milhões de fiéis que rezavam fervorosamente pelo seu filho mais querido e abençoado.
A TV Bandeirantes, interrompeu sua programação normal e passou a acompanhar desde o Vaticano, e comigo desde Cracóvia 24 horas interruptas como reagiam os fíéis na praça de São Pedro, no Vaticano e em frente à Cúria de Cracóvia. A repercussão ao meu trabalho foi imediata. Do Brasil recebi telefonemas e emails cumprimentando pelo trabalho.
Na noite do dia seguinte, o Domingo à noite, descansava por alguns momentos da longa maaratona de gravar imagens, entrevistar e editar as reportagens, numa confeitaria da cidade tomando um chá com dois amigos brasileiros, quando o telefone toca de novo e da redação do Jornal O Estado de SPaulo querem saber se eu podia escrever pelo menos duas páginas de texto sobre a reação dos polacos com a morte do Papa. Embora cansado de fazer tudo sozinho para neste trabalho gratificante para a TV Bandeirantes já há dois dias (entrevista, imagens, passagens, encerramentos, edição) aceitei. O Editor do carderno especial que deveria chegar às bancas naquela manhã de segunda-feira no Brasil, queria o texto, entretanto para dali a 5 horas no máximo (em função do fuso horário eu teria um tempo razoável, segundo o editor). O jeito era voltar para casa, sentar-se diante do computador mais uma vez. Só que agora não para editar a reportagem para a TV, mas para escrever o texto da reportagem para o maior jornal brasileiro. Abaixo, uma ilustração da minha matéria que abriu a capa do caderno especial, em 04 de abril de 2005, uma segunda-feira.

Nunca havia trabalhando tanto e exercido tantas funções jornalísticas em minha carreira, num espaço de horas tão reduzido. Mas a semana estava apenas começando... Agora além da câmara de vídeo e tripé, eu teria que portar também uma câmera fotográfica para fazer fotos para o Estadão, além do texto já acertado. Minha cobertura simultânea para a Band e o Estadão durou 10 dias, dois dias a mais depois do enterro de Sua Santidade Papa João Paulo II, em Roma.
Não foi minha estréia como correspondente internacional, porque já havia trabalhado antes para a TV e Rádio Internacional da Holanda. Mas foi certamente o evento mais importante em minha carreira jornalista, que contabiliza ainda a cobertura de quatro Copas do Mundo de Futebol e uma Copa Mundial de Voleibol.
Na manhã de hoje, passei diante da Cúria Metropolitana de Cracóvia mais uma vez em minha cracoviana, local onde o ex-secretário do Papa, Stanisław Dzwisz é agora o Cardeal. Lá pude ver que havia preparação de músicos, num grande palco montado ao lado da Igreja de São Francisco de Assis e diante da janela da Cúria, onde agora repousa um quadro de tamanho natural do Papa .


Foto: Ulisses Iarochinski

Cracóvia comemora quatro anos sem Karol Wojtyła com um grande espetáculo de música e muitas missas. De resto toda a Polônia vai cantar esta noite em homenagem ao homem que em breve será canonizado Santo João Paulo II. E o sino da Catedral de Wawel será o único a interromper todos os espetáculos justamente às 21 horas e 37 minutos.

Gaude mater Polonia

Matko Polsko, o ciesz się ciesz.
W łonie niosąca sławny ród.
W przybytki Króla Królów spiesz.
Niech chwałę da mu wszystek lud.
Ciesz się Matko, Polsko,
Bo syna masz szlachetnego.
Sław liczne niezwykłe czyny
Godnego sługi Bożego.
Bowiem dobroć i łaska
Biskupa Satnisława
Męczeństwem nazczona
W nieszwykłych jaśnieje blaskach.
Amen.

Goleada histórica: Dez a zero para a Polônia

Jelen, Lewandowski e Smolarek - Foto: Radosław Jóźwiak

Dez a zero, não só a maior goleada da rodadas das eliminatórias 2010, foi também a maior da história dos confrontos internacionais da Polônia.
Tá certo que foi com a quase amadora seleção do principado de San Marino, uma cidade encravada na Itália, que de tão pequena, tem sem grande prêmio de Fórmula 1 realizado na vizinha cidade italiana de Ímola. Mas tantos já jogaram contra San Marino e não fizeram 10 a zero. Nem mesmo a seleção canarinho de futebol fez um placar tão elástico em sua história. Em Copas do Mundo, a marca histórica era da Hungria, que em 1982, no Mundial da Espanha, venceu El Salvador por 10 a 1. Em fases eliminatórias da Copa do Mundo a maior goleada contínua em poder da Alemanha que fez 12 X 0 contra Chipre em 1969.
A verdade é que depois da derrota para a Irlanda do Norte por 3X2 e de muita discussão no país sobre a permanência do treinador holandês Leo Benhakker no comando da seleção, o que se viu em campo, no estádio da cidade de Kielce (duas horas de trem de Cracóvia) foi muita disposição. Jacek Krzynówek, o 8 polaco, apesar de deslocado para a lateral-esquerda, ou se preferírem os saudosos de Cláudio Coutinho: ala, parecia mais um ponta-esquerda ao estílo Dirceuzinho (o garoto dos pinheirais) do que um Roberto Carlos dos chutões.
Mas o que contou mesmo foi a estréia do jovem Rafał Boguski, do Wisła Kraków, que nem bem o juiz apitou o início da partida, já estava abrindo o placar aos 35 segundos. Com praticamente 5 atacantes, o treinador holandês deu sua resposta ao que queriam sua degola. Boguski, Robert Lewandowski, Jelen, Krzynówek e Euzebiusz Smolarek. Este, talvez o maior jogador polaco da atualidade ainda fez o décimo-primeiro gol de bicicleta invalidado pelo juiz, depois de já ter feito quatro gols. Além de um décimo-segundo, também invalidado pelo juiz. Na ordem, Boguski fez a 35 seg. e aos 27 min, depois Smolarek aos 17, 60, 72 e 81 min., Robert Lewandowski fez o seu ainda no primeiro tempo aos 43 min., Jeleń aos 5 min do segundo tempo, Mariusz Lewandowski fez aos 18 min. do segundo tempo e Saganowski fechou a goleada aos 43 minutos do final.
Em relação à derrota de Belfast, o técnico fez quatro alterações na equipe que mandou a campo com Fabiański no lugar do frangueiro Boruc, Smolarek no lugar de Wawrzyniaka, Boguski no de Bandrowski e Bosacki no lugar de Żewłakowa.
A última fez que a Polônia fez um placar tão largo foi há 46 anos (1963),quando venceu a Noruega por 9 X 0 e em 8 X 0 contra o Azerbaijão em 2005.
Uma hora depois da partida terminada, o presidente da Federação, o ex-ídolo Grzegorz Lato, artilheiro da Copa de 1974, ainda teve que se explicar aos jornalistas. A goleada parece não ter serenado os ânimos. Todos queriam saber da demissão do holandês Benhakker. Primeiro respondeu, que nos últimos dias nunca existiu uma reunião para tratar da demissão do técnico e finalmente admitiu que ainda em abril este assunto será tratado. Pois circularam rumores ainda durante a quase madrugada de que Leo Beenhakker pediu para quebrar o contrato.
Seja como for, as próximas partidas só acontecerão em junho. Tempo bastante curto para se trocar de técnico, mas ainda em tempo dos seis meses que faltam para o último jogo das eliminatórias. Com a Eslováquia vencendo por 2 X 1, ontem mesmo a forte seleção da República Tcheca, as possibilidades da Polônia estão na África do do Sul ano que vem, apesar da goleada, são bastante difíceis. E os jogos que faltam para a Polônia são exatamente contra os dois vizinhos, Eslováquia aqui e Tcheca em Praga. A situação no grupo é bastante complicada para a Polônia, portanto. O resultado permitiu à Polônia subir ao terceiro posto na classificação do grupo e reentrar na luta pelo primeiro lugar, embora com menos três pontos do que a Irlanda, mas também com menos um jogo. A Eslováquia está em segundo lugar e teoricamente leva vantagem, tem dois pontos a mais do que a Polônia e um jogo a menos.
Ah, sim! Roger Guerreiro deu muito chutões para a lateral do campo, não dando tempo para seus companheiros chegar a tempo na bola. A alegria de jogar dos polacos não parece ter contagiado o paulista de passaporte vermelho.
Polônia:
Fabiański - Wasilewski, Dudka, Bosacki, Krzynówek - Jeleń (71. Błaszczykowski), Mariusz Lewandowski, Roger, Smolarek - Boguski (80. Saganowski) - Robert Lewandowski (66. Sosin)
San Marino:
Valentini - Simoncini, Della Valle, Simone Bacciocchi, Matteo Andreini, Nicola Albani, Giovanni Bonini (53. Selva), Matteo Bugli, Michele Marani, Ezequiel Rinaldi, Matteo Vitaioli (64. Berretti)