quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Jornalista americano critica Veja

Capa do livro do jornalista estadunidense na versão em espanhol


Não podia deixar de reproduzir aqui, a matéria que o sitio "Comunique-se" (dedicado a jornalistas) publicou, nesta quarta-feira, sobre os bastidores da matéria da revista Veja, tentando denegrir a imagem de Ernesto Che Guevara. Desde que iniciei a publicação deste blog, apenas uma vez deixei de publicar um comentário dos meus "posts". Foi justamente aquele em que criticava a matéria da "revista" dos Civitta. Por que procedia de um fascista denegerado que faltava com todas as normas de moral e etiqueta. Ele de vez em quando volta a incomodar. Meu senso jornalístico impedia de aceitar a matéria do Diogo Shelp dentro dos parâmetros da imparcialidade. Observe o tom dos jornalistas da Veja e principalmente o que disse o americano para o autor do texto:



A reportagem de Veja sobre Che Guevara - publicada na edição de 03/10 - teve parte de seus bastidores levada a público e transformada em crítica, o que motivou uma discussão entre um dos autores e um dos citados na matéria. Jon Lee Anderson, autor de “Che Guevara, uma Biografia” e jornalista da New Yorker, disse que o perfil é “texto opinativo disfarçado de jornalismo imparcial”.
Anderson foi procurado por Diogo Schelp, editor de Internacional e um dos autores, durante a apuração. Disse que aceitou o pedido, mas não obteve retorno. Seu livro é citado como "a mais completa biografia de Che" e tem uma frase reproduzida. Após ler a matéria de Veja, Anderson enviou um e-mail para a revista e para outros jornalistas brasileiros no dia 23/10. Segue a íntegra do texto, em tradução publicada no blog de Pedro Doria na segunda-feira (12/11).

Caro Diogo, Fiquei intrigado quando você não me procurou após eu responder seu email. Aí me passaram sua reportagem em Veja, que foi a mais parcial análise de uma figura política contemporânea que li em muito tempo. Foi justamente este tipo de reportagem hiper editorializada, ou uma hagiografia ou – como é o seu caso – uma demonização, que me fizeram escrever a biografia de Che. Tentei pôr pele e osso na figura super-mitificada de Che para compreender que tipo de pessoa ele foi. O que você escreveu foi um texto opinativo camuflado de jornalismo imparcial, coisa que evidentemente não é. Jornalismo honesto, pelos meus critérios, envolve fontes variadas e perspectivas múltiplas, uma tentativa de compreender a pessoa sobre quem se escreve no contexto em que viveu com o objetivo de educar seus leitores com ao menos um esforço de objetividade. O que você fez com Che é o equivalente a escrever sobre George W. Bush utilizando apenas o que lhe disseram Hugo Chávez e Mahmoud Ahmadinejad para sustentar seu ponto de vista. No fim das contas, estou feliz que você não tenha me entrevistado. Eu teria falado em boa fé imaginando, equivocadamente, que você se tratava de um jornalista sério, um companheiro de profissão honesto. Ao presumir isto, eu estaria errado. Esteja à vontade para publicar esta carta em Veja, se for seu desejo. Cordialmente, Jon Lee Anderson.

Resposta de Schelp A resposta de Diogo Schelp foi publicada na quarta-feira (14/11) no blog de Reinaldo Azevedo, hospedado no site de Veja.

Caro Anderson, Eu fiquei me perguntando, depois de lhe enviar um e-mail pedindo (educadamente) uma entrevista, por que nunca recebi uma resposta sua. Agora sei que a mensagem deve ter-se perdido devido a algum programa antispam ou por qualquer outra questão tecnológica. Também não recebi sua “carta” – talvez pelo mesmo problema. Tudo isso não tem a menor importância agora porque você resolveu o assunto valendo-se dos meios mais baixos – um e-mail circular. O que lhe fez pensar que tinha o direito de tornar pública nossa correspondência, incluindo a mensagem em que eu (educadamente) pedia uma entrevista? Isso, caro Anderson, é antiético. Vindo de alguém que se diz um jornalista, é surpreendente. Você pode não gostar da reportagem que escrevi; ela pode ser boa ou ruim, bem-escrita ou não, editorializada ou não – mas não foi feita com os métodos antiéticos que você usa. Eu respeito a relação entre jornalistas e fontes. Você não. E mais: parece-me agora que você é daquele tipo de jornalista que tem medo de fazer uma ligação telefônica (assim são os maus jornalistas), já que tem meu cartão de visita e conhece meu número de telefone. Se você tinha algo a dizer sobre a reportagem — e já que sua mensagem não estava chegando a seu destino — poderia ter me ligado. Eu não sei que tipo de imagem de si mesmo você quer criar (ou proteger) negando os fatos que o seu próprio livro mostra, mas está claro agora que é a de alguém sem ética. Você pode ficar certo de que não aparecerá mais nas páginas desta revista. Sem mais, Diogo Schelp

No original

From: Jon Lee Anderson
Date: Tue, 23 Oct 2007 13:14:11 +0100
To: <...@abril.com.br>
Conversation: Interview for VEJA Magazine/jlanderson
Subject: Re: Interview for VEJA Magazine/jlanderson

Dear Diogo,

I was intrigued as to why I never heard back from you when I replied to this email you sent me (see below). And then I saw the article you wrote in Veja, which was the most one-sided perspective on a contemporary political figure I have seen in a long time. It was precisely this kind of highly-editorialized reporting, either hagiographically in favor, or -- as in your case -- demonizingly against, that led me to write my biography. I sought to put some flesh and blood on Che’s overly-mythified bones in order to understand what kind of person he really was. What you have written is an OpEd piece camouflaged as a piece of accurate journalism, which, of course, it is not. Honest journalism, to my knowledge, involves incorporating different sources of information and perspectives, and attempting to place the person or situation you are writing about into context, so as to educate your readers with at least a semblance of objectivity. What you have done with Che is equivalent to writing about, say, George W. Bush, and relying almost entirely on quotes from Hugo Chavez and Mahmoud Ahmadinejad to bolster your own point of view. I am, glad, in the end, that you did not follow up with me for the interview, because I would have spoken to you in good faith, under the mistaken assumption that you were a serious journalist, and an honest colleague. And In that assumption, I would have been sadly mistaken. Please feel free to publish my letter in Veja if you wish.

Yours, Jon Lee Anderson

On 9/24/07 8:46 PM, "[Jon Lee Anderson" wrote:
Dear Mr. Jon Lee Anderson,

I hope this email finds you well. I´m a brazilian journalist for VEJA Magazine. Some time ago we had the opportunity to have lunch together at the restaurant of Abril, the publishing company where you gave a speech at our Journalism Club. That day, we had a very interesting talk about Hugo Chávez.

I´m preparing for the next issue (to be published this weekend) a special report about Che Guevara, on th 40th anniversary of his death. I ´ve been reading you book on him. I really would like to make a short interview with you about Che. If you agree please let me know the best phone number for me to call, and when.

Thank you for your help.

Best regards,

Diogo Schelp
Editor de Internacional / Editor for International News



O post de Azevedo trouxe também as versões em inglês dos dois e-mails, e divergências sobre a tradução de alguns termos. O blogueiro também chama Anderson de canalha por divulgar a solicitação de entrevista de Schelp e afirma que a reação do autor é motivada pelo fato dele não ter sido ouvido.
“Anderson é um caso lamentável em que o caráter do biografado contamina o do biógrafo”, escreveu Azevedo.

P.S. E pior de tudo é que quem está publicando esta pendega na própria Veja é o colunista da extrema direita Reinaldo Azevedo.

Sonhos das judias nos trópicos

O longa metragem "Sonhos Tropicais" do cineasta André Sturm é baseado no romance do médico e escritor gaúcho Moacyr Scliar. Segundo o próprio diretor, seu filme trata de um "episódio pouco conhecido na história do país, ou seja a saga das judias polacas em terras brasileiras, no início do século". Já tratamos do assunto aqui e também em nossa tese de mestrado em cultura internacional na Universidade Iaguielônia de Cracóvia. Pois foi justamente por causa destas jovens que o adequado termo "polaco/ e o polaca" acabou se transformando de identidade étnica de um povo para o "pejorativo" (como gostam de falar os defensores do termo polonês). Sonhos Tropicais” tem como cenário o Rio de Janeiro do prefeito Pereira Passos, com suas epidemias e seu sanitarista-símbolo, Oswaldo Cruz. O filme se sustenta em dois personagens-eixos, de um lado a história pessoal da judia Esther, e de outro, as lutas do médico Cruz. A história de Ester é a mesma de muitas judias, que vinham para o Brasil casadas com judeus, mas que eram, na verdade, “importadas” como prostitutas. Chegando ao Rio de Janeiro, eram obrigadas a se prostituir pelos próprios maridos, vedadeiros cafetões judeus. Na capital do Brasil, elas eram chamadas de polacas, pois a maioria vinha da Europa Central, onde Polônia e Ucrânia eram nações invadidas por Austríacos, Russos, Prussos (mais tarde Alemães). Assim o termo que identificava a etnia, passou a ser usado pelos cariocas para denominar as prostitutas, fossem elas polacas ou não. Para André Sturm (cineasta de origem judaica), sua narrativa permitiu que "esses eixos formassem a teia, que é o Rio de Janeiro" do início do século XX. Período em que "surgem as favelas no morro, um momento de efervescência absoluta”. A protagonista, Esther, é interpretada pela atriz catarinense Carolina Kasting, que diz ter recusado outros convites para atuar em “Sonhos Tropicais”, simplesmente porque se encantou "com a história das polacas errantes". Havia o desafio de ter de aprender o iídiche, língua usada pela sua personagem logo que desembarca nos trópicos. “Tinha que entender o significado da fala, não podia ser um soldadinho e só repetir as sílabas como elas são”, explica a atriz, que temeu a receptividade da comunidade judaica. “Não é uma estrangeira falando em outra língua, é uma pessoa lá da terra”. A não ser pelo uso da língua iídiche, que alías não tem tradução em legenda, em momento algum é registrado pelo roteiro do filme que se trata de uma judia e não de uma polaca. Já para o papel do sanitarista foi escolhido Bruno Giordano, que afirma que não conhecia a fundo a vida de Oswaldo Cruz e, por isso, entende que o filme foi também um aprendizado. Lembra que “Sonhos Tropicais” traz uma infeliz atualidade temática. “Em pleno século XXI, depois de 100 anos do que aconteceu no Rio, a gente está se deparando com a dengue”, constata. “Pode ser algo para as pessoas se interessarem pelo filme”, aposta. Também no elenco, Lu Grimaldi (despontou na carreira artistica quando vivia em Curitiba), Douglas Simon, Hugo Carvana, Antonio Petrin, Rubens de Falco e Claudio Mamberti. Além de vários atores do teatro curitibano, como Paulo Friebe (falecido em 2006), Ailton Silva (falecido em 2005), Emilio Pitta, Sinval Martins, Mazé Portugal e figurantes de Antonina, Paranaguá e Castro. Bom seria se o filme pudesse ter contribuísse para esclarecer e por fim ao preconceito contra o termo "polaco". Mas não é o caso, ao contrário, tem a mesma visão camuflada pelas comunidades judaicas do Rio, São Paulo e Cubatão. Não esconde, mas também não assume que as infelizes eram judias e oriundas de terras ocupadas por russos, austríacos e alemães. Ao contrário repisa que as prostitutas eram polacas. Interessante, pois neste período, os próprios polacos e polacas eram registrados na Hospedaria da Ilha das Flores como russos, alemães e austríacos, nunca como polacos. Só as judias infelizes é que eram oficialmente reconhecidas como polacas. E depois ainda tem "polonês" que em vez de procurar resgatar a beleza e originalidade do termo polaco, prefere inventar outro termo: polonês. Pois fazem o mesmo que os judeus, que embora nascendo em território ocupado, ou não da Polônia são sempre judeus, menos quando as suas jovens (obrigadas ou não) se convertem em prostitutas, aí elas não são judias, são polacas. Definitivamente Sturm e Scliar passam ao largo desta discussão, apesar de em pronunciamentos à imprensa destacarem o nebuloso da história das prostitutas judias do Rio de Janeiro, São Paulo e Cubatão. Seja como for, o preconceito contra a palavra "Polaco" e a judias-polacas persiste. Seria muito bom que a comunidade judaica brasileira, sempre ciosa do tema, assuma a história daquelas pobres moças que eram enganadas pela máfia judaica Zvi Migdal. E que os "poloneses" voltassem a gostar de serem chamados de polacos.
Orçado em R$ 2,8 milhões, “Sonhos Tropicais” foi rodado em seis semanas, principalmente em locações no Paraná, usado para retratar o Rio de Janeiro da primeira década do século XX, em Antonina, Paranaguá e Castro. Para completar o plano de filmagem foram feitas mais algumas cenas no Rio de Janeiro.
O filme é baseado no livro homônimo de Moacyr Scliar, com roteiro de Fernando Bonassi, Victor Navas e do próprio Sturm.

Kraków vai sambar

No próximo sábado, 24 de novembro, a partir das 21 horas, no Klub Kultural Rotunda, em Cracóvia, a "cobra vai fumar". A festa da dança brasileira "Brasil Alegria" promete esquentar os corações das polaquinhas e dos polacos com o ritmo da bateria do samba, do frevo, do forró, da timbalada, do axé, do carnaval e até do xote. Além da presença do bailarino paranaense Edilson Ribeiro de Lima e do polaco Robert Jażdżewski haverá a apresentação dos berimbaus e atabaques do Grupo de Capoeira Unicar de Cracóvia, comandados pelo polaco Adam Faba e pelo baiano Cristiano, mais conhecido por prof. Secão. O DJ Sebastian Del Barrio promete não deixar ninguém sentado, porque quem "não gosta de samba é doente do pé e bom sujeito não é".


O capoeirista baianno (Prof. Secão) Cristiano

Neve no Przegorzały 8: árvores brancas

Foto: Ulisses Iarochinski
As árvores, que foram castigadas pelo vento frio do outono, perderam toda a imponência do verde. No Bosque Wolski, no Przegorzały, em Cracóvia, as árvores dizimadas ganharam o enfeite do branco e como grinaldas de noivas ostentam agora esta beleza.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Neve no Przegorzały 7: Correio gelado

Foto: Ulisses Iarochinski

Até as caixas da Poczta (potchta - correio) da Polônia sofrem com o acúmulo de neve. Mas nada que impeça o Dantowski de enviar o exemplar da "Banda Polaca", que prometeu. Esta aí, fica ao lado do ponto de ônibus do Przegorzały, e parece ganhou um gorro branco.

Neve no Przegorzały 6: Assustadas elas correm

Foto: Paweł Strykowski
As corsas, outras das moradores do Bosque Wolski, no Przegorzały, em Cracóvia. Circulam livremente, mas correm ao sentir a menor aproximação de gente. E a neve continua a cair, não dá trégua. Assim, os animais maiores, como este viado com belos chifres abaixo, são mais protegidos. Ao contrário das pequenas corsas livres, eles estão no Zoológico, existente no mesmo bosque, porém fechados.
Foto: Paweł Strykowski

Neve no Przegorzały 5: castiga os animais

Foto: Paweł Strykowski
Com a neve se acumulando, após 4 dias, quem mais sofre são os animais que vivem no Bosque do Przegorzały, em Cracóvia. O javali é um dos mais comuns. A noite principalmente costuma assustar as estudantes que perderam o último ônibus e têm que subir a montanha a pè. No meio do caminho um grupo de 7 javalis cruzam o caminho. O pessoal da recepção da Casa do Estudante, onde moro, diz que os vizinhos no sopé da montanha é que alimentação estes animais selvagens que vivem em total liberdade no bairro. Até agora não ouvi ninguém dizer que foi atacado por um destes porcões de grandes presas.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Religiosidade do imigrante polaco

Foto do fotógrafo "polskiego pochodzenia" João Urban, presente em seu livro "TAM iTU", feita numa casa de "polskiego pochodzenia", em Cruz Machado, no Sul do Paraná. O início da colonização polaca em Cruz Machado é o tema da minha tese de doutorado em história, na Uniwersytet Jagielloński de Cracóvia.

Milionário foragido é detido

Henryk Stokłosa, o milionário polaco foi detido, na Alemanha, as 4 horas da madrugada desta segunda-feira, num controle de estrada. Sua detenção tinha sido expedida pela promotoria que investiga corrupção no governo da Polônia. Seu nome estava entre os mais procurados pela polícia na Europa, apesar de indícios de que ele estaria já na América do Sul. O ex-senador da República entre 1989 a 2005 e um dos homens mais ricos do país estava foragido. Com uma fortuna avaliada em mais de 200 milhões de reais, ele ocupa a 33a. posição na lista 2007 dos mais ricos da Polônia, segundo a Revista "Wprost". Stokłosa é acusado de ter conseguido empréstimos de milhões de złotych simplesmente amortizando impostos. Teria para isto subornado diretores do Departamento de Finanças e juízes de Poznań.
Stokłosa, em 1980, fundou a empresa Farmutil, que logo se tornaria uma das maiores no setor agrícola. Seu nome começou a aparecer bastante nos meios de comunicação do país, quando comprou uma rádio e um jornal e aumentava seu patrimônio de forma bastante rápida. Com o fim do comunismo, ele logo se candidatou ao senado e foi eleito em 1989, tendo cumprido seu último mandato em 2005. Nas últimas eleições ele seria candidato, mas fugiu antes.

Neve no Przegorzały 4: O mais bonito panorama

Vale do rio Vístula, no bairro de Zwierzyniec, visto desde os balcões do Castelo Przegorzały. Ao fundo, distante 100 km estão as montanhas Tatras, em Zakopane. O sol teima em sair entre as nuvens carregadas. Foto: Ulisses Iarochinski.

Neve no Przegorzały 3: Sem sal não há caminho

Há mais de 48 horas neva sem parar em Cracóvia. Nestes momentos, o funcionário mais importante do Przegorzały é Janusz Wędricha. Sem ele ficamos sem acesso com a cidade, pois nos mais de 500 metros da subida da montanha é necessário abrir caminho no meio da neve. Além de um trator, Janusz espalha um preparado com sal grosso, para manter a estrada transitável. Dependendo da quantidade de neve que cai é preciso fazer esse serviço mais de uma vez por dia, senão basta colocar logo cedo, antes que comece o movimento de descida e subida da montanha do Przegorzały.

domingo, 11 de novembro de 2007

Neve no Przegorzały 2: Neve deixa tudo branco

Castelo do Przegorzały, no Bosque Wolski, em Cracóvia, neste domingo, 11 de novembro de 2007, depois de dois dias de neve. Foto: Ulisses Iarochinski

Patriotismo do 11 de novembro


O que simboliza o patriotismo polaco? Segundo uma pesquisa de opinião pública realizada pela empresa ARC Rynek i Opinia para o jornal "Polska", 91,5% dos polacos acreditam que é votar, enquanto 90,8% respondem que ele apenas se manifesta nos feriados nacionais, como o de hoje, 11 de novembro, dia da Independência.
Durante vários anos, os polacos não tiveram eleições e tampouco acorriam as comemorações nacionais de livre e espontânea vontade, fosse por que a Polônia esteve invadida por 127 anos por potências estrangeiras, fosse pelo sistema comunista que vigorou depois da segunda guerra mundial. Para o general Romam Polko, chefe da Defesa Nacional, o resultado da pesquisa expressa justamente isto, "por muitos anos não tivemos direito a usar nossos verdadeiros símbolos da Nação. Nem votos, nem eleições livres. Nada mais estranho, que tratemos estes atos como manifestação de patriotismo. Nestas respostas, vê-se como é o nosso país".
Para 86%, as perguntas sobre patriotismo são feitas nas ocasiões comemorativas nacionais. Para 77%, não é vergonha ser patriota, isto quando o polaco está no estrangeiro. Quase 75% declaram que se sentem patriotas e somente 6% não sentem nada em relação ao patriotismo. Contudo, quando foi perguntado sobre o significado de "Polônia", poucas pessoas responderam que esta palavra representa patriotismo. Por exemplo, pagar impostos e fazer o serviço militar obrigatório é patriotismo para 60% dos entrevistados.
Outra pergunta da pesquisa foi: em que situação se percebe a falta de patriotismo? Para 96% quando não se consegue cantar corretamente em voz alta o hino nacional. Para metade, falta de patriotismo é não ter trabalho para todos.
Para 35%, o patriotismo se revela muito mais quando a Nação se encontra realmente atacada. 85% dos homens se dizem prontos para defender a Pátria em caso de guerra e 70% declaram que são orgulhosos da Polônia. E finalmente 60% diz que patriotismo é somente uma simples expressão, nada mais.
Hoje, 11 de novembro, a Polônia comemora sua Independência após 127 anos de domínio Russo, Prusso (alemão) e austríaco. Mesma data da capitulação da Alemanha e do fim da Primeira Guerra Mundial.
O general Józef Haller a frente de seu exército azul

Fim da Guerra
Naquele 1918 a situação nos "fronts" da Primeira Guerra Mundial se modificava rapidamente nos países da Europa Central. No Leste, os exércitos bolcheviques, alemães e austríacos ocupavam um grande território entre Psków e Odessa. No Oeste e Sul, entretanto, eles sofriam derrotas atrás de derrotas. Em 9 de agosto, os aliados conquistaram a vitória no ataque na linha Somma, ao mesmo tempo, que na Alemanha irrompia a onda de greves organizadas pela polaca Rosa de Luxemburgo e por Karol Libknechta. Em 3 de novembro, explodia o Levante dos Marinheiros em Colônia e poucos dias depois estouraram os distúrbios comunistas em Hamburgo, Rostock, Bremem e Berlim. A desistegração da monarquia Habsburga permitiu a independência na Tcheca, Hungria e Iugoslávia em poucos dias. Em Viena, com a queda da monarquia, assumiu o governo repúblicano de Karl Renner e na Alemanha abdicou do trono o rei Wilhelm II. Em 11 de novembro de 1918, num vagão de trem, no bosque de Compiègne, foi assinada a capitulação Alemã e o fim da Primeira Guerra Mundial.

1918 na Polônia

Em outubro daquele ano, quando ficava evidente a queda dos países da Europa Central, começou a luta pelo poder na Polônia. Com a derrota dos seculares invasores, a nação polaca tinha uma excelente oportunidade para reconquistar seu Estado riscado do mapa por alemães, austríacos e russos. Em Paris, o KNP- Comitê Nacional Polaco, começou a governar "de facto". À frente do KNP, na França, estava Zamoyski, enquanto nos Estados Unidos estavam Paderewski, Smulski e Dmowski; na Inglaterra estava Sobański e na Itália havia Skirmunt. Todos eles contataram, através do Mar Negro e Romênia, o exército polaco de Haller. O comunicado do KNP foi endossado pelo primeiro-ministro francês George Clemanceau. A Intentona, contudo, foi bastante prudente. No Leste da Polônia já existia um Conselho Regente e partidários de Józef Piłsudski. Mas o KNP na Inglaterra teve uma idéia diferente. Nesta grave situação, tudo o que se decidia tinha por fim a construção de um novo país. Era necessário, portanto, que os polacos de todos os quadrantes se pusessem de acordo. O Conselho Regente, por sua vez, tinha consciência de que era quem estava no governo. Neste mesmo outubro foi encontrada uma nova fórmula para unir a todos. Isto foi feito usando justamente o juramento das forças armadas, que declarava: "Juro por Deus, pela Pátria, pelo Estado Polaco e pelo Conselho Regente". Estava assim em 2 de novembro criada a Força Polaca de Defesa - PSZ. Tudo tinha um único objetivo: estabelecer a independência do Estado Polaco. Piłsudski que lutava pela Independência como legionário tinha sido feito prisioneiro de guerra. A prisão em Magdeburski solidificou sua posição de lutador. O Conselho Regente, como organização polaca instituída, apelou ao governo alemão, que libertasse Piłsudski o mais rápido possível. Em 31 de outubro, chegou em Magdeburgo, o mensageiro do Conselho Regente: Harry Kessler. Os alemães, contudo, fizeram-no esperar. Mas em 7 de novembro começaram distúrbios, em Berlim, causados pelo desmoralizado exército alemão. O governo da Alemanha era então um verdadeiro fantasma. Os alemães pediram ajuda ao exército bolchevique russo em função de sua debilidade. Em 8 de novembro Piłsudski foi libertado e dois dias após, 10 de novembro, um trem especial saindo de Berlim o levou a Varsóvia. Na estação central, Piłsudski foi recebido pelo regente Príncipe Lubomirski.

Piłsudski e Paderewski em 1918

Estado Polaco
Na noite de 6 para 7 de novembro pela primeira vez se reuniu em Lublin o novo governo da República da Polônia. Era um governo de esquerda, socialista e de pessoas ligadas a Piłsudski, como Wacław Sieroszewski e Edward Rydz-Śmigły. Muitos ex-prisioneiros de guerra foram de Varsóvia para esta reunião. Piłsudski, a princípio queira ir a Lublin, pois queria trabalhar em prol deste governo, dirigido então pelo Princípe Lubomirski, mas ficou em Varsóvia. Acabou enviando um telegrama a Daszyński i Rydz-Śmigły falando dos motivos de ter que permanecer na capital. Em 11 de novembro, o Conselho Regente reconheceu que Piłsudski era o maior defensor da Pátria. Em 18 de novembro tomaram posse no governo Jędrzej Moraczewski, Wasilewski, Prauss, Arciszewski, Ziemięcki, Malinowski, Thugutt, Nocznicki, Witos, Kędzior, Wajda, Piłsudski, Downarowicz, Iwanicki e Supiński como primeiro governo civil da história da Polônia.

sábado, 10 de novembro de 2007

Lembrando as vítimas de Katyń

Foto: Jakub Ostałowski
Ontem, na Plac Piłsudski, em Varsóvia foram lembradas as vítimas polacas de Katyń, Charków e Miednoj durante a segunda guerra mundial. Mesmo com o frio e a chuva fina, centenas de pessoas ouviram o Presidente Lech Kaczyński dizer que "Lembramos deles naquela terra proibida... Este é um ato de lembranças, em respeito aos nossos heróis, suas famílias e toda à nossa Nação" e a partir das 18:00 horas, os nomes das vítimas. A cerimônia do monumento ao soldado desconhecido durou até à meia noite. Hoje, a partir das 17:45 horas serão lidos os nomes de mais 14 mil vítimas completando assim a lista de quase 40 mil oficiais polacos assassinados pelos russos em 1940. O último nome deverá ser pronunciado pelo Presidente Kaczyński, que retornará a Plac Piłsudski. Após a leitura dos nomes será realizado um ato ecumênico, com a presença de representates da igreja católica, ortodoxa, judaica e protestantes. Enquanto isso, o filme de Andrzej Wajda, sobre este fato histórico, continua em cartaz nos cinemas da Polônia. Os polacos esperam agora para ver a resposta russa ao filme "Katyń" com a supreprodução "1612" do diretor russo Władimir Chotinienko.
Foto: Jerzy Dudek / Fotorzepa

Neve no Przegorzały 1: Da minha janela

Abri a janela da minha sacada, hoje de manhã, sábado, 10 de novembro, e o sol estava forte. Voltei ontem à noite todo molhado debaixo de chuva. Porém, ao olhar para baixo: surpresa... acho que sempre vou me surpreender, mesmo vivendo há algum tempo aqui...a surpresa? Vi que tinha nevado durante a madrugada. É verdade que foi bem pouquinho desta vez. Mas o suficiente para deixar minha vista, bonita. Sim, pois as poucas folhas das árvores, que ainda resistem ao vento de outono e que estavam amarelas, estão agora branquinhas. É essa uma das coisas que me causa felicidade por aqui... a felicidade de poder morar aqui no Przegorzały, em Cracóvia. No poema de Mirosław Czyżykiewicz, alguns versos de quem viu a neve pela primeira vez:


Pierwszy śnieg
Bracie-cześć-później, wiesz,

niż obiecywałem

piszę list, ale się

trochę zapomniałem.

U mnie jest wielki fest-

Szlajam się, nucę pieśń,

nic się nie zmieniło

Z nieba pada pierwszy snieg

moja pierwsza miłość.

Dzisiaj nów, jestem zdrów,

Z nieba pada pierwszy śnieg,

moja pierwsza miłość...

moja pierwsza...moja...


(Tradução Livre: primeira neve, irmão-oi-mais atrasado, vês, que prometi, escrevo a carta, mas esqueci-me um pouco, Aqui comigo está grande festa-, Enlouqueço-me, cantarolo uma canção, nada me mudou, do céu cai a primeira nve, meu primeiro amor. Hoje lua nova, sou saudável, do céu cai a primeira neve, meu primeiro amor...meu primeiro...meu)


Na foto: o poeta Mirosław Czyżykiewicz, autor do poema.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Doda: a mais acessada

Entre todas as informações publicadas neste blog, as mais acessadas são aquelas que falam da cantora Dorota Rabczewska, mais conhecida por Doda, ou Doda Elektroda. Evidentemente que existem explicações para isto: seu sucesso meteórico na canção pop polaca, sua aparição nas páginas da Playboy Polska e seus clipes na MTV e youtube. Os acessos são principalmente dos países europeus e Estados Unidos. Por isso, talvez seja interessante dizer alguma coisa mais sobre ela. Dorota nasceu em 15 de fevereiro de 1984 em Ciechanów. Filha do medalista de campeonato mundial e europeu de levantamento de peso, o olímpico Paweł Rabczewski. Sua mãe é Wanda e seu irmão mais velho Rafał é seu empresário.
Em 2000, aos 16 anos, Dorota se tornou a vocalista do grupo de rok polaco Virgin. Em 2005 ela venceu o Festival da Música de Sopot e recebeu o Prêmio de Prata. Em 2007, ela deixou o grupo Virgin para começar sua carreira solo. Seu CD "Diamond Bitch" está nas primeiras paradas de sucesso, já tendo vendido mais de 40 mil cópias, o que para o mercado fonográfico da Polônia é excelente. E não é só aqui, que notícia sobre Doda é a mais acessada. Também nos sitios dos jornais e revistas da Polônia, o nome Doda é sinônimo de sucesso e de milhares de acessos. Segundo a imprensa sensacionalista de Varsóvia, a cantora está separada do marido, o goleiro Radosław Majdan, dublê de modelo e até de candidato a deputado nas últimas eleições. Doda teria expulso Majdan de casa. O goleiro que já jogou no Wisła Kraków e Pogoń Szczecin, agora joga na segunda divisão no time Polonia de Varsóvia. Num video caseiro feito pelo próprio casal e disponível no You Tube, eles aparecem muito a vontade. Doda mostra os peitos e tira o calção do marido. Assistam o video:

Um grande ator polaco

Stuhr em "História de Amor" de Kieślowski

Jerzy Stuhr (iéji stur) é um dos mais populares e versáteis atores da Polônia. Também é roteirista, escritor, diretor de cinema e professor teatral. Ocupa atualmente o cargo de reitor da PWST- Państwowa Wyższa Szkoła Teatralna im. Ludwika Solskiego (Escola Pública Superior de Teatro Lukwik Solski) de Cracóvia. Nasceu em Cracóvia em 18 de abril de 1947, mas passou sua infância e adolescência na cidade de Bielsko Biała. Voltou a viver me Cracóvia para estudar e nunca mais saiu. Estudou Letras na Universidade Iaguielônia e arte dramática na PSWT. Participou de pelo menos 18 filmes e mais de uma dezena de peças teatrais, além de ter dirigido várias delas. E outros seis filmes. Entre os vários prêmios por suas atuações, destacam-se em 1979, o de melhor ator no filme "Amator i Szansa; em 1987, ator coadjuvante pelo filme "Pociag do Hollywood"; em 1974, o Prêmio do Juri e melhor roteiro por "Spis cudzołożnic"; em 1997, o Leão de Ouro de Veneza de melhor ator por "Historie miłosne"; em 1999, o Prêmio do Júri de melhor ator, por "Tydzień z życia mężczyzny"; e finalmente em 2007, o prêmio de melhor roteiro para "Korowód". Stuhr trabalhou com o cineasta Krzysztof Kieślowski, a partir dos anos 70 até a morte do diretor em 1996. Esta parceria lhe rendeu fama internacional, quando apareceu no filme "Três Cores: Branco" onde fazia o papel do barbeiro Jurek. Também em vários dos 10 filmes que compõe o "Dekalog" de Kieślowski, além de "História de Amor", do mesmo Kieślowski, em 1997, quando faz quatro papéis diferentes em cada um dos 4 episódios do filme. Evidentemente trabalhou também com Andrzej Wajda e Krzysztof Zanussi, outros dois grandes diretores do cinema polaco.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

As polaquinhas da cidade

Tempos atrás, a pedido da atriz paranaense Marisia Brunning, traduzi a letra da música de Nhô Belarmino e Nhá Gabriela, para um espetáculo em que ela participou em Curitiba. Segundo Marisia, o espetáculo foi um sucesso. Infelizmente a distância me impediu de ver. As pessoas que assistiram receberam cópia em papel da letra e tradução da música. Como nem todos estiveram lá, vai aqui o "hino curitibano" traduzido para o idioma polaco. Afinal Curitiba é "cidade-gêmea de honra" de Cracóvia. E esta mocinha mesmo sendo moreninha pode ter sido uma polaquinha, pois nem todas elas são loiras.


As mocinhas da cidade
(Nhô Belarmino)
Dziewczyny z miasta
(tradução livre: Ulisses Iarochinski)


As mocinhas da cidade
São bonitas e dançam bem
Eu dancei uma vez
Com uma moreninha
E já fiquei querendo bem


Dziewczyny z miasta
Są piękne i dobrze tańczą
Raz zatańczyłem z małą brunetką
A już się zakochałem

Embora seu pai não queira
Que eu me case com você
Mas depois de nós casados
Ele vai nos compreender


Chociaż twój ojciec nie chce
Żebym się z tobą ożenił
Gdy się pobierzemy
Zrozumie nas


Fui na casa da morena
Pedir água pra beber
Não é sede, não é nada, moreninha
Eu vim aqui só pra te ver

Poszedłem do domu brunetki
Poprosić o wodę do picia
To nie pragnienie, to nic, mała brunetka
Przyszedłem tu tylko po to, żeby cię zobaczyć

E o sol já vai entrando
E a saudade vem atrás
Vou buscar aquela linda moreninha
Para eu viver em paz

Słońce już wschodzi
A tęsknota idzie za nim
Będę poszukiwać ślicznej brunetki
By żyć w spokoju.
Poderiam ser estas moreninhas polacas... por que não?

Anna, Dorota, Kasia, Ewa

Casas do museu de Łowicz

O museu etnográfico (Skansen) em Maurzyce (maujitsse) está localizado a 7 km da cidade de Łowicz (uóvitch). Desde os anos 70 são reunidos ali monumentos arquitetônicos das antigas terras do principado de Łowicz. Atualmente o museu conta com mais de 30 casas de tronco como essas, encontradas na cidade velha, construídas no século 19.

Barroso: "O grande amigo da Polônia"

O Chefe da Comissão Européia (órgão executivo da UE), o português José Manuel Barroso expressou sua esperança de que a União européia possa trabalhar bem próxima e de forma amistoda com o novo governo polaco. Barroso cumprimentou em Varsóvia, o líder do PO Donald Tusk, vencedor das últimas eleições parlamentares de outubro. "Fico feliz de poder cumprimentar pessoalmente Donald Tusk pela vitória de seu partido nas eleições", declarou Barroso.
O português espera que Tusk, em sua primeira viagem ao exterior como primeiro-ministro, vá a Bruxelas. Para em seguida acrescentar que Bruxelas não é uma viagem ao exterior e que do lado europeu o relacionamento político com a Polônia será ainda maior a partir de agora. Tusk por sua vez, disse que é bastante simbólico que seu primeiro encontro, após as eleições, com o português Barroso tenha sido nesta ocasião em que o chefe do executivo europeu tenha vindo receber o título de "Doutor Honoris Causa" da Universidade SGH. Tusk cumprimentou Barroso pelo título e disse estar satisfeito de ter conversado com o "grande amigo da Polônia".