quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A maior atleta polaca de todos os tempos.


E a minha ídola polaca no esqui é novamente medalha de ouro. A bela Justyna Kowalczyk venceu com tranquilidade a prova do Esqui Cross Country 10km nos Jogos Olímpicos de Sochi.
Mas essa vitória não foi fácil. A polaca precisou superar a dor de competir com um dos pés quebrados.
O ouro veio com o tempo de 28:17.8, mais de 18 segundos a frente da segunda colocada. A medalha de prata foi para Charlotte Kalla (Suécia) com 28.36.3 e o bronze ficou com Therese Joahug (Noruega), com o tempo de 28:46.1.
Com esse Ouro, Kowalczyk supera o maior ídolo dos esportes da Polônia, Adam Małysz do Salto com Esqui, como o polaco com maior número de medalhas em Jogos Olímpicos de Inverno. Foi a 5ª medalha de Justynka.
Com o resultado, ela ainda se tornou a maior atleta olímpica de inverno da história da Polônia. Isso porque nenhum outro atleta do país havia faturado mais de uma medalha de ouro. Kowalczyk havia vencido a prova de 30km de cross country clássico em Vancouver-2010.
Ela também se tornou a maior medalhista polaca, já que havia conquistado outras quatro medalhas olímpicas. Além do ouro em Vancouver-2010, ela também teve a prata no sprint individual e o bronze nos 15km do cross country. Já em Turim-2006, foi bronze nos 30km.


Além dela, Kamil Stoch tinha sido o campeão da prova de salto sobre esqui em Sochi. Vale lembrar que a Polônia tinha somente duas medalhas de ouro em Jogos de Inverno antes de Sochi - além de Kowalczyk em 2010, o polaco Wojciech Fortuna tinha sido campeão em 1972, no salto sobre esqui.
- "Significa muito para mim esta medalha de ouro, porque eu quebrei meu pé há duas semanas atrás e lutei muito para competir aqui (Sochi). Eu era uma das favoritas e realmente acreditava que podia vencer. Foram anos de trabalho duro e esta é a quarta medalha de ouro da história da Polônia. Então, penso que é algo realmente grande". - comemorou Kowalczyk.


Justyna Kowalczyk(pronuncia-se: [jusˈtɨna kɔˈvalt͡ʂɨk] ( ), nasceu em 19 de Janeiro de 1983, em Limanowa, na Polônia. Tem 1,73 m de altura e pesa 59 kg. Ela tem três irmãos mais velhos. A irmã Ilona Batko é médica, a outra irmã, Wioleta Kowalczyk é professora de idioma polaco, e seu irmão Tomasz é cardiologista

Kowalczyk já recebeu condecorações do governo da Polônia como:
- 2010 - Krzyż Komandorski z Gwiazdą Orderu Odrodzenia Polski (Cruz de comandante com Estrela da Ordem de Polonia Restituta.
- 2009 - Krzyż Kawalerski Orderu Odrodzenia Polski (Cruz de cavaleiro da Ordem da Polonia Restituta.

Ela é membro do  Departamento de  ski cross country ski da AZS AWF Katowice e seu treinador é Aleksander Wierietielny. Ela começou a competir no ano de 2000.
Justyna fez sua estréia em Copas do Mundo em 09 de dezembro de 2001 (temporada de 2001/2002) em Cogne, ficando apenas com o 64º lugar na qualificação Sprint Freestyle 1,5 km.,
Seus primeiros pontos numa competição desta magnitude ela conquistou 10 dias depois em 19 de dezembro de 2001, em Asiago, classificada em 30º posto de sprint técnico clássico de1,5 km.
Justynka é duas vezes medalha de ouro em olímpiadas  e bicampeã mundial.
Ela também é a única esquiadora que venceu o Tour de Ski quatro vezes, é uma das duas mulheres que venceu a Copa do Mundo FIS Cross-Country três vezes seguidas (a outra é a finlandesa Marjo Matikainen sua grande rival).
Kowalczyk detém o recorde de todos os tempos para em mais vitórias do Tour de Ski. Em 14 competições, ela ganhou 29 pódios no total.

As principais vitórias
Jogos Olímpicos
Ouro - 2014 - Sochi - 10 km classical
Ouro - 2010 - Vancouver - 30 km classical
Prata - 2010 - Vancouver Individual sprint
Bronze - 2006 Turin 30 km freestyle
Bronze - 2010 Vancouver 15 km pursuit

Campeonato Mundial
Ouro - 2009 - Liberec  - 15 km pursuit
Ouro - 2009 - Liberec - 30 km
Prata - 2011 - Oslo - 10 km classical
Prata - 2011 - Oslo - 15 km pursuit
Prata - 2013 - Val di Fiemme 30 km classical
Bronze - 2009 - Liberec - 10 km
Bronze - 2011 - Oslo - 30 km

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

10 anos da morte de Riszard Kukliński


Em 11 de fevereiro de 2004, em Tampa, na Flórida, morria o coronel Ryszard Kukliński, oficial do Estado-Maior Geral do Exército polaco, que no início dos anos 70, uniu-se à inteligência americana. Como Jack Strong deu, entre outros, planos estratégicos do Pacto de Varsóvia que permitiram a derrocada do Império Soviético na Polônia. Kukliński nasceu em 13 de junio de 1930 em Varsóvia, dentro de uma família de operários.
Seu pai era um membro do movimento de resistência polaca à ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial e acabou morrendo no campo de concentração de Sachsenhausen.
O mesmo Ryzsard passou brevemente por um campo de trabalhos forçados quando tinha apenas 13 anos de idade.
 Após o fim da guerra, Kukliński começou sua carreira militar no Exército do Povo Polaco então recém-criado. Ele participou dos preparativos das forças do Pacto de Varsóvia que participariam da invasão da Tchecoslováquia em agosto de 1968, durante a Primavera de Praga.
Após a repressão comunista, em dezembro de 1970, em que os trabalhadores polacos que se manifestavam nas cidades de Gdynia e Gdańsk, Kukliński começar a sentir repulsa crescente do regime, e ainda mais da Soviética (que ele via como o opressor real de seu país) que do próprio regime polaco, que, afinal, era um satélite.
A partir de então, ele decidiu tentar entrar em contato com os serviços de inteligência dos Estados Unidos. Sabia ele, que isto seria muito perigoso na Polônia. Teve, então, uma idéia genial: convenceu seus superiores que um seleto grupo de oficiais poderiam andar pelas margens da Europa Ocidental, por barco, posando como turistas, e recolhendo qualquer informação útil.
Finalmente, em agosto de 1972, durante uma dessas viagens, ele conseguiu enviar uma carta para a Embaixada dos EUA em Bonn (então capital da Alemanha Ocidental).
Fez desta forma seu primeiro contato com os oficiais militares dos Estados Unidos. Aquela "aventura marítima" acabaria em trabalho conjunto com CIA, e ele passou a oferecer seus serviços como um espião.
Foi assim que, durante sua carreira como um espião entre 1971 e 1981 entregou à CIA microfilme colossal de 40.000 páginas de documentos secretos do Pacto de Varsóvia de origem essencialmente Soviética.

Os documentos em questão descreviam planos estratégicos de Moscou sobre o uso de armas nucleares, detalhes técnicos do último tanque soviético produzido, o T- 72 e o míssil Strela -1 , a distribuição de bases soviéticas, a artilharia antiaérea nos territórios da Polônia e na antiga Alemanha Oriental, os métodos e as técnicas utilizadas pelos soviéticos para minimizar e tentar evitar a detecção de seus equipamentos militares por satélites espiões norte-americanos, uma análise magistral da União Soviética e das fraquezas da OTAN através de um manual de 300 páginas sobre a guerra eletrônica, a informação de que a URSS estava se preparando para invadir um país no sul (o que viria a ser o Afeganistão, 1979) e planos da eventual aplicação da lei marcial na Polônia, um fato que, eventualmente, veio a acontecer em 1981.

Kukliński, em pé, atrás do presidente Wojciech Jaruzelski
Em setembro de 1981, o ministro do Interior da Polônia dizia que "Moscou reclama que tudo que se discute no Politburo sobre o sindicato Solidariedade é descoberto em menos de 24 horas. Há um vazamento terrível de informações". Até o nome de código (Wiosna, "Primavera" ) do plano para declarar a lei marcial no país era conhecido pelo Solidariedade.
E o coronel Kukliński era parte de um punhado muito seleto de apenas dez pessoas em todo o país cujo nome oficialmente secreto era conhecido.
Diante de um risco iminente de descoberta, Kuklinski poderia ser " exfiltrated" (retirado sub-repticiamente) da Polônia pela CIA (provavelmente escondido dentro do veículo oficial da embaixada dos EUA ) em Varsóvia com sua esposa e dois filhos.
Finalmente, no dia 11 de novembro de 1981, ele foi para os Estados Unidos. Isso aconteceu pouco antes da imposição, em dezembro do mesmo ano, da lei marcial no país. Em 23 de maio de 1984, Kukliński foi condenado à morte in absentia (à revelia ) por um tribunal militar secreto ainda comunista existente na Polônia.
Mas, depois da queda do comunismo no país, em 1989, a decisão foi revertida pelas novas autoridades e, depois de um longo exílio, ele momentaneamente regressou a Polônia, em abril de 1998. Ele morreu de um ataque cardíaco aos 73 anos, em um hospital na cidade de Tampa (Flórida, EUA), em 2004.

Túmulo em Varsóvia
Seus restos mortais foram transferidos para sua Polônia e foi sepultado, em Varsóvia, em 19 de Junho de 2004, com honras militares, junto a seu filho Waldemar, que foi morto a tiros por um motorista desconhecido, em meados de 1994 (um fato que, de acordo com vozes pertencentes a teorias da conspiração, teria sido uma vingança de ex-agentes soviéticos).
Seu outro filho, Bogusław havia desaparecido em janeiro do mesmo ano, também em circunstâncias não totalmente explicadas, enquanto ele estava fazendo uma expedição de mergulho no estado da Flórida. No seu caso, seu corpo nunca seria encontrado.

Monumento em Cracóvia
Herói ou traidor
Kukliński permanece uma figura controversa para muitos polacos. Para a maioria é considerado um herói nacional legítimo, mas alguns ainda consideram-no um traidor. Para estes, o fato de ter revelado planos militares soviéticos para a CIA, contribuiu para que a planejada invasão da União Soviética sobre a Polônia, em 1981, tenha sido frustrada, e isso ajudou a evitar o superaquecimento das tensões da Guerra Fria e até mesmo uma escalada nuclear hipotética do conflito, o que, sem dúvida, teria significado a completa destruição virtual da Polônia (assim como o mundo em geral e a Europa em particular).
No entanto, estas afirmações são difíceis de avaliar (e, mais ainda, para confirmar ou dar como verdade), porque os eventos que levaram à declaração da lei marcial na Polônia, em 1981, ainda são controversos e contestada por vários historiadores. Kuklinski está enterrado em linha de honra de Powązki do cemitério militar de Varsóvia, e foi declarado cidadão honorário de várias cidades polacas, entre as quais Cracóvia e Gdańsk.
Longa-metragem polaco sobre o espião polaco. Direção de Władysław Pasikowski.


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

O pierogi polaco foi levado aos eslavos

Pierogi com cogumelos "borowników" com molho de cebola frita e nata salgada
O termo polaco PIEROGI (pronuncia-se piérógui) é plural, enquanto PIERÓG (pronuncia-se piérug) é singular.
Na República Tcheca e na Eslováquia são chamados de Pirohy (plural) e Piroh (singular).
Na Alemanha, ele é conhecido como Pirogge no singular e Piroggen no plural, embora, por vezes, o nome polaco Pierogi é também usado.
Nos demais países eslavos, eles são chamados de: kalduny (Bielorrússia), pirukad (Estônia), koldūnai (Lituânia), perohe e vareniki (Ucrânia), vareniki e pelmeni (Rússia).
Em algumas línguas do Leste Europeu, as variantes deste prato são conhecidos por nomes derivados da raiz da palavra "ferver" (em russo: варить, varit ', ucraniano: варити, varyty.

Há semelhança com o italiano ravioli, culurgiones, tortelli, tortelloni e tortellini, com o alemão Maultaschen e Bierock, e para os judeus Ashkenazi ele é o kreplach.
Na Turquia, Transcaucásia e Ásia Central são conhecidos como manti ou mantu, khinkali ou chuchvara.
No leste da Ásia,  temos o jiaozi chinês, o coreano mandu, o japonês gyoza, o buuz mongol, e no Nepal e Tibete como momo.
Na Índia, algo semelhante ao pierogi é conhecido pelo nome de "Ghooghra" (ou Ghugra) no Estado de Gujarat, "Karanji" no Estado de Maharashtra, e "Gujiya" em muitos lugares do Norte da Índia.
Ghooghra, ou pierogi indiano
Originários da Europa Central e do Leste, eles têm formato normalmente semicircular, mas em algumas culturas podem ser retangulares ou triangulares.
São feitos com massa de farinha de trigo, sendo primeiro cozidos e então assados ou fritos, normalmente na manteiga com cebolas. Tradicionalmente são recheados com batata e ricota, repolho azedo, carne moída, queijo ou frutas. Podem ser doces, salgados e até mesmo apimentados, isto, na culinária polaca, onde é considerado o Prato Nacional da Polônia.
Os pierogi doces são comumente servido com creme de leite e o salgado é servido com molho de cebolas picadas, fritas na manteiga, ou molho com pedaços de bacon fritos.

Pieróg era tradicionalmente uma comida da zona rural, mas tornou-se popular em todas as classes sociais. Eles são servidos em diversas festas, ocupando importante papel como prato cultural.

Tanto a iguaria como a palavra Pierogi, segundo alguns etimologistas, teriam origem tártara, ou seja, mongol.
A palavra “pierogi” seria derivada de Pier, que segundo estes mesmos estudiosos seria uma palavra tártara.
Segundo Andrzej Bankowski a palavra teria origem em dialetos urálicos do termot Piirag. Outra hipótese seria originário do antigo eslavo eclesiástico PIRU.
Já o etimologista polaco Aleksander Bruckner (nasceu em Brzeżany - 1856/1939) Pieróg tem origem na palavra pré-eslava PI acrescida de R... Assim como o PI de PIĆ (beber)... ou como PIEC (forno) ou PIEKŁO (inferno), ou seja, ele é um bolinho de trigo recheado que é levado ao fogo.
Por isso, sabe-se que antigamente os Pierogi eram assados no forno e só mais tarde cozidos em água fervente (verbo Gotować) e foi assim com este verbo, que foi acrescido o sufixo G  (de ferver em polaco) a PIER.
Já em idioma russo, ferver é Вареники ou varenik. Já os rutenos (atuais ucranianos) denominaram a iguaria como Perohe (pronuncia-se perórrê) e Vareniki. Também os polacos-judeus se utilizaram do vocábulo vareniki quando falavam em iidiche.



Em 1410, na Batalha de Grunwald, a Polônia conseguiu apoio dos tártaros  e de outras etnias que viviam no reino da Polônia e expulsaram os saxônicos, ou teutônicos, que naquele época, ainda não eram chamados de alemães.
Daí o porquê, alguns acreditarem que foram os tártaros que trouxeram para a Polônia, o Pieróg. Além do que, em tempos de guerra era algo muito simples de fazer e também porque eram os únicos ingredientes disponíveis em tempos de escassez.
Com a expansão do Reino Polaco e em seguida com a República das Duas Nações Polônia-Lituânia, o Pierogi foi levado a outras etnias eslavas e também não eslavas do Centro e Leste da Europa.
Mas contrariando esta versão tártara, muito recentemente, arqueólogos chineses encontraram em escavações o que se confirmou ser a farinha de trigo e o macarrão, produtos levados a China à milhares de anos por nômades eslavos, procedentes de regiões que se encontram atualmente em território da Polônia. Contrariando a tese de que o macarrão, o ravioli trazidos à Veneza por Marco Polo, foram uma invenção chinesa, aprimorada pelos italianos e polacos.

Pierogi doce de morango com molho de nata e açúcar de confeiteiro
Na festa mais importante do calendário religioso, os polacos tradicionalmente servem dois tipos de Pieróg na ceia de Natal.
Um deles é servido com kapusta kiszona (repolho azedo) e cogumelos secos, e outro, em formato menor, recheado apenas com cogumelos secos é servido junto com o consomê de beterraba, o famoso Barszcz Czerwony.
O Festival do Pierogi de 2007 em Cracóvia bateu um recorde na cidade quando foram consumidos mais de 30.000 pierogi diariamente.
Pierogi é provavelmente o único prato polaco que tem o seu próprio Santo patrono. "Święty Jacek z pierogami!", (São Jacinto e o seu pierogi!) é uma antiga expressão de surpresa, com alguma similaridade ao "Nossa senhora!" ou "Santo Deus!".

Jacek Odrowąż nasceu em Kamień Śląskiej em 1183 e faleceu em 15 de agosto de 1257 em Cracóvia. Como padre dominicano foi um missionário polaco tornado Santo pelo Papa ClementeVIII, em 17 de abril de 1594. É cultuado na Bazylika Trójcy Świętej, na Plac Wszystkich Świętych, em Cracóvia.
Segundo os autores Helena Szymanderska, Andrzej Stojowski e Izabela Kaczyńska, Święty Jacek (São Jacinto) em seu trabalho pastoral percorreu terras da Polônia e da Rússia. 
Ele foi abade em Kiev, onde ele costuma preparar na véspera de Natal os famosos pierogi polacos e distribuí-los aos fiéis rutenos (atuais ucranianos). 

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Embaixador da Polônia convida estudantes brasileiros

Caros Estudantes do Brasil,
Gostaria de convidá-lo a visitar este belo país e selecionar um dos vários cursos que as universidades polacas oferecem.
Embaixador Andrzej Braiter
A Polônia está localizada no coração da Europa. Nosso país não é apenas um bom lugar para se viver – a Polônia é um lugar maravilhoso para se estudar. Lá você vai encontrar uma grande variedade de cursos para escolher. Nosso sistema de educação segue padrões do Processo de Bolonha, permitindo realizar um curso de graduação, mestrado e doutorado, garantindo um diploma reconhecido pelos países membros da União Europeia.
Estudando na Polônia, você terá a chance de fazer um estágio em empresas modernas, podendo aprender conosco algumas habilidades extremamente úteis, como: ser ativo, voltado para negócios e criativo. Temos conseguido nosso enorme sucesso econômico na Polônia graças à maneira como somos. Iremos ajudá-lo a investir em si mesmo para se tornar mais bem sucedido em sua vida. Somos uma nação jovem, enérgica e multilingue, mas a coisa mais importante é que a Polônia e o Brasil têm muitas coisas em comum: amamos sua cultura, literatura, língua, dança, música, comida e tradições. Talvez não jogamos futebol tão bem quanto vocês, mas somos apaixonados por ele, assim como por outros esportes, por exemplo, voleibol e esqui. Na Polônia, você irá se sentir em casa, pois vai encontrar aqui tudo: de capoeira à caipirinha. Tenha certeza de que vamos recebê-lo muito calorosamente e sua estadia na Polônia será uma aventura inesquecível, talvez uma aventura única em sua vida.

Andrzej Braiter
Embaixador da República da Polônia no Brasil


http://www.brasilia.msz.gov.pl/pl/

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O Szara de Cracóvia, bar e restaurante

Foto: Ulisses Iarochinski
Szara Restauracja (Restaurante Cinza) está localizado em um dos maiores prédios do Rynek Główny (Praça do Mercado Central) nrº. 6, de Cracóvia.
O edifício é do século XIV, construído a partir da fusão de dois prédios residenciais separados.
Em fevereiro de 1574, Piotr e Samuel Zborowski realizaram uma cerimônia para a coroação do rei Henryk III Walezy (o francês Henrique III de Valois).
Nos anos de 1747-1772, viveu aqui Marcin Oracewicz, e em 1787, os Żeleński ofereceram jantar em homenagem ao rei Stanisław August Poniatowski (ultimo rei eleito da Polônia).
Desde a segunda metade do século XVI esteve na posse das famílias Zborowski e Zebrzydowski. No século XVIII pertenceu à família Żeleński. Na fachada do edifício há duas placas memoriais.
Uma informa que o herói de dois mundos (Polônia e Estados Unidos da América) o general Tadeusz Kościuszko residiu aqui durante a revolta de 1794 , e a segunda placa informa que foi sede do Governo Nacional durante o levante de Cracóvia em 1846.
Em 1853, o novo proprietário do prédio, Stanisław Feintuch, mudou seu sobrenome para Szarski e abriu no salão gótico, no piso térreo, uma loja e um armazém no quintal. Henryk Szarski, filho de Stanisław, nos anos 1907-1913 reformou e reconstruiu parte do edifício.


O interior da loja no térreo e os vitrais policrômicos foram projetados pelo artista Józef Mehoffer. Inicialmente a loja vendia de tudo: café, tijolos, pão, vernizes, mas com o tempo, a empresa evoluiu para uma loja colonial conhecida "Szarski e Filho" .
A “Szarski e Filho" começou a definhar durante a Segunda Guerra Mundial quando os alemães retiraram o frontispício do edifício. Nos três anos, que antecederam o jubileu do 100 º aniversário, em 1950, os proprietários Jan Szarski e Stanisław Szarski decidiram fechar a empresa por causa de impostos gigantescos, taxas nada razoáveis.
Antes da Segunda Guerra Mundial, o edifício foi também sede local do Partido Nacional e da Juventude Polaca. Em 2009, a policromia dos vitrais foi restaurada. O prédio manteve o portal colunar do século XVII, a policromia abóbada do teto gótico no térreo e nos pavimentos e também as vigas de madeira decoradas com policromia.
O edifício foi tombado pelo Registo de Monumentos de Cracóvia em 1936. Atualmente, a Szary Kamienica (Edifício cinza) é propriedade da Fundação "Grey House - Szara Kamienica", que foi criada no início dos anos 90, com vistas a abrigar um restaurante neste prédio histórico.
A Fundação realizou uma grande renovação do prédio. Ele abriga agora salas de escritório (por exemplo, o British Council ), residências e no piso térreo, além do restaurante Szary também boutiques no lado da rua (ul.) Sienna e um bar no porão.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

A marcha pela vida de David Lorber Rolnik

Texto Blima R. Lorber

Eu, Blima, e meu irmão, Szyja, ficamos muito emocionados e surpresos com uma publicação que data de 22 de janeiro de 1940, de Genebra, feita pela JTA — Jewish Telegraph Agency — à qual tivemos acesso dias atrás, que relata a Marcha da Morte de Chełm, Polônia, realizada pelos nazistas em 1° de dezembro de 1939.
Esta fatídica marcha (de Chełm, Hrubieszów a Sokał e Belz na fronteira russa) custou a vida de muitos e teve poucos sobreviventes, entre eles, por milagre, nosso querido pai – David Lorber Rolnik Z’L. O texto divulgado naquela época pela JTA apresenta, com mínimas variações, o que nosso pai nos contou a respeito dessa terrível ação nazista.
A narrativa de David é um dos principais capítulos do livro “As catorze vidas de David — o menino que tinha nome de rei”, de autoria minha e de meu irmão, homenageando o homem maravilhoso que ele foi e que enfrentou tantos perigos sem nunca ter desistido da vida. A divulgação dos fatos já naquela época mostra que o mundo sabia o que estava ocorrendo, mas cruzou os braços diante da barbárie. Foram milhões de mortes antes que alguma ação fosse tomada para combater a loucura assassina da Alemanha nazista.
Meus agradecimentos a Aaron Bitterman, amigo e companheiro de pesquisas, por este precioso documento que será incluído na segunda edição do livro.
O livro "As catorze vidas de David - o menino que tinha nome de rei", para quem tiver interesse, e ainda não o leu, tem prefácio da Profa. Maria Luíza Tucci Carneiro e pode ser encontrado nas principais livrarias do país (Cultura, Saraiva, Curitiba, Martins Fontes, Sefer) ou nos seus respectivos endereços eletrônicos. Seguem o link do texto original e sua tradução.


1.900 judeus assassinados pelos nazistas em 4 dias de marcha até a fronteira soviética; 'revolta' é a versão da DnB.* 22 de janeiro de 1940 GENEBRA (21 de janeiro)

Detalhes completamente autênticos do massacre de um número de judeus estimado em 1.900 que viviam em Chełm e Hrubiaszów**, na província de Lublin, na Polônia ocupada pelos nazistas, próxima à fronteira soviética foram recebidos aqui hoje. O massacre ocorreu durante uma marcha forçada de quatro dias de milhares de judeus em direção ao rio Bug, que divide a Polônia entre os alemães e soviéticos naquele ponto.
A DNB, agência de notícias oficial alemã, emitiu apenas este relatório sobre o massacre: "Uma tentativa de revolta dos judeus nos distritos de Chełm e Hrubiaszów foi impiedosamente reprimida”. Os acontecimentos reais foram os seguintes: Na quinta-feira à noite, 30 de novembro, as autoridades nazistas em Chełm ordenaram que todos os judeus entre as idades de 15 e 60 comparecessem às 8h30 horas da manhã seguinte na praça do mercado, Praça Luczkowski, na rua principal, Lubelsulica.
Não foi dado qualquer motivo para esta ordem. Para assegurar o seu cumprimento, os nazistas fizeram reféns 20 judeus proeminentes. Muitos judeus, temendo o pior, fugiram na quinta-feira à noite e sexta pela manhã.
Mas, a maioria dos judeus apareceu no horário especificado. Quando cerca de 2.000 judeus estavam reunidos, foram cercados pela polícia auxiliar nazista, guarda de elite e um pequeno destacamento de soldados armados com metralhadoras. Um oficial da Gestapo se dirigiu a eles informando-os que os judeus de Chełm haviam sido condenados a ser privados de seus direitos civis e expulsos da cidade. Os judeus foram, então, ordenados a cantar canções judaicas e mantidos na praça até às 12:30.
Suas esposas, mães e irmãs que, entretanto, tinham se aglomerado nas ruas adjacentes, foram repetidamente dispersas pela polícia e muitas espancadas. Seus gritos de desespero para o retorno de seus entes queridos foram ignorados. Às 12:30, os judeus foram obrigados a se alinhar em formação militar. Foram cercados por soldados nazistas em caminhões e motocicletas e foram levados para fora da estrada em direção a Hrubieszów.
As mulheres foram proibidas de segui-los e as desobedientes rechaçadas. A poucos quilômetros de Chełm, perto de um hospital militar situado na floresta, a marcha foi interrompida e foi dito que 20 homens seriam executados. Vinte homens foram então escolhidos e levados para dentro da floresta, de onde logo foram ouvidos tiros, acompanhados de gritos. 600 corpos contados O resto do grupo foi, então, levado novamente a marchar em ritmo rápido. Aqueles que caiam de exaustão foram mortos a tiros no local.
Os corpos das pessoas executadas foram, mais tarde, encontrados espalhados ao longo da estrada. Dois camponeses polacos, contratados por uma mulher judia de Chełm para seguir o grupo e verificar o destino de seu marido, contaram mais de 600 corpos entre a floresta, onde a primeira execução ocorreu, e o município de Sialopol***, a 36 km de Chełm, na estrada para Hrubiaszów.
Na sexta-feira à noite, o restante do grupo de Chelm chegou a uma aldeia a dois quilômetros de Hrubieszów e foi obrigado a acampar no campo, que foi iluminado com holofotes para evitar qualquer fuga. Enquanto isso, os nazistas em Hrubieszów emitiram uma ordem semelhante aos homens judeus locais, com idades entre 15 e 60, a comparecer na manhã de sábado em um determinado lugar fora da cidade.
Sem saber do destino dos judeus de Chełm, mais de 2.000 judeus de Hrubieszów reuniram-se entre as sete e às nove horas na manhã de sábado. Quatrocentos foram libertados e foram orientados a voltar para casa. Os outros foram alinhados e informados de que haviam sido condenados à expulsão. Seus documentos e objetos de valor foram confiscados e informados que seriam levados para a fronteira soviética.
Às 9:30, os judeus remanescentes de Chełm chegaram e se juntaram a eles. Estimou-se que o grupo agora estava constituído de 1.100 judeus de Chełm e 850 de Hrubiaszów. Antes de serem levados, foram informados de que aqueles que retornassem seriam tratados como espiões e executados. Embora a fronteira fosse apenas a 4 km de distância, os nazistas levaram os judeus por uma rota alternativa, que abrange mais de 50 quilômetros, a prosseguir através de campos, bosques e pântanos de Hrubiaszów para Mieniany, Cuchoburze e Dolbyszów.
Execuções a cada 5 minutos A cada 5 minutos, os nazistas ordenavam aos que estavam cansados e incapazes de continuar para ficar de lado. Estes foram mortos a tiros e seus corpos deixados nos campos. Durante a marcha, os judeus não receberam comida ou bebida e aqueles que tentaram deixar a formação para pegar a água de valas foram executados a tiros.
Quando alcançaram Dolbyszów, os sobreviventes foram divididos em dois grupos, um de cerca de 550 e o outro com cerca de 400. Assim, 1.700 foram mortos entre Chełm e Hrubiaszów e entre Hrubiaszów e Dolbyszów. O maior grupo, o de 550, foi levado em direção à cidade de fronteira de Sokał, e o grupo de 400 para Belzy****.
Do menor grupo, apenas alguns foram mortos a tiros antes de alcançar a ponte sobre o rio Bug, mas do grupo maior 250 foram mortos a tiros. Assim, durante os quatro dias da marcha um total de 1.950 foram assassinados. Os dois grupos chegaram a Sokał e Belzy, respectivamente, na segunda-feira, 4 de dezembro.
Na ponte de Sokał, os 300 sobreviventes do grupo de 550 foram contados e informados de que se alguém não conseguisse atravessar o rio, ou sobre a ponte ou a nado, em 20 minutos seria baleado. Antes de cruzar, os judeus foram autorizados a ter uma refeição de pão seco e água trazida por cristãos de Sokał.
Ao chegar ao lado soviético, os judeus tiveram que esperar por três horas e depois foi lhes dada a decisão das autoridades soviéticas de que tinham de regressar ao território alemão. Apesar da resistência desesperada, foram levados pelos guardas soviéticos e entregues aos alemães.
Às 7 horas da noite, os judeus foram informados pelos nazistas que seriam mortos, a menos que cruzassem o rio novamente, a seu próprio risco, às 6 horas da manhã seguinte. Um número deles nadou e conseguiu entrar em território soviético sem ser detectado. Os demais foram presos pelas autoridades soviéticas, mas não foram enviados de volta.
Alguns encontraram refúgio nas aldeias vizinhas do lado alemão. Alguns morreram afogados na travessia do rio Os 400 levados a Belzy atravessaram para o território soviético, embora eles não tivessem sido admitidos no início. Um número de judeus, tanto em Sokał quanto em Belzy, afogou-se ao tentar nadar através do rio. Muitos dos que conseguiram a travessia foram levados para hospitais soviéticos, onde vários morreram.
Durante os quatro dias de marcha, aos judeus foi dado apenas um pão por dia para cada 30 homens. Uma média de um judeu a cada cinco minutos foi executado a tiros. Ouviu-se de um guarda nazista: "Eu mesmo já liquidei 76", e recebeu a resposta de outro guarda, "Eu só matei 63". Entre os assassinados estava Isaac Lewenfuss, 55 anos, que tinha sido o contador do Banco do Povo de Hrubiaszow.
Ele estava completamente exausto e incapaz de continuar depois de 15 km de Hrubiazów. Quando recebeu a ordem de se deitar, que foi a introdução para a execução, seu filho de 20 anos de idade, Mendel, ofereceu-se para morrer em seu lugar, mas a oferta foi recusada.
O jovem, em seguida, declarou: "Mate-me, juntamente com o meu pai". Um soldado da tropa de choque disse: "Oh, você está oferecendo-se para morrer. Muito bem, é muito bonito da sua parte”. Pai e filho foram, então, executados juntos enquanto se abraçavam. Entre outros executados estavam três membros da família Lewenstein, muito conhecida em Chełm.

Notas: * DNB - Deutsches Nachrichtenbüro, agência de notícias da Alemanha nazista. ** Hrubieszów – No relato de 1940 o nome da cidade às vezes aparece como sendo Hrubieszów e outras Hrubiaszów. O nome correto é Hrubieszów. *** Sialopol – Provavelemnte refere-se à cidade de Białopole. **** Belzy ou Belz (iídiche) – Cidadezinha (shtetl) que ganhou fama graças à canção popular judaica Mein Shtetale Belz.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O humor que faz sucesso na Polônia


Rafał i Leśniak com o personagem Jerzy da série animada para TV
Dois artistas do humor têm roubado a cena polaca. Seus desenhos e piadas são publicados no principal jornal do país, o Gazeta Wyborcza. As tiras ganharam as telas em animações bastante críticas do cotidiano polaco.
Polônia - Campeão polaco
da esquerda: Morrerias pela Pátria?
da direita: Preferia matar.

Rafał Skarżycki (à esquerda na foto) nascido em 28 de marco de 197 é o escritor e autor dos textos das tiras e histórias em quadrinhos.
Apesar da colaboração com outros cartunistas como Bogusław Polch, Przemysław Truściński, Jakub Rebelka e Ernesto Gonzales, a parceria com Tomasz Leśniak é que vem dando mais sucesso.
Seus textos são publicados em revistas infantis como "Świerszczyk" e "Teddy Bear". Em 2009 ele publicou seu primeiro romance "Teleznowela".

Polônia - Campeão polaco
da esquerda: Lês livros?
da direita: Prefiro queimar
Tomasz Leśniak nasceu em 19 de dezembro de 1977, em Varsóvia.
Leśniak é cartunista, animador e criador da história em quadrinhos, vencedor da competição Grand Prix de IFW 1999 pela uma série do ouriço Jerzy (Jorge). Graduou-se na Academia Européia de Artes Gráficas em Varsóvia.
Polônia - Campeão polaco
quadro da esquerda: Lembre-se, o sucesso tem sempre um grande pai
Menino na direita: e a derrota?
Homem: a mãe.

Polônia - Campeão polaco
da esquerda: Uma vodcazinha?
da direita: Cervejinha. Sou um vagão.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Anotações de João Paulo II viram livro


O cardeal Stanisław Dziwisz, que foi durante muito tempo o secretário pessoal do cardeal Karol Wojtyła e depois como papa João Paulo II está lançando mais um livro sobre o polaco que recolocou a Polônia no mapa do mundo.
Com o título de "Estou nas mãos de Deus. Anotações pessoais 1962-2003", pela editora Znak, o cardeal está contrariando o desejo do próprio pontífice. Pois esse era do desejo de Wojtyła.
O ex-secretário Dziwisz disse que queimou as cartas e muitas das anotações de João Paulo II, mas alegou que não teve "coragem" de destruir os escritos que lançavam luz sobre a alma do papa morto em 2005.
O livro será publicado, na Polônia, dia 5 de fevereiro e segundo Dziwicz, seria um "crime" obedecer à vontade do falecido papa e queimar aquelas anotações, mesmo que em seu testamento, o Papa polaco houvesse pedido que fossem queimados seus apontamentos pessoais.
"As anotações e a correspondência que se deviam queimar foram queimados, destruídos", informou o cardeal.
"O Papa revela aqui um fragmento de sua alma, de seu encontro, a contemplação, a devoção e ali reside o maior valor desta publicação", declarou o ex-secretário.
"Eu não tinha nenhuma dúvida. São coisas tão importantes, falando de espiritualidade, do homem, de um grande papa, que seria um crime destruir tudo isso", destacou.
A publicação do livro ocorre dois meses antes da canonização de João Paulo II, marcada para 27 de abril, no Vaticano. João Paulo II morreu às 21h37min do dia 2 de abril de 2005.
O Papa da Polônia será canonizado no mesmo dia que o Papa italiano João XXIII, que comandou a Igreja entre 1958 e 1963.
João Paulo II, primeiro e único Papa polaco da História será canonizado em um prazo recorde, apenas nove anos depois de sua morte. Seu sucessor, o papa Bento XVI optou por não levar em conta o prazo obrigatório de cinco anos para abrir a causa de beatificação (João Paulo II foi beatificado em maio de 2011) e de canonização de seu antecessor.
Stanisław Dziwisz é o autor de "Świadectwo" (Testemunho) livro lançado em 2007, que descreve as memórias da vida e obra de João Paulo II, com base na qual, em 2008, foi produzido filme de mesmo título.

Fonte: Associated Press e France Press.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Krauze promete estreia de "Smoleńsk" para abril


O cineasta polaco de 73 anos, Antoni Krauze (nascido em 04 janeiro de 1940 em Varsóvia). Krauze que também é roteirista fez vários longas e curtametragens ao longo de sua carreira.
Assim como Andrzej Wajda, Krzysztof Kieślowski, Roman Polanski e Krzysztof Zanussi estudou na Escola Superior de Cinema de Łódź (pronuncia-se uúdji e não lóds).
Começou sua carreira ainda na universidade do cinema da cidade polaca em em 1969 com o filme "Monidło". Antes tinha feito assistência de direção para Zanussi, em 1968, no "Struktura kryształu".
A última produção de Krauze, prevista para estrear no próximo mês de abril, deve levar milhares de polacos às salas de cinema. O filme "Smoleńsk", sobre o acidente com o Tupolev presidencial polaco ainda sob investigação, deve segundo ele, preencher uma lacuna na cultura polaca.
Como se recorda, o avião presidencial polaco com 96 passageiros à bordo caiu nas proximidades do aeroporto da cidade russa "Smoleńsk". O Presidente Lech Kaczyński (pronuncia-se lérrrhh catchinskqui) e esposa, junto com ministros, parlamentares, empresários, religiosos estavam a caminho de Katyn (local onde os soviéticos mataram na segunda guerra mudial 40 mil oficiais polacos).
Segundo Krauze, fazer este filme é importante para a cultura polaca, pois, "sem meu filme, esta mesma cultura estará prejudicada, fugindo de seu direito básico, e ficará desprovida de laços com as emoções espirituais dos polacos".
Em entrevista para o jornal Gazeta Wyborcza, Krauze fala sobre investimentos, equipe artística e da certeza de que "ninguém, entre os polacos, acredita seriamente na versão oficial dos fatos apresentados pelo MAK (dos russos) e pelo comitê parlamentar polaco." 

Krauze está contando com dinheiro oficial para concluir seu filme. Ele encaminhou o projeto ano passado ao Instituto Nacional de Cinema Polaco, segundo ele, "acredito na integridade profissional e independência dos peritos do Instituto que  avaliam o projeto, eu acredito na competência dos funcionários colocados lá. Mas é claro que eu não sei se ele será aprovado".
E não deixa dúvidas: "Tenho certeza de que será um teste sobre o quanto o Estado é nosso, o dinheiro público compartilhado está disponível para todos em pé de igualdade, e todos os cidadãos de forma igual".
O produtor Jerzy Zelnik Krauze reconhece que, no caso de uma decisão negativa do Instituto de Cinema,  a conclusão do filme pode estar em apuros. 
Krauze revelou os nomes de atores que decidiram aparecer no filme. Além de Ewa Dałkowska (no papel de Maria Kaczyński ) e Lech Łotockiego (como Lech Kaczyński) estarão: Halina Łabonarską  Maciej Goraj, Beata Fido, Jerzy Zelnik e Redbad Klijnstra
O diretor, entretanto, nega rumores de que o personagem principal - um jornalista que procura a verdade sobre Smoleńsk - baseia-se na jornalista investigativa Ewa Stankiewicz.
"Nossa heroína é personagem totalmente ficcional não é modelada em qualquer pessoa existente" - argumenta. E acrescenta que a composição do personagem tem referências em Agnieszka de "O Homem de Mármore", de Andrzej Wajda . "Algumas referências são conscientes. Nossa heroína trabalha em uma grande televisão, tem chefes que entendem o que se espera do poder. Isso não muda o fato de que o nosso filme vai prestar homenagem a esta maravilhosa jornalista da mídia independente, que desempenharam e desempenham um papel enorme na busca da verdade sobre a tragédia de Smolensk." diz Krauze
O jornal perguntou ao cineasta "Como aceitar a versão oficial e ainda ter na memória o Boeing, que em 11 de setembro de 2001, bateu-se contra as torres de aço do World Trade Center e que - se não houvesse uma explosão - teria provavelmente voado fora para o outro lado do prédio?"
Krause responde que "seu filme Smoleńsk" não deixará dúvidas, assim como - o Homem de Mármore - por que são temas sobre os quais você não pode dizer que não se pode fazer filmes."

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Justiça lituana proibe idioma polaco no país


Segundo informa o jornal Kurier Wilenski, publicado em Vilno, capital atual da Lituânia, a justiça condenou a administração regional de Šalčininkų (em polaco: Soleczniki) a pagar 43 400 litas (cerca de 53 mil złotych ).
O valor representa quase todo o salário anual com extras e bônus do diretor da administração do governo local de Soleczniki, Bolesław Dashkievicz por não remover placas de rua grafadas no idioma polaco. O paradoxo da justiça lituana é que os tribunais também punem aqueles que removem as mesmas placas.


Soleczniki é uma das maiores concentrações da etnia polaca no atual território da Lituânia. Com 31.223 habitantes ou mais de 80% (censo de 2001) da população afirmando ser da etnia polaca, a região foi território polaco de 1453 (pelo menos) até 1946, quando Stalin (com a mudez do Ocidente) refez o mapa da Polônia e entregou terras polacas para a Lituânia, Bielorrússia e Ucrânia.
A maioria dos polacos que viviam há séculos naqueles terras foram obrigadas a entrar em vagões de trens com a roupa do corpo e serem recolocadas no território polaco que sobrou no Ocidente. É o caso, por exemplo, das cidades de Soleczniki e Vilno (na Lituânia) Brest e Grozno (na Bielorrússia) Tarnopol e Lwów (na Ucrânia).


Na Lituânia e na Bielorrússia, muitos polacos se recusaram a cruzar a nova fronteira e outro tanto voltou no período comunista para suas antigas terras. Como a maioria da população nestas cidades sempre foi de polacos, os logradouros públicos (ruas, avenidas, praças) continuaram ostentando seus antigos nomes polacos.
Em outras cidades destes dois países foram adotadas grafias nos dois idiomas. É o caso de Soleczniki. Mas há algum tempo, os governos de plantão lituanos, numa campanha antipolonidade, passaram a proibir estas placas e outros nomes de logradouros em idioma polaco e mesmo o uso coloquial do idioma polaco no país.


Essa decisão do Tribunal Regional de Vilno sobre Dashkievich foi adotada na véspera de Natal. Para pagar a pena, Dashkievich tem um mês após a publicação do acórdão, ou seja, tem que pagar até o dia 6 de fevereiro.
A decisão judicial lituana provocou imediata indignação da minoria polaca na Lituânia. A vice-presidente da Ação Eleitoral dos Polacos na Lituânia, Wanda Krawczonok , diz que a sentença do tribunal é "escandalosa e fruto das forças nacionalistas daquele país sobre a ordem política estabelecida. Estamos lidando com a repressão e as violações dos direitos humanos fundamentais, que é o direito de usar a língua materna".
Esta decisão judicial é responsabilidade do governo conservador e deve ser encarada como incitação às rivalidades étnicas, e creditada ao representante do distrito eleitoral de Vilno, que atraiu os tribunais para o processo político.
Krawczonok também lamentou a situação em que as sanções são impostas para o uso da língua materna pela minoria nacional polaca em lugares onde os polacos representam quase 80 por cento de suas populações.
"Esta decisão do tribunal não é apenas confusa, mas realmente prejudicial, porque desacredita totalmente a Lituânia na arena internacional. A aplicação de tais penalidades draconianas para o uso de sua língua materna ao lado da língua do estado em inscrições colocadas em casas particulares é inaceitável", - diz Krawczonok. Ela ressaltou que a decisão do tribunal é estritamente política, que por sua vez coloca o judiciário sob uma luz negativa para a Lituânia.


quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Marceneiro pessimista – um Kieślowski menos conhecido


Krzysztof Kieślowski - Foto: Wojciech Druszcz / Reporter / East News

De seus sonhos de menino que desejava se tornar um foguista de trens, para seu encontro com a mulher que amava e sua paixão por estações de trem, aqui estão fatos menos conhecidos sobre Krzysztof Kieślowski.


Em movimento

Ele passou a infância em malas de viagem. Sua família estava constantemente em movimento, sempre de uma cidade para outra. Seu pai sofria de tuberculose, assim, sua família mudava-se para lugares onde ele poderia ser cuidado: sanatórios, locais com clima melhor, cidades sem paisagem industrial. Uma das paradas foi no balneário polaco de Sokołowsko. Em sua homenagem, a pequena aldeia nos Sudetos, conhecida como a Davos Silesiana (em referência a Davos da Suíça), hospeda o Festival Hommage à Kieślowski.



Casa em Sokołowsko, onde morou a família Kieślowski.

Foguista - bombeiro

"Para dizer a verdade, eu nunca quis ir para a escola ", admite o cineasta Krzysztof Kieślowski: Sou mais ou menos. "Eu queria ser foguista. Nas casas em que vivi não havia aquecimento central , você tinha que se aquecer nos fornos. Eu tinha um amigo chamado Skowron que já era foguista, e eu pensei que era a melhor coisa que se podia fazer na vida. Meus pais não compartilhavam do meu entusiasmo, então eles tentaram me colocar na escola, qualquer tipo de escola. Papai me enviou para uma escola de bombeiros, uma jogada muito inteligente da parte dele [ ...] porque lá eu entenderia que definitivamente eu iria querer ser um bombeiro. Provavelmente, se meu pai tivesse tentado me deixar em torno do forno, eu poderia entender rapidamente que eu não queria ser um foguista".


Nas coxias do teatro

Ele não se tornou bombeiro, nem foguista. Seus pais o mandaram para Varsóvia, onde ele pode ir para uma escola de ensino técnico para futuros trabalhadores teatrais. Seu tio era o vice-diretor da escola, o que ajudou a garantir um lugar para Krzysztof. Pouco tempo depois, sua irmã se juntou a ele, na mesma escola. Ele olha para trás,

"a escola era fantástica. Mostrou-me que havia mais na vida do que apenas produzir coisas que se destinam a ser utilizadas [ ...] , que existe uma esfera diferente de vida, uma que dá um tipo diferente de combustível. Pode-se arrogantemente dizer que é o alimento para a alma e a mente."

Ele queria trabalhar no teatro, mas ele não queria ser pintor, nem camareiro, mas um diretor. Contudo, se quisesse ficar estudando na escola teatral, ele precisaria ter um diploma de outra escola superior.


Fazedor de filme

Kieślowski no episódio estudantil no filme, "Don Gabriel" de Ewa e Czesław Petelskich -  Foto Fototeka.Filmoteki Narodowej
"Eu pensei que embora devesse terminar os estudos, porque eu precisava estudar história , letras, ou sociologia, se queria de imediato ir na direção certa, ou seja, um curso que tivesse quase um mesmo nome: Direção Teatral. Pensei que, se eu queria me formar em Direção de Cinema, seria muito importante eu saber algo sobre Direção teatral, então poderei ver [ ...] Era para ser uma etapa, não meta." 


No entanto, ele não entrou na escola. Não pulou o muro para ser cineasta. Ele foi reprovado duas vezes no exame de admissão.

"Mas eu era muito teimoso [ ...] Já que os filhos da puta não me querem, vou mostrar-lhes que eu entro de qualquer jeito". Recordava depois de anos - Quando, após a terceira tentativa, finalmente ele conseguiu, na saída do local do exame, deu uma cambalhota no gramado em frente ao prédio, jogou os óculos no chão e quebrou-os com os sapatos.



As mulheres

Fotograma do filme "Trzy kolory. Niebieski",  direção de Krzysztof Kieślowski, na foto Juliette Binoche - Foto  MK2/CED/FRANCE 3/East News
Teve muita sorte. Os colegas de Liceu tinham ciúmes, sempre que ele trocava de namoradas. Tudo mudou na universidade. Certo dia, ele e um colega tiveram um duplo encontro. Kieślowski deveria se encontrar com uma garota que ele já gostava e era para ela para trazer uma amiga. Mas durante o encontro, tudo mudou. Maria Cautillo, a moça trazida para entreter o colega, foi a que chamou a atenção de Kieślowski. Depois de duas semanas, ele propôs casamento. Maria Kieślowska foi sua esposa até que a sua morte.


Após o sucesso do filme "Krótkiego filmu o miłości" (Filme curto sobre amor), e depois dos filmes “Trzy kolory: Biały (Três Cores: Branco), atrizes de todo o mundo sonharam atuar em seus filmes. Catherine Denevue queria trabalhar sem receber cachê, apenas para poder atuar em “Trzy Kolory: Niebieski” (Três Cores: Azul).
E entre aquelas que se orgulhavam de ter se fascinado pelo cinema de Kieślowski estava Nicole Kidman.


Kieślowski-ator

Kieślowski como guerrilheiro em "Stawce większej niż życie" de Janusz Morgenstern - Foto Fototeka Filmoteki Narodowej
Quando começou a estudar na Escola Superior de Cinema de Łódź (pronuncia-se uudji e não lóds), ele não apenas fez assistência a outros diretores, mas criou seus próprios filmes curtos. De vez em quando ele ficava na frente da câmera para atuar em episódios.

Em seu próprio “Koncert życzeń” (Concerto dos Desejos), ele interpretou um ciclista pastoreando uma vaca, no filme de Ewa e Czesław Petelski, “Don Gabriel”, ele foi um soldado.
Sua carreira de ator terminou com um papel em um episódio de “Przepraszam, czy tu Biją? (Desculpe-me, aqui brigam) de Marek Piwowski.



Documentário - O mundo em uma gota de água

Na Escola de Cinema teve três deuses: Bresson, Bergman, Karabasz – tal qual aparecia esta tríade. O mais próximo a ele foi Karabasz, professor na Escola de Cinema de Łódź, eminente documentarista e pedagogo.

Durante a exposição, "Krzysztof Kieslowski. Traços e Memória", em um Cinema de Paris - MK2 Bibliothèque, foram mostradas fotografias tiradas pelo diretor enquanto estudava na Escola de Cinema de Łódź nas "fotografias da cidade".  Exposição retrospectiva que acompanhava os criadores de cinema aconteceu de 29 de agosto a final de setembro de 2012.
Ele ensinou Kieślowski que, a fim de ser capaz de fazer filmes, você tem que ter o seu próprio mundo para contar. O mundo ao redor era muito triste – recordou Kieślowski no documentário de Krzysztof Wierzbicki - o mesmo não era preto e branco, apenas preto. Talvez cinza. Isso está ligado ao local onde a Escola de Cinema está localizada, ou seja, Łódź.
A cidade é incrivelmente fotogênica, suja, arranhada. Assim é toda a cidade, então, em algum sentido - o mundo todo. O rosto das pessoas eram iguais aos muros e paredes da cidade - cansado, triste, com algum tipo de drama em seus olhos, o drama de sentir o absurdo, o sentimento rastejando, o que resulta em nada.

"Em documentários ele descreveu esses micromundos comunistas, mostrando pessoas comuns em suas vidas ordinárias. Aqueles eram mundos em gotas de água. “Szkoła podstawowa” (Escola Primária) , “Szpital” (Hospital) , “Fabryka” (Fábrica), Urząd (Órgão Público) - a partir desses pequenos pedaços de realidade Kieślowski montou a imagem verdadeira do mundo da República Popular da Polônia."



"Cartas ao Poder"

Após a Escola Superior de Cinema, ele começou a trabalhar para o “Wytwórnia Filmów Dokumentalnych na Chełmskiej” (Estúdio de Filme Documentário na rua Chełmska”, em Varsóvia. Ali realizou a “Kroniki Filmowe” (Crônicas fílmicas). Este foi o lugar onde ele conheceu Jacek Petrycki, um jovem cinegrafista, que mais tarde se tornaria seu colaborador mais próximo. Embora, ele mesmo nunca tivesse se envolvido na política diretamente, descreveu a realidade, revelou as mentiras do sistema comunista. Essas foram “cartas ao Poder" – disse Tomasz Zygadło sobre seus filmes.

Kieślowski constantemente equilibrado sobre a fronteira entre o que as autoridades permitiam, e o que era censurado. “Estávamos com medo de cair em desgraça e caímos o tempo todo." – lembrou ele anos mais tarde.

"Você fez do cara um cretino bom"- Fim dos Documentários


Um documentário fundamental em seu trabalho foi “Z punktu widzenia nocnego Portiera” (do ponto de vista do porteiro da noite). Nele capturou o totalitarismo em miniatura. A história de um porteiro, que deleita-se na glória de seu "poder", era uma acusação aberta à um sistema que desmoraliza a pessoa.
Kieślowski se tornou amigo de seu protagonista e anos mais tarde lançou-o em partes episódicas em vários papéis pequenos. "Bem, você fez do cara um cretino bom" – disse Agnieszka Holland sobre Kieślowski quando o filme foi exibido no Festival de Cinema de Cracóvia.

Olhando para o comportamento do protagonista, o público estourava em risadas de vez em quando, e Kieślowski afundava-se mais e mais em sua poltrona. Seu filme não tinha sido feito para ser uma comédia . "Eu acho que é onde tudo começou - ele parou de fazer os documentários que queria" – comentou o ator Jerzy Stuhr sobre os acontecimentos daquela noite. Ele próprio contou sobre sua decisão de deixar o cinema documentário:

“Por dez anos eu fiz documentários. Eu amei o gênero e foi com pena e vergonha que eu abandonei isso, eu me senti como um ser humano que está fugindo de um navio afundando em vez de salvá-lo ou ir para baixo com ele com honra. O documentário afundou. Ele desapareceu com a falta de interesse geral.”

Marceneiro


Gostava de fazer peças de marcenaria. Seus colegas dizem que em todos seus momentos livres, quando não estava preocupado com suas “namoradas", ele gastava o tempo em lojas a procura de parafusos, rolamentos de motocicleta, ferramentas.
"Graças a ele, todos seus amigos conheceram lojas de autopeças em Varsóvia", disse Janusz Skalski, um velho amigo de Kieślowski.
Relembrando sobre o talento do diretor, Krzysztof Piesiewicz (roteirista, advogado, senador), amigo e sócio disse:




"Ele sabia como desmontar e montar um relógio. Desmontar e montar uma motocicleta. Desmontar um motor e colocá-lo novamente para funcionar. Quando eu tinha algum tipo de trabalho de casa para ser feito, ele chegava com sua caixa de ferramentas e já ia ajustando todos os parafusos, porcas, lustres, ele arrumava todas as fechaduras das portas."

Seus amigos ficavam felizes com a ajuda de Kieślowski nos pequenos trabalhos caseiros. Sławomir Idziak até brincou: "Muitas pessoas tinham uma estratégia quando se tratava da prontidão de Kieślowski para consertar coisas, eles começavam a mexer no carro na sua presença sabendo em um momento qualquer, Krzysztof diria a eles para se afastar e consertava o que era necessário".

Carpintaria era seu hobby. "Eu gosto de trabalhar com madeira", disse ele no documentário de Krzysztof Wierzbicki . "Infelizmente eu não tenho talento para isso. Eu provavelmente já fiz mais de cem coisas de madeira, coisas úteis, simples que requerem ângulos retos. E eu ainda não consegui fazer um único ângulo reto".

Estações Ferroviárias

Fotograma do filme "Przypadek". Bogusław Linda -  Foto: Filmoteka Narodowa / www.fototeka.fn.org.pl
Elas apareceram na maioria de seus filmes. Os protagonistas constantemente se despedem em saudações nas plataformas das estações, este é o lugar onde o destino de alguns deles foi decidido: o futuro para alguns e liberdade, ao som da partida trens, para os outros. Quando jovem, ele viajou muito pela Polônia e classificou os melhores bares de estação ferroviária. Ele sabia onde você podia encontrar os melhores “schnitzels” e em quais restaurantes tinha as costeletas de carne picada (kotlety mielone).

Na cena de  "Przypadku" comTadeusz Łomnicki e Bogusław Linda - Foto; Romuald Pieńkowski
 / Fototeka Filmoteki Narodowej
Mas em um certo momento as estações de trem, tornaram-se sua maldição. No programa de TV “100 pytań do” (100 Perguntas Para) ... , disse ele: “Eu gosto de viajar de trem [ ...] Mas, horrível, não gosto de fazer fotos nas estações de trem, não gosto de cenas com animais e crianças. Enquanto isso, ultimamente, o que quer que faça com Piesiewicz sempre há uma estação, um trem, crianças e animais.”

Sedução Partidária

Quando ele filmou “Robotnicy 71” ( Trabalhadores 71), o triste retrato coletivo da classe trabalhadora, os membros do partido comunista decidiram que a obra não estava apta a ser mostrada para o grande público, mas, por outro lado, mostrava Kieślowki interessado na política. Ele, então, deveria ser orientado politicamente e queriam dar-lhe uma formação no modelo comunista. Em vão.

“Życiorys” (Currículo) é um filme feito em parte a pedido do partido. Tadeusz Sobolewski, crítico e conhecedor da obra de Kieślowski, comentou: “Ele fez o filme a quatro mãos junto com os líderes comunistas, os quais contavam usá-lo, uma vez pronto, com objetivos de propaganda. Mas o filme de Kieślowski foi absolutamente outra coisa. Porque Kieślowski todo tempo retratava seu modo de fazer as coisas - ele não renegava sua independência, e nem se deixava ser levado pela pressão da oposição, que na época atingiu uma grande parte das pessoas à sua volta.” 

"Lágrimas do bardo do Partido"

Quando ele faleceu, as pessoas do mundo cinematográfico teceram elogios intermináveis a seu respeito. Mas ele, nem sempre foi bem compreendido por seu meio. Seus amigos ironicamente o chamava de " Lágrimas do bardo do Partido", lembrou Agnieszka Holland. Tinham sobre ele a ideia de que "colaborava" com o sistema, que ele se recusava a aceitar numa carta de protesto , onde assinava que não fazia filmes sobre o Solidarność, mas somente sobre pessoas que desejam um pouco de estabilidade: casa, família e o suficiente para viver.

Com Jerzy Nowaki na cena de "Amatora" -  Foto: Romuald Pieńkowski/ Fototeka Filmoteki Narodowej
Lá, onde eles esperavam uma narração preto e branco, ele via ambiguidade. Em uma das cenas de “Amatora”(Amador), ele deu razão aos comunistas, no que ele foi criticado pelo meio cinematográfico. Quando em “Bez Końca” (Sem fim), o advogado interpretado por Aleksander Bardini convenceu um membro da oposição a abandonar a rebelião vazia contra o regime e salvar a sua liberdade, Kieślowski foi atacada por todos os lados: pela oposição, pelas pessoas do seu meio profissional, pela Igreja e pelos comunistas, que não apreciaram o significado geral do filme. Mesmo alguns de seus amigos pararam de lhe dar a mão.

Política

No cenário de  "Krótki film o zabijaniu", 1987.  Krzysztof Kieślowski - Foto: Filmoteka Narodowa/www.fototeka.fn.org.pl
Interessavam-lhe retratar pessoas comuns, e não os grandes da política. Ele não tentava dizer quem estava certo e quem estava errado. Como diretor, ele tentou ser como o anjo do “Dekalog” (Decálogo), - Observador cheio de empatia e compreensão. Mas da política, nada lhe escapava. Ele falou sobre isso, a seu próprio modo, evitando diagnósticos fáceis e fervor revolucionário.
Quando ele estava começando o “Decálogo”, não conseguia encontrar um cinegrafista, porque todo mundo ao redor alegava que após os acontecimentos de 13 de Dezembro, as pessoas só deveriam fazer filmes sobre Solidariedade, o comunismo e imprensa clandestina.

No entanto, os acontecimentos políticos influenciaram seus filmes. “Przypadek” (Casualidade) e “Krótki dzień pracy” (Dia curto do Trabalho) foram sua reação ao fenômeno do Solidariedade , “Bez Końca” (Sem fim) – era uma resposta à imposição da lei marcial . A morte do protagonista interpretado por Jerzy Radziwiłowicz, do memorável “Człowiek z marmuru” (O Homem de Mármore) do filme de Andrzej Wajda, era a morte simbólica de um determinado pensamento.

Moscou, 1979. Krzysztof Kieślowski (terceiro a partir da esquerda), no Kremlin,  brinda com os amigos com o sucesso de seu filme "Amador". Entre os convidados Wojciech Marczewski, Krzysztof Mętrak - Foto de Jerzy Kosnik / Fórum
Após a Lei Marcial, ele disse que já não estava interessado em filmar. Talvez, porque a lente da câmara, seria como apontar uma metralhadora, e ela sozinha iria ser tratada como arma na luta: "se uma metralhadora poderia ser colocado na lente da câmera e ela poderia ser usada como uma arma na luta armada. Ao mesmo tempo, ele se recusava a assinar cartas de protesto." 

“Política é atroz. A única coisa que me interessa é ter papel higiênico para quando eu for ao banheiro”. Disse a seu aluno Andreas Veiel.
 

Mundo invisível, ou um elefante em Głupczyce

Fotograma do filme "Duże zwierzę" de Jerzy Stuhr segundo roteiro de Krzysztof Kieślowski
“Quando eu tinha seis anos, eu vi um elefante na rua. Eu tenho certeza que eu o vi. Mais tarde me explicaram que isso era impossível, que eu não vi um elefante, porque onde haveria de ser ver um elefante no mercado em Głupczyce.”


Lembrou essa história, quando perguntaram a sobre a fonte do “misticismo" em seu cinema. Ele acreditava no segredos.
Ele estava angustiado com o fato de que o mundo sensível em que vivia não era tudo o que havia, de que existia algo além dele.
Esse sentimento de transcendência não foi o resultado da leitura das obras de filósofos ou descobertas cinematográficas, mas o acompanhou desde que era menino, um menino que viu um elefante no mercado de uma cidadezinha provincial.
Essa situação também deu origem à ideia do roteiro de “Dużego zwierzęcie” (Grande animal), o qual foi filmado depois de sua morte por Jerzy Stuhr.

Poster


Kieślowski escrupulosamente escolhia os autores de seus cartazes. Ele dava muita liberdade para aqueles em quem ele podia confiar.

No final dos anos 80 ele escreveu,

“Não importa quem faz o cartaz. Há alguns que eu confio - se ele fez o cartaz, eu tento conseguir o ingresso. Em outros eu não confio – Para mim tudo dá na mesma, o que eles gostam. Nesse sentido, o autor de um cartaz se torna um co-autor do filme. Por último dei lhe liberdade.” 


"Você faz cartazes, eu faço filmes, você não se mete com meus filmes, então por que eu deveria me meter com seus cartazes?" - Ele perguntou retoricamente a Pagowski, o criador regular dos cartazes da maioria dos seus filmes.












Ocidente

Krzysztof Kieślowski, Irene Jacob e Marin Karmitz na premiere do filme "Trzy kolory: Czerwony"
, Festiwal Cannes, 1994 - Foto: Jerzy Kośnik - Forum
Após o sucesso do “Decálogo”, foi regularmente convidado para os maiores eventos cinematográficos. Mas ele nunca se sentiu grande amor pelo Ocidente. “Onde quer que seja que eu estava no exterior”, ele costumava dizer:
“Eu sempre me sinto como um estranho e eu sempre me sinto mal. E para ser honesto, eu sempre quero voltar para casa o mais rápido possível”. Hollywood nunca o atraiu. “Na América, há algo que simplesmente não é para mim" - disse ele. Isto é conversa sobre nada e bom, decididamente bom, e mesmo de muito bom humor. Eu me encontro com meu agente americano e eu lhe pergunto: “como você está?”. Ele sempre diz: “muito bem”. Nunca pode ser “ok” ou “bem”. Tem que ser “extremamente bem”. Eu, por outro lado, não estou "extremamente bem”. E em geral eu não estou mesmo “bem”. Simplesmente: “estou mais ou menos”.

Pessimismo

Ele sempre viu o copo meio vazio. “Eu tenho um bom traço de caráter que consiste em me ser um pessimista” - disse ele em tom de brincadeira . “Eu sempre imagino o pior. O futuro é para mim um buraco negro. Se há algo que eu tenho medo, é o futuro."

Deus? Estímulo!


Ele raramente falava sobre suas próprias convicções religiosas. Quando, após a estreia de “Bez Końca” (Sem fim), Krzysztof Klopotowski num exame para um semanário católico escreveu, que Kieślowski não era católico e alertou o público para não se enganado por sua metafísica, ele se sentiu particularmente ofendido.
Anos mais tarde, ele transformou em piada, mas sempre se sentiu como uma pessoa que não pertencia à comunidade eclesiástica, aos dogmas e respostas simples a questões escatológicas.
Em meados dos anos noventa em uma entrevista para a televisão francesa, ele foi perguntado: "Se o senhor, criador do – Decálogo - morresse e fosse para o céu, o que achas que Deus iria dizer sobre isso?" Ele respondeu: "Porque se eu estivesse lá, eu teria que dizer: Acorda! Olhe o que está acontecendo!"

Transcrito de culture.pl
Autor: Bartosz Staszczyszyn,
traduzido por Ulisses Iarochinski 08.01.2014

Fontes:
- Krzysztof Kieślowski, "Autobiografia", coordenadora Datuna Stok, Kraków 2006 r.
- Stanisław Zawiśliński [redator], "O Krzysztofie Kieślowskim: refleksje, wspomnienia, opinie", Warszawa 1998 r.
- Stanisław Zawiśliński, "Kieślowski: ważne, żeby iść", Warszawa 2005 r. - Mikołaj Jazdon, "Dokumenty Kieślowskiego", Poznań 2002 r.
- “Krzysztof Kieślowski: I'm So-So", diretor Krzysztof Wierzbicki
- “Still alive. Film o Krzysztofie Kieślowskim", diretora Maria Zmarz-Koczanowicz