Não esperei mais, mesmo sem terminar de fazer o almço, quanto mais de comer alguma coisa, peguei a câmara de vídeo, microfone e tripé e fui para o único local que me ocorreu naquela hora: a Cúria Metropolitana de Cracóvia, onde o então cardeal Karol Wojtyla viveu de 1964 a 1978. Se havia algum lugar no mundo nessa hora onde pessoas podiam estar reunidas rezando pela sovrevida de João Paulo II, este era o lugar.
Cheguei lá e diante da Cúria, embaixo da janela onde tantas vezes aquele polaco falou com seu povo, uma pequena multidão se aglomerava. Comecei a filmar. Não sabia ainda para quem mostraria e nem quando mostraria estas imagens. Ainda era primeiro de abril, o Papa polaco ainda não havia morrido.
De repente toca meu celular e de Curitiba, da Rádio CBN chama o jornalista José Wille querendo saber como o povo de Cracóvia estava reagindo às últimas notícias de Roma. Respondi a todas as perguntas. Não sabia que estava começando uma verdadeira via-sacra para mim. José Wille ainda me perguntou se o autorizava a dar o número de meu telefone para outros órgãos de imprensa brasileiros. Disse que não havia problema.
Não demorou muito e celular tocou novamente, agora era a TV BandNews de São Paulo. Nova entrevista. Finalizando, o jornalista da Band perguntou se poderia voltar a ligar, pois com toda certeza o Papa iria morrer e eu era até onde ele sabia, o único brasileiro em Cracóvia. Disse então a ele que havia dado a entrevista na condição de um brasileiro que estava aqui. Mas que se ele quisesse me ouvir mais, então seria preciso acertar os honorários, pois afinal de contas, ele estava falando com um jornalista (repórter e cinegrafista), que no momento, aliás, estava justamente filmando a reação dos católicos polacos de Cracóvia.
Mais tarde sou interrompido nas minhas gravações pelo chefe de jornalismo da Rede Bandeirantes de Televisão que desejava acertar para que eu fosse o correspondente internacional da Band em Cracóvia para o Telejornal da Band. Acertamos e ele já queria o material gravado para esta mesma noite.
Depois de entrevistar alguns brasileiros que chegaram no local, postei-me diante da câmera apoiada no tripé e gravei o encerramento da reportagem, que mais tarde editei e enviei para que fosse assistida por todos os telespectadores brasileiros. No decorrer daqueles dias fiz outras reportagens. Uma delas, que causou maior repercussão entre os telespectadores da Band foi essa sobre os monges enclausurados do Mosteiro de Kamedlów. Ela pode ser conferida adiante:
Naquela noite de sábado, as 21:37 horas, quando o Papa João Paulo II morria no Vaticano, o pesado sino de Zygmund, na Catedral de Wawel soou tristes badaladas. Ele só toca em horas importantes da nação polaca. E aquela era mais do que uma hora importante. Morria em Roma, o polaco mais conhecido no mundo desde Mikolaj Koperniko. A Polônia havia se transformado numa grande igreja de quase 40 milhões de fiéis que rezavam fervorosamente pelo seu filho mais querido e abençoado.
A TV Bandeirantes, interrompeu sua programação normal e passou a acompanhar desde o Vaticano, e comigo desde Cracóvia 24 horas interruptas como reagiam os fíéis na praça de São Pedro, no Vaticano e em frente à Cúria de Cracóvia. A repercussão ao meu trabalho foi imediata. Do Brasil recebi telefonemas e emails cumprimentando pelo trabalho.
Na noite do dia seguinte, o Domingo à noite, descansava por alguns momentos da longa maaratona de gravar imagens, entrevistar e editar as reportagens, numa confeitaria da cidade tomando um chá com dois amigos brasileiros, quando o telefone toca de novo e da redação do Jornal O Estado de SPaulo querem saber se eu podia escrever pelo menos duas páginas de texto sobre a reação dos polacos com a morte do Papa. Embora cansado de fazer tudo sozinho para neste trabalho gratificante para a TV Bandeirantes já há dois dias (entrevista, imagens, passagens, encerramentos, edição) aceitei. O Editor do carderno especial que deveria chegar às bancas naquela manhã de segunda-feira no Brasil, queria o texto, entretanto para dali a 5 horas no máximo (em função do fuso horário eu teria um tempo razoável, segundo o editor). O jeito era voltar para casa, sentar-se diante do computador mais uma vez. Só que agora não para editar a reportagem para a TV, mas para escrever o texto da reportagem para o maior jornal brasileiro. Abaixo, uma ilustração da minha matéria que abriu a capa do caderno especial, em 04 de abril de 2005, uma segunda-feira.
Nunca havia trabalhando tanto e exercido tantas funções jornalísticas em minha carreira, num espaço de horas tão reduzido. Mas a semana estava apenas começando... Agora além da câmara de vídeo e tripé, eu teria que portar também uma câmera fotográfica para fazer fotos para o Estadão, além do texto já acertado. Minha cobertura simultânea para a Band e o Estadão durou 10 dias, dois dias a mais depois do enterro de Sua Santidade Papa João Paulo II, em Roma.
Não foi minha estréia como correspondente internacional, porque já havia trabalhado antes para a TV e Rádio Internacional da Holanda. Mas foi certamente o evento mais importante em minha carreira jornalista, que contabiliza ainda a cobertura de quatro Copas do Mundo de Futebol e uma Copa Mundial de Voleibol.
Na manhã de hoje, passei diante da Cúria Metropolitana de Cracóvia mais uma vez em minha cracoviana, local onde o ex-secretário do Papa, Stanisław Dzwisz é agora o Cardeal. Lá pude ver que havia preparação de músicos, num grande palco montado ao lado da Igreja de São Francisco de Assis e diante da janela da Cúria, onde agora repousa um quadro de tamanho natural do Papa .