sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O lenço do Boczon

Ele é leitor assíduo deste blog. Confesso que eu nem tanto do dele. Mas a Internet tem esse "dom" de aproximar polacos de várias tribos...e aqui está uma das criações de Cláudio Boczon (pronúncia do sobrenome do artista: Bótchón). Ele é Artista plástico, designer e poeta bissexto, estudou na UFPR e na EMBAP. Desde 1998 participa de salões de arte e exposições coletivas e individuais no Brasil e exterior, além de festivais de poesia, sendo premiado algumas vezes. Trabalha com pintura, gravura e fotografia, e também tem feito pesquisas genealógicas e iconográficas sobre sua origem eslava.


Neste poema OS LENÇOS ÀS POLACAS ele revela seu amor à ávó e com fina ironia localiza os "poloneses".


há horas em que me faltas
e peço que, ainda ao pé da cama,
à gravura de Jesus-Maria-José
desfies teu terço,
e que, a vela das almas que acendes,
a sombra da tua fé
desenhe nos sarrafos das paredes


sentado no caixote de lenha
olhando as cinzas que brasas
também foram madeira,
sozinho e calado sorvo
o café que há tão pouco
passastes do pano ao bule
à caneca de folha esmaltada com flores
e, em azul, "saudade"

na folhinha com dias dos santos
é sábado, 20 de julho
há sete anosprocuro teu lenço,
mas faltam lenços às polacas
que, com as saias sobre as calças,
reclamavam: "zimno, mésmo"!
e iam a pé, na estrada-velha,
rezar na Capela da Matka Boska Bolesna,
na Colônia Thomaz Coelho

broa, banha e sal já tenho,
pierogui na feira, dança no teatro,
casa de tronco, artesanato
- essas coisas de polonês -
mas do pouco polaco que penso,
falta sempre nas cabeças polacas
um lenço

VI. 2003 – para minha babcia Apollonia Kocholi, nascida Mazur

A primeira sopa da volta

Neste retorno a Cracóvia, fazia falta mais que tudo o paladar. Busquei no bairro judeu do Kazimierz (cajimiéjem-casimiro) aquela zupa (sopa) que não me sai da cabeça nestes tempos de exílio brasileiro. E tinha que ser naquele meu "velho" conhecido restaurante camponês: o CHŁOPSKIE JADŁO (ruópsquie iáduo - comida camponesa). O que fica na ulica (ulitssa-rua) św. Agnieszki 1, 31-071 Kraków, tel. (12) 421 85 20.
Reparem na sequência de fotos para sentir o ambiente e a atmosfera do campo polaco...


Agora sim! Feitos os pedidos, o Kelner (garçon) traz numa taça de novo design a insubstituível cerveja OKOCIM (ocótchimm) junto com uma tábua de bater carne com uma imensa faca, dois potes de cremes e duas fatias de pão camponês. Num pote está servido requeijão temperado com cebolinha, pimenta e sal. Ah! E o outro pote? Nada menos do que a famosa "bãnha" de polaco... Sim! Gordura de porco com torresminhos... é de morrer só nesta entrada... Eita! "pãum con bãnhá" dos polacos da Barreirinha. Não é mesmo Tadeu Poeta?




Epa! Espera um pouco que ainda não foi nada. O melhor está chegando nesta cumbuca de broa. Olhem bem... e vejam se é possível encontrar sobre uma mesa algo tão especial. Com o requeijão, o pão e o piwo (cerveja) do lado, só resta abrir a tampa e saborear a melhor e mais gostosa sopa do mundo. Zupa Grzybowa (zupa gjibóva - sopa de cogumelos) do CHŁOPSKIE JADŁO.


Sei...querem saber a receita? Está bem...aí vai:

Ingredientes
Meio aipo pequeno
1 maço de salsinha
3 cenouras
5 batatas médias
Meia porção da parte branca do alho-poró
25 gramas de cogumelos frescos mistos
1 cebola grande
150 ml de nata
1 colher de sopa de farinha de trigo
2 litros de água
3 colheres de óleo
sal e pimenta
1 tubinho de caldo de vegetais

Preparo
Lavar e descascar os legumes. O aipo e a cenoura devem ser cortados em cubinho e em seguida cobertos com água. Acrescente toda a salsinha picada. Tempere com sal, tape e deixe cozinhar cerca de 20 minutos.
Durante este tempo, corte em cubinhos as cebolas e frite brandamente no óleo. Adicione os cogumelos limpos e cortados e deixe por um tempo na fritura.
Despeje o conteúdo dos legumes e da fritura numa outra panela com a mesma água. Cozinhe por mais um tempo acrescentando sal, pimenta, a batata, alho-poró e o caldo. A farinha deve ser bem misturada com creme azedo e, em seguida, endurecer com algumas colheradas do caldo. A sopa pode ser servida dentro da broa sem o miolo.
Esta sopa do restaurante do Kazimierz tem ainda um cubinhos de macarrão, que devem ser cozidos à parte e ao dente. Não cozinhar o macarrão junto com a sopa, porque este absorve muito líquido e sopa pode perder todo o sabor. Assim, adicionar o macarrão cozido somente depois da sopa pronta e antes de ser servida dentro da cumbuca de pão.
Smaczenego!


P.S. Todas as fotos são de minha autoria...tiradas nos intervalos do sonho realizado...