sexta-feira, 12 de abril de 2019

27 polacos morreram na rua, desabrigados na Grã-Bretanha


Vinte e sete cidadãos polacos morreram na Grã-Bretanha desde o início de outubro de 2017, além de outros 800 que se encontram desabrigados nas ruas.

A triste estatística é do "The Bureau of Investigative Journalism", que criou o primeiro banco de dados nacional com nomes de pessoas desabrigadas, falecidas e suas histórias. Reportagem sobre o assunto foi publicada na revista semanal da "Duży Format" do jornal Gazeta Wyborcza.

A idade média das mulheres mortas é de 53 anos e a dos homens 49 anos de idade. As mortes são frequentemente causadas por álcool, drogas, doenças, além de suicídios e assassinatos.

Segundo dados de novembro último, em Londres existem 168 mil pessoas desabrigadas. Em todo o Reino Unido, há 320.000 pessoas, a cada duzentos habitantes.

Um destes mortos é o polaco Tomasz Suliga, que tinha 42 anos quando foi encontrado em 31 de outubro de 2017 em Blackburn, North West England. Durante vários dias seu corpo permaneceu sob a ponte ferroviária na Whalley Old Road.

Outro foi, Piotr Krówka de 36 anos quando foi assassinado em Magher, na Irlanda do Norte. Em meados de outubro de 2018, a polícia acusou dois adolescentes do assassinato. Um deles é conhecido como Adrian K. também polaco. A identidade do segundo permanece em segredo por causa de sua idade. 

Konrad de 32 anos morreu em Londres, de câncer em agosto. Mariusz morreu de cirrose no fígado, Remigiusz de 40 anos cometeu suicídio, Henryk de 62 anos foi encontrado morto no centro de Plymouth, em Devon.

As histórias de casa um deles foi contada na "Duży Format" (formato grande), onde está relatado que a maioria dos desabrigados são pessoas com problemas já trazidos da Polônia, muitas vezes com registro criminal, alcoolismo, doentes, que não mantêm qualquer contato com suas famílias na Polônia.

No caso de Tomasz, de 42 anos, a reportagem diz que só restou a ele o caminho das ruas depois que sua esposa o deixou. Antes disso, o homem tinha problemas com álcool. Tomasz morreu em circunstâncias difíceis de explicar. Seu corpo foi encontrado debaixo da ponte.

A reportagem é de Paweł Chojnowski que oferece um panorama triste dos emigrantes polacos na Gra-Bretanha. O autor cita estatísticas tristes sobre a falta de moradia nas ilhas e conta a história de polacos que passaram a viver nas ruas. Os personagens são desabrigados polacos de várias idades (também há crianças) de 32 e 81 anos. Eles morreram na Grã-Bretanha. Alguns eram alcoólatras, outros sofriam de doenças crônicas. Alguns cometeram suicídios, alguns foram vítimas de assassinos. 

Chojnowski buscou os parentes dos falecidos - membros da família e amigos - que compartilharam suas memórias.

Segundo as estatísticas, só em Londres, uma em cada 53 pessoas não tem teto sobre suas cabeças. Não se sabe quantos deles são polacos. No entanto, os dados sobre o número de mortes são conhecidos.

Maeve McClenaghan explica no relatório: "Sabe-se que o número de pessoas desabrigadas no Reino Unido está crescendo, mas eu queria saber quantas pessoas estão morrendo. Perguntei à polícia, enviei-os ao escritório do legista, à camara da cidade, aos hospitais, mas ninguém conta".

A Grã-Bretanha depois de ingressar na União Europeia e abrir seu mercado de trabalho para os polacos se tornou a principal rota da emigração. No entanto, este país de oportunidades não é um paraíso para todos. Há histórias de pessoas que não foram favorecidas pelo destino. A falta de moradia é um problema de muitos países e não apenas dos países pobres.

Somente nos Estados Unidos, de acordo com várias estimativas, existem mais de 550.000  desabrigados. Esse número pode ser surpreendente, porque, para muitos polacos, os EUA ainda são um paraíso inacessível e uma espécie de "terra prometida" que alimentará todos os que vierem. No entanto, hoje em dia, a imigração de polacos para os EUA diminuiu claramente após a entrada da Polônia na União Européia, e seus membros ocidentais começaram a abrir seus mercados de trabalho para os polacos.

Atualmente, os mais desabrigados nas ilhas são os próprios britânicos, depois deles estão os romenos, mas os polacos estão em terceiro lugar. No entanto, a falta de moradia no Reino Unido difere da falta de moradia na Polônia, embora suas origens sejam provavelmente semelhantes. Se alguém tiver problemas na Polônia, ele pode contar com muito mais ajuda do que em Londres.

A solução que imediatamente vem para a conversa sobre sair do desamparo no exílio é, claro, retornar ao país. No entanto, muitos polacos que foram para as Ilhas britânicas para ganhar dinheiro simplesmente ficaram envergonhados por não terem conseguido. Os polacos desabrigados na Grã-Bretanha também estão convencidos de que, depois de retornarem à Polônia, também morarão na rua.
Então eles preferem viver em uma rua britânica, e não numa rua da Polônia. 

No entanto, a vida sem-teto na Grã-Bretanha está associada à falta de ajuda de longo prazo do Estado para sair da falta de moradia. Existem muitas instituições diferentes ajudando os sem-teto na Grã-Bretanha, mas isso é ajuda temporária e imediata. Somente os britânicos ou pessoas que têm uma pensão de aposentadoria ou invalidez nas Ilhas podem contar com a ajuda para sair da falta de moradia - o que não é gratuito para eles.

No entanto, na Polônia, existem muitas organizações que fornecem essa ajuda. O próprio Brexit acaba sendo um problema, pois após o referendo na Grã-Bretanha, empresas especializadas em enviar polacos e imigrantes de outros países começaram a aparecer. Isso prova que os polacos que estão desabrigados na Grã-Bretanha acharão cada vez mais difícil ficar por ali.

O jornalista do Gazeta Wyborcza perguntou a um polaco desabrigado numa rua de Londres:
- "Qual foi o motivo da sua chegada em Londres?"

Stanisław Wójcik: "Na Polônia, eles me privaram de seguros. Porque se você não pagar contribuições ao ZUS, você não tem seguro. E aqui vim, eu tenho tudo. Você tem que trabalhar legalmente por 12 meses, você tem que se cadastrar e você pode começar a receber benefícios."

Stanisław Wójcik: "Eu costumava ir no Exército de Salvação, não é uma faculdade, mas é uma escola de graça. Há também a Crisis, que organiza cursos de idiomas. Eu fui duas vezes por semana durante 4 horas".

- "Você gostaria de voltar ao país?

Stanisław Wójcik: "Bem, não realmente. Eu vou ganhar em Lotto, vou para a Polônia. Eu sou residente permanente aqui".

- "E o que há na Polônia ...? Família?"

Stanisław Wójcik"Eu tenho pais em Rzeszów, eles estão aposentados. Eles vivem de alguma forma. Eu estou chamando. Eu os visito duas vezes por ano. Eu venho e sou o mais rico! Vodka por 15 zlotys. Para obter benefícios, você tinha que trabalhar um ano".



Existem mais de 20 tendas, nas quais 50 pessoas estão alojadas, incluindo muitos polacos, armadas n no parque da universidade perto da estação de Piccadilly, em Manchester.

Os habitantes de Manchester estão insatisfeitos com a situação atual e afirmam que os moradores de rua são agressivos com eles. "Eu não entendo porque as autoridades da cidade permitiram que os desabrigados quebrassem suas barracas aqui. Essas pessoas eram agressivas comigo quando voltei a atenção para a bagunça que estão fazendo ao redor delas. Eles vieram aqui há poucos dias e parece que eles não vão sair ", disse um dos moradores locais.

Texto de Paweł Chojnowski
Tradução para o português: Ulisses Iarochinski
Fonte: 
http://wyborcza.pl/duzyformat/7,127290,24574060,27-polakow-zmarlo-na-ulicy-bezdomnosc-w-wielkiej-brytanii.html

domingo, 17 de março de 2019

Panorama polaco no contexto europeu

“O que alimenta hoje o populismo é a crise dos meios de comunicação tradicionais”

Marcin Zaborowski - Foto: Olgierd Syczewski
Acadêmico e investigador do think tank Visegrad/Insight, onde pensa a política externa polaca e a sua relação com a Europa, antigo diretor do Instituto de Assuntos Internacionais de Varsóvia e colaborador do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia, Marcin Zaborowski conjuga uma visão atual do que se passa no seu país e uma visão global da União Europeia. "A Polônia está isolando-se cada vez mais da Europa", é uma das principais conclusões.

De modelo de transição, a Polônia é hoje um exemplo de uma democracia iliberal onde a independência dos tribunais está posta em causa. Pode não ser tão grave como a deriva húngara, mas afasta a Polônia dos seus parceiros europeus. Há, mesmo assim, uma possibilidade de a oposição conseguir vencer as eleições europeias de maio, apesar do controle governamental das televisões estatais do país. Até porque os polacos continuam a ser fortemente pró-europeus. A vantagem do Partido Direito e Justiça, que governa o país desde 2015, foi a sua política social, depois de um longo período de políticas liberais preocupadas com o déficit, mas não com a redistribuição da renda.

Público - A Polônia foi um verdadeiro modelo na transição democrática e na transição econômica. Quis assumir o status de um dos seis grandes países da União Europeia. De repente, tudo parece ter mudado na sua relação com a democracia e com a Europa. O que é que correu mal?

Zaborowski Temos de recuar até às eleições de 2015, ganhas pelo PiS - Partido Direito e Justiça. Havia alegações de corrupção em relação aos partidos do anterior Governo, os eleitores estavam cansados, queriam uma outra opção. E, no nosso sistema de coligações, a outra opção possível questionava abertamente algumas das bases da nossa ordem constitucional. Não se tratou, como em outros países europeus, de mudar da centro-direita para a centro-esquerda. Tratou-se de mudar de uma coligação que cumpria a Constituição para outra que questionava os próprios fundamentos constitucionais do sistema. Parte da explicação para esta mudança é interna. O PO - Plataforma Cívica estava no poder há oito anos e não tinha dado a devida atenção às políticas sociais.

Público - Mas a economia estava muito bem e, aliás, continua muito bem.

Zaborowski É verdade, continua. Mas, na percepção de muita gente, os ganhos da economia tinham sido distribuídos de forma muito desigual. Quando o Partido Direito e Justiça chegou ao poder, em 2015, adotou um programa social que, em termos de distribuição de rendas, era melhor e que lhes conquistou muito apoio. A vitória do PiS foi um misto entre essa preocupação social e a defesa de valores muito conservadores no que toca à relação entre o Estado e a Igreja, por exemplo, com uma forma de gestão da economia que se poderia dizer mais à esquerda. A alternativa anterior, no que toca à gestão econômica, era mais liberal e, em termos orçamentais, muito prudente e muito conservadora. Nunca tínhamos tido uma opção de governo que fosse claramente num sentido mais redistributivo. Este Governo atual criou, por exemplo, novos benefícios para as crianças ou para quem tivesse um segundo filho. Foi a primeira vez que as pessoas viram o Governo dar-lhes alguma coisa de concreto. E os polacos, é bom lembrar, gostam que o Estado os proteja, em boa medida devido à própria herança do regime comunista. Depois, o Governo também foi ao encontro de uma população crente, que vai à Igreja, que mantém valores sociais bastante conservadores e que tem, ao mesmo tempo, muitas expectativas em relação ao papel do Estado nas suas vidas.

Público - Quatro anos depois da chegada do PiS ao poder, quais são as principais consequências desta rejeição da ordem constitucional no que respeita ao funcionamento da democracia liberal?

Zaborowski Dois tipos de consequências. A primeira é a alteração do funcionamento do poder judicial. Continuamos a viver numa democracia mas deixamos de ser uma democracia liberal, assente na independência dos tribunais. A Polônia continua a ser uma democracia, porque o Governo foi eleito e não pôs em causa o sistema eleitoral. Quando o PiS ganhou a maioria, não conseguiu votação suficiente para alterar a Constituição. Portanto, o que o Governo está tentando fazer é mudar alguns aspectos da forma como os tribunais funcionam. Começou com um ataque ao Tribunal Constitucional, através da forma como os juízes são escolhidos. Depois, tentou mudar a lei de funcionamento do Supremo Tribunal, alterando a idade da aposentadoria dos juízes. A opinião pública se manifestou fortemente contra isso e eles tiveram de recuar. A outra tentativa foi em relação ao Procurador-Geral, que passou a ser basicamente o ministro da Justiça. Antes, era uma instituição completamente separada. Eles fundiram o papel do Procurador-Geral com o cargo do ministro. Também falharam na alteração às regras de funcionamento do Supremo Tribunal devido às pressões da União Europeia. Em síntese, tem havido um permanente assalto à independência dos tribunais ainda que até agora com resultados mistos. Mas, essencialmente, isso significa que já não vivemos num democracia liberal mas naquilo a que hoje chamamos, em oposição, de democracia iliberal.

Público - O segundo “ataque” foi aos meios de comunicação social?

Zaborowski Sim. A segunda grande questão é a da independência dos meios de comunicação social. Quando chegaram ao poder, mudaram o regime de funcionamento dos órgãos de comunicação social públicos. Antes, a imprensa pública era supervisionada por um conselho constituído por uma representação de partidos políticos e por pessoas da sociedade independentes do Governo. Mudaram a lei e agora todos os diretores dos canais públicos de televisão são diretamente nomeados pelo Governo. Deixaram de ser públicos para passarem a ser governamentais. Deixaram de ser livres para passarem a ser órgãos de propaganda.

Público - E os meios de comunicação social privados. Ainda são livres?

Zaborowski Ainda funcionam com liberdade, mas o Governo tenta controlá-los de outras formas, por exemplo, através do controle das empresas que os detêm. Mas mesmo assim, na sua maioria, mantêm-se independentes.

Público - Podemos dizer que as próximas eleições, que serão as europeias, ainda podem ser realizadas numa base essencialmente livre?

Zaborowski Livre, sim. A questão é se serão justas. Nem todas as pessoas terão o mesmo acesso à informação. A oposição não terá o mesmo acesso aos órgãos de comunicação públicos, sobretudo às televisões, que apresentam as questões de uma forma enviesada, sempre favorável ao Governo.

Público -  Como sabe, há muita gente na Europa que diz que a grande batalha pela alma europeia será travada na Polônia. A oposição tem alguma possibilidade de vencer as eleições europeias?

Zaborowski Até agora, as sondagens indicam um empate — 50% de probabilidades para cada lado [as mais recentes pesquisas de opinião pública indicavam que a Coligação a favor da Europa estava à frente do PiS, com 35% para 33%, respectivamente]. Os partidos da oposição moderada conseguiram se unir numa ampla plataforma política — a “Coligação Europeia” — que inclui o  PO - Plataforma Cívica, sociais-democratas, ex-comunistas, “verdes” e que representa uma grande aliança pró-democrática. Nas pesquisas, ou estão ligeiramente à frente ou pouco atrás do partido governamental. Seja como for, as eleições vão ter um resultado muito decente. Mas o Governo não está inativo e já anunciou mais uma série de medidas sociais muito populares, por exemplo, o aumento das pensões, mais benefícios para as crianças, isenção de impostos para quem tenha menos de 26 anos. Vamos ver que impacto isso terá nos resultados.

Público - Podemos dizer que, além dessa dimensão estritamente doméstica, a grande divisão é entre partidos que são claramente pró-europeus e partidos, como o do Governo, com uma posição na melhor das hipóteses muito crítica da União Europeia?

Zaborowski Estas eleições serão, como você se referiu, muito importantes para a Europa, sob muitos aspectos. O partido de [primeiro-ministro húngaro] Viktor Orbán vai ter, possivelmente, de abandonar o Partido Popular Europeu [PPE, centro-direita] e, se tal acontecer, pode vir a se juntar ao grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus, do qual o PiS da Polônia faz parte e também ainda os Conservadores britânicos. Se isso acontecer, mesmo com a saída dos britânicos, pode tornar-se no terceiro maior grupo parlamentar do Parlamento Europeu.

Público - Voltando à questão europeia, quando o PiS conquistou o poder anunciou que a Polônia “deixaria de estar de joelhos” perante a União Europeia. Isto quer dizer que há um sentimento generalizado de rejeição à Bruxelas? Que é uma espécie de novo império, ainda que mais benigno?

Zaborowski Os polacos não compram essa ideia. As razões pelas quais votaram no PiS não foram essas, nem foram sobre o seu programa europeu, mas antes, como já referi, pelas suas promessas de natureza social. Uma vasta maioria dos polacos continua a ser muito pró-europeia. As pesquisas apontam para índices acima dos 80%, correspondendo ao resultado do referendo sobre a adesão em 2003. Além disso, a Polônia continua a ser a maior beneficiária líquida do orçamento europeu. As pessoas percebem que o país mudou e continua a mudar, em boa medida graças ao apoio da União Europeia. É isso que as pessoas realmente sentem. A propaganda do Governo vai no sentido que se referiu — que a Europa nos impõe coisas que não queremos —, mas não está, claramente, dando resultados. E eles perceberam isso e já adaptaram a sua mensagem. Agora, dizem que não são contra a Europa, dizem apenas que a Europa foi longe demais e que são eles os verdadeiros europeus. Também insistem em que o “Brexit” é culpa da União Europeia e não dos britânicos. O Reino Unido é, talvez, o único país da União Europeia com quem têm boas relações. Mas, no geral, estão hoje bastante isolados no quadro da União. Tentam ser muito pró-britânicos e, muito mais ainda, pró-América.

Público - Com a concretização da saída do Reino Unido, vão perder o seu principal aliado. Que alternativas têm?

Zaborowski Não muitas. Em primeiro lugar, a Hungria de Viktor Orbán. Mas também mantêm conversações com [o vice-primeiro-ministro italiano e líder da Liga] Matteo Salvini. Ele esteve aqui recentemente, teve um encontro com Jarosław Kaczyński, o verdadeiro líder do PiS. Mas há um problema nesta relação: eles consideram que Salvini é demasiado pró-russo. Não o suficiente para não poderem entender-se em algumas questões com ele, mas mesmo assim demasiado. Mas a sua característica principal é serem muito, mas mesmo muito pró-América, quase numa reprodução dos tempos da Guerra Fria.

Público - Percebe-se que sejam pró-americanos também porque atribuem, com razão, aos Estados Unidos a libertação do império soviético. Aliás, como os outros países da Europa Central e de Leste. Li recentemente um dos seus textos sobre a política externa polaca em que a define como “America First”. O que quer exatamente dizer com isso?

Zaborowski Tem razão, quando diz que os polacos são, de um modo geral, pró-americanos, pelas razões que mencionou. Aliás, a Coligação Europeia é igualmente pró-americana. Mas agora a questão é a do reforço da cooperação militar com os EUA e é, sobretudo, no sentido em que o Governo gosta de Donald Trump e do seu comportamento político, que se assemelha muito ao que ele próprio pratica. Além disso, o fato de se sentirem isolados na União Europeia leva-os a este “saltoem direção aos Estados Unidos. Mesmo que, muitas vezes, as coisas também não aconteçam exatamente como eles desejariam.

Público - Podemos dizer que é mais pró-Trump do que pró-Estados Unidos?

Zaborowski Sim. É a maneira certa de colocar a questão. Você viu, com certeza, as notícias sobre a conferência sobre o Oriente Médio que se realizou recentemente em Varsóvia.

Público - Sim.

Zaborowski O Governo quis oferecer a Washington uma iniciativa política que era do interesse estritamente americano, mas nem tudo lhe correu bem. A conferência não significa que a Polônia tenha um particular interesse no que se passa no Oriente Médio, apenas que quis agradar a Trump, que estava muito interessado nela, sobretudo por causa do Iran, para encontrar uma maneira de pressionar os europeus em relação ao acordo nuclear com Teerã. Mas isso acabou por não funcionar, como certamente você reparou. A participação europeia foi limitada e muitos governos europeus manifestaram o seu descontentamento com a iniciativa polaca, deixando a Polônia ainda mais isolada. Além disso, a pretensão do Governo de convencer os americanos a instalar uma base militar na Polônia, pela qual dizem que estão dispostos a pagar 2 mil milhões de dólares, não teve qualquer sucesso até agora. Apenas irritou os aliados europeus e a própria NATO. O PiS também quer ter uma boa relação com Israel, ou melhor, não tanto com Israel, mas sobretudo com o Governo do Likud.

Público - Houve, aliás, durante a conferência um desentendimento em relação a Israel e aos judeus, que não correu muito bem ao Governo polaco e que levou um distanciamento dos próprios Estados Unidos. Creio que foi a propósito da lei, muito polêmica, que criminaliza qualquer referência que considere que os polacos tiveram alguma coisa a ver com a perseguição dos judeus e com o Holocausto. Isto significa que a questão judaica está outra vez presente no debate público polaco?

Zaborowski O PiS não é um partido antissemita, convém sublinhar isso. Mas é um partido muito nacionalista. Quando fizeram aprovar essa lei, não creio que fosse por antissemitismo mas apenas porque querem libertar a nação polaca de qualquer responsabilidade pelo Holocausto e por Auschwitz. Mas os americanos são sempre muito sensíveis neste domínio, com a Polônia ou com outro país qualquer, e não deixaram de criticar o Governo. As pressões internacionais, principalmente dos EUA e de Israel, em relação a essa lei acabaram por levar o Governo a recuar, abrindo uma exceção para a investigação histórica. Mas, em relação à conferência, os israelitas não mostraram qualquer gratidão, pelo contrário, renovaram as suas alegações históricas, os americanos dirigiram o espetáculo, assinaram alguns contratos de defesa, mas não prometeram absolutamente nada.

PiS não é um partido antissemita, convém sublinhar isso. Mas é um partido muito nacionalista". Na foto: Jarosław Kaczyński, "o verdadeiro líder do PiS" -Foto : Kacper Pempel/REUTERS
Público - Qual tem sido exatamente o papel da Igreja Católica no apoio ao Governo?

Zaborowski A Igreja polaca se tornou muito política e, na sua maioria, apoiou o partido do Governo. E isso compreende-se porque o PiS é muito conservador em matéria de costumes, desde a oposição ao casamento entre homossexuais até às políticas mais liberais nesta questão que são hoje comuns na União Europeia. Mas isso também tem tido um efeito não desejado. As pessoas são católicas, vão à Igreja, mas não é isso que determina as suas posições políticas. O Prefeito da cidade de Gdańsk, da oposição, que foi assassinado no passado mês de janeiro durante uma festa de caridade, era um católico praticante. Agora, há muita gente como ele que começa a deixar de ir à Igreja. A Igreja teve um papel fundamental na unificação do país e mas está a correr o risco de perder esse papel. Há aqui também uma mudança importante.

Público - Nesta crise existencial que a Europa atravessa, muitos analistas têm referido uma linha de fratura cada vez mais acentuada entre o Leste e o Ocidente. O que é que há de comum entre, por exemplo, os países de Visegrado, que justifique esta divisão?

Zaborowski Os países de Visegrado são muito diferentes entre si e na sua relação com a Europa. Há países do Leste (na verdade da Europa Central) que já são membros da zona euro, por exemplo. Alguns deles são democracias estáveis. Mas, no conjunto, sofrem das mesmas dificuldades de consolidação democrática que é comum aos países da Europa do Leste. As suas democracias não são tão sólidas como chegou a parecer há alguns anos, são ainda muito recentes e a sua independência em relação à União Soviética também. A questão-chave, creio eu, é a questão dos meios de comunicação social e nem sequer é apenas um problema apenas desses países. Nas democracias consolidadas, os meios de comunicação tradicionais também atravessam uma crise profunda, que resulta da presença crescente das redes sociais e de uma nova forma de comunicação. E isso é ainda mais evidente nesses países, onde os órgãos de informação tradicionais e a liberdade de imprensa nunca chegaram a ser tão fortes. Além disso, nesses países, boa parte dos meios tradicionais ou são controlados pelos governos, ou estão muito dependentes dos contratos com os governos.

Público - Mas é correto dizer que os problemas com a democracia são os mesmos na Polônia, República Tcheca, Eslováquia ou Hungria? Que são todos iguais?

Zaborowski Não. A Hungria é o caso mais grave. Basta olhar para o mais recente relatório da Freedom House, onde a Hungria já não está no grupo das democracias consolidadas. Na Polônia, as coisas também não estão bem, como já vimos, mas ainda é considerada como um país onde pode haver eleições suficientemente livres para alterar a situação, mesmo que a Freedom House tenha insistido, nos seus últimos relatórios que a democracia tem se deteriorado desde 2015. As coisas variam em termos de transparência do sistema mas, para além da Hungria, nesses países ainda é perfeitamente possível mudar de governo. Na República Tcheca e na Eslováquia há uma grande influência da Rússia, sobretudo através das redes sociais e dos meios eletrônicos, mas, de um modo geral, as coisas correm bem. Por exemplo, nos dois países ainda há um consenso político pró-europeu relativamente grande. Não houve, nem em um nem em outro, qualquer ataque ao poder judiciário, como aconteceu na Polônia. Por isso, não se deve meter todos no mesmo saco.

Público - A Alemanha fez um grande esforço de aproximação com Varsóvia, mas o atual Governo polaco trata tão duramente Bruxelas como Berlim. Como é que o senhor vê hoje o papel da Alemanha na União Europeia e também na Polônia?

Zaborowski Para a Polônia, como um pouco de frustração, na verdade. Para a Polônia, é uma relação muito importante, talvez a mais importante, e tem sido mutuamente benéfica. Mas o Governo alemão não faz qualquer crítica ao Governo de Varsóvia. Claro que por razões históricas, Berlim evita sempre criticar qualquer governo polaco. As relações continuam a ser normais, há reuniões entre os governos. Mas, aqui, o Governo de Berlim é bastante criticado por não dizer nada sobre o que se passa com o Governo polaco e com a democracia. Mas, naturalmente, a Alemanha é ainda a potência indispensável. Foi essencial no lançamento e na preservação da integração europeia. Foi também o motor fundamental da ampliação em direção a Polônia e aos outros países da Europa Central e do Leste. Se, depois da II Guerra, a Alemanha se aproximou da França para viabilizar a integração europeia, depois da Guerra Fria fez a mesma coisa em relação à Polônia. Contudo, como outras nações, a Alemanha também é uma potência egoísta, que pensa em primeiro lugar nos seus próprios interesses.

Público - Berlim está de novo patrocinando uma nova ligação direta entre a Rússia e a Alemanha para a importação de gás — o Nord Stream II. Houve um coro de protestos na Polônia, quando o Nord Stream I (lançado em 2005 por Putin e o anterior chanceler Gerhard Schroeder) foi construído. Como é que se vê aí este comportamento?

Zaborowski O Nord Stream II é um exemplo clássico desse comportamento egoísta que ignora os interesses e as percepções das nações que estão entre a Alemanha e a Rússia, incluindo a Polônia. Mesmo assim, a relação entre a entre os dois países é demasiado rica e demasiado importante para permitir que este desentendimento a prejudique, até porque é essencial para a estabilidade do continente europeu.

Público - Como alguém que conhece muito bem a União Europeia, como é que o senhor vê esta crise profunda que atravessa? É possível ultrapassá-la? Até porque o nacionalismo não é apenas um problema polaco. É um problema europeu.

Zaborowski Creio que a União Europeia lidou bem com a crise do euro, que chegou perto da ruptura da zona euro. A União saiu dela mais forte e mais integrada — principalmente com a criação da União Bancária e do Pacto Orçamentário. A confiança dos países europeus na moeda única é mais forte agora. Mas a Europa não lidou da mesma maneira satisfatória com a crise migratória de 2015, que revelou mais desunião do que união. A União também ainda não conseguiu responder ao desafio do populismo, que começou na Europa Central — com Orbán e Kaczyński — e que desde aí se propagou para outros países. O populismo também alimentou o “Brexit” e a eleição de Trump. Não é apenas um problema europeu mas uma crise mais ampla das democracias liberais do Ocidente que, em larga medida, perderam o contacto com os eleitores. Mas também o que alimenta hoje o populismo é a crise dos meios de comunicação social tradicionais. Creio que a União Europeia devia investir recursos significativos nos órgãos de informação tradicionais para garantir que as pessoas continuem a ter acesso a uma informação credível e variada.

Público - A envolvente política externa da Europa mudou radicalmente nos últimos anos. Trump não gosta da integração europeia, rompendo com uma política americana que se manteve desde a guerra. A Rússia voltou a ser uma ameaça. A China decidiu entrar no jogo. A Europa está preparada para lidar com estas mudanças profundas?

Zaborowski Não creio que esteja. Os Estados Unidos, com a presidência de Donald Trump, deixaram de apoiar a integração europeia. Para ser mais exato, estão trabalhando diretamente para quebrá-la. A Rússia utiliza qualquer oportunidade para enfraquecer o Ocidente e a União Europeia, que é o seu principal “concorrente” na Ucrânia, Bielorrússia, Geórgia ou Moldava. A China continua a ser um concorrente econômico, mas ainda não parece estar tentada a quebrar a União Europeia. A Europa deixou de poder contar com ao apoio geopolítico dos EUA. Precisa contar consigo mesma, o que também quer dizer que não pode continuar a seguir a América. Tem todas as condições para se transformar numa verdadeira potência mas a questão que se mantém é saber se tem a vontade necessária.

Fonte: Público, Lisboa
Texto: Natália Faria e Teresa de Souza
Adaptação para o português do Brasil: Ulisses Iarochinski

terça-feira, 5 de março de 2019

Polônia está importando gás natural liquefeito dos EUA


Enormes petroleiros entram no porto do Mar Báltico duas vezes por mês, transportando gás natural liquefeito de produtoras do Catar, da Noruega e, cada vez mais, dos Estados Unidos. O combustível ajudará a fornecer luz e calor a milhões de lares polacos, reduzindo gradativamente a dependência do país do carvão. (a única matriz energética da Polônia é o carvão que alimenta suas termoelétricas, já que o país não possui hidroelétricas (por ter um território com 95% de planícies e não tem usinas nucleares)

Este combustível constitui também um importante instrumento de estratégia política. A Polônia está determinada a acabar com a dependência da energia russa, no âmbito de um esforço maior da Europa visando diversificar o fornecimento de energia para a região.

Uma instalação, em Świnoujscie, recebeu o nome de Lech Kaczyński, o presidente polaco que morreu em um desastre aéreo em Katyń, na Rússia (ainda não totalmente esclarecido, se realmente foi um acidente ou sabotagem russa).

Foto: Krzysztof Pacholak -The New York Times
As relações com a Rússia foram tumultuadas por divergências políticas, bem como pelo papel da Polônia, antigo satélite soviético, na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). O país encontrou um rápido substituto nos Estados Unidos, que têm abundância de gás natural em razão do boom do xisto betuminoso, e um incentivo político para reduzir o domínio da Rússia sobre a Europa.

Depois de passar ao estado líquido por um processo de condensação por esfriamento, o gás natural pode ser transportado ao redor do mundo. As companhias americanas agora têm contratos que durarão dezenas de anos e prometem abastecer a Polônia com o equivalente a cerca da metade das suas atuais necessidades de importação de gás.

“Dada a escolha de fornecedores e um bom acordo comercial, a Polônia ficou feliz de comprar o produto americano”, disse Davis L. Goldwyn, que foi enviado internacional para energia para o Departamento de Estado americano no governo Obama, e agora é diretor de uma empresa de assessoria, a Goldwyn Global Strategies.

A decisão da Polônia está associada a este porto em Świnoujscie. Há dez anos, um conflito entre a Rússia e a Ucrânia deixou a Polônia e alguns dos seus vizinhos no frio quando a gigante do petróleo russo, a Gazprom, fechou um oleoduto crucial por três semanas por causa de uma disputa de preços de motivação política. Grande parte do gás que a Rússia exporta para a Europa passa pela Ucrânia.

Com o fechamento de 2009, a Polônia decidiu construir um terminal de gás natural liquefeito, que custou, ao que se calcula, um bilhão de euros, em parte financiado pela União Europeia.

“A estratégia da companhia é simplesmente esquecer as fornecedoras do Oriente, e particularmente a Gazprom”, disse Piotr Wożniak, presidente da PGNiG, uma companhia listada em bolsa, mas controlada pelo Estado que domina o mercado do gás da Polônia. “Para nós, este é um novo mundo”, acrescentou Wożniak. “Quando pago aos americanos, estou pagando aos meus aliados na OTAN”.

O porto já está reformulando as relações da Polônia com a Rússia. As entregas da gás do Catar começaram em 2015, e foram suplementadas por embarques de produtores como a Noruega e os Estados Unidos. A PGNiG diz que os embarques de exportação de gás natural liquefeito subiram quase 60% no ano passado, em comparação com 2017, reduzindo em 6% as importações da Rússia e do Oriente. A Rússia fornece atualmente cerca da metade do combustível da Polônia.

O gás natural liquefeito abalou a política do oleoduto, criando a concorrência para fornecedoras antigas como a Gazprom. As importações globais de gás natural liquefeito cresceram mais de 9% no ano passado, uma porcentagem muito mais rápida do que a do petróleo ou do gás, segundo a Rystad Energy, uma companhia de pesquisa de mercado. Os EUA estão prestes a se tornarem líderes globais como Catar nas próximas décadas.

Neste ambiente, trava-se uma espécie de Guerra Fria entre fornecedores de energia como a Rússia e a Argélia, e as novas exportadoras dos Estados Unidos. No passado, a Alemanha dependia dos oleodutos russos, e a maior economia da Europa certamente necessitará de combustível russo no futuro. Berlim está permitindo a construção de um novo enorme oleoduto sob o Mar Báltico saindo da Rússia, chamado Nordstream 2 - para desagrado da Polônia e dos EUA.

O preço também é um problema; os do gás são estabelecidos em grande parte pelos mercados financeiros, e a Rússia pode produzi-lo a baixo preço. A perspectiva da concorrência bem como de processos antitruste movido pela União Europeia, obrigaram a Gazprom a modificar a sua política.

Em grande parte da Europa, a gigante russa modificou os termos dos contratos a fim de refletir os preços de mercado do gás e não o preço do petróleo, que pode ser extremamente diferente, segundo Jonathan Stern, um conceituado pesquisador sênior do Oxford Institute for Energy Studies.

No caso da Polônia, a política pode em última análise determinar o preço. O governo pretende expandir estas instalações, que atualmente têm capacidade para importar cerca de 25% das necessidades anuais da Polônia. Também pretende construir um oleoduto a partir da Noruega, onde a PGNiG controlada pelo Estado está investindo em uma rede de campos de gás com a finalidade de isolar a Polônia de interferências políticas.

“O preço do comércio é apenas um componente”, do gás natural liquefeito, disse Jeffrey W. Martin, presidente e principal executivo da Sempra Energy em San Diego, que assinou um contrato de fornecimento com a Polônia de uma fábrica planejada no Texas, no ano passado. “A segurança do fornecimento é um grande problema”.

Fonte: O Estado de São Paulo
Melissa Eddy e Andrew E. Kramer contribuíram para a reportagem.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

VAMOS TRAZER OS POLACOS DO BRASIL

No telão, Ulisses Iarochinski direto do Brasil,  atrás dos presidentes das associações
e representantes do Ministério das Relações Exteriores

INFORMAÇÃO DA ZPP PARA A IMPRENSA.

Uma em cada quatro pessoas de nacionalidade polaca não vive na Polônia, atualmente. Uma das maiores diásporas polacas do mundo é o Brasil, onde, de acordo com várias estimativas, existem 1,5 a 4 milhões de pessoas de origem polaca. Eles são principalmente descendentes de emigrantes da segunda metade do século XIX.

Vamos trazer nossos compatriotas do Brasil - são os apelos da Associação de Empresários e Empregadores da Polônia. Uma sociedade em envelhecimento é um dos principais desafios que a economia e a sociedade polacas devem enfrentar. Segundo as previsões, até 2050, a população do nosso país diminuirá para menos de 34 milhões de cidadãos. A fim de evitar as consequências econômicas e sociais deste fenômeno, a Polônia deve procurar inverter a tendência negativa e implementar o programa de 50 milhões de cidadãos para 2050.

Este objetivo pode ser alcançado através de uma política demográfica agressiva, apoiando a família como uma forma chave de organização da sociedade, ou emigração controlada da Bielorrússia, Vietnã e Ucrânia e países asiáticos selecionados.

Além disso, o governo deve se concentrar na fuga de cérebros de todo o mundo e, em particular, em tirar os polacos da emigração, dizem especialistas da União de Empresários e Empregadores.

De acordo com dados do GUS, em nosso país, quase 37 milhões de pessoas declaram sua nacionalidade a Polônia. Ao mesmo tempo, de 13 a 16 milhões de polacos vivem fora das fronteiras.

A ZPP - Associação de Empresários e Empregadores da Polônia pede ações a serem realizadas no sentido de para trazer o maior número possível de nossos compatriotas do exterior.

Uma das maiores diásporas polacas é o Brasil. Estima-se que haja entre 1,5 e 4 milhões de polacos, principalmente os descendentes da emigração polaca a partir da segunda metade do século XIX.

No Paraná, uma em cada dez habitantes tem raízes polacas. Devemos restaurar seus laços com a Polônia e trazer de volta o maior número possível de nossos compatriotas do Brasil - diz Piotr Palutkiewicz, diretor de programas e projetos da ZPP.

O especialista ressalta que - atingir até 1% das pessoas desse grupo é criar 30.000 novos empregados em potencial no mercado de trabalho da Polônia ou atingir consumidores de produtos polacos, porquanto é realista pensar em se chegar a 8% a 10%. destes imigrantes de origem polaca.

Tendo em mente que a reconstrução dos laços com a Polônia é importante no contexto do retorno ao país, a Associação de Empresários e Empregadores recomenda a criação de um portal on-line dedicado para expatriados polacos no Brasil. Recomendamos que o portal para os emigrantes polacos e descendentes deve incluir informações sobre todas as formas de assistência que serão destinadas a eles, em particular, sobre a possibilidade da "Carta Polaca", cursos de línguas, cultura polaca e economia, história de polacos no Brasil, as oportunidades para ir para a Polônia e obter um emprego ou iniciar estudos. O portal deve ser criado nos idiomas polaco e português - diz Piotr Palutkiewicz.

Os especialistas da Associação Nacional também postulam mudanças nos termos da obtenção da "Carta Polaca". A solução mais importante que encorajaria os emigrantes a regressar à sua terra natal será a introdução de alterações legislativas destinadas a abolir a obrigação do conhecimento do idioma polaco para os descendentes de polacos que solicitarem a Carta.

Este documento permitirá o uso de uma série de benefícios, como permissão para trabalhar na pátria ancestral ou isenção de taxas relacionadas ao procedimento de obtenção da cidadania polaca - recomenda a ZPP em relatório apresentado hoje.

Segundo Palutkiewicz, o governo deve se esforçar para trazer polacos não apenas do Brasil, mas também de outros países. A Polônia pode não apenas ter uma força nova em nosso mercado de trabalho, mas também pode ser um potencial comprador de produtos polacos, de turistas ou empresários que buscam novos mercados para investimentos. Nossos compatriotas espalhados pelo mundo podem ser uma grande força de nosso país - acrescenta o especialista.

Coletiva de Imprensa para anunciar a Karta Polaka

Associação de Empresários e Empregadores Gestão: Cezary Kaźmierczak - Presidente Marcin Nowacki - Vice-Presidente Varsóvia, 26 de fevereiro de 2019. ul. Nowy Świat 33, 00-029 Warszawa, email / biuro@zpp.net.pl, tel / 22 826 08 31,

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Lançamento do livro "CRUZ MACHADO - Lenda virou história"


O jornalista e historiador Ulisses Iarochinski lançou mundialmente, neste sábado, na maior livraria online do mundo - a Amazon.com - seu livro em formato E-book. O livro que tem 261 páginas conta a história da maior colônia de imigrantes polacos do Brasil – Cruz Machado - localizada a 40 km de União da Vitória.

Resultado de cinco anos de pesquisas na Polônia e no Brasil, a obra ao mesmo tempo desmiStifica e desMitifica a oralidade histórica de pessoas reais e descendentes que transformaram em lenda uma história que não teve nada de tão trágica quanto foi construída pelos moradores.

Iarochinski declara que levou 13 anos para publicar a obra. Depois de várias tentativas de publicar em papel através de patrocínio, editoras, apoios institucionais, leis de incentivo rendeu-se e acabou por lançar o livro não-impresso no formato online. “Teve que ser via E-book. Não, porque não quis lançar em papel, mas porque nunca houve dinheiro para tal”.

Cruz Machado, hoje, município no Sul do Estado do Paraná, foi criado como colônia de emigrantes polacos, rutenos e alemães, em 19 de dezembro de 1910. Era a maior em área territorial já criada. Logo nos dois anos seguintes recebeu 5.500 imigrantes. E foi aí que uma trágica lenda começou a ser contada. Mas Iarochinski ao ganhar uma bolsa de estudos do governo da Polônia, foi para Cracóvia para escrever sobre a maior tragédia ocorrida entre os fluxos imigratórios do Brasil.

Surpresas e contradições foram surgindo ao longo das pesquisas e das contraposições de informações. De um lado, o depoimento de pessoas ao redor dos cem anos de idade, que diziam ter acompanhado de perto os acontecimentos, e de outro lado, provas primárias, tais como publicações oficiais, jornais da época e relatos de viajantes polacos desmintindo e desqualilificando a oralidade dos envolvidos na tal “tragédia”.
Ulisses Iarochinski

Iarochinski afirma que teóricos da historicidade argumentam que existe ligação entre memória e identidade e que ambas se conjugam e se apoiam para produzir uma narrativa, uma história e até mesmo um mito. “A memória individual é um fragmento da memória coletiva, onde membros de um grupo produzem a respeito de uma memória comum. Fontes orais nos contam não apenas o que o povo fez, mas o que queria fazer, o que acreditava estar fazendo e o que agora pensa que fez. A história oral, trabalha com lembranças. Enquanto a memória é vida, gestada por grupos vivos, em permanente evolução; a história é uma reconstrução completa e inconclusiva da problemática do passado.”

Para Iarochinski “se a memória é afetiva e mágica; a história é uma operação intelectual. Exatamente como a memória, a ciência história pode remontar o passado e foi isto que aconteceu em Cruz Machado. A oralidade tomou conta da história e a subverteu criando uma lenda fantástica e trágica para explicar as dificuldades de seu início. Ao ignorar, omitir e confundir a história real da colônia Cruz Machado oficializaram a lenda em detrimento dos fatos, registros e documentos”.

“CRUZ MACHADO - Lenda virou história” Está disponível para venda na Amazon.com no endereço https://www.amazon.com.br/dp/B07P197Y34, no valor de R$ 22,54 (vinte e dois reais e cinquenta e quatro centavos) preço Kindleunlimited.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Kaczyński quer reescrever história recente da Polônia

Uma batalha política sobre a história agora assombra a memória mais orgulhosa da Polônia.
Como a queda do Muro de Berlim começou em uma bela cidade portuária báltica na Polônia com o Movimento Solidariedade.


O imenso museu parece um casco de navio enferrujado e pode ser um primo distante de seu equivalente mais elegante de Belfast. O Titanic Museum lembra um navio que afundou em sua viagem inaugural. Mas a nave metafórica do Solidariedade, lançada aqui em Gdańsk, em 1980, revelou-se inafundável.

A Europa está se preparando para o 30º aniversário da queda do Muro de Berlim, ocorrida em 9 de novembro de 1989, e a revolução pacífica que reformulou o continente.

O lugar perfeito para começar a jornada é o extraordinário Centro Europeu de Solidariedade (ECS). É um tributo adequado a como e onde tudo começou: na bela cidade da Polônia e aos bravos membros do sindicato Solidarność (Solidariedade), fundado no Estaleiro Lenin de Gdańsk.

O guia do aparelho de áudio do museu, em seu primeiro minuto, insta os visitantes a "descobrirem sobre a história e decidirem sobre o futuro".

Os visitantes que entram na exposição são mergulhados em uma recriação atmosférica dos salões dos estaleiros próximos com objetos-chave.

Primeiro: a cabine do guindaste amarelo de Anna Walentynowicz, uma funcionária de um estaleiro de Gdańsk e ativista sindical, demitida em agosto de 1980, apenas cinco meses antes da aposentadoria.
Anna Walentynowicz

Isso levou a uma greve e à segunda exposição: painéis de compensado exibindo 21 demandas de trabalhadores escritas à mão, incluindo: sindicatos livres; o direito legal de greve; e o fim da repressão de ativistas independentes.

O terceiro objeto: uma picape amarela, do tipo que foi usada por Lech Wałęsa, um eletricista de estaleiro com bigode, como um palco móvel para ganhar apoio público.

Enfrentando a fúria dos trabalhadores sem precedentes, o governo socialista de Varsóvia reconheceu o Solidariedade como o primeiro sindicato do bloco soviético. Seus membros cresceram para 10 milhões em seu primeiro ano - uma sensação em um país de 36 milhões - e a organização desafiou a ficção de que a República Popular representava os trabalhadores.

A luta surgiu depois que as promessas do pós-guerra dos líderes socialistas resultaram na queda dos padrões de vida e na crescente opressão. A revolta dos trabalhadores em 1970 foi derrubada violentamente pelo exército, com pelo menos 42 mortes.



Jaqueta perfurada à bala
Era um trabalhador de estaleiro de 20 anos de idade, Ludwik Piernicki. Sua jaqueta de couro, perfurada por balas está pendurada no museu ao lado de fotos policiais de manifestantes polacos: trabalhadores, estudantes e aposentados. Seus olhares - de medrosos a desafiadores - nos lembram das muitas faces do protesto policial contra o regime.

Companheiros carregam o corpo do jovem assassinado pela polícia, Ludwik Piernicki, pelas ruas de Gdańsk 
Varsóvia tentou de tudo para domar o Solidariedade. A lei marcial - imposta em 1981, suprimiu a organização e aprisionou seus líderes. Mas em 1989, o jogo estava em alta. Com Moscou não vendo mais a parte de trás de seu satélite polaco, a intimidação estava fora da mesa.

Uma perspectiva econômica desastrosa na primavera de 1989 levou as autoridades polacas a realizar conversas em mesas redondas de fevereiro a abril.

Eleições semi-livres se seguiram em junho. Em todo o bloco soviético, a transição para a democracia estava em andamento. Este triunfo trouxe a Wałęsa a fama mundial, o Prêmio Nobel da Paz de 1983 e a presidência democrática da Polônia.

Lech Wałęsa

Mas agora Wałęsa, uma figura complexa e muitas vezes enfurecedora, e o legado do Solidariedade estão sob ataque de Jarosław Kaczyński. Este era uma figura marginal do Solidariedade na década de 1980, mas agora é o líder de fato da Polônia, como chefe do partido governista Direito e Justiça - PiS.

Jarosław Kaczyński
Desde que venceu a eleição de 2015, o PiS (com maioria absoluta no Congresso) reformulou os tribunais, a televisão pública e o Ministério Público da Polônia, para libertá-los do que o partido vê como estruturas incrustadas de compadrio.

Os críticos descartam isso, dizendo que as reformas são para colocar as instituições públicas sob controle direto do PiS. Mas agora o inquieto Kaczyński quer mais: reformular o mito do Solidariedade fundador da Polônia moderna.

Como? Ao denegrir a transição negociada de Wałęsa para a democracia como um compromisso preguiçoso que permitiu que as figuras comunistas se apegassem ao poder e à influência, às custas dos polacos comuns que se sentem deixados de fora da transição neoliberal.

Para eles, o PiS tem um mito fundador alternativo: o desastre aéreo de Smoleńsk de 2010, que custou a vida de 96 pessoas, incluindo o irmão gêmeo do líder do PiS, o presidente Lech Kaczyński.

Com ele a bordo do avião estavam altos funcionários do Estado e importantes figuras públicas - incluindo a mãe fundadora do Solidariedade, Anna Walentynowicz.

Relatórios denominaram a queda do avião de acidente, mas o irmão gêmeo do presidente, o sobrevivente Kaczyński construiu uma contra-narrativa sobre como o avião foi abatido por russos, em conluio com seus rivais políticos. Mas para sua lenda de Smonlensk decolar, com seu falecido irmão e a Sra. Walentynowicz como suas novas figuras fundadoras, o museu Solidariedade de Gdańsk precisa ser trazido para o calcanhar da história.

O governo da Polônia cortou o financiamento do Centro quase pela metade, argumentando que seu programa educacional e instalações para as ONGs são abertamente políticos. Funcionários do centro sugerem que o problema é mais que o trabalho deles, e que não refletem, por isso mesmo, os interesses políticos do PiS.

"Ao invés de uma compreensão mais ampla da sociedade civil, a atitude do governo é: porque estamos financiando mais, devemos ser capazes de controlá-lo", diz Kacper Dziekan, da ECS.

Ele diz que a ECS vê sua missão como adaptar a mensagem do Solidariedade para o século 21. Mas sua visão de uma Polônia progressista, inclusiva e liberal está em conflito com a visão do PiS: conservadora, nacionalista, patriótica.

Mas o corte de fundos do PiS saiu pela culatra: polacos furiosos lançaram uma campanha de financiamento coletivo que substituiu a lacuna de financiamento. E agora até velhas lendas do Solidariedade voltaram para a batalha.

Bogdan Borusewicz
Bogdan Michał Borusewicz que organizou as greves de estaleiros originais, foi aprisionado e viveu durante anos na década de 1980 nos subterrâneos polacos. Em seu escritório no senado em Varsóvia, ele é magnânimo sobre como o resultado e muita atenção - e crédito - foi mudado por Lech Wałęsa.

"Eu empurrei e Wałęsa puxou", ele brinca. "Mas do começo ao fim eu estava no olho do ciclone, eu e muita gente."

Ao contrário de Wałęsa e Kaczyński, Borusewicz ficou longe das negociações da mesa redonda de 1989, e criticou o cronograma de transição como tendo sido "apressado". Mas hoje Borusewicz defende Wałęsa e descreve como “escandaloso” o que o PiS está fazendo ao tentar deslegitimar o passado.

"A história contrafactual não é história", diz o historiador de 70 anos que virou político, insistindo que os fatos da revolução do Solidariedade não estão em discussão.

“O PiS deveria ter esperado mais até morrermos e tentar mudar a narrativa histórica. O problema é que Jarosław Kaczyński tem a minha idade, então ele não pode esperar mais.”

Texto: Derek Scally
Tradução: Ulisses Iarochinski
Fonte: The Times Irish  

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

"Guerra Fria" em cartaz no Brasil

"É um poema ajudado não apenas pelas músicas, mas pela incrível fotografia e delicadeza de imagens e sentimentos".
Rubens Ewald Filho


Este é um dos filmes mais premiados deste ano, em todo o mundo. Este romance foi nomeado para 12 Eagle Awards (incluindo melhor diretor e filme) e também o European Awards (5 prêmios).

O romance após guerra é uma coprodução entre França, Polônia e Inglaterra. Este ano no Oscar, ele foi indicado a concorrer como melhor filme estrangeiro, melhor diretor e fotografia. Sem esquecer quatro indicações para o BAFTA britânico.

A história é baseada na vida dos pais do diretor do filme Pawlikowski e foi todo rodado em preto e branco, ou monocromático, o que o torna mais romântico e trágico o complicado romance entre músico (Tomasz Kot) e sua musa (Joanna Kulig).

Pawlikowski foi também premiado como melhor diretor no Festival de Cannes.

Dados importantes: o romance entre os principais personagens foi inspirado na vida real de seus pais, que romperam o casamento algumas vezes chegando a se mudarem de uns pais para outro. O filme é dedicado a esses seus “pais”, inclusive usando os nomes reais dos protagonistas.

Este foi o primeiro filme de língua polaca desde 1990 a ser exibido no Festival de Cannes (bem depois de outros polacos como Polański e Kieślowski). O sucesso foi tão grande que teve uma ovação de 18 minutos.

Importante: os personagens principais foram baseados na vida real de uma famosa escola e grupo folclórico polaco que se chamava Zespól Pieśni i Tanca Mazowasze (no filme o sobrenome foi mudado para Mazurek).

Foi assim que Tadeusz e Mira se casaram e depois da guerra se mudaram para o interior onde procuraram cantores e dançarinos folclóricos. Eles também compuseram a canção Dwa Serduzka, Cztery Oczky são as que servem de motivação para o filme.



Joanna Kulig fez antes também um papel de cantora em outro filme de Paweł Pawlikowski , chamado "Ida". A influência dela foi tentar ficar parecida com a atriz americana Lauren Bacall

Outra informação importante: Paweł chamou para o grupo dançarinos do grupo Mazowsze (que ainda estava ativo até hoje) que ilustrava a sociedade e polaca da época.

O Mazowsze além de um grupo folclórico de canto e dança também é uma escola. E está para as danças folclóricas de todo o mundo, como o Bolshoi russo está para as danças clássicas.  Os estudantes moram na própria escola, numa cidadezinha nos arredores de Varsóvia.

O filme era para ser feito a cores (se reparar bem, apenas a cena em que a Joanna canta há certo tom de cores). Todos os números de Jazz foram executados por Marcin Masecki. Este foi o único filme do Oscar deste ano que foi indicado como melhor diretor e não apenas filme.

Conclusão artística: tantos elogios, tanta repercussão para um filme musical e de amor. Só que é muito mais. Certamente é um dos poucos filmes recentes da Polônia corajoso o suficiente para questionar o passado e colocar o amor mais importante do que se sacrificar pelo comunismo stalinista. É um poema ajudado não apenas pelas músicas, mas pela incrível fotografia e delicadeza de imagens e sentimentos. Não perca.

Paweł Pawlikowski - Foto: Mario Anzuoni/Reuters
"Guerra Fria" fala de paixão sob o stalinismo
Luiz Carlos Merten, O Estado de S. Paulo

Foi no fim do ano passado. Quando conversou com o Estado, pelo telefone, o diretor polaco Paweł Pawlikowski estava em Los Angeles para promover "Guerra Fria" entre os votantes da Academia.

Indicado pela Polônia, o longa – em cartaz nos cinemas – terminou entre os cinco indicados que disputam na categoria de melhor filme em língua estrangeira, na premiação de domingo, dia 24.

Pawlikowski, que já venceu o Oscar por "Ida", concorre pela segunda vez. É sinal de prestígio, mas, dessa vez, trombando com "Roma", do mexicano Alfonso Cuarón, que também está na disputa, será mais difícil.

É curioso que ambos estejam concorrendo não apenas com filmes pessoais, mas autobiográficos.

“A história de um casal que não consegue viver junto nem separado já é antiga no meu imaginário. Me persegue há muitos anos e, na verdade, é a história de meus pais. E porque mexe com coisas que são muito profundas e até dolorosas para mim, eu queria, mas não sabia como abordar um tema tão pessoal. Foi uma longa caminhada. Cada filme me aproximava do meu objetivo. E creio que a solução veio com Ida, com sua narrativa elíptica. Deixei de pensar num roteiro construído como encadeamento de causas e efeitos, mas como uma sucessão de momentos fortes, emotivos e plásticos, com o mínimo de palavras e o máximo de ambientação. Atirei-me com paixão, a paixão de meus pais, mas nunca me senti tão inseguro num set. O tempo todo me perguntava se daria certo. Estava assumindo um risco.”

Há alguns anos, Pawlikowski quase contou essa história, mas disfarçada. “Seria um filme sobre os poetas Sylvia Plath e Ted Hughes. Eles também se amavam, e brigavam, e Sylvia se matou quando Ted a abandonou. Era uma história parecida com a de meus pais, mas seria uma grande produção hollywoodiana, com astros e estrelas, e eu senti que não teria espaço para o tipo de intimismo que queria criar. Desisti. Veja que, no filme, dei os nomes de meus pais aos personagens, Wiktor e Zula, diminutivo de Zuzanna. O problema é que, quanto mais me aprofundava na história, menos entendia as motivações de meus pais. O que ajudou foi o contexto histórico, o stalinismo, o folclore. O background deu consistência e coerência à dupla.”

A música vira personagem. “Demorei meses pesquisando as músicas do filme. São canções folclóricas em versões de jazz. O próprio jazz tem um significado. Era sinônimo de decadência no stalinismo, e por isso mesmo foi sempre associado, na Polônia, a contestação e resistência.” O plano-sequência, na cena do check-point, não é só tecnicamente brilhante.

“Como todo o filme, foi muito pensado. Metaforiza a dificuldade de decidir. Filmei em seis meses, que é muito tempo. Achava a história pesada. Foi na hora, no set, ao filmar o fim, que tive o insight de fazer Zula dizer aquela frase. Faz toda a diferença na relação do filme com o público. E prova que improvisar também pode ser bom.”

Guerra Fria (Cold War)
Polônia, França, Inglaterra, 2018.
Direção de Paweł Pawlikowski.
Roteiro e direção de Paweł, colaboração de Janusz Głowacki e Piotr Borkowski.
Atores: Joanna Kulig, Tomasz Kot, Borys Szyc, Agata Kulesza, Cédric Kahn, Jeanne Balibar.

O filme está em cartaz em Curitiba, esta semana, numa das salas do Cinema Itaú Cultural, do Shopping Cristal, nos horários de 15h40, 17h40 e 21h40.

Jovens polacos cada vez mais direitistas

Foto: TV Republika
Partidos conservadores e de direita receberam apoio de dois terços do eleitorado jovem nas últimas eleições gerais na Polônia.

Defendendo valores pós-materialistas, juventude anseia por tradição e segurança.Nas comemorações do centenário de independência da Polônia, em novembro último, os espectadores se depararam com uma cena incomum: jovens marchando por Varsóvia, com o corpo enrolado em bandeiras brancas e vermelhas e cantando o Hino Nacional polaco.

Somente uma marcha patriótica ainda poderia atraí-los para as ruas. Porque quando os mais velhos se manifestam contra a política conservadora do governo, os mais jovens ficam em casa. Eles defendem valores conservadores e votam em partidos de direita.

A guinada para a direita da geração mais jovem na Polônia não é uma tendência temporária nem uma expressão de protesto. Ele representa uma nova autoimagem que cresceu com a política dos últimos anos. Os jovens polacos se voltam para valores pós-materialistas, que foram desprezados durante um longo tempo. Eles anseiam pela Igreja, por tradição e segurança.

Nas eleições gerais de 2015, a guinada para a direita da geração mais jovem foi percebida pela primeira vez. Dois terços de todos os eleitores com idade entre 18 e 29 anos votaram em partidos à direita do centro do espectro político. O extrema-direita PiS, atualmente no poder, angariou 27% de seus votos.

Outros 21% foram para o novo movimento populista de direita Kukiz'15, e 17%, para a legenda antissistema Partido da Liberdade. As eleições regionais de outubro confirmaram o padrão: o PiS conquistou o maior número de votos dessa faixa etária, e também o Kukiz'15 continuou a contar com esse apoio.

Os jovens não só votam nos conservadores e direitistas, mas também pensam dessa forma. Isso foi demonstrado num estudo publicado em novembro pelo Instituto de Opinião e Pesquisa - IQS. Os cientistas entrevistaram poloneses sem filhos e na faixa dos 16 aos 29 anos de idade.

"Nos últimos três anos, os jovens poloneses se voltaram para valores ainda mais conservadores", resumiu a psicóloga social Marta Majchrzak, uma das coautoras do estudo. "Eles confiam em autoridades, sonham com o casamento e têm orgulho de serem cidadãos polacos." O estudo classificou apenas 9% dos entrevistados de "cosmopolitas" e "abertos à alteridade".

Esquecendo o socialismo
A atitude conservadora da geração mais jovem pode ser explicada pelas reformas econômicas após o fim da União Soviética. Polacos com menos de 30 anos já não se lembram do socialismo. Eles cresceram numa época em que seus pais montaram seus próprios negócios.

O sucesso econômico passou a vir em primeiro lugar, com o Ocidente como ideal. Os pais prometiam aos filhos que sua nova Polônia logo se tornaria um membro igualitário da União Europeia (UE) e que iria se desenvolver até estar em pé de igualdade com os vizinhos alemães.

Mas logo as promessas foram seguidas de decepção. Sob o partido liberal de centro-direita PO, que governou o país de 2007 a 2015, a economia cresceu, mas não a segurança econômica dos mais jovens. O desemprego juvenil aumentou até atingir o pico de mais de 27%, em 2013.

Aos jovens polacos restaram contratos temporários de emprego, com salários menores que o esperado. Após ainda terem ajudado o PO a vencer a eleição de 2007, eles se afastaram do partido nos anos seguintes e votaram em nacional-conservadores, que lhes prometeram uma política mais voltada para o lado social.

De acordo com o estudo do IQS, a geração mais jovem vê o país como um enclave seguro, que a protege das incertezas do mundo. Três em cada quatro entrevistados disseram ser contra o acolhimento de refugiados. Quase um terço afirmou que abriria mão da liberdade pessoal em prol de mais lei e ordem.

Isso não significa, no entanto, que os jovens polacos estejam se afastando dos valores democráticos. "Esta geração não é de forma alguma de extrema direita", aponta Henryk Domański, sociólogo e diretor do Instituto de Filosofia e Sociologia da Academia de Ciências de Varsóvia. "Os jovens poloneses são apolíticos, por esse motivo os votos para os partidos mais radicais pesam mais".

Isso também foi demonstrado na eleição regional no fim do ano passado: a principal disputa eleitoral ocorreu entre PO e PiS. Desde 1990 não se viam tantas pessoas votando: o comparecimento eleitoral foi de 51%. Mas apenas 37% dos eleitores entre 18 e 29 anos foram às urnas.

"Um partido de direita como Kukiz'15 só conseguirá se beneficiar de forma temporária do conservadorismo dos jovens", afirma Domański. O sociólogo recorda os partidos antissistema Ruch Palikota (Movimento Palikota) e o Samoobrona (Autodefesa), que conseguiram conquistar a preferência do eleitorado jovem alguns anos atrás. Politicamente, ambas as legendas já não têm, há muito, mais nenhuma importância.

Domański disse estar convencido de que os jovens polacos permanecerão leais ao conservador PiS nas eleições do ano que vem. Além disso, aqueles com menos de 30 anos deverão continuar conservadores.

Atualmente, vê-se crescer uma geração de jovens na Polônia, cujos pais emigraram para países do Oeste da UE em busca de melhores salários. Os chamados "euro-órfãos" cresceram longe dos pais ou mães duranre meses. Eles também anseiam por tradição e segurança.

Tradução: Nossa Polonidade, Nosso Orgulho
Uma outra Pesquisa
A pesquisa do CBOS (Centro de Pesquisa e Opinião Social) mostra claramente que os jovens polacos na faixa etária dos 18 aos 24 anos estão se tornando mais direitistas em seus pontos de vista do que esquerdistas e bem mais que as pessoas que viveram os tempos do comunismo.

Tradução: Os pontos de vista políticos declarados dos entrevistados de 18 a 24 anos acabou em segundo plano. Médias móveis centralizadas de três meses. Esquerdista (18-24 anos) - Direitista (18-24 anos),  (total)

De novo a tradição, cultura e história polacas, simplesmente a polonidade se torna mais fria para os jovens.

A ideologia esquerdista está experimentando um declínio total de sua existência na Polônia.  A pesquisa tenta admitir que cada vez mais os jovens polacos estão levando a vida a sério, além de "serem capazes de distinguir entre ideologias que levam à destruição da tradição e dos valores daqueles que a valorizam", opina o redator do site da Telewizja Republika (de extrema-direita).

O redator da Republika afirma que não é surpreendente que a pesquisa do CBOS mostre que a ideologia de direita está se tornando um pão diário para a maioria dos jovens polacos.

Apelando de forma nada jornalística, o redator da TV Republika afirma que "com certeza", o poder do atual governo de extrema-direita contribui para a mudança ideológica dos jovens, "porque pela primeira vez desde 1989 temos 100% de um governo da Polônia, que não é de escravos de russos, nem de alemães! Há também jovens que consideram a fé católica algo importante, e não apenas para avós e avós".

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Fontes: Rádio Deutsche Welle (Estatal alemã)  e Telewizja Republika

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

O significado da palavra Tatra

Foto: National Geographic
As montanhas mais belas da Polônia: Tatras

Os Tatras são um setor da cadeia de montanhas Cárpatos, nas fronteiras da Polônia com a República Tcheca e Eslováquia. Os Cárpatos da fronteira com a República Tcheca tem o nome de Beskide (em polaco Beskidy; em tcheco e eslovaco, Beskydy; em ucraniano, Бескиди)

Mas na fronteira com a Eslováquia os Cárpatos ganham o nome de Tatra. E também na fronteira entre a Ucrânia e a Hungria, já que até 1945 toda a região pertencia para a Polônia.

Ao longo dos séculos foi recebendo os nomes de "Tritri" (em 1086) "Tatry" (em 1255), no século XIV em húngaro foi chamado de "Thorholl" (1256), "Thorchal", "Tarczal" ou "tutur", "Thurthul" que com esta denominação poderia significar poderia Inferno.

O poeta polaco Adam Mickiewicz usou o nome Tatry e Krępak de forma intercambiável, exatamente como cem anos antes Spener fazia o mesmo.

Em 1790, Baltazar Hacquet escreveu que os eslavos chamavam aquelas montanhas de Tatari ou Tatri, querendo dizer que o nome tinha relação com as hordas de Tártaros (mongóis) que invadiram a região várias vezes.

De acordo com o professor de etimologia de Jan Michał Rozwadowski o nome Tatry (do antigo idioma polaco Tartry deve ser combinada com o celta "tertre", que significa Colina.

Assim, as Montanhas Tatra teriam originalmente significado colinas.

Os picos mais altos das montanhas Tatras e suas denominações no idioma polaco

Da justaposição das palavras "Tertre Tatras", o poeta Norwid a escreveu assim.

Alguns autores também sugerem que a origem da palavra poderia ser dácia ou trácia. No início dos Tatras do século XIX foram chamados Karpat (ou seja, montanha mais alta coberta de neve) com a versão Dacko-iliryski "Karpe" que significa rocha em língua polaca antiga, preservada na forma de, por exemplo "karp", que significa "afiada", ou "es - carpa", ou seja, encosta da montanha.

E que também dá o nome à espécie de peixe muito abundante da região que é a carpa, que ao contrário do que muitos pensam não é só húngara, mas também é eslocava, ucraniana e polaca.

No lado polaco, uma cidade se destaca por ser considerada a capital do inverno da Polônia: Zakopane (que em polaco antigo significa encoberta), além das localidades de Kościelisko, Poronin, Biały Dunajec, Bukowina Tatrzańska, Białka Tatrzańska, Murzasichle, Małe Ciche, Ząb, Jurgów e Brzegi.

No lado eslovaco se destaca a cidade de  Wysokie Tatry.

Nos Tatras estão localizados  25 Albergues (Hostel em inglês e Schronisko em polaco), sendo 9 na Polônia e 16 na Eslováquia.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Origem da palavra Wawel


A famosa colina de Wawel, em Cracóvia, onde estão três lugares históricos dos mais importantes para a Polônia: o castelo real, a catedral metropolitana e a caverna do dragão, tem uma denominação muito conhecida em todo o mundo, não só na Polônia, mas também em Curitiba, que abriga um edifício com este nome.

Mas pouco se comenta, ou quase ninguém sabe explicar o que realmente significa esta palavra. Muitas explicações já foram tentadas, mas ninguém ainda chegou a um veredito final.

Para alguns Wawel tem origem no eslavo antigo, ou proto-eslaco "Wąwel". Cuja pronúncia em polaco seria "vonvél". Seu significado: Ravina. Esta ravina teria no passado distante dividido a colina cracoviana em duas, ou mais partes.

Outros argumentam que a palavra significa "protrusão dos pântanos" que circundava a colina. E protrusão por sua vez significa: movimentação, ou deslocamento. No caso movimentação do pântano que circundava a colina em tempos passados.

Pintura a óleo de 1847 ( x50 cm) do artista Jan Nepomucen Głowacki
Já a teoria mais recente é de que "Wawel" é uma continuação regular do palavra em grego Babel, a da torre que motivou a criação dos diferentes idiomas humanos.

E que nas línguas eslavas das antigas Igrejas, a consoante B teria se convertido em W.

O castelo, catedral e demais edificações da colina estão numa altitude de 228 metros acima do nível do mar e nas margens do rio Vístula que corta a Polônia de Sul a Norte.


O castelo foi construído pelo rei Casimiro III - o Grande.  No século XIV foi reconstruído por sua filha a Rei Edvirges (Santa Jadwiga) e seu esposo lituano Jogaila.

Também na colina de Wawel estão os edifícios que foram usados pelos empregados e artesãos reais, além do clérigos como os cardeais, bispos e padres. Também estão as muralhas e torres defensivas chamadas de Jordanka, Lubranka, Sandomierska, Tęczyńska, Szlachecka, Złodziejska e Panieńska.

Em Curitiba, no coração da cidade, na praça Ozório, o médico Edwino Donato Tempski construiu um enorme edifício e lhe deu o nome de Wawel e fez colocar um mosaico no hall de entrada, no térreo, retratando a colina e o dragão símbolo das lendas da cidade de Cracóvia.