segunda-feira, 7 de março de 2011

Najuá: Iarochinski explica preconceito contra o termo "polaco"

A radialista Genoveva Zavilinski, o secretário de Cultura Rafael Ruteski e o escritor Iarochinski
Da Redação, com fotos de Genoveva Zavilinski

No dia 23 de fevereiro aconteceu o lançamento do livro "Polaco – Identidade Cultural do Brasileiro Descendente de Imigrantes da Polônia", de autoria do escritor, jornalista e historiador, Ulisses Iarochinski, no Centro Comercial Clube do Comércio, em Irati e teve o apoio da Secretaria Municipal de Patrimônio Histórico, Cultura, Lazer, Turismo e Desportos e da radialista e incentivadora da cultura em Irati, Genoveva Zavilinski.
Antes do lançamento, o autor proferiu uma palestra sobre o tema do livro. O preconceito contra o termo "polaco", que Iarochinski tenta explicar no livro, nasceu no Brasil, originado entre os próprios imigrantes da Polônia que criaram outro termo para identificar a etnia, o “polonês”. O historiador conta que eles se sentiam envergonhados porque seus pais e avós se fixaram principalmente no interior, longe dos recursos das cidades; diferente do que aconteceu com outras etnias, como os alemães, por exemplo, que se instalaram nos centros maiores.
Quando vinham para a cidade, muitos se sentiam inferiorizados por estarem longe da civilização e por não terem condições de dar estudo para seus filhos. A vida no campo era muito difícil naquela época. As famílias polacas até mesmo deixavam de ensinar a língua de origem para seus descendentes.
Depois, com o desenvolvimento do país, continua explicando Iarochinski, muitos polacos se mudaram para as cidades, estudaram e subiram de classe social. Intencionados de fugir do que era visto por eles como estigma, estes imigrantes e descendentes criaram outra denominação para identificá-los, o "polonês", para separá-los do grupo que continuavam com a vida mais simples no interior, os "polacos".
A palavra polonês não existe na Polônia, assim como não existe o idioma polonês. Aquele que nasce na Polônia se chama "polaco".
Passado tanto tempo, nos dias de hoje, alguns brasileiros descendentes de imigrantes polacos, querem tentar obter a cidadania na Polônia, para poder estudar, trabalhar ou morar na Europa. Porém, o consulado não fornece os documentos porque os imigrantes fugiram da guerra e vieram para o Brasil ilegalmente. Para o consulado da Polônia, eles não existem, contou Iarochinski.

domingo, 6 de março de 2011

Orgulho de ser polaco

No último lançamento do livro "Polaco" na cidade de Irati fui entrevistado por alguns jornalistas da cidade. Um deles, a repórter do jornal "Hoje Centro Sul", publicou reportagem neste domingo neste jornal sobre minhas opiniões e conhecimento da etnia polaca e a Polônia. Esta é a reportagem de Marina Lukavy:


O orgulho de ser polaco sob a perspectiva de Iarochinski
Cultura / 3 de março de 2011

A palavra polaco foi alvo de preconceito

Centro Sul - Polaco sim, polonês não. Para o jornalista e doutor em Cultura Internacional, Ulisses Iarochinski, é assim que devem ser chamados todos os descendentes de imigrantes da Polônia. No lançamento do seu segundo livro, Iarochinski discute questões polêmicas como preconceito a etnia, culinária polaca adquirida por outros países, criação da palavra “polonês” e a temática ucranianos x rutenos.

O autor esteve em Irati na última quarta-feira (23), para o lançamento do livro “Polaco – Identidade Cultural do Brasileiro Descendente de Imigrantes da Polônia”. A obra é a tradução para o português da sua tese de mestrado, escrita originalmente em polaco e defendida na Universidade Iaguielônia, de Cracóvia, na Polônia. Iarochinski é natural de Monte Alegre (PR), quando esta ainda era Tibagi.

Polaco ou polonês?

Desde o lançamento do seu primeiro livro em 2000 (Saga dos Polacos), o autor revela que já arrumou boas brigas pelo uso do termo. Por julgar que nenhuma editora iria se interessar pela temática e publicaria o livro, Iarochinski confeccionou tudo sozinho. Durante a montagem da capa percebeu que a palavra “poloneses” era muito extensa e resolveu utilizar “polacos”. Mal sabia ele o tamanho da confusão que viria pela frente.

Descendente e neto de polacos, o autor sempre viu as palavras polonês e polaco como sinônimos. “Quando fiz a capa para mim não tinha muita diferença entre polaco e polonês. Bendita a hora em que coloquei esta palavra, nunca imaginei que tivesse tanta encrenca com isso”, conta.

“Saga dos Polacos” foi lançada em 27 cidades do Sul do Brasil com grande porção da população sendo descendentes da Polônia. Irati também foi contemplada com o lançamento durante um evento no “Clube Polaco”, como se refere Iarochinski ao Clube Polonês.

Uma história curiosa e que ilustra a polêmica em que o autor se inseriu aconteceu na cidade de Erechim (RS). “Estava certa vez no município, lançando o primeiro livro, quando levantou um senhor e veio até perto de mim. Ele se abaixou e pensei que iria me falar algo, mas para minha surpresa o sujeito deu um murro em meu braço. E ele ainda gritou: ‘Aqui em Erechim não tem polaco, aqui só tem polonês’. Só fui entender a diferença depois de ir para a Polônia”, lembra.

Iarochinski brinca que usou da sua experiência dentro do jornalismo para fazer com que o lançamento do livro em Curitiba tivesse uma boa divulgação. Como era editor do caderno de Cultura do Jornal do Estado, sabia que os conteúdos para a editoria eram poucos nos primeiros dias da semana. Apesar de ter escolhido uma terça-feira chuvosa para o lançamento, reuniu 350 pessoas, vendeu 150 livros e teve uma ótima repercussão.

E foi a “Saga dos Polacos” que abriu as portas para que o autor pudesse ampliar seus estudos na área. Por meio de um convite do Consulado da Polônia em Curitiba viajou para o país, e lá estudou a cultura e o idioma polaco, depois fez mestrado e doutorado. “Para mim saber das origens sempre foi uma preocupação. Queria saber quem somos e o que fazemos no mundo enfim, porque existimos”, completa.

Após aprender o idioma, Iarochinski virou frequentador assíduo das bibliotecas e esteve sempre em busca de novas descobertas. Ele explica que na Polônia não existe nenhum preconceito e nenhuma diferença entre polonês e polaco. Isso se comprova na tradução, no idioma da Polônia, no qual a única palavra que surge é polak.

O preconceito em relação ao termo polaco surgiu no Brasil. Durante o período em que o país passou por um intenso processo de imigração, o Paraná recebeu principalmente eslavos. Iarochinski conta que os polacos foram considerados analfabetos e burros por não saberem o idioma português. Além disso, o processo de adaptação dos imigrantes da Polônia foi muito difícil, principalmente em comparação aos alemães. Estes vieram para as cidades, eram imigrantes urbanos que conviviam com a classe que falava português, já os polacos foram colocados em cidades do interior, ainda bem pouco desenvolvidas.

“Por exemplo, Irati que está a 150km de Curitiba, naquela época essa distância poderia ser comparada como se fosse daqui até Amazônia, e isso levou os polacos a um distanciamento. Mesmo em Curitiba, quando chegaram as primeiras 32 famílias em 1871 vindas de Brusque (SC), os polacos foram colocados no bairro Pilarzinho e foram descriminados. Imigrantes alemães também foram para o bairro e já odiavam os polacos por toda a situação de conflito entre os países. A partir daí começaram a chamar os polacos de bêbados, burros, analfabetos e ignorantes. Neste cenário surge o preconceito contra a etnia, não contra o termo”, esclarece.

A palavra polaco começou a ter sentido pejorativo no Rio de Janeiro. Em função da escravidão a população carioca era composta por muitos africanos, e o imperador queria “branquear” a população da capital brasileira, então incentivou a vinda de prostitutas europeias. As primeiras a chegarem ao Brasil eram da França, depois vieram trazidas dos Açoures, de Portugal, da Espanha e da Itália.

De acordo com o autor, nesta época uma máfia judia com sede em Buenos Aires e em Varsóvia foi até pequenas cidades que estavam sem estado e por isso se misturavam. Alguns locais eram parte da Rússia e da Prússia (Alemanha atualmente), e ainda outra porção era austríaca. “Aquelas comunidades judias que há mil anos estão na Polônia, passaram a ter olhos azuis e ficar loiros. Estes não são como os palestinos do Oriente Médio, eles viraram polacos”, observa.

Como estas prostitutas que eram trazidas pelos judeus eram loiras e de olhos azuis, começaram a ser chamadas de polacas no Rio de Janeiro e neste contexto surge o sentido pejorativo do termo. “Os próprios descendentes adquiriram preconceito contra a palavra porque não queriam ser chamados de ‘filhos de prostitutas’. Os judeus que estavam em Curitiba também negam que são polacos, pelo convencionalismo adotado”, complementa.

Foi também no Brasil que houve a criação da palavra polonês. O termo foi imposto por uma elite de imigrantes da Polônia que frequentava a Universidade Federal do Paraná e que não queria ser confundida com o “caipira analfabeto”, que aos olhos dos brasileiros por não saber falar português era burro.

Em 1927, foi realizado um evento no Consulado da Polônia em Curitiba, um dos convidados era o embaixador da França. “Durante o encontro, a polêmica era que todos aqueles que ali estavam já tinham acendido da classe agrícola para a Universidade, então não queriam ser taxados de polacos, que é o termo que está no país desde o seu descobrimento em 1500. O termo polonês foi então sugerido por esse embaixador da França”, encerra Iarochinski.

A discussão continua

Na próxima edição você vai poder conferir outras informações e “descobertas” que Ulisses Iarochinski traz em seu livro. Não perca!

Texto: Marina Lukavy, da Redação.
Fotos: Adriana Souza, da Redação






































sábado, 5 de março de 2011

A feira de cavalos de Skaryszew

Foto: Paweł Kozioł
Foto: Jacek Marczewski
O fotógrafo Krzysztof Jarczewski documentou cenas de maus-tratos com os famosos cavalos polacos vendidos internacionalmente na Feira de Cavalos de Skaryszew. As origens da feira remontam ao tempo do Rei Władysław IV, quando este, em 1633, permitiu a realização da feira todos os anos na primeira segunda-feira e terça-feira da Quaresma. Este ano, a Feira acontece nos dias 14 e 15 de março. São esperados compradores Itália e França.
O fotógrafo Jarczewski, de Radom convida todos os fotógrafos a virem ao local da Feira para documentar o abuso e os maus tratos contra os cavalos. Seu trabalho faz parte da Fundação Internacional de Bem-Estar Animal Movimento VIVA!
Skaryszew é uma cidade da Polônia, na voivodia da Mazóvia e no município Radom. Estende-se por uma área de 27,49 km², com 3922 habitantes, segundo os censos de 2004, com uma densidade 142,7 hab/km².

sexta-feira, 4 de março de 2011

UEFA: ingressos mais baratos na Euro2012

Mascotes Euro 2012 no estádio de Gdansk - Foto: Damian Kramski
 Na verdade, há apenas uma notícia até o momento digna de assim se considerar: se alguém consegue um bilhete para assistir pelo menos uma partida para o Euro2012, ele é capaz de falar de si mesmo: "Eu sou muito sortudo".
A UEFA anunciou com orgulho que os preços dos ingressos serão acessíveis aos polacos e ucranianos e, portanto, mais barato do que os vendidos durante o Euro 2008. E, de fato, os valores anunciados para as partidas de grupo, são mais baratos. Custam 30 euros, ou cerca de 15 euros a menos do que quatro anos antes. Além disso, a segunda categoria de preços serão de 70 euros enquanto na Áustria e Suíça, eram de 80 euros. Mas a terceira categoria, ou seja, os melhores bilhetes estão mais caros do que em 2008.
Assim, oportunidade de comprar um bilhete por 30 euros dos jogos dos grupos é um verdadeiro milagre. Pois o percentual de bilhetes colocados à venda nesta faixa de preço é de apenas 25% em comparação com os mais caros.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Hoje é dia de "Pączki... dia da gula

Foto: Anna Jarecka
Quinta-feira gorda! A Europa comemora este dia, pelo menos desde o século XIII. Mas na Polônia a data vai além da simples lembrança de que é a última quinta-feira antes da quaresma. Na terra do quase beato João Paulo II, a quinta-feira gorda é um festival consagrado à gula. A gulodice do polaco tem nome: "Pączki"! Palavra que em sua tradução literal é apenas "broto de rosa", mas que em seu significado brasileiro é o famoso "sonho". Sim aquele bolinho recheado com marmelada e polvilhado com açúcar de confeiteiro. Contudo, na Polônia a guloseima é feita com geléia extraída justamente dos brotos das rosas... uma delícia!!!
Há 700 anos, o último dia de carnaval era considerado a terça-feira gorda, justamente o dia que antecede a quarta-feira de cinzas. Mas a tradição foi mudando. Primeiro para a segunda-feira, depois para o domingo, logo em seguida para sábado. Como toda sexta-feira era ligada a ideia da Paixão de Cristo... a comilança acabou ficando com a quinta-feira anterior.
Marcin Stańczuk, etnógrafo do Museu de Radom, explica que "os três últimos dias de carnaval, domingo, segunda e terça-feira eram chamados dias primos ou primas. Nestes tempos, estes dias eram dedicados à festas, danças e jogos".
O ponto alto das cerimônias era a terça-feira, quando os meninos se vestiam de mulher velha, de Diabo, de Judeu, de Milionário, de cigano e de Urso. Os disfarçados desfilavam pela vila, cantando e faziam barulho batendo com pedaços de pau nas panelas vazias.
Os "alegres" visitavam casas e pediam por refrescos. Em troca da graça, desejavam prosperidade agrícola, colheita abundante, uma prole grande de animais para reprodução. Por essa ocasião, diversas travessuras eram feitas, tais como besuntar senhoras de negro, o que era considerado motivo de sorte da família e um bom presságio para os próximos tempos que viriam.
Com o passar dos séculos, os foliões e os visitados na Polônia, foram incorporando às brincadeiras, os "pączki" (sonhos) como moeda de troca. Os desfiles foram acabando, os cantos emudecendo, mas o "sonho" permaneceu. Assim como os "desejos de boa aventurança"!
Hoje, em todas as vilas e cidades, os polacos preparam a guloseima às centenas e saem pelas ruas e estradas distribuindo "sonhos". Para que estes desejos se realizem, de verdade, é preciso ganhar e comer pelos menos dois "sonhos" e meio.
Tanto isso é verdade, que o doce no Brasil, tem o nome de "sonho", porque foi trazido pelos imigrantes polacos. Pois até o século XIX, nenhum brasileiro, ou português tinha comido o "sonho". Os portuguêses foram aprender com os "usurpadores das terras polacas", os alemães, que o confeito polaco era de "bola de Berlim".
Nada mais equivocado, já as bolas alemãs não estão relacionadas ao desejo e ao sonho... apenas à pança. Já o "sonho" brasileiro é o verdadeiro pączki (pronuncia-se pontchki).!!!

Ai ai ai... que gostosura polaca!!!

terça-feira, 1 de março de 2011

Encerrado Festival da Canção de Velejadores em Cracóvia

Foto: Michał Łepecki
Mais de 150 artistas de todo o mundo e 19 concertos em seis dias. Neste fim de semana encerrrou-se o Międzynarodowy Festiwal Piosenki Żeglarskiej "Shanties" (Festival Internacional da Canção de Velejadores).
Pela trigésima vez, Cracóvia foi embalada pelo som de viola, banjo, violino e gaita de boca. Além dos artistas polacos tradicionais, na comemoração dos 30 anos do festival, tocaram músicos da França, Holanda, Estados Unidos e Grã-Bretanha.
Como tradicionalmente, o público foi bom. Segundo os organizadores do evento todos os eventos atraíram cerca de 12 mil participantes.
Pela primeira vez na história das "Shanties" foi possível assistir à concertos que combinaram sons tradicionais com outros gêneros musicais dos velejadores. No Club Żaczek ecoaram em um arranjo de rock uma surpreendente mistura de canções de velejadores e jazz, pelo Clube de Arte de Old Metropolitana Band.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Polaco em Irati: sucesso!!!

O quarto lançamento do Livro "Polaco – Identidade Cultural do Brasileiro Descendente de Imigrantes da Polônia", em Irati foi um sucesso, no ultimo dia 23 de fevereiro em Irati, interior do Paraná. Muitos autógrafos e perguntas após a palestra sobre a "Polônia de sempre".




P.S. As fotos são do site Irati Online.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Marila para sempre


Pelas estradas da Polônia se movimenta um tesouro nacional:"Mary Mary". A artista circula pelas cidades do país promovendo seu mais recente CD "50", com muito suingue, mas que pode ser muito parecido com a música de Lady Gaga.
Maryla Radowicza em meio a tanta entrevista de promoção de seu novo disco, conversou com o jornalista do jornal gratuito "Metro".

Artur Tylmanowski - A senhora ouve Lady Gaga?
Marila - Eu gosto de olhar para ela. Espanta-me, mas não ouço a música dela, mas assisto seus vídeos.

Tylmanowski - A senhora gosta do YouTube, usa o Twitter?
Maryla - Todo dia eu dou uma olhada no Facebook, escrevo para os fãs. Frequentemente ouço música no YouTube.

Tylmanowski - A senhora possui há muitos anos o mesmo público fiel. Os jovens também encaram seu trabalho na boa?
Maryla - Diante do palco juntam-se sempre muitos jovens e eles ajudam a compor a atmosfera do espetáculo. Meu público é muito diversificado, desde crianças até pessoas bastante adultos. Sou de todas as gerações.

Tylmanowski - Quais músicas são as mais pedidas?
Maryla - Eles querem os hits, então eu canto. Mas sempre apresento as últimas canções dos álbuns recentes, como "Jest cudnie", "Ech mała", "Wszyscy chcą kochać", "Łatwopalni". Mas claro, eu também toco músicas do álbum "50". Isso é o que sempre acontece nos shows!

Tylamowski - Qual foi a maior surpresa que lhe fizeram seus fãs?
Maryla - A mera presença deles num espetáculo me faz feliz. Mas é bom ver, por exemplo, meu nome desenhado nos cabelos aparados dos rapazes, ou uma tatuagem com minhas iniciais.

Tylmanowski - Você tem uma legião de fãs muito leal...
Maryla - Também tenho fãs entre monges e freiras. Recentemente, eles se reuniram para orar por mim, e isso, em diferentes partes do mundo, simultaneamente. Provavelmente é por isto que tenho tanto poder.

Tylmanowski - A senhora recebe um monte de cartas íntimas dos fãs?
Maryla - O que é íntimo, eu não posso dizer. Mas há muitas vezes pedidos de apoio financeiro em situações difíceis, como na doença.

Tylmanowski - A senhora foi considerada amiga oficial da Euro 2012. Isto significa que, antes do primeiro jogo da Eurocopa, a senhora irá cantar "Mój chłopiec piłkę kopie"?
Maryla - Eu não sei. Demasiado cedo para dizer sobre isto. Mas se eu tiver uma composição "super". Basta adicionar o texto e música para a Euro e estará pronto. Além disso, eu sonho de cantar junto com os fãs.

A turnê de Radowicza pelos caminhos polacos  indica que ela estará dia 26/02 em Zamość, 27/02 Lublin, 19/03 Zielona Góra, 20/03 Poznań, 26/03 Gdańsk, 27/03 Bydgoszcz, 01/04 Katowice, 02/04 Łódź, 03/04 Kraków, 08/04 Warszawa (Varsóvia) e 29/05 Szczecin.

Maryla, em pleno regime comunista sai da Polônia para cantar na abertura da Copa do Mundo de Futebol, na Alemanha de 1974. Ano de melhor performance do futebol polaco em copas. A Polônia de Lato, Zmuda, Tomaszewski bateu o Brasil de Ademir da Guia, Jairzinho e Rivelino e conquistou o terceiro lugar.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Irati, terra da cerveja caseira polaca

Par do Grupo Folclórico Lublin de Irati
A cidade de Irati, que promove o lançamento do meu livro "Polaco - Identidade do brasileiro descendente de imigrantes da Polônia" tem forte presença da etnia polaca. Ali se mantém as tradições tradidas pelos imigrantes da terra da águia branca como os grupos de danças folclóricas, festas da cerveja, programas de rádio, costumes e culinária.
Os primeiros imigrantes polacos começaram a chegar na cidade em 1908 e se intensificaram no período de 1911 a 1912.
O município paranaense, que dista 147 quilômetros da capital Curitiba, brinda a chegada do novo ano, celebra o almoço de Páscoa e comemora aniversários e casamentos com uma bebida trazida no começo do século por imigrantes polacos: a cerveja caseira.
A boa receita de cerveja feita em casa, fermentada, doce e espumante, é preparada com lúpulo e açúcar caramelizado. De teor alcoólico muito baixo – apenas 0,7%, em comparação com cerca de 5% da bebida industrializada –, a cerveja caseira de Irati pode ser encontrada desde em mamadeiras de crianças até em minimercados e festas de terceira idade. Além disso, é considerada uma das principais tradições do município.
Não por acaso, Irati é o maior consumidor de lúpulo do Estado. Uma espécie de planta aromática utilizada na fabricação da bebida, o lúpulo foi adicionado pela primeira vez na história da cerveja, no século XI, na Polônia. Como se sabe, uma bebida fermentada aparentada da cerveja já era produzida há cinco mil anos no Egito. Mas foi com a adição do Lúpulo que a cerveja, tal como conhecemos hoje, foi finalmente criada.
Assim, a despeito da popularidade das cervejas, alemãs, tchecas, holandeses e belgas, quem realmente criou a cerveja moderna foram os polacos.
Assim, nada mais justo que Irati, seja um grande consumidor de cerveja caseira. Tanto que há alguns anos instituiu a Festa Nacional da Cerveja Caseira, que ocorre todo mês de dezembro, e que registrou, em 1997, a instalação da primeira indústria da cerveja caseira do País.
O primeiro iratiense que tentou produzir e comercializar a cerveja caseira em larga escala foi o engenheiro agrônomo José Luís Pabis. De olho na aceitação que a bebida tinha na região, Pabis decidiu fazer um teste: depois que a mãe, Bronislava, de 68 anos, conseguiu o terceiro lugar num concurso de cerveja caseira em 1995, pediu a ela que preparasse 200 litros e distribuiu-os por bares da BR-277, que passa perto de Irati. “Depois de três dias, o pessoal já tinha vendido tudo e estava pedindo mais”, conta. “Então passamos a produzi-la nos fundos de casa.” Em 1997, a família conseguiu o registro do produto no Ministério da Agricultura e lançou oficialmente a marca Krulowa, que, em idioma polaco, significa rainha. Para evitar a concorrência da produção familiar em Irati, Pabis vendia a bebida em embalagens plásticas de um e dois litros para clientes de Curitiba, Guarapuava, União da Vitória e municípios próximos. “Enquanto a cerveja caseira era novidade ela foi uma febre, mas faltou divulgação.”

P.S. texto baseado em informações de Luciana Gardin

A Palestra "Polônia atual" e o lançamento do livro "Polaco" de Ulisses Iarochinski, acontece hoje, na Casa da Cultura de Irati, às 19:30 horas, rua 15 de julho 329.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

"Polaco" chega amanhã em Irati

Irati é a quarta cidade a receber o lançamento do livro "Polaco". Antes dela, Curitiba, Araucária e Telêmaco Borba foram visitadas.
Estão convidados os polacos de todas as colônias e cidades vizinhas, além de simpatizantes e pessoas de outras etnias.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Imigrante ilegal na Polônia já é um problema

 Família Batdavaa da Mongólia - Foto: Krzysztof Koch

Cuidam de filhos de polacos, cozinham, limpam, reformam casas. São os imigrantes ilegais na Polônia. Vivem em silêncio, com a cabeça curvada há anos e muitas vezes são brutalmente explorados.
Após vários dias cheios de movimentações nos meios de comunicação a respeito da família mongol que vivia, em Cracóvia, nos últimos 10 anos e que foi ameaçada de deportação, e finalmente recebeu uma estada tolerada. Os amigos abriram champanhe e os jornalistas puderam observar o sucesso de suas campanhas.
Ao mesmo tempo, o presidente Bronisław Komorowski salvou da deportação o oposicionista vietnamita Ton Van Anh, dando-lhe a cidadania polaca. Tais informações aleatórias que aparecem em jornais e programas de televisão podem causar a falsa impressão de que os problemas dos imigrantes são tratados de forma contínua, e que isso é ótimo. Infelizmente, isso não é bem assim não. A situação dos imigrantes ilegais na Polônia não é nada boa.
Segundo estimativas oficiais vivem na Polônia cerca de 200 mil imigrantes ilegais. A maioria deles são ucranianos.
Mas algumas fontes acreditam que este número chegue a meio milhão de imigrantes sem documentação. Os ucranianos, culturalmente próximos dos polacos, trabalham no país há anos. Estão de tal forma "entranhados" na vida das pessoas , que seria difícil se livrar deles, pois são os enfermeiros dos filhos dos polacos, cuidadores de pais idosos e empregadas domésticas. Geralmente são os trabalhadores que fazem reformas nas casas por preço mais baixo.
Pela falta de documentação estes imigrantes não têm acesso aos serviços de saúde. Vão ao médico somente quando estão prestes a morrer. Isto, não só é desumano, mas todos sabem que é mais barato prevenir do que remediar.
Estes imigrantes chegaram nos últimos anos a Polônia. São jovens e fortes e têm filhos pequenos. Em poucos anos, estas crianças cresceram e ficaram longe das escolas. Seus pais envelheceram no mercado de trabalho ilegal e agora não têm direito a aposentadoria e seus filhos são analfabetos e desempregados.
Representantes do governo polaco começam a se preocupar com a situação, mais movidos pelas pressões de ONG´s do que por um efetivo plano estatal.
Um grande equívoco é que o debate público ainda mistura o termo "imigrante" ao de "refugiado". Os imigrantes que podem ser meio milhões de pessoas, trabalham ilegalmente, pagam impositoriamente impostos. Já o estatuto de refugiado recebem dezenas de pessoas todos os anos. Este é um grupo muito específico de pessoas que não migram para disputar o mercado de trabalho, mas que fogem da terra natal devastada pela guerra, ou de países regidos por regimes opressivos. Pessoas com traumas e sem saída. Elas precisam de cuidados especiais - cuidados físicos, médicos e psicológicos. E se a palavra "solidariedade" na Polônia, representa alguma coisa, os polacos sentem-se obrigados a dar essa assistência.
A deportação, único meio, para sanar esta situação, de acordo o britânico Institute for Public Policy Research , levaria três décadas para dar resultados a um custo 11 mil libras por pessoa, de apenas meio milhão de imigrantes ilegais no Reino Unido.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Polacos conquistam prêmios no Festival Berlim 2011


Wojciech Staroń
O diretor de fotografia polaco Wojciech Staroń ganhou o "Leão de Prata" do Festival de Berlim, encerrado ontem, pelo filme argentino, dirigido por Paula Markowitch, "El Premio". O filme é uma co-produção mexicana, polaca, alemã e francesa.
Já a diretora polaca, Dorota Kędzierzawska ganhou o prêmio principal na categoria Generation Kplus pelo seu filme (Grand Prix of the Deutsches Kinderhilfswerk for the Best Film) "Jutro będzie lepiej" (Amanhã será melhor).

Dorota Kędzierzawska

O júri ficou impressionado com a bela combinação de diversão e humor dentro de uma tensa história de sobrevivência. A cineasta com direção segura e uma fotografia bonita criou uma história emocionante em um mundo áspero. Com atuações excepcionais que criam uma luz na escuridão, o filme apresenta um tema impressionante, bastante íntimo e pessoal sob um pano de fundo político e social.

O grande vencedor da 61ª. edição do festival alemão foi o filme iraniano "Jodaeiye Nader az Simin” (Nader e Simin. Separação) do diretor Ashgar Farhadi.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Ataque com seringa na Bursa Jagieloński

Foto: Michał Łepecki
A tradicional Casa de Estudantes da Universidade Iaguielônica - Bursa - no bairro do Podgorze viveu cenas dramáticas esta semana. Um grupo de estudantes ucranianos em visita a Cracóvia, hospedou-se na casa, que mantém uma ala para turistas a baixo preço a diária. Um deles, de por falta de sua jaqueta e imediatamente alertou os demais. Não demorou muito para encontrar o ladrão vestindo a jaqueta roubada, que burlando o sistema de vigilância da casa, com portaria e câmaras de vídeo, entrou no quarto coletivo e roubou a blusa do estudante ucraniano.
Quando tentaram reaver o produto do roubo, os estudantes foram atacados pelos ladrão, que munido de uma seringa contendo um líquido escuro, bradava que era portador do vírus HIV.
Temendo pela segurança, a polícia foi chamada, que chegou logo em seguida e deteve o ladrão. Segundo, Dariusz Nowak, porta-voz da polícia da voivodia da Małopolska, apesar da seringa não foi encontrada nenhuma agulha, mas ele não descarta que no enfrentamento dos estudantes com o ladrão algum possa ter sido ferido pelo agressor. Por isso recomendou que os mesmos buscassem auxílio no hospital universitário. O ladrão, que é conhecido pela polícia como viciado em drogas foi obrigado a fazer exames para se comprovar se realmente é portador do HIV como gritava.
Katarzyna Pilitowska, porta-voz da Iaguielônica, "é uma experiência traumática para estes jovens. Por este motivo, oeferecemos a eles suporte médico gratuito completo, incluindo testes, vacinas e medicamentos, além de aconselhamento e assistência jurídica".
Já o Prof. Tomasz Mach, diretor do Departamento de Doenças Infecciosas, do Hospital Universitário, reconhece que, em situações como a que ocorreu na Bursa, há risco de infecção pelo HIV. "A infecção pode ocorrer através de sangue ou fluidos corporais. Portanto, neste caso, são dados medicamentos antivirais que reduzem esse risco".

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A cantora Karin Stanek morreu

Karin Stanek no início dos anos 60

Karin no relançamento de seus antigos sucessos



Karin canta um de seus maiores sucessos: Wierny Wiatr

Popular nos anos 60, a cantora polaca Karin Stanek morreu em um hospital alemão, ontem. Ela tinha 67 anos. Lançou os sucessos "Chłopiec z gitarą", "Jedziemy autostopem", "Tato, kup mi dżinsy" e "Wala twist" sobre cosmonauta soviética Valentina Tereshkova.
De pequena estatura, ela usava tranças e sempre se apresentou de calça jeans, o que rendia muitas fofocas como a de que ela tinha tatuagens nas pernas. Devido ao temperamento explosivo era chamada de Capuz-sexy, Miss Dinamite e Capacete Energia Atômica. Nos anos 1962-1969 foi o vocalista do grupo Czerwono-Czarni. Foi ela quem "esquentou" o público antes do show em Varsóvia, o britânico "The Rolling Stones".
Em 1976, ela emigrou para a Alemanha, onde ela cantou como Baby Gun e Cora Gun. Ela publicou uma autobiografia intitulada "Malowana lala" (boneca pintada). Ela nasceu em meio à uma família mineira de Bytom. No pátio, ela jogava futebol. A primeira guitarra foi dada por um tio. Seu primeira apresentação como cantora ocorreu no trabalho, numa indústria de Katowice. Foi quando se inscreveu num concurso para cantores numa rádio da Silésia. Aparentava 12 anos, mas tinha na verdade 17 anos de idade.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Delicatesses na Polônia baixam os preços


Pela primeira vez na história cai o número de delicatesses na Polônia. Para defender-se, elas passam a adotar a mesma estratégia que dos supermercados Biodronka e Lidl. Tem que vender mais barato. Caso contrário é melhor fechar as portas.
"Limões a 2,99 zł (1.70 reais) o quilo, frango a 10,99 zł o quilo, chocolate Milka a 6,49 zł a barra, Vizir em pó a 19,99 zł. Uma semana de preços absolutamente baixos!"
Será esta uma publicidade do Biodronka especializada em cortar preços com desconto? Ou talvez seja a igualmente agressiva política de desconto de preços do Lidl?
Não! É da Bomi Delicatesse, que não há muito tempo não sedejava ter sua marca associada com camarão, azeite e queijo gourmet de luxo a preços baixos. "Ao longo de três trimestres do ano de 2010, o mercado de venda de retalhos diminuiu 3,6% e as nossas vendas cairam 3,4%.. O mercado forçou-nos a revisar nossos esforços de manter as vendas", explica Marek Romanowski da rede Bomi.
Os preços baixos, que dois anos atrás parecia impossível de oferecer, louvava-se as redes Alma e Piotr e Paweł - P&P (nas suas instalações foram instalados banners com a expressão "super preço"). Para ser realmente mais baixos estas redes tiveram que começar a negociar os produtos de marca própria. Por exemplo, o cliente P&P pode comprar agora ovos, ou salmão com o logotipo da rede.
- O que aconteceu?
"Nosso cliente é normalmente um rapaz que cuida de seu próprio orçamento doméstico. Como a crise, os 800 złotych mensais destinados ao orçamento da cozinha que era maior antes, ficou pequeno e uma simples lata de coca-cola agora ficou bem mais cara. Bem, alguma coisa precisamos salvar, se não perdemos aquele cliente cativo", diz Jerzy Mazgaj, presidente da rede Alma.
O dirigente argumenta que, quando se trata da cesta básica (pão, pão, leite, manteiga, legumes, carne, doces, etc.) sua rede teve que se ajustar e agora pode oferecer preços mais baratos do que a P&P, Bomi, e em algumas localidades, consegue bater até mesmo o Biedronka.
"O preço é um elemento extremamente importante na tomada de decisão sobre onde comprar. Nos bons tempos de crescimento econômico estável do consumidor polaco, os "aspirantes" compravam em delicatesse. Em tempos menos estáveis na economia, o mesmo cliente volta-se para lugares mais baratos", afirma Krzysztof Badowski da empresa de consultoria Roland Berger Strategy Consultants.
O comércio varejista mudou na média. Para manter o cliente, teve que se aproveitar da experiência dos supermercados barateiros e de descontos. O Biodronka (maior rede se supermercados da Polônia de proprietários portugueses) no início de fevereiro fizeram promoção com o caríssimo queijo italiano Grana Padano. O Biodronka (português) e o Lidl (Alemão) são célebres em organizar promoções, como o "dia do vinho" italiano, francês, espanhol.
A crise na economia mudou muito o setor de delicatesses. Segundo a revista especializada "Detal Dzisiaj", a crise e a luta contra o preço baixo reduziu o número de clientes dos mercados finos, pela primeira vez, desde o retorno ao sistema de livre mercado pela Polônia. Também retardou o crescimento do setor. Em 2010, existiam 242 delicatesses no país. A tendência é que este número caia bastante em 2011.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

"Amo-te apenas pelo documento matrimonial"

Foto: Jan Zamoyski
O jornal Gazeta Wyborcza publica nesta terça-feira reportagem sobre os casamentos fictícios de jovens polacas com estrangeiros, apenas para que estes legalizem sua permanência em território da União Europeia. Com o título de "Amo-te apenas pelo documento", a matéria jornalística informa, que apenas em 2010, mais de 100 casamentos foram considerados obra de ficção matrimonial. As polacas se  casaram com paquistaneses, nigerianos, vietnamitas e brasileiros que querem residência legal na UE.
Karolina Michalak de 28 anos há quatro anos viajou para a Inglaterra. Lá no Reino Unido, durante aquele período de férias, em Londres, ela conheceu o africano Seth de Gana. "Eu era fascinada por sua cultura, as conversas calorosas sobre seus pais e irmãos", admite Karolina. "Passados seis meses eu me encontrava muito feliz, pois Seth dava tantas provas de amor, como nenhum outro polaco já houvesse me dado".
O idílio não durou muito tempo. "Depois de cinco meses, ele começou a insistir em se casar. Inicialmente, ele era muito agradável, mas depois a cada dia ele se tornava agressivo. No final, ele admitiu que se casou comigo apenas para legalizar sua permanência na Europa. Percebi como eu tinha sido tão ingênua", afirma Karolina.
Os Departamentos de Estrangeiros na Polônia informam dados que indicam que a cada ano cerca de 8000 estrangeiros procuram regularizar sua estada na país, dando como razão para isso, o casamento. Em 2010, 185 licenças foram negadas para tais estrangeiros. Na maioria, porque os casamentos eram fictícios.
"Segundo a Lei de Estrangeiros deve ser determinado, em relação ao casamento, se este não não ocorreu com o intuito de contornar as regras sobre permanência de estrangeiro em território polaco", explica Ewa Piechota, porta-voz do departamento de estrangeiros e imigrantes. "Declaração falsa é a base suficiente para o governo recusar o pedido de residência temporária, permanente e o seu cancelamento", complementa Piechota.
As permissões de residência no país são expedidas por departamentos de estrangeiros e imigrantes de uma das 16 voivodias (semelhante aos Estados no Brasil) em que se divide a administração governamental da Polônia.
Desde a adesão da Polônia à UE em maio de 2004, as voivodias começaram a detectar algumas dezenas de casos desse tipo. Por exemplo, os dados da Voivodia Kujawsko-Pomorskie mostram que a cada ano várias pessoas são vítimas de "maus hóspedes" da África e Vietnã, que fingem estar sentindo amor, mas que na verdade têm um único objetivo: permanecer legalmente na UE e não importa se na Polônia, ou na Alemanha. O casamento legal pode permitir que o estrangeiro consiga um emprego legal, e pode também encurtar o tempo de espera para obter definitivamente a cidadania de algum país europeu, no caso da Polônia.
O serviço de fronteiras polaco, na cidade de Zywiec, fronteira com a Eslováquia, acaba de concluir investigação sobre um grupo de pessoas que recruta jovens polacas na Voivodia da Małopolska, com o intuito de arrajar casamentos fictícios com cidadãos da Nigéria. Cinco pessoas já foram acusadas pela polícia de fronteiras.
Os funcionários admitem que o número de casamentos é cada vez maior, mas nem todos os casais fictícios são descobertos. "Conhecemos casos onde a mulher polaca recebe de 15 a 20 mil złotych pelo -casamento de papel", afirma Aleksandra Przybysz, guarda de fronteira. "Muitos estrangeiros pagam metade antes e o restante após após a cerimônia. Às vezes, os policiais deram flagrante no próprio Cartório do Registro Civil, pouco antes do casamento, quando o estrangeiro pagava a moça".
Antes que o voivoda (governador) conceder a permissão de residência, os funcionários do departamento fazem entrevistas com os casais. Os cônjuges são colocados em salas separadas e os funcionários perguntam sobre coisas banais como a cor do aparelho de barba e qual foi a comida da janta do dia anterior.
Durante as entrevistas conheci muitas meninas ingênuas. "Principalmente uma menina aleijada, que estrangeiros encontraram em sites de redes sociais, ela foi tão enganada que merece cuidados e nos toca o coração por sua fragilidade emocional. Muitas destas mulheres ficam com o coração partido e querem o divórcio".
Os departamentos de estrangeiros constatou que no ano passado mais de cem polacos tinham celebrados casamentos de arranjo. Existem três razões principais onde se percebe o engôdo do casamento. "Os cônjuges não vivem juntos, às vezes eles não conseguem nem mesmo se comunicar, porque não sabiam uma língua comum, e nada sobre o parceiro", menciona Bartosz Michałek, porta-voz da Voivodia Kujawsko-Pomorskie. "Os estrangeiros que não tenham recebido o cartão de residência e seus cônjuges polacos sofreram as sanções previstas para a identidade falsa".
Agnieszka Szymandera, professora na Faculdade de Direito e Administração da Universidade de Varsóvia, que há anos coopera com estrangeiros, relata muitos casos semelhantes. "Muitas vezes os maridos estrangeiro buscam não só casamento, mas aumentar a família com filhos. Depois do divórcio, os esforços são buscados para legalizar a permanência da criança". Enquanto a estrangeira estiver casada com um polaco, mesmo depois de se certificar que se trata de um casamento arranjado é difícil expulsá-la, embora a lei permite que o ato seja sumário.
"As diferenças culturais e as barreiras linguísticas dificultam descobrir as verdadeiras intenções de um sujeito", admite Szymandera, que viveu como imigrante na Inglaterra e na Alemanha. "Conheci muitas mulheres polacas que foram seduzidas por curdos, turcos e marroquinos. Mulheres polacas são muito complexadas, ficam fascinadas pelos exotismo dos sedutores. Graças a essa relação tenden a sentir-se globalizadas. Gostam de se vangloriar junto às colegas de terem conseguido um homem moreno".

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Wyborcza: Melhores fotos de 2010

GLEB GARANICH - REUTERS
As feministas do grupo ucraniano "Femen" protestaram contra uma nova lei que, durante a EuroCopa 2012 trará mudanças no poder local da Ucrânia.
As feministas do Femen organizaram um programa nacional cujo lema é "A Ucrânia não é um bordel", que visa combater o turismo sexual na Ucrânia. Outro lema é "O sexo não está à venda", que luta contra a indústria pornográfica do sexo e na Ucrânia.
O protesto da foto foi realizado no último dia 21 de janeiro, nas ruas de Kiev, capital da Ucrânia. E na edição de uma revista masculina "Loaded", que saiu às bancas no dia 4 de fevereiro, as feministas do Femen aparecem em novo protesto, agora além dos corpos desnudos porções de Pierogi.

UEFA pune Lech e desqualifica estádio de Poznań

Foto: Andrzej Monczak
Apenas metade dos telespectadores podem ser acomodados no estádio da ulica (rua) Bułgarskie para assistir o jogo válido pela Copa UEFA entre Sporting de Braga (Portugal) e Lech Poznań (Polônia). O clube polaco também deve pagar 20 mil euros de multa e está ameaçado de jogar as demais partidas sem a presença do público. Essa punição severa da UEFA foi dada por haver negligência no estádio da capital da Voivodia da Wielkopolska. A venda dos bilhetes para o jogo com o time português na próxima quinta-feira, dia 17 foram suspensos.
A Federação de Futebol aplicou a punição sobre o Lech na quarta-feira, mas a diretoria do clube, anunciou-a somente nesta sexta-feira em seu site oficial.
O departamento de controle e disciplina da UEFA se baseou na negligência do clube quanto a organização da evacuação dos torcedores do estádio da cidade e saidas de emergência muito estreitas, o bloqueio da nos degraus das arquibancadas e a precariedade da da saída das numeradas no estádio.
A pena aplicada é muito dolorosa para o Lech. E não apenas, por causa dos 20 mil euros, que terá de pagar para a UEFA, mas a redução de 50% da venda dos ingressos para o jogo na próxima semana com o Sporting de Braga. Isto significa apenas 20 mil torcendores apoiando a difícil missão de ganhar do clube português.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Almanaques polacos do início do séc. XX no Brasil


ESTUDOS CULTURAIS A PARTIR DA MÍDIA IMPRESSA
Os Almanaques Polônicos no Sul do Brasil (1920 – 1937)
Fabricio J. Nazzari Vicroski*

Resumo: O presente artigo pretende discorrer de forma sucinta acerca das possibilidades interpretativas da mídia impressa como fonte de estudo para a compreensão de determinados aspectos culturais da sociedade polaca no início do século XX no sul do Brasil, tendo como base de análise cinco suplementos editoriais (Kalendarz) publicados pelo jornal Gazeta Polska w Brazylii em Curitiba entre os anos de 1920 e 1937.
Palavras-chave: Identidade. Mídia. Polônia.

Streszczenie: Artykuł omawia niektóre aspekty kulturowe społeczeństwa polskiego w XX wieku w południowej Brazylii, w oparciu o analizę pięciu dodatków redakcyjnych (kalendarzy) opublikowanych przez dziennik "Gazeta Polska" w Brazylii, w Kurytybie między 1920 a 1937 rokiem.
Słowa kluczowe: Tożsamość. Media. Polska.

INTRODUÇÃO
A produção de conhecimento, seja ele de caráter empírico ou científico, pode ser considerado como o resultado de um longo processo de maturação de determinados métodos e técnicas criados e atualizados ao longo do tempo. No caso das ciências humanas, e mais especificamente na área da pesquisa histórica, este processo parece ter se intensificado a partir do século XIX, e com maior intensidade no século seguinte.
Os movimentos de inovação e renovação das pesquisas históricas possibilitam não apenas novos olhares sobre determinados aspectos das sociedades humanas, mas também expande as possibilidades de pesquisa, propiciando novos enfoques e até mesmo a reformulação de antigos problemas.
No âmbito da História Cultural, as possibilidades interpretativas parecem multiplicar-se aos olhos do pesquisador, mantém-se o objeto de estudos, mas altera-se a abordagem. Para o historiador britânico Peter Burke (2008), a História Cultural, com suas origens ainda no século XVIII e uma renovação (Nova História Cultural), sobretudo a partir dos anos 1980, consiste numa corrente de interpretação que nos apresenta novos paradigmas, em virtude da ênfase dada às questões culturais em detrimento às temáticas políticas e econômicas até então privilegiadas pela historiografia.
A História Cultural não privilegia arquivos e/ou documentos oficiais, e por isso mesmo foi descartada pelos seguidores da Escola Metódica. Para o historiador cultural Johan Huizinga “o principal objetivo do historiador cultural era retratar padrões de cultura, em outras palavras, descrever pensamentos e sentimentos característicos de uma época (apud BURKE, 2008, p. 18-19), e para tanto o historiador deve buscar padrões de cultura nos sentimentos, símbolos, comportamentos, enfim, aspectos notadamente culturais da sociedade humana, destacando sempre as pessoas desta época, ou ainda segundo os pressupostos do sociólogo Norbert Elias, buscar, ao longo da pesquisa, articular indivíduo e sociedade sem antagonismos, para que assim possamos compreender a sociedade em questão.
Neste contexto, o presente artigo pretende discorrer de forma sucinta acerca das possibilidades interpretativas da mídia impressa como fonte de estudo para a compreensão de determinados aspectos culturais de uma sociedade.
O recorte espacial e temporal aqui delimitado são os três Estados do sul do país, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, na primeira metade do século XX. Enquanto que a sociedade a ser analisada é constituída pela comunidade polônica situada neste espaço físico e temporal.
O termo polônico, apesar de pouco recorrente na língua portuguesa, tem angariado adeptos nos últimos anos, tornando-se cada vez mais representativo e usual entre pesquisadores e a própria comunidade polaca do Brasil.

O termo “polônico”, [...] vem sendo empregado nas últimas décadas com o propósito de definir o que se relaciona com a Polônia, os poloneses fora das fronteiras do seu país ou os seus descendentes, cidadãos de outros países, mas cujas raízes étnicas se encontram naquele país da Europa Central. Embora os nossos dicionários da língua portuguesa ainda não registrem esse termo, seria desejável que o fizessem, atendendo à analogia com outros, como germânico, itálico ou nipônico (KAWKA, 2007, p. 1).

A imprensa polônica na região em estudo era extremamente profícua na primeira metade do século XX. Segundo o historiador Ulisses Iarochinski, entre os anos de 1900 e 1910 em Curitiba havia mais publicações em língua polaca do que em português, fator que inclusive se contrapõe ao posicionamento muitas vezes presente na historiografia imigratória, onde atribuí-se um baixo nível de instrução ou analfabetismo imperante entre à massa de imigrantes.
Para subsidiar a pesquisa, foram utilizados cinco almanaques publicados respectivamente nos anos de 1920, 1924, 1934 e 1937, além de um exemplar com ano indefinido em virtude do seu precário estado de conservação, no entanto, o conteúdo veiculado sugere que a publicação tenha ocorrido na década de 1920. Todos os exemplares constituem suplementos anuais do jornal Gazeta Polska w Brazylii (Jornal Polaco no Brasil), fundado em Curitiba no ano de 1890 , sua circulação foi suspensa em 1941 em virtude da promulgação do decreto do então presidente brasileiro Getúlio Vargas, que entre outras exigências forçou a adaptação das escolas estrangeiras ao ambienta nacional brasileiro, proibiu a utilização de línguas estrangeiras em locais públicos e provocou o fechamento da imprensa estrangeira no país.
A seleção deste material não seguiu critérios pré-estabelecidos, a escolha deve-se única e exclusivamente ao fator disponibilidade, ou seja, o acesso aos periódicos é de certa forma restrito, sobretudo em virtude do tempo transcorrido desde sua publicação, raramente pode-se encontrá-lo em bibliotecas, arquivos históricos ou instituições de ensino e pesquisa, já que tais obras geralmente constituem acervos particulares.
Através de uma análise condensada acerca das temáticas abordadas nestes almanaques, bem como da postura ou idéias defendidas nas matérias e demais seções, pretende-se extrair elementos que orientem a compreensão do universo cultural da sociedade polônica da época.
A fim de contextualizar a temática em questão e subsidiar teoricamente a abordagem aqui proposta, na seqüência será apresentado um breve panorama acerca do contexto histórico e cultural a respeito da relação e possibilidades de interpretação entre mídia impressa e diferenças culturais, além de algumas considerações sobre a cultura de massas no século XX.

1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E CULTURAL
A imigração polaca ao Brasil desenvolveu-se praticamente no mesmo contexto dos demais grupos étnicos que se estabeleceram no sul do país de forma expressiva a partir do século XIX, quando o então Império Brasileiro objetivando impulsionar a ocupação e assegurar a soberania ao longo de seu território, forneceu incentivos a levas de imigrantes, sobretudo, europeus.
Neste cenário, pouco tempo após a chegada dos imigrantes, foram criadas muitas escolas, associações culturais, agremiações esportivas e recreativas, movimentos políticos de libertação da Polônia então ocupada, grupos folclóricos, jornais, revistas, enfim, a atividade cultural na colônia mostrava-se expressiva em fins do século XIX e início do XX.
Esta preocupação com a integração dos imigrantes parece muitas vezes adquirir contornos de afirmação étnica, não apenas em meio a sociedade brasileira, mas também perante os demais grupos imigratórios.
Num contexto onde o país de origem encontrava-se ocupado e dividido entre nações estrangeiras, tendo assim sua soberania solapada, é compreensível o anseio dos imigrantes em fortalecer sua identidade, sobretudo ante os brados de Polacos sem pátria! Polacos sem bandeira! Muitas vezes exclamado por outros grupos étnicos europeus, um sentimento que ecoava no Brasil desde além-mar.
Trago aqui algumas contribuições conceituais do crítico e teórico indo-britânico Homi Bhabha para amparar minha abordagem. Em seu livro intitulado O Local da Cultura (1998), Bhabha desenvolve suas concepções acerca da cultura, poder e identidade cultural. Ele defende a utilização do conceito de diferença cultural ao invés de diversidade cultural, pois esta última denota uma categoria, ao passo que a diferença cultural permite uma compreensão em termos de processo, “através do qual afirmações da cultura ou sobre a cultura diferenciam, discriminam e autorizam a produção de campos de força, referência, aplicabilidade e capacidade (1998, p. 63).
É preciso lembrar que a colônia polaca desenvolveu-se em território brasileiro articulando-se a todo o momento com a população nacional, os nativos, negros, caboclos, além dos demais grupos de imigrantes, como alemães, italianos, japoneses, entre outros, era um lugar não apenas etnicamente variado, mas, sobretudo um espaço onde as diferenças culturais precisavam ser constantemente mediadas a fim de gerar estratégias de afirmação e representação.

De que modo chegam a ser formuladas estratégias de representação ou aquisição de poder no interior das pretensões concorrentes de comunidades em que, apesar de histórias comuns de privação e discriminação, o intercâmbio de valores, significados e prioridades pode nem sempre ser colaborativo e dialógico, podendo ser profundamente antagônico, conflituoso e até incomensurável? (BHABHA, 1998, p. 20).

Para Bhabha (1998), as diferenças culturais não constituem padrões estanques inerentes as suas respectivas tradições culturais, elas compõem o reflexo das comunidades imaginadas, representam a forma como o grupo se vê e se constrói.
Chega-se assim a um dos conceitos centrais do pensamento de Bhabha, a idéia de “entre-lugares”, onde as diferenças são articuladas de forma complexa. Os interesses comunitários e os valores culturais são negociados na articulação das diferenças culturais, esta mediação ocorre no que Bhabha denomina de entre-lugares. Trata-se de um espaço onde as culturas se encontram, se observam mutuamente, um local de atritos, formulações, diferenças, igualdades, intercâmbio, construção e, sobretudo, reconstrução e/ou adaptação. Para Bhabha, devemos focalizar os momentos ou processos que são produzidos nos entre-lugares, pois é ali que se define a própria sociedade, através da elaboração de novos signos, e da própria renovação identitária.
Neste contexto, acredito que a criação de uma mídia impressa em meio a um grupo étnico constituído por imigrantes, possa ser fruto deste processo de articulação das diferenças culturais e definição de sociedade ocorrido nestes entre-lugares. A imprensa poderia ser tomada como um elemento da composição social dos indivíduos em sociedade, aquilo que Norbert Elias (1994) chama de habitus, a auto-imagem que até certo ponto reflete como as diferentes pessoas que formam essas sociedades entendem a si mesmas.
É preciso lembrar que os suplementos editoriais do jornal Gazeta Polska w Brazylii ora pesquisados, não eram bilíngües, sua publicação ocorria somente em língua polaca, fator que limitava consideravelmente seu público leitor, notadamente circunscrito a colônia polaca, não apenas do sul do Brasil, mas também de norte a sul do continente americano.
A imprensa polônica surge e se desenvolve num momento de reformulação da identidade étnica polaca no sul do país, a definição das temáticas abordadas, seu teor nacionalista e o apelo à religiosidade, além da própria opção pela publicação em língua polaca, refletem uma forma de mediação/articulação dos interesses e valores culturais da comunidade ante as diferenças culturais que lhes eram apresentadas em fins do século XIX e início do XX, um período, portanto, de redefinição da própria identidade da nação brasileira, no recém advindo ambiente republicano.

2 IMPRENSA E IDENTIDADE NO INÍCIO DO SÉCULO XX
A mídia impressa dentro de uma determinada comunidade, muitas vezes representa a forma como o grupo social envolvido imagina-se e como quer ser visto pelos demais, ela fornece estratégias para a reformulação social, promovendo, inclusive uma disputa dentro do próprio grupo étnico sobre como, o quê e quem representa e/ou está sendo representado, com implicações diretas na construção de identidades.
A partir do começo do século XX, com a extensão do poder industrial a praticamente todo o globo, tem início um processo a que o sociólogo francês Edgar Morin (1997) denomina de “industrialização do espírito” e “colonização da alma” que se processa nas imagens e nos sonhos, através de um derramamento de mercadorias culturais.
Trata-se de um processo que se desenvolve e progride através da cultura de massas, sabe-se que o jornal e o livro já eram tratados como mercadorias, “mas a cultura e a vida privada nunca haviam entrado a tal ponto no circuito comercial e industrial [...] não haviam sido ao mesmo tempo fabricados industrialmente e vendidos comercialmente (MORIN, 1997, p.13).
Nesta perspectiva, a primeira vista parece que os periódicos publicados como suplementos do jornal Gazeta Polska w Brazylii, situam-se no limiar deste contexto, ou seja, produzido comercialmente (como sugere a grande quantidade de anúncios e propagandas comerciais), mas ainda não totalmente inserido numa produção de caráter industrial.
Antes mesmo de uma preocupação industrial, percebe-se sim a valorização de sentimentos patrióticos e religiosos, que de certa forma também contribuíam para tornar as publicações mais comerciais. Para uma avaliação e contextualização precisa do conteúdo, seria necessário uma leitura intensiva dos exemplares acompanhadas de uma análise crítica, no entanto, este não é o objetivo aqui proposto.

3 OS ALMANAQUES POLÔNICOS
A imprensa polônica no Brasil tem suas origens ainda no século XIX, o jornal Gazeta Polska w Brazylii foi o primeiro semanário publicado em Curitiba em língua polaca. Foi fundado em 1890, e apresentava um panorama dos assuntos polônicos no Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina, chegando a ser o mais importante periódico do gênero no país.

Sua fundação coube a Karol Szulc, um comerciante originário de Poznań, que se estabeleceu em Curitiba. Em 1893 a publicação do semanário foi assumida por uma sociedade editorial composta dos seguintes sócios: Edmundo Saporski, Antônio Bodziak, Aleixo Waberski, Jurgielewicz e os padres André Dziadkowicz e Ladislau Smołucha. Em época posterior a “Gazeta” passou por várias mãos. No dia 1 de abril de 1912 o jornal foi comprado pele pe. Estanislau Trzebiatowski, verbita e grande líder da colônia polonesa em Curitiba. Após quase 25 anos de publicação do semanário pelos verbitas poloneses, sobretudo pelo pe. Estanislau Trzebiatowski, a “Gazeta Polska w Brazylii” passou a ser propriedade de Paulo Nikodem. O novo proprietário do jornal publicou o primeiro número de semanário no dia 11 de agosto de 1935. A “Gazeta” foi publicada até a promulgação do decreto do presidente Getúlio Vargas que fechou a imprensa estrangeira no Brasil. No período do seu auge, a tiragem da “Gazeta Polska w Brazylii” chegou a 4 mil exemplares (MALCZEWSKI, 2008, p. 217).

O jornal mantinha uma estreita relação com a Narodowa Demokracja (Democracia Nacional) um movimento político e ideológico nacionalista surgido na segunda metade do século XIX, e que ao longo do século XX veio a tornar-se um partido político.
Além do semanário, o jornal também publicava suplementos informativos em forma de periódicos com tiragens anuais (Ver figura 1), geralmente eles recebiam a denominação de kalendarz (Almanaque). A publicação de suplementos era uma prática constante, presente também entre outros jornais polônicos do sul do país.
O acervo utilizado para o desenvolvimento desta pesquisa é constituído por cinco suplementos publicados pelo jornal Gazeta Polska w Brazylii, editados entre os anos de 1920 e 1937, (Ver tabela 1).
Tabela 1 – Almanaques utilizados como referência para a pesquisa
TÍTULO EDIÇÃO LOCAL DE PUBLICAÇÃO ANO DE PUBLICAÇÃO
NOWY KALENDARZ KATOLICKO-POLSKI
(Novo Almanaque Católico-Polaco)
GAZETA POLSKA W BRAZYLJI
(Jornal Polaco no Brasil)
CURITIBA - PR
1920
KALENDARZ KATOLICKO-POLSKI
(Almanaque Católico-Polaco)
GAZETA POLSKA W BRAZYLII
(Jornal Polaco no Brasil)
CURITIBA - PR
1924
KALENDARZ GAZETY POLSKIEJ W BRAZYLII
(Almanaque do Jornal Polaco no Brasil)
GAZETA POLSKA W BRAZYLII
(Jornal Polaco no Brasil)
CURITIBA - PR
1934
ILUSTROWANY KALENDARZ GAZETY POLSKIEJ W BRAZYLII
(Almanaque Ilustrado do Jornal Polaco no Brasil) GAZETA POLSKA W BRAZYLII
(Jornal Polaco no Brasil)
CURITIBA - PR
1937


Desde a sua fundação, o jornal teve diversos proprietários, na maioria das vezes ligados a organizações religiosas, o que talvez explique o apelo religioso recorrente nos almanaques.
Os temas abordados são os mais variados, no entanto, ao contrário da imprensa destinada a cultura de massas, observa-se que os temas centrais guardam uma certa relação entre si, pois apresentam uma seleção coesa de textos, porém o elemento polônico, a religiosidade e o nacionalismo, funcionam como aglutinadores de maior destaque nas publicações.

Figura 1 – Almanaques polônicos publicados em Curitiba nos anos de 1920, 1924, 1934 e 1937
Fonte: Acervo pessoal
A fim de proporcionar um panorama geral acerca do conteúdo dos almanaques, destaco alguns dos principais temas, seções e curiosidades observados nestes cinco exemplares.
Cada almanaque destina algumas páginas aos grandes nomes da nação polaca, onde são apresentadas breves biografias de personalidades como Nicolau Copérnico, Tadeusz Kościuszko, Adam Mickiewicz, Józef Piłsudski, Marie Curie, Ignacy Paderewski, entre outros.
Os exemplares descrevem os avanços e conquistas das colônias polacas no sul do país, e eventualmente em países vizinhos, como a Argentina e Uruguai. Geralmente são apresentados dados estatísticos, como o número de imigrantes, associações culturais, escolas e igrejas existentes na comunidade. Há inclusive uma sucinta descrição de uma típica propriedade rural de imigrantes polacos, destacando algumas benfeitorias, como a casa de madeira, a cozinha isolada da residência (para minimizar os riscos de incêndio), mangueira para o gado, horta, galinheiro, carroça, cavalo, ressaltando por fim, que aqui o imigrante dispõe de tudo aquilo que não possuía em sua terra natal, além do mais importante, o pão para sua família.
Há matérias sobre a 1ª Guerra Mundial, enfatizando o patriotismo dos soldados polacos e a reconquista da soberania, a reformulação da constituição e fotos dos governantes da nova república em pleno trabalho burocrático.
Seções com poemas, novelas, piadas e pensamentos, destacando a pátria, a família, o catolicismo, poesias eslavas, lendas polacas, entre outros.
A seção com conselhos práticos é no mínimo curiosa, com orientações sobre como cultivar a terra, matar formigas, o que fazer em caso de fraturas, afogamento, dor de dente, queimaduras, insônia, ou ainda orientações sobre como registrar empresas e escolas, obter documentos brasileiros, enviar telegramas, preencher notas promissórias em português, fazer uma ligação telefônica, adequar as escolas polacas às normas de ensino brasileiras, apresentando inclusive o custo destes procedimentos.
Na seção de curiosidades os temas parecem ser ainda mais variados, pode-se encontrar explicações sobre o custo de construção do templo de Salomão, ou ainda sobre o projeto da marinha dos Estados Unidos em atravessar o oceano atlântico num hidroplano, o tempo de uma viagem de volta ao mundo, os grandes feitos dos últimos papas, obras humanitárias de missionários polacos no mundo, curiosidades sobre o Parará, a ocupação do território, suas riquezas naturais e a extração de diamantes no rio Tibagi, com fotos de mergulhadores com escafandro, além de informações sobre invenções, apresentações aéreas, reformas no porto de Gdańsk, e até mesmo uma relação estatística da quantidade de judeus nas maiores cidades do mundo. Destaca-se ainda aspectos culturais de países como a Índia, o Japão e a China, com comentários acerca da política, costumes, monumentos, religião, técnicas de agricultura e literatura, e ainda uma narrativa a respeito das práticas antropofágicas na África.
Entre os temas brasileiros, pode-se destacar as breves biografias de personalidades políticas, comentários sobre literatura brasileira (Monteiro Lobato e Casimiro de Abreu), a história da proclamação da república e os feriados nacionais.
É nítida a intenção de difundir os ideais cristãos entre os leitores dos almanaques, destacando os “deveres” dos jovens e crianças e os passos a serem seguidos para ser um bom católico, além da propaganda anti-comunista, sempre opondo o cristianismo ao comunismo, através de piadas como:

Żaden katolik nie może być uświadomionym, prawdziwym socjalistą, żaden prawdziwy socjalista nie może być katolikiem (KALENDARZ,1924, p. 7).
(Nenhum católico pode ser conscientemente, um verdadeiro socialista, assim como nenhum verdadeiro socialista pode ser católico).
Chrześcijaństwo i socjalizm stoją naprzeciw siebie jak ogień i woda (KALENDARZ,1924, p. 7).
(O cristianismo está para o socialismo assim como o fogo está para a água).

Por fim, cada almanaque contém um retrospecto dos principais acontecimentos políticos do mundo ao longo do último ano, esta seção conta com a participação de correspondentes internacionais, e destaca temas como a Guerra Civil Espanhola, eleições para a presidência na Polônia, embates entre árabes e judeus na Palestina em 1936, manifestações populares na Alemanha contra as imposições do Tratado de Versalhes (Ver figura 2), a política de paz da Polônia com países vizinhos, salientando inclusive a assinatura de um tratado de paz com a Alemanha pouco antes da eclosão da 2ª Guerra Mundial e questões sobre a política de armamento dos alemães, entre outras notícias abrangendo países como França, Itália, Bulgária, Áustria, Rússia, Grécia, Espanha e Turquia.

Figura 2 – Manifestação na Alemanha contra o Tratado de Versalhes e pelo armamento do Reich
Fonte: Ilustrowany Kalendarz Gazety Polskiej w Brazylii. Kurytyba: Gazeta Polska w Brazylii, 1937, p. 27.
Em meio às seções e notícias há uma série de anúncios comerciais, com propagandas de livros de história antiga, lojas de máquinas agrícolas, revendas de pianos, cervejarias, bancos, entre outros.
Percebe-se enfim, que além das questões polônicas há pelos menos dois critérios ou requisitos que as matérias veiculadas precisam articular, ou seja, os sentimentos patrióticos ou nacionalistas e a religiosidade, ambos os elementos são apresentados como ingredientes formadores da identidade do grupo étnico.


CONSIDERAÇÕES FINAIS
A conjuntura histórica da imprensa dentro da atmosfera da cultura de massas a partir do começo do século XX analisada por Edgar Morin, parece corresponder em parte ao contexto de produção dos almanaques polônicos, então produzidos com fins comerciais, mas não totalmente inseridos na produção de caráter industrial, pelo menos no período aqui enfocado (1920 – 1937).
Levando em conta o próprio contexto da imprensa polônica no período, percebe-se que, antecedendo a preocupação com a produção industrial, há o interesse em assegurar o direito sobre a produção de informações dentro da colônia, fator este motivado pelo anseio (talvez nem sempre consciente) de representatividade social com vistas a reformulação da identidade étnica, trata-se de uma disputa estratégica no campo midiático, os “entre-lugares” de Homi Bhabha, onde o que esta em jogo é o processo de negociação dos interesses comunitários e a formação de identidades e suas representações simbólicas na colônia.
No âmbito desta disputa, são perceptíveis inúmeros aspectos culturais, que nos possibilitam criar estratégias de compreensão do universo cultural da sociedade polônica no sul do Brasil.
No centro desta articulação dos interesses e valores culturais da comunidade, percebemos a introjeção do elemento religioso e a valorização dos sentimentos nacionalistas, tais aspectos, sempre destacados nos almanaques, tornam-se extremamente arraigados na identidade polono-brasileira então gestada.
O nacionalismo latente evidencia a articulação da reformulação identitária, neste processo a mídia impressa é tomada como um elemento da composição social do grupo, funcionando como um agente de integração entre os imigrantes, e, sobretudo de reconhecimento, apropriação e afirmação étnica.

Notas
Normalmente a bibliografia a respeito da imprensa polaca no Brasil afirma que 1892 é o ano de fundação do jornal Gazeta Polska w Brazylii, no entanto, em um dos almanaques consultados há um texto informativo acerca do jornal, destacando sua fundação no ano de 1890.


Decreto de 26 de agosto de 1939.

Provavelmente Gazeta Polska w Brazylii.

Provavelmente Curitiba – PR.

Provavelmente década de 1920.



BIBLIOGRAFIA

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BURKE, Peter. O que é história cultural? Tradução de Sérgio Goes de Paula. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2008.

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LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução Bernardo Leitão. 5ª Ed. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2003.

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Ilustrowany Kalendarz Gazety Polskiej w Brazylii. Kurytyba: Gazeta Polska w Brazylii, 1937.

Kalendarz Katolicko-Polski. Kurytyba: Gazeta Polska w Brazylii, 1924.

Kalendarz Gazety Polskiej w Brazylii. Kurytyba: Gazeta Polska w Brazylii, 1934.

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Nowy Kalendarz Katolicko-Polski. Kurytyba: Gazeta Polska w Brazylji, 1920.