quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Marceneiro pessimista – um Kieślowski menos conhecido


Krzysztof Kieślowski - Foto: Wojciech Druszcz / Reporter / East News

De seus sonhos de menino que desejava se tornar um foguista de trens, para seu encontro com a mulher que amava e sua paixão por estações de trem, aqui estão fatos menos conhecidos sobre Krzysztof Kieślowski.


Em movimento

Ele passou a infância em malas de viagem. Sua família estava constantemente em movimento, sempre de uma cidade para outra. Seu pai sofria de tuberculose, assim, sua família mudava-se para lugares onde ele poderia ser cuidado: sanatórios, locais com clima melhor, cidades sem paisagem industrial. Uma das paradas foi no balneário polaco de Sokołowsko. Em sua homenagem, a pequena aldeia nos Sudetos, conhecida como a Davos Silesiana (em referência a Davos da Suíça), hospeda o Festival Hommage à Kieślowski.



Casa em Sokołowsko, onde morou a família Kieślowski.

Foguista - bombeiro

"Para dizer a verdade, eu nunca quis ir para a escola ", admite o cineasta Krzysztof Kieślowski: Sou mais ou menos. "Eu queria ser foguista. Nas casas em que vivi não havia aquecimento central , você tinha que se aquecer nos fornos. Eu tinha um amigo chamado Skowron que já era foguista, e eu pensei que era a melhor coisa que se podia fazer na vida. Meus pais não compartilhavam do meu entusiasmo, então eles tentaram me colocar na escola, qualquer tipo de escola. Papai me enviou para uma escola de bombeiros, uma jogada muito inteligente da parte dele [ ...] porque lá eu entenderia que definitivamente eu iria querer ser um bombeiro. Provavelmente, se meu pai tivesse tentado me deixar em torno do forno, eu poderia entender rapidamente que eu não queria ser um foguista".


Nas coxias do teatro

Ele não se tornou bombeiro, nem foguista. Seus pais o mandaram para Varsóvia, onde ele pode ir para uma escola de ensino técnico para futuros trabalhadores teatrais. Seu tio era o vice-diretor da escola, o que ajudou a garantir um lugar para Krzysztof. Pouco tempo depois, sua irmã se juntou a ele, na mesma escola. Ele olha para trás,

"a escola era fantástica. Mostrou-me que havia mais na vida do que apenas produzir coisas que se destinam a ser utilizadas [ ...] , que existe uma esfera diferente de vida, uma que dá um tipo diferente de combustível. Pode-se arrogantemente dizer que é o alimento para a alma e a mente."

Ele queria trabalhar no teatro, mas ele não queria ser pintor, nem camareiro, mas um diretor. Contudo, se quisesse ficar estudando na escola teatral, ele precisaria ter um diploma de outra escola superior.


Fazedor de filme

Kieślowski no episódio estudantil no filme, "Don Gabriel" de Ewa e Czesław Petelskich -  Foto Fototeka.Filmoteki Narodowej
"Eu pensei que embora devesse terminar os estudos, porque eu precisava estudar história , letras, ou sociologia, se queria de imediato ir na direção certa, ou seja, um curso que tivesse quase um mesmo nome: Direção Teatral. Pensei que, se eu queria me formar em Direção de Cinema, seria muito importante eu saber algo sobre Direção teatral, então poderei ver [ ...] Era para ser uma etapa, não meta." 


No entanto, ele não entrou na escola. Não pulou o muro para ser cineasta. Ele foi reprovado duas vezes no exame de admissão.

"Mas eu era muito teimoso [ ...] Já que os filhos da puta não me querem, vou mostrar-lhes que eu entro de qualquer jeito". Recordava depois de anos - Quando, após a terceira tentativa, finalmente ele conseguiu, na saída do local do exame, deu uma cambalhota no gramado em frente ao prédio, jogou os óculos no chão e quebrou-os com os sapatos.



As mulheres

Fotograma do filme "Trzy kolory. Niebieski",  direção de Krzysztof Kieślowski, na foto Juliette Binoche - Foto  MK2/CED/FRANCE 3/East News
Teve muita sorte. Os colegas de Liceu tinham ciúmes, sempre que ele trocava de namoradas. Tudo mudou na universidade. Certo dia, ele e um colega tiveram um duplo encontro. Kieślowski deveria se encontrar com uma garota que ele já gostava e era para ela para trazer uma amiga. Mas durante o encontro, tudo mudou. Maria Cautillo, a moça trazida para entreter o colega, foi a que chamou a atenção de Kieślowski. Depois de duas semanas, ele propôs casamento. Maria Kieślowska foi sua esposa até que a sua morte.


Após o sucesso do filme "Krótkiego filmu o miłości" (Filme curto sobre amor), e depois dos filmes “Trzy kolory: Biały (Três Cores: Branco), atrizes de todo o mundo sonharam atuar em seus filmes. Catherine Denevue queria trabalhar sem receber cachê, apenas para poder atuar em “Trzy Kolory: Niebieski” (Três Cores: Azul).
E entre aquelas que se orgulhavam de ter se fascinado pelo cinema de Kieślowski estava Nicole Kidman.


Kieślowski-ator

Kieślowski como guerrilheiro em "Stawce większej niż życie" de Janusz Morgenstern - Foto Fototeka Filmoteki Narodowej
Quando começou a estudar na Escola Superior de Cinema de Łódź (pronuncia-se uudji e não lóds), ele não apenas fez assistência a outros diretores, mas criou seus próprios filmes curtos. De vez em quando ele ficava na frente da câmera para atuar em episódios.

Em seu próprio “Koncert życzeń” (Concerto dos Desejos), ele interpretou um ciclista pastoreando uma vaca, no filme de Ewa e Czesław Petelski, “Don Gabriel”, ele foi um soldado.
Sua carreira de ator terminou com um papel em um episódio de “Przepraszam, czy tu Biją? (Desculpe-me, aqui brigam) de Marek Piwowski.



Documentário - O mundo em uma gota de água

Na Escola de Cinema teve três deuses: Bresson, Bergman, Karabasz – tal qual aparecia esta tríade. O mais próximo a ele foi Karabasz, professor na Escola de Cinema de Łódź, eminente documentarista e pedagogo.

Durante a exposição, "Krzysztof Kieslowski. Traços e Memória", em um Cinema de Paris - MK2 Bibliothèque, foram mostradas fotografias tiradas pelo diretor enquanto estudava na Escola de Cinema de Łódź nas "fotografias da cidade".  Exposição retrospectiva que acompanhava os criadores de cinema aconteceu de 29 de agosto a final de setembro de 2012.
Ele ensinou Kieślowski que, a fim de ser capaz de fazer filmes, você tem que ter o seu próprio mundo para contar. O mundo ao redor era muito triste – recordou Kieślowski no documentário de Krzysztof Wierzbicki - o mesmo não era preto e branco, apenas preto. Talvez cinza. Isso está ligado ao local onde a Escola de Cinema está localizada, ou seja, Łódź.
A cidade é incrivelmente fotogênica, suja, arranhada. Assim é toda a cidade, então, em algum sentido - o mundo todo. O rosto das pessoas eram iguais aos muros e paredes da cidade - cansado, triste, com algum tipo de drama em seus olhos, o drama de sentir o absurdo, o sentimento rastejando, o que resulta em nada.

"Em documentários ele descreveu esses micromundos comunistas, mostrando pessoas comuns em suas vidas ordinárias. Aqueles eram mundos em gotas de água. “Szkoła podstawowa” (Escola Primária) , “Szpital” (Hospital) , “Fabryka” (Fábrica), Urząd (Órgão Público) - a partir desses pequenos pedaços de realidade Kieślowski montou a imagem verdadeira do mundo da República Popular da Polônia."



"Cartas ao Poder"

Após a Escola Superior de Cinema, ele começou a trabalhar para o “Wytwórnia Filmów Dokumentalnych na Chełmskiej” (Estúdio de Filme Documentário na rua Chełmska”, em Varsóvia. Ali realizou a “Kroniki Filmowe” (Crônicas fílmicas). Este foi o lugar onde ele conheceu Jacek Petrycki, um jovem cinegrafista, que mais tarde se tornaria seu colaborador mais próximo. Embora, ele mesmo nunca tivesse se envolvido na política diretamente, descreveu a realidade, revelou as mentiras do sistema comunista. Essas foram “cartas ao Poder" – disse Tomasz Zygadło sobre seus filmes.

Kieślowski constantemente equilibrado sobre a fronteira entre o que as autoridades permitiam, e o que era censurado. “Estávamos com medo de cair em desgraça e caímos o tempo todo." – lembrou ele anos mais tarde.

"Você fez do cara um cretino bom"- Fim dos Documentários


Um documentário fundamental em seu trabalho foi “Z punktu widzenia nocnego Portiera” (do ponto de vista do porteiro da noite). Nele capturou o totalitarismo em miniatura. A história de um porteiro, que deleita-se na glória de seu "poder", era uma acusação aberta à um sistema que desmoraliza a pessoa.
Kieślowski se tornou amigo de seu protagonista e anos mais tarde lançou-o em partes episódicas em vários papéis pequenos. "Bem, você fez do cara um cretino bom" – disse Agnieszka Holland sobre Kieślowski quando o filme foi exibido no Festival de Cinema de Cracóvia.

Olhando para o comportamento do protagonista, o público estourava em risadas de vez em quando, e Kieślowski afundava-se mais e mais em sua poltrona. Seu filme não tinha sido feito para ser uma comédia . "Eu acho que é onde tudo começou - ele parou de fazer os documentários que queria" – comentou o ator Jerzy Stuhr sobre os acontecimentos daquela noite. Ele próprio contou sobre sua decisão de deixar o cinema documentário:

“Por dez anos eu fiz documentários. Eu amei o gênero e foi com pena e vergonha que eu abandonei isso, eu me senti como um ser humano que está fugindo de um navio afundando em vez de salvá-lo ou ir para baixo com ele com honra. O documentário afundou. Ele desapareceu com a falta de interesse geral.”

Marceneiro


Gostava de fazer peças de marcenaria. Seus colegas dizem que em todos seus momentos livres, quando não estava preocupado com suas “namoradas", ele gastava o tempo em lojas a procura de parafusos, rolamentos de motocicleta, ferramentas.
"Graças a ele, todos seus amigos conheceram lojas de autopeças em Varsóvia", disse Janusz Skalski, um velho amigo de Kieślowski.
Relembrando sobre o talento do diretor, Krzysztof Piesiewicz (roteirista, advogado, senador), amigo e sócio disse:




"Ele sabia como desmontar e montar um relógio. Desmontar e montar uma motocicleta. Desmontar um motor e colocá-lo novamente para funcionar. Quando eu tinha algum tipo de trabalho de casa para ser feito, ele chegava com sua caixa de ferramentas e já ia ajustando todos os parafusos, porcas, lustres, ele arrumava todas as fechaduras das portas."

Seus amigos ficavam felizes com a ajuda de Kieślowski nos pequenos trabalhos caseiros. Sławomir Idziak até brincou: "Muitas pessoas tinham uma estratégia quando se tratava da prontidão de Kieślowski para consertar coisas, eles começavam a mexer no carro na sua presença sabendo em um momento qualquer, Krzysztof diria a eles para se afastar e consertava o que era necessário".

Carpintaria era seu hobby. "Eu gosto de trabalhar com madeira", disse ele no documentário de Krzysztof Wierzbicki . "Infelizmente eu não tenho talento para isso. Eu provavelmente já fiz mais de cem coisas de madeira, coisas úteis, simples que requerem ângulos retos. E eu ainda não consegui fazer um único ângulo reto".

Estações Ferroviárias

Fotograma do filme "Przypadek". Bogusław Linda -  Foto: Filmoteka Narodowa / www.fototeka.fn.org.pl
Elas apareceram na maioria de seus filmes. Os protagonistas constantemente se despedem em saudações nas plataformas das estações, este é o lugar onde o destino de alguns deles foi decidido: o futuro para alguns e liberdade, ao som da partida trens, para os outros. Quando jovem, ele viajou muito pela Polônia e classificou os melhores bares de estação ferroviária. Ele sabia onde você podia encontrar os melhores “schnitzels” e em quais restaurantes tinha as costeletas de carne picada (kotlety mielone).

Na cena de  "Przypadku" comTadeusz Łomnicki e Bogusław Linda - Foto; Romuald Pieńkowski
 / Fototeka Filmoteki Narodowej
Mas em um certo momento as estações de trem, tornaram-se sua maldição. No programa de TV “100 pytań do” (100 Perguntas Para) ... , disse ele: “Eu gosto de viajar de trem [ ...] Mas, horrível, não gosto de fazer fotos nas estações de trem, não gosto de cenas com animais e crianças. Enquanto isso, ultimamente, o que quer que faça com Piesiewicz sempre há uma estação, um trem, crianças e animais.”

Sedução Partidária

Quando ele filmou “Robotnicy 71” ( Trabalhadores 71), o triste retrato coletivo da classe trabalhadora, os membros do partido comunista decidiram que a obra não estava apta a ser mostrada para o grande público, mas, por outro lado, mostrava Kieślowki interessado na política. Ele, então, deveria ser orientado politicamente e queriam dar-lhe uma formação no modelo comunista. Em vão.

“Życiorys” (Currículo) é um filme feito em parte a pedido do partido. Tadeusz Sobolewski, crítico e conhecedor da obra de Kieślowski, comentou: “Ele fez o filme a quatro mãos junto com os líderes comunistas, os quais contavam usá-lo, uma vez pronto, com objetivos de propaganda. Mas o filme de Kieślowski foi absolutamente outra coisa. Porque Kieślowski todo tempo retratava seu modo de fazer as coisas - ele não renegava sua independência, e nem se deixava ser levado pela pressão da oposição, que na época atingiu uma grande parte das pessoas à sua volta.” 

"Lágrimas do bardo do Partido"

Quando ele faleceu, as pessoas do mundo cinematográfico teceram elogios intermináveis a seu respeito. Mas ele, nem sempre foi bem compreendido por seu meio. Seus amigos ironicamente o chamava de " Lágrimas do bardo do Partido", lembrou Agnieszka Holland. Tinham sobre ele a ideia de que "colaborava" com o sistema, que ele se recusava a aceitar numa carta de protesto , onde assinava que não fazia filmes sobre o Solidarność, mas somente sobre pessoas que desejam um pouco de estabilidade: casa, família e o suficiente para viver.

Com Jerzy Nowaki na cena de "Amatora" -  Foto: Romuald Pieńkowski/ Fototeka Filmoteki Narodowej
Lá, onde eles esperavam uma narração preto e branco, ele via ambiguidade. Em uma das cenas de “Amatora”(Amador), ele deu razão aos comunistas, no que ele foi criticado pelo meio cinematográfico. Quando em “Bez Końca” (Sem fim), o advogado interpretado por Aleksander Bardini convenceu um membro da oposição a abandonar a rebelião vazia contra o regime e salvar a sua liberdade, Kieślowski foi atacada por todos os lados: pela oposição, pelas pessoas do seu meio profissional, pela Igreja e pelos comunistas, que não apreciaram o significado geral do filme. Mesmo alguns de seus amigos pararam de lhe dar a mão.

Política

No cenário de  "Krótki film o zabijaniu", 1987.  Krzysztof Kieślowski - Foto: Filmoteka Narodowa/www.fototeka.fn.org.pl
Interessavam-lhe retratar pessoas comuns, e não os grandes da política. Ele não tentava dizer quem estava certo e quem estava errado. Como diretor, ele tentou ser como o anjo do “Dekalog” (Decálogo), - Observador cheio de empatia e compreensão. Mas da política, nada lhe escapava. Ele falou sobre isso, a seu próprio modo, evitando diagnósticos fáceis e fervor revolucionário.
Quando ele estava começando o “Decálogo”, não conseguia encontrar um cinegrafista, porque todo mundo ao redor alegava que após os acontecimentos de 13 de Dezembro, as pessoas só deveriam fazer filmes sobre Solidariedade, o comunismo e imprensa clandestina.

No entanto, os acontecimentos políticos influenciaram seus filmes. “Przypadek” (Casualidade) e “Krótki dzień pracy” (Dia curto do Trabalho) foram sua reação ao fenômeno do Solidariedade , “Bez Końca” (Sem fim) – era uma resposta à imposição da lei marcial . A morte do protagonista interpretado por Jerzy Radziwiłowicz, do memorável “Człowiek z marmuru” (O Homem de Mármore) do filme de Andrzej Wajda, era a morte simbólica de um determinado pensamento.

Moscou, 1979. Krzysztof Kieślowski (terceiro a partir da esquerda), no Kremlin,  brinda com os amigos com o sucesso de seu filme "Amador". Entre os convidados Wojciech Marczewski, Krzysztof Mętrak - Foto de Jerzy Kosnik / Fórum
Após a Lei Marcial, ele disse que já não estava interessado em filmar. Talvez, porque a lente da câmara, seria como apontar uma metralhadora, e ela sozinha iria ser tratada como arma na luta: "se uma metralhadora poderia ser colocado na lente da câmera e ela poderia ser usada como uma arma na luta armada. Ao mesmo tempo, ele se recusava a assinar cartas de protesto." 

“Política é atroz. A única coisa que me interessa é ter papel higiênico para quando eu for ao banheiro”. Disse a seu aluno Andreas Veiel.
 

Mundo invisível, ou um elefante em Głupczyce

Fotograma do filme "Duże zwierzę" de Jerzy Stuhr segundo roteiro de Krzysztof Kieślowski
“Quando eu tinha seis anos, eu vi um elefante na rua. Eu tenho certeza que eu o vi. Mais tarde me explicaram que isso era impossível, que eu não vi um elefante, porque onde haveria de ser ver um elefante no mercado em Głupczyce.”


Lembrou essa história, quando perguntaram a sobre a fonte do “misticismo" em seu cinema. Ele acreditava no segredos.
Ele estava angustiado com o fato de que o mundo sensível em que vivia não era tudo o que havia, de que existia algo além dele.
Esse sentimento de transcendência não foi o resultado da leitura das obras de filósofos ou descobertas cinematográficas, mas o acompanhou desde que era menino, um menino que viu um elefante no mercado de uma cidadezinha provincial.
Essa situação também deu origem à ideia do roteiro de “Dużego zwierzęcie” (Grande animal), o qual foi filmado depois de sua morte por Jerzy Stuhr.

Poster


Kieślowski escrupulosamente escolhia os autores de seus cartazes. Ele dava muita liberdade para aqueles em quem ele podia confiar.

No final dos anos 80 ele escreveu,

“Não importa quem faz o cartaz. Há alguns que eu confio - se ele fez o cartaz, eu tento conseguir o ingresso. Em outros eu não confio – Para mim tudo dá na mesma, o que eles gostam. Nesse sentido, o autor de um cartaz se torna um co-autor do filme. Por último dei lhe liberdade.” 


"Você faz cartazes, eu faço filmes, você não se mete com meus filmes, então por que eu deveria me meter com seus cartazes?" - Ele perguntou retoricamente a Pagowski, o criador regular dos cartazes da maioria dos seus filmes.












Ocidente

Krzysztof Kieślowski, Irene Jacob e Marin Karmitz na premiere do filme "Trzy kolory: Czerwony"
, Festiwal Cannes, 1994 - Foto: Jerzy Kośnik - Forum
Após o sucesso do “Decálogo”, foi regularmente convidado para os maiores eventos cinematográficos. Mas ele nunca se sentiu grande amor pelo Ocidente. “Onde quer que seja que eu estava no exterior”, ele costumava dizer:
“Eu sempre me sinto como um estranho e eu sempre me sinto mal. E para ser honesto, eu sempre quero voltar para casa o mais rápido possível”. Hollywood nunca o atraiu. “Na América, há algo que simplesmente não é para mim" - disse ele. Isto é conversa sobre nada e bom, decididamente bom, e mesmo de muito bom humor. Eu me encontro com meu agente americano e eu lhe pergunto: “como você está?”. Ele sempre diz: “muito bem”. Nunca pode ser “ok” ou “bem”. Tem que ser “extremamente bem”. Eu, por outro lado, não estou "extremamente bem”. E em geral eu não estou mesmo “bem”. Simplesmente: “estou mais ou menos”.

Pessimismo

Ele sempre viu o copo meio vazio. “Eu tenho um bom traço de caráter que consiste em me ser um pessimista” - disse ele em tom de brincadeira . “Eu sempre imagino o pior. O futuro é para mim um buraco negro. Se há algo que eu tenho medo, é o futuro."

Deus? Estímulo!


Ele raramente falava sobre suas próprias convicções religiosas. Quando, após a estreia de “Bez Końca” (Sem fim), Krzysztof Klopotowski num exame para um semanário católico escreveu, que Kieślowski não era católico e alertou o público para não se enganado por sua metafísica, ele se sentiu particularmente ofendido.
Anos mais tarde, ele transformou em piada, mas sempre se sentiu como uma pessoa que não pertencia à comunidade eclesiástica, aos dogmas e respostas simples a questões escatológicas.
Em meados dos anos noventa em uma entrevista para a televisão francesa, ele foi perguntado: "Se o senhor, criador do – Decálogo - morresse e fosse para o céu, o que achas que Deus iria dizer sobre isso?" Ele respondeu: "Porque se eu estivesse lá, eu teria que dizer: Acorda! Olhe o que está acontecendo!"

Transcrito de culture.pl
Autor: Bartosz Staszczyszyn,
traduzido por Ulisses Iarochinski 08.01.2014

Fontes:
- Krzysztof Kieślowski, "Autobiografia", coordenadora Datuna Stok, Kraków 2006 r.
- Stanisław Zawiśliński [redator], "O Krzysztofie Kieślowskim: refleksje, wspomnienia, opinie", Warszawa 1998 r.
- Stanisław Zawiśliński, "Kieślowski: ważne, żeby iść", Warszawa 2005 r. - Mikołaj Jazdon, "Dokumenty Kieślowskiego", Poznań 2002 r.
- “Krzysztof Kieślowski: I'm So-So", diretor Krzysztof Wierzbicki
- “Still alive. Film o Krzysztofie Kieślowskim", diretora Maria Zmarz-Koczanowicz

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O pão e o sal na tradição polaca

O pão e o sal estão realmente estão profundamente enraizados na tradição e cultura polaca. Como significado principal eles representam o alimento básico, usado para fornecer vida e proteção.
O pão e o sal - como base alimentar são a essência da vida. De acordo com as crenças populares possuem extraordinárias propriedades vivificantes de proteção, de purificação, bem como mágica.
Nas tradições e costumes dos polacos eles ocupam espaço equivalente. O pão era considerado um elemento santificado e para os cristãos se tornou um símbolo maior, pois representa , de fato, o corpo de Cristo.
Além de servir como elementos de recepção, de hospitalidade nas casas polacas, eles são usados também, nas cerimônias de casamento. Depois do noivo já ter ido para a igreja, a mãe da noiva coloca um pedaço de pão diante dos cavalos que puxam a charrete que levará a noiva até a igreja.
Terminada a cerimônia, o jovem casal é coberto à saída da igreja com a aspersão de sal pelos convidados. O ato representa proteção contra feitiços e encantamentos.

Mas ainda durante a cerimônia, diante do altar, os noivos recebem o pão e o sal para serem colocados sobre o peito, perto do coração. Isto é feito como um sinal de respeito para os maiores dons de Deus, e para que sua casa nunca venha a passar pela fome. E assim, de geração em geração, começou a ser transmitida a crença de que o ritual do pão e do sal trazem felicidade, prosperidade, luz e sabedoria para o jovem casal.

O sal particularmente, segundo essas mesmas tradições é é um símbolo de permanência no relacionamento do casal. Segundo Oskar Kolberg o pão na tradição rural polaca é o alimento mais importante da culinária. Na tradição e costumes polacos os pães sempre foram usados em ritos que marcam nascimento, casamento ou féretros.

O mais famoso sempre foi o pão de casamento, ou um bolo feito com a melhor farinha, ricamente decorado com figuras e animais de estimação. Este tipo de pão simbolizava a vida e fertilidade. Assados na forma de pequenos bolos, ou rolos de formas geométricas, plantas ou conjunto de animais são dados aos convidados do casamento, especialmente para crianças. Há também o pão oferecido durante o festival da colheita, como uma forma de agradecimento pela colheita. Colocados em berços de crianças recém-nascidas, ou colocado no assento sobre o qual fica o caixão com o falecido. Pão este que deve ser posto ali por um mendigo. Acreditava-se que desta forma a alma do falecido realmente deixaria os limites do mundo humano.

Korowaj
O bolo de casamento “Korowaj” é um pão ritual, uma espécie de pão arredondado, ricamente decorado com ramos, fitas eflores de papel de seda. Conhecido em todas as culturas eslavas. Na Polônia é mais conhecido nas regiões de Lublin, Podlaska, Suwalki e parte da Mazóvia.
Assar o korowaj já faz parte do ritual de casamento. Donas de casa são selecionados, geralmente as mais respeitadas, bem como parentes da noiva. As etapas específicas: preparar a massa, dar o formato redondo, colocar e retirar da fornalha são regidas por regras rituais específicas, todas as fases são acompanhadas por cantos rituais.
Como regra principal o pão para o casamento deve ser assado apenas uma vez, de modo que é importante que o bolo tenha sido feito assim, pois revela um bom presságio de uma vida feliz e próspera para o jovem casal. O corte e a divisão do korowaj é um dos momentos culminantes do casamento, deve ser acompanhado por cantos e brincadeiras.
Historicamente também são atribuídas ao pão e sal propriedades mágicas de proteção e vida longa. Por esta razão, acompanham praticamente a vida dos polacos desde o nascimento.
No batismo da criança é colocado sob os pés dela um pedaço de pão e um pouco de sal. Este é um alerta contra malefícios. Por sua vez, o sal no simbolismo cristão era usado durante o batismo significando a purificação do pecado original e libertação do poder de Satanás.
Em muitas regiões da Polônia, as mulheres casadas usam na blusa (ou camisa) miolo pão e sal costurados nas dobras da peça, o que segundo a tradição garante um nascimento bem sucedido e uma criança de comportamento saudável.
Aqui uma letra de música tradicional sobre pão e sal:

Myślałem, że to będzie wielki bal Już kalendarz czas mi skradł Ty włożyłaś suknię białą Ja garnitur i się stało I się stało, to co miało się stać.
ref. Ten chleb jest Twój i mój na całe życie już będziemy dzielić się nim bo cóż nas los tak bardzo chciał 2x
Tam gości nas wita wielki tłum i podają nam chleb i sól Sto lat życia nam winszują I za zdrowie nasze piją I się bawią, i się bawią całą noc.
ref. Ten chleb jest Twój i mój na całe życie już będziemy dzielić się nim bo cóż nas los tak bardzo chciał 2x
Ten chleb jest twój i mój na całe życie już Będziemy dzielić się nim Bo cóż nasz los tak bardzo chciał
ref. Ten chleb jest Twój i mój na całe życie już będziemy dzielić się nim bo cóż nas los tak bardzo chciał 2x
Witamy was chlebem i solą i dajemy go wam na nową drogę życia. Nieście go z czcią, szacunkiem i nigdy, nigdy go wam nie zabrakło.
ref. Ten chleb jest Twój i mój na całe życie już będziemy dzielić się nim bo cóż nas los tak bardzo chciał 2x
Od tej pory już minął prawie rok Wciąż kłopotów przybywa i trosk. Lecz ten chleb i sól nas trzyma I ten dzień nam przypomina, który wspólnie uwiliśmy tak.
ref. Ten chleb jest Twój i mój na całe życie już będziemy dzielić się nim bo cóż nas los tak bardzo chciał

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Mestres polacos na 32ª Oficina de Música de Curitiba

A Oficina de Música de Curitiba em sua 32ª edição ininterrupta, acontece de 5 a 26 de janeiro, levando às salas de aula mestres consagrados nos cenários nacional e internacional. Serão 100 professores vindos de todo o Brasil e de 15 países como Suíça, Portugal, França, Itália, Alemanha, Estados Unidos, Chile e Argentina, responsáveis por 107 cursos nas fases erudita e popular. Já estão previstos aproximadamente 80 espetáculos, levando ao público o talento de artistas brasileiros e de várias partes do mundo. A programação completa pode ser conferida no site www.oficinademusica.org.br.

Neste edição, estarão presentes três músicos polacos reconhecidos internacionalmente: No fagote barroco Tomasz Wesołowski; na flauta Malgorzata Wojciechowska  e no piano Magdalena Lisak.


Fagote polaco
O músico Tomasz Wesołowski é de Gdańsk, na Polônia.
Formou-se Academia de Música da cidade, com bolsa de estudos da prefeitura (2002/03) e da Fondazione Marco Fodella (2007/08). Ali estudou fagote moderno com Wojciech Orawiec.
Nos anos 2004-08, estudou fagote histórico  no Conservatório Real de Haia e na Accademia Internazionale della Musica em Milão.
Wesołowski colabora com muitos grupos e orquestras na Polônia  ( Varsóvia, Cracóvia, Wrocław),  e no exterior (Amsterdam e Freiburg).
Ele ensina fagote histórico na Hochschule für Musik, em Frankfurt am Main e na Academia de Música de Poznań. Também leciona nas oficinas de verão em Lidzbark, Sopot e Varsóvia.
A partir de 2004, Wesołowski foi estudar fagote histórico com Donna Agrell e dulcian com Wouter Verschuren no Royal Conservatoire em Haia, e mais tarde com Alberto Grazzi na Accademia Internazionale della Musica em Milão.
Wesołowski já tocou com Les Musiciens du Louvre, B'Rock, Orquestra Barroca de Friburgo, Orquestra Barroca de Amesterdam, Les Talens Lyriques, Bach Collegium Japan, Le Cercle de l'Harmonie, Holanda Baroque Society, Anima Eterna, Holanda Bach Society, Orquestra Barroca Wrocław, Arte Dei Suonatori, Warsaw Chamber Opera, Capella Cracoviensis.
Já gravou CDs para Channel Classics, naïve, Alpha, BIS, ORF Edition Alte Musik, Brillant Classics e DUX.
Wesołowski se apresenta na Oficina no dia 9 de janeiro, quinta-feira, na Capela Santa Maria, às 20h30, no Concerto dos Professores de Música Antiga.

Palestra e programa
Musica Barroca Italiana do século 17 e Haendel na Itália

Pré-concerto às 19h45,
palestrante – Marco Aurélio Koentopp
Programa - Obras de Marco Uccellini, Antonio Bertali, Biagio Marini, Francesco Turini, Tarquínio Merula, Antonio Vivaldi, Giuseppe Torelli e Georg Friedrich Haendel
Professores:
Maria Cristina Kiehr - soprano,
Rodrigo del Pozo - tenor,
Malgorzata Wojciechowska - flauta,
Diego Nadra - oboé,
Tomasz Wesołowski – fagote,
Robert Farley – trompete,
Rodolfo Richter e Nicholas Robinson – violinos,
Claire Fahy – viola,
Juan Manuel Quintana - viola da gamba,
Phoebe Carrai – violoncelo,
Paolo Zuccheri – violone,
William Carter - teorba e guitarra barroca,
Luca Guglielmi - cravo

E também se apresentam no dia 10 de janeiro, sexta-feira, às 12h30, na Igreja Comunidade do Redentor, no concerto "Recital de Música de Câmara Barroca - Vivaldi e seus contemporâneos" 

Programa: Obras de Antonio Vivaldi, Domenico Scarlatti e Jan Dismas Zelenka Professores
Malgorzata Wojciechowska - flauta,
Diego Nadra – oboé,
Tomasz Wesolowski - fagote,
Rodolfo Richter e Nicholas Robinson – violino,
Phoebe Carrai – violoncelo,
William Carter - teorba e guitarra barroca,
Luca Guglielmi - cravo

Ainda no dia 10 de janeiro, sexta-feira, às 20h30, na Capela Santa Maria, "Música de Câmara". 

Pré-concerto às 19h45, palestrante – Marco Aurélio Koentopp
Christian Wetzel - oboé,
Volker Tessmann - fagote,
Fabio Zanon – violão,
Magdalena Lisak – piano

Programa - Alessandro Besozzi - Duetto for Oboe and Bassoon - Peça para fagote solo (a anunciar), Ferdinand Rebay - Sonata nº 1 para oboé e violão, em Mi menor, Henri Dutilleux - Sarabande et Cortege para fagote e piano, Francis Poulenc - Trio para oboé, fagote e piano, FP 43

A flauta polaca

Malgorzata Wojciechowska estudou flauta moderna na Academia de Música de Lódź (Polônia) e flauta traverso barroca no Conservatório Real de Haia (Holanda), na classe de Wilbert Hazelzet, onde se especializou na interpretação de música antiga.
Participou de muitos cursos, sob a orientação de Barthold Kuijken.
De 1989 a 1992, tocou com a orquestra barroca "Collegium Europae", sob a direção de Wieland Kuijken.
Apresentou-se como solista com a maioria dos grupos poloneses de musica antiga, que executam a música barroca e clássica em instrumentos de época, entre eles National Philharmonic e Wratislavia Cantans.
Realizou várias gravações para a Rádio Polaca e também atuou diversas vezes como solista em concertos da Academia Internacional de Música Antiga, em Wilanów (Polônia), transmitidos para as estações de rádio europeias, como parte do festival de verão da Rádio Europeia da EBU.
Desde 1992 tem comandado cursos nessa Academia. Coopera com a Ópera de Câmara de Varsóvia e com a Academia de Música de Cracóvia, onde desde 1999 tem conduzido a classe de Flauta Traverso Barroca.

O piano polaco

Magdalena Lisak nasceu em Katowice (Polônia) e obteve os maiores prêmios em competições de seu país, sendo vencedora do 13º Concurso Internacional de Piano Chopin, em Varsóvia, e prêmio para a melhor execução das obras de Szymanowski no 3º Concurso Internacional de Karol Szymanowski, em Lodz. Além disso, foi semifinalista do Concurso Géza Anda, em Zurique (Suíça). Concluiu seus estudos na Academia de Música de Katowice, com Andrzej Jasinski, estudou nos Conservatórios de Zurique e Basileia (Suíça) com Krystian Zimerman, aperfeiçoou-se com Leon Fleisher e membros do Quarteto Amadeus. Tocou em salas de concertos como Hitomi Memorial Hall (Japão), Stadt-Casino (Suíça),
Filarmônica Nacional de Varsóvia (Polônia) e Rudolfinumin (República Tcheca). Participou de festivais de Chopin em Duszniki (Polônia), Nohant-La Châtre (França), Mariánské Láznê (República Tcheca), Miami (EUA), Genebra (Suíça) e do Festival "Chopin e a sua Europa", em Varsóvia.
Gravou para Deutscher Rundfunk, Rádio Suisse Romande, Rádio e Televisão Polaca e a gravadora DUX. Realiza recitais e concertos com orquestras e música de câmara em países da Europa, Américas e Ásia.
Como solista foi regida por K. Kord, T. Strugala, T. Bugaj, M. J. Blaszczyk, J. Salwarowski, M. Caldi, A. Duczmal, J. Mercier e R. de Leeuw. Tocou com a Orquestra de Câmara da União Europeia e com a Orquestra de Câmara Torun (Polônia), sendo convidada pelo National Institute Fryderyk Chopin em Varsóvia, para tocar e gravar as obras de F. Chopin em um piano Erard, instrumento histórico, com o conjunto Il Giardino Armonico, sob a direção de Giovani Antonini.
Fascinada pelas tendências da música no século 21, apresentou-se nos festivais de Silesian Days of Contemporary Music, em Katowice, Festival Internacional de Música Contemporânea, em Cracóvia, International Festival Laboratory of Contemporary Music, em Varsóvia e Bialystok, e no Varsóvia Autumn.
Realiza projetos artísticos dentro Sociedade de Música de Silésia (Polônia), da qual é fundadora e presidente. Atua como professora assistente da Karol Szymanowski na Academia de Música de Katowice, pela qual recebeu o doutorado em Artes.
Magdalena Lisak integrou os júris das 12ª e 13ª edições do Concurso Internacional de Piano Chopin na Ásia, em 2010 e 2011, e da pré-eliminação do 15º Concurso Internacional de Piano Chopin em Varsóvia, em 2010.


Concerto final com a participação dos músicos polacos
Domingo, às 19h00, na Capela Santa Maria.

ORQUESTRA E CORO BARROCO DA OFICINA
Música Barroca Italiana em Veneza 1715 a 1720 e sua influência no exterior Pré-concerto às 18h15, palestrante – Marco Aurélio Koentopp
Programa - Obras de Antonio Vivaldi, Francesco Veracini e Georg Philipp Telemann
Professores -
Diego Nadra e María Ximena Camelo Ortiz – oboés,
Tomasz Wesołowski – fagote,
Robert Farley – trompete,
Rodolfo Richter e Nicholas Robinson – violinos,
Phoebe Carrai - violoncelo
Regente - Jeffrey Skidmore


Além dos concertos os três serão professores em cursos de seus instrumentos, ministrados nas salas da Universidade Tecnológica Federal do Paraná durante a realização das oficinas de música clássica e antiga. 

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Cracóvia não é só para um dia

Texto: Ulisses Iarochinski
A cidade mais bela da Polônia, também é o mais importante centro cultural das Europa Central e do Leste. E isto não é frase de efeito. É a mais pura verdade.

Cracóvia experimenta nos últimos cinco anos um crescimento vertiginoso de turistas do mundo inteiro.
De 500 mil turistas recebidos em 2002, Cracóvia ultrapassou a barreira dos 5 milhões de turistas no ano de 2005. E este número só vem aumentando, muito em parte devido à entrada do país na União Europeia, em maio de 2004, e da morte do Papa João Paulo II em abril de 2005.

Cracóvia vista aérea cortada pelo Rio Vístula
Praticamente invadida nos meses de maio a setembro por uma avalanche de mais de 8 milhões de turistas no último verão europeu. A maioria deles, entretanto, vindos em excursões de agências de viagem, dentro de pacotes turísticos que incluem Budapeste, Viena e Praga.

Infelizmente, estes turistas perdem o melhor da cidade, pois passam apenas algumas horas em caminhadas pela praça central e castelo real e vão embora desconhecendo os verdadeiros encantos da cidade.

Para vir a Cracóvia é preciso muito mais do que algumas horas, é preciso viver a atmosfera da cidade medieval, da cidade do período romântico, do período das revoltas contra a ocupação austríaca de 127 anos.
Isto é conhecer Cracóvia.

História marcante
Historicamente ela foi responsável pela reunificação do reino polaco, dividido após a morte do rei Bolesław (Boleslau) III, em 1138, com rei Władysław (Ladislau) I que em 1306, a transformou na capital do Reino da Polônia. Seu apogeu ocorreu no período dourado do Rei Kazimierz (Casimiro) - O Grande - entre os anos de 1333 a 1370.

Catedral e Castelo real da colina de Wawel
De capital da Polônia, ela passou a ser também o maior centro cultural e científico do Renascimento. No período de Casimiro foi criada a Academia de Cracóvia, precursora da Universidade Iaguielônica (Uniwersytet Jagielloński), onde concluíram doutorado Nicolau Copérnico e Karol Wojtyła.

Collegium Nowum da Uniwersytet Jagielloński
Com o reinado da filha de Casimiro, Jadwiga (Edwirges - padroeira da União Europeia e santificada por João Paulo II), Cracóvia se tornou também a capital do maior império da Europa daqueles dias. O casamento da última representante da Dinastia Piast com o Duque da Lituânia, Iaguielo, simbolizou a criação do Grande Reino Unido Polônia Lituânia.

Pátio interno do Collegium Maius da Universytet Jagielloński
Reino que estendeu seus domínios do mar Báltico no Norte, ao mar Negro no Leste da Europa.
Mas os dias de poderio de Cracóvia acabaram em 1596, quando o rei eleito, Władysław (Ladislau) IV, príncipe sueco da Dinastia Wasa, transladou a capital da monarquia parlamentarista da Polônia-Lituânia para Varsóvia.
Apesar da mudança, a catedral do Castelo Real de Wawel continuou sendo a Cripta Mortuária de todos os reinos polacos. A cripta ao receber também os restos mortais de heróis da história, transformou-se em panteão da pátria polaca.

Sarcófago em mármore da Santa Rainha Jadwiga (Edvirges) na Catedral de Wawel

Uma cidade que pulsa
Mas não é só essa história latente que a cidade tem para contar e mostrar. Se no ano 2000 existia na cidade apenas um Albergue da Juventude, denominado “Schronisko”, e os polacos desconheciam a palavra Hostel, desde o primeiro semestre de 2006 surgiram mais de trezentas destas pousadas na cidade, acompanhadas de luxuosos hotéis cinco estrelas.

O número de bares e restaurantes deu um salto vertiginoso. Para se comer um bom “pierogi”, um “bigos” ou uma sopa de cogumelos silvestres numa tigela de pão, nada como os restaurantes “UBabcia Maliny”, “Chłopskie Jadło” e “Bar Mleczny”.
Restaurante U Babci Maliny - ulica (rua) Sławkowska 17
Restaurante Chłopskie Jadło - ulica (rua) św. Agnieszki 1
Bar Mleczny - ulica Grodzka, 43 - restaurante subsidiado com os menores preços
Pierogi ruskiej - pastéis cozidos com recheio de ricota e pure de batata
Zupa z grzybami - sopa de cogumelos secos
Bigos - cozinho de repolho com carnes
Sanduíche polaco típico - Zapiekanka -
meia baguete com cogumelos secos, queijo, creme de tomate e salsinha
Pączek - sonho com recheio de geléia de broto de rosas 
Makowiec - recambole com recheio de sementes de papoula
Kremówka - folheado de creme / Doce preferido do Papa João Paulo II
As cervejas polacas - as mais antigas do mundo
Vodcas polacas - wódki polskie
As mercearias e pequenas lojas que haviam transformado o panorama da cidade comunista em capitalista foram rapidamente sendo substituídas por lojas de grandes marcas mundiais como Puma, Malboro, Sephora e Zara.

A cidade guarda uma raridade

Se o Louvre de Paris tem a Madona Gioconda, o Czartoryski de Cracóvia tem a Madona Cecília Gallerani e seu Arminho.

A Madona e o Arminho - Leonardo da Vinci
Esta madona é um dos ícones gráficos da cidade junto com o dragão.
Depois, ou antes, do museu, é preciso passar algumas horas no Rynek Główny - a Praça do Mercado Central, pois ela certamente é o símbolo da Cidade, colorida e cheia de vida.

Há oito séculos, na Sukiennice (mercado do tecido na praça central), se vende roscas típicas, lembranças, e o melhor do artesanato do país. Pode-se comprar ali o que se desejar.

Rynek Główny  e Sukiennice - Praça do Mercado Central
e prédio do Mercado de tecidos - Museu Nacional
Cópias dos quadros “O tributo prussiano” de Jan Matejko, “O panorama do piedoso samaritano” de Rembrandt, a “Madona e o Arminho” de Da Vinci, o “Altar” de Veit Stoss.

Milenarmente Cracóvia é a cidade das artes por excelência. Por isso Cracóvia tem algo de excepcional. Aqui, pode-se descansar, aqui pode-se permanecer e beber muita cerveja polaca, além de brindar com a palavra “zdrowia”, com a verdadeira vodca.

Mariacka - Basílica de Santa Maria e estátua de Adam Mickiewicz
Na mesma praça está a basílica Santa Maria, curiosa com suas duas torres diferentes, ambas construídas por dois irmãos.

Ah, sim! Também há o famoso toque do trompete. Um dos guardiões ao dar o toque de alarma que os tártaros chegavam foi ferido na garganta por uma flecha. Por isto a melodia executada a cada hora na torre mais alta recorda aquele guardião da muralha.

Visite os arredores Não bastassem os museus, os teatros, os bares, os pubs têm tudo para a alma e desejos.

É bem provável que nesta cidade tenha vivido um dragão. Pois a lenda sobre ele parece real, com seus personagens.

Dragão de Cracóvia

O rei Krakus e a filha Wanda são nomes originalmente polacos, assim como é Casimiro, da palavra Kazimierz, de (“kazić=profanar”) e – (“mierz, do verbo miec = ter”) e que significa “aquele que, quem tem a profanação”.

Kazimierz, também é o bairro mais visitado da cidade. Simplesmente porque ali viveram durante séculos os judeus.
O bairro do Kazimierz, até bem pouco tempo, local de ruínas e “mulambentos” apartamentos se transformou. Novos hostels, bares e restaurantes rapidamente coloriram o bairro das tristes lembranças.

Ulica (rua) Szeroka - bairro do Kazimierz

Tanto que muitos ousam dizer que o Kazimierz (pronuncia-se cajimiéj) seria o novo “Quartier Latin”, “Soho”, ou “Village”. Hotéis como Rubinstein, Ariel e Sarah trouxeram de volta os empresários judeus.

A Prefeitura também faz sua parte
Eventos culturais e artísticos da cidade, como a “Misteria Paschalia”, “Cracow Screen Festival”, “Sacrum Profanum” e Coke Live Music Festival, Festival de Cultura Judaica, são dos mais concorridos no mundo nos últimos três anos.

As quantidades a serem pedidas de canecos de cerveja em idioma polaco
Tudo isto para oferecer aos turistas um “algo a mais” do que o mais bem preservado conjunto arquitetônico da idade média da Europa.

Mas os dias são curtos e os arredores da cidade guardam outras surpresas, como a mina de sal de Wielicka (patrimônio da humanidade), os campos de concentração e extermínio alemão-nazistas de Auschwitz e Birkenau, a cidade onde nasceu o Papa, Wadowice, a cidade que despertou a vocação sacerdotal de Karol Wojtyła, Kalwaria, a capital do inverno polaco, Zakopane e os mosteiros de Kamedłów e Tyniecki.

Mosteiro de Kamedułów do padres camaldulenses da Ordem de São Bento
Catedral nas profundezas da Mina de Sal de Wielicka
Portão de entrada do campo de extermínio alemão de Auschwitz
Zakopane - capital do inverno polaco
Wadowice - terra natal de Karol Wojtyła
Santuário de Kalwaria Zebrzydowska, local onde despertou a a vocação sacerdotal do menino Karol, o futuro Papa
Mosteiro do padres Beneditinos, às margens do rio Vístula em Tyniecka, Cracóvia

Outras informações:
www.krakow.pl
www.cracow-life.com



CRACOW, NOT ONLY FOR A DAY
UlIsses Iarochinski, text

The most beautiful city in Poland, Cracow (in Polish idiom Kraków), is also the most important cultural center from Central and Eastern Europe. And this is not just an effect sentence. This is the purest truth. Cracow experiences in the last five years a growth of tourists from the whole world.

From the 500 thousand people received in 2002, Cracow exceeded the barrier of 5 million tourists in 2005. And that number is increasing, in part due to the admittance of the country in the European Union (May 2004) and the death of Pope John Paul II (April 2005).

The majority of tourists come in excursions from travel agencies with tour packages including Budapest, Vienna and Prague.
They lose the best of the city, because they spend just a few hours in walks through the central square, the royal castle and go away ignoring the real charm of the city.

To come to Cracow involves much more than a few hours, we must live the atmosphere of the medieval city, the city of the romantic period, as well as the period of revolts against Austrian occupation that lasted 123 years.
The city has a prominent gastronomy and to eat a “good pierogi”, a “bigos” or a soup of wild mushrooms in a bowl of bread, nothing compares as the restaurants “UBabcia Malina”, “Chlopskie Jadlo” and “Bar Mleczny”.

There are famous stores as Puma, Marlboro, Sephora and Zara and the Czartoryski Cracow museum houses a rarity: Madonna Cecilia Gallerani and its Ermine.
Another binding tour is passing some hours in Rynek - the Central Market Square, because it is certainly the symbol of the city, colorful and full of life. In Sukiennice (fabric market in central square, it is eight centuries old), sells typical bagels, souvenirs and the best craft of the country. You can buy there anything you want.

Not only the museums, theaters, bars and pubs, the tourist also must visit the districts of the city, as Mr Kazimierz, the “Quartier Latin”, “Soho” of Krakow. The city has cultural events and artistic as the “Misteria Paschalia”, “Cracow Screen Fest”, “Sacrum Profanum” and Coke Live Music Festival Festival, Jewish Culture, one of the most demanded in the world in recent years.


All this to offer tourists “something more” beyond the most well preserved architectonic aggregate from the Middle Ages in Europe. But the days are short and surroundings of the city keep other surprises, such as Wielicka salt mine (patrimony of humanity), the German Nazis concentration and extermination camps at Auschwitz and Birkenau, the city where the Pope was born, Wadowice, the city that prompted the priestly vocation of Karol Wojtyła, Kalwaria, winter Polish capital, Zakopane and monasteries of Kamedłów and Tyniecki.

In Cracow it’s possible to know history and rest drinking a lot of Polish beer, in addition to toast “zdrowia” with the real vodka.
Other information: www.krakow.pl or www.cracow -life.com


Texto publicado originalmente no Aeroporto Jornal
 Ulisses Iarochinski, textos e fotos
 Publicada na edição 111 - março/2009

No São Silvestre, o "sonho" polaco também pode ser oferecido


A verdadeira origem do "sonho" está na Polônia.
O doce foi introduzido no Brasil por imigrantes polacos, mais precisamente em Curitiba.
Recheado originalmente com geléia de broto de rosa, e por isso mesmo chamado de pączek (pronuncia-se pontchék) ou broto, botão, existe desde tempos imemoriais na mesa polaca.
No fim da idade média, um rei da Polônia, trouxe da França um grupo de confeiteiros para tornar mais elegante a culinária do país. Os franceses ao se depararem com o pączek ficaram enamorados....o que fizeram foi acrescentar fermento para que a massa ficasse mais delicada e polvilharam o bolinho frito com açucar...e pronto!
Durante as invasões prussas, os atuais alemães caíram de amores pelo doce polaco e o levaram para Berlim, onde deram ao doce polaco, o nome bobo de "Bolas de Berlim"....
Foi ali, que portugueses foram copiar as suas bolas de berlim. E por que não sonho, como no Brasil? É porque nossos patrícios lusitanos não sabiam da história, que os imigrantes polacos trouxeram para Curitiba.
Ah! E por que se chama sonho e não bolas de berlim, ou pontchek no Brasil? Simples, porque na Polônia, o pączek, com recheio de geléia de broto da flor rosa, tem seu dia nacional.
É a quinta-feira gorda antes do carnaval, quando os polacos reservam o dia para fazer os pączki e saírem nas ruas oferecendo a quem passar por eles. Apenas se pode comer o pączek oferecido.
Aliás para que os "sonhos" tidos enquanto se come, efetivamente se realizem só é permitido comer 2 pączek e meio nesse dia.
Como o pączek é comido no dia nacional do Sonho, na Polônia, os imigrantes polacos do Pilarzinho, Barreirinha, Santa Cândida resolveram abrasileirar o nome do doce e o cunharam como "Sonho"....
Apesar de ser degustado na quinta-feira antes do carnaval, nada impede que no dia de São Silvestre também se ofereça pączki aos amigos para que eles possam ter seus sonhos realizados em 2014...
Feliz Ano Novo, com os cumprimentos de um polaco-paranaense. Ah! Sim, e o recheio brasileiro, na falta da geléia de broto de rosa, pode ser marmelada mesmo...

Receita
Aqui está uma autêntica receita de sonho polaco:
2 kg de farinha de trigo
20 gramas de levedura
1 1/ 2 xícara de margarina
30-40 gramas de açúcar cristal
1 colher de sopa de sal
5 gemas de ovos
1/2 litro de leite
1/2 xícara de vodca
gordura para fritar
açúcar em pó para polvilhar
geléia de broto de rosas

Despeje a farinha em uma tigela, adicione o fermento,  2 colheres de sopa de açúcar e uma pequena quantidade de leite quente.
Quando a massa ganhar a consistência de um creme espesso adicione gemas batidas com o açúcar e o sal.
Amasse e adicione o restante do leite. Em seguida, sem interromper de amassar, adicionar a vodca.
A massa deve ficar lisa, brilhante. A massa agora deve descansar sendo coberta com uma toalha, em um lugar quente para crescer.
Só então começa-se a preparar as bolas com um diâmetro de cerca de 5 cm.  Abre-se uma cavidade e no centro, coloca-se o recheio (geléia  de rosa, marmelada), fecha-se a cavidade.
Cubra com um pano limpo e deixe crescer novamente.
Depois de alguns minutos as bolas recheadas estão prontas para serem fritas em gordura bem quente. Depois de escorrer a gordura, polvilhe com açúcar de confeiteiro.
Deixar esfriar e preparar-se para ter lindos sonhos enquanto degusta os pączki (pontchqui) polacos com recheio de geléia de broto de rosas.