quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Jornalista americano critica Veja

Capa do livro do jornalista estadunidense na versão em espanhol


Não podia deixar de reproduzir aqui, a matéria que o sitio "Comunique-se" (dedicado a jornalistas) publicou, nesta quarta-feira, sobre os bastidores da matéria da revista Veja, tentando denegrir a imagem de Ernesto Che Guevara. Desde que iniciei a publicação deste blog, apenas uma vez deixei de publicar um comentário dos meus "posts". Foi justamente aquele em que criticava a matéria da "revista" dos Civitta. Por que procedia de um fascista denegerado que faltava com todas as normas de moral e etiqueta. Ele de vez em quando volta a incomodar. Meu senso jornalístico impedia de aceitar a matéria do Diogo Shelp dentro dos parâmetros da imparcialidade. Observe o tom dos jornalistas da Veja e principalmente o que disse o americano para o autor do texto:



A reportagem de Veja sobre Che Guevara - publicada na edição de 03/10 - teve parte de seus bastidores levada a público e transformada em crítica, o que motivou uma discussão entre um dos autores e um dos citados na matéria. Jon Lee Anderson, autor de “Che Guevara, uma Biografia” e jornalista da New Yorker, disse que o perfil é “texto opinativo disfarçado de jornalismo imparcial”.
Anderson foi procurado por Diogo Schelp, editor de Internacional e um dos autores, durante a apuração. Disse que aceitou o pedido, mas não obteve retorno. Seu livro é citado como "a mais completa biografia de Che" e tem uma frase reproduzida. Após ler a matéria de Veja, Anderson enviou um e-mail para a revista e para outros jornalistas brasileiros no dia 23/10. Segue a íntegra do texto, em tradução publicada no blog de Pedro Doria na segunda-feira (12/11).

Caro Diogo, Fiquei intrigado quando você não me procurou após eu responder seu email. Aí me passaram sua reportagem em Veja, que foi a mais parcial análise de uma figura política contemporânea que li em muito tempo. Foi justamente este tipo de reportagem hiper editorializada, ou uma hagiografia ou – como é o seu caso – uma demonização, que me fizeram escrever a biografia de Che. Tentei pôr pele e osso na figura super-mitificada de Che para compreender que tipo de pessoa ele foi. O que você escreveu foi um texto opinativo camuflado de jornalismo imparcial, coisa que evidentemente não é. Jornalismo honesto, pelos meus critérios, envolve fontes variadas e perspectivas múltiplas, uma tentativa de compreender a pessoa sobre quem se escreve no contexto em que viveu com o objetivo de educar seus leitores com ao menos um esforço de objetividade. O que você fez com Che é o equivalente a escrever sobre George W. Bush utilizando apenas o que lhe disseram Hugo Chávez e Mahmoud Ahmadinejad para sustentar seu ponto de vista. No fim das contas, estou feliz que você não tenha me entrevistado. Eu teria falado em boa fé imaginando, equivocadamente, que você se tratava de um jornalista sério, um companheiro de profissão honesto. Ao presumir isto, eu estaria errado. Esteja à vontade para publicar esta carta em Veja, se for seu desejo. Cordialmente, Jon Lee Anderson.

Resposta de Schelp A resposta de Diogo Schelp foi publicada na quarta-feira (14/11) no blog de Reinaldo Azevedo, hospedado no site de Veja.

Caro Anderson, Eu fiquei me perguntando, depois de lhe enviar um e-mail pedindo (educadamente) uma entrevista, por que nunca recebi uma resposta sua. Agora sei que a mensagem deve ter-se perdido devido a algum programa antispam ou por qualquer outra questão tecnológica. Também não recebi sua “carta” – talvez pelo mesmo problema. Tudo isso não tem a menor importância agora porque você resolveu o assunto valendo-se dos meios mais baixos – um e-mail circular. O que lhe fez pensar que tinha o direito de tornar pública nossa correspondência, incluindo a mensagem em que eu (educadamente) pedia uma entrevista? Isso, caro Anderson, é antiético. Vindo de alguém que se diz um jornalista, é surpreendente. Você pode não gostar da reportagem que escrevi; ela pode ser boa ou ruim, bem-escrita ou não, editorializada ou não – mas não foi feita com os métodos antiéticos que você usa. Eu respeito a relação entre jornalistas e fontes. Você não. E mais: parece-me agora que você é daquele tipo de jornalista que tem medo de fazer uma ligação telefônica (assim são os maus jornalistas), já que tem meu cartão de visita e conhece meu número de telefone. Se você tinha algo a dizer sobre a reportagem — e já que sua mensagem não estava chegando a seu destino — poderia ter me ligado. Eu não sei que tipo de imagem de si mesmo você quer criar (ou proteger) negando os fatos que o seu próprio livro mostra, mas está claro agora que é a de alguém sem ética. Você pode ficar certo de que não aparecerá mais nas páginas desta revista. Sem mais, Diogo Schelp

No original

From: Jon Lee Anderson
Date: Tue, 23 Oct 2007 13:14:11 +0100
To: <...@abril.com.br>
Conversation: Interview for VEJA Magazine/jlanderson
Subject: Re: Interview for VEJA Magazine/jlanderson

Dear Diogo,

I was intrigued as to why I never heard back from you when I replied to this email you sent me (see below). And then I saw the article you wrote in Veja, which was the most one-sided perspective on a contemporary political figure I have seen in a long time. It was precisely this kind of highly-editorialized reporting, either hagiographically in favor, or -- as in your case -- demonizingly against, that led me to write my biography. I sought to put some flesh and blood on Che’s overly-mythified bones in order to understand what kind of person he really was. What you have written is an OpEd piece camouflaged as a piece of accurate journalism, which, of course, it is not. Honest journalism, to my knowledge, involves incorporating different sources of information and perspectives, and attempting to place the person or situation you are writing about into context, so as to educate your readers with at least a semblance of objectivity. What you have done with Che is equivalent to writing about, say, George W. Bush, and relying almost entirely on quotes from Hugo Chavez and Mahmoud Ahmadinejad to bolster your own point of view. I am, glad, in the end, that you did not follow up with me for the interview, because I would have spoken to you in good faith, under the mistaken assumption that you were a serious journalist, and an honest colleague. And In that assumption, I would have been sadly mistaken. Please feel free to publish my letter in Veja if you wish.

Yours, Jon Lee Anderson

On 9/24/07 8:46 PM, "[Jon Lee Anderson" wrote:
Dear Mr. Jon Lee Anderson,

I hope this email finds you well. I´m a brazilian journalist for VEJA Magazine. Some time ago we had the opportunity to have lunch together at the restaurant of Abril, the publishing company where you gave a speech at our Journalism Club. That day, we had a very interesting talk about Hugo Chávez.

I´m preparing for the next issue (to be published this weekend) a special report about Che Guevara, on th 40th anniversary of his death. I ´ve been reading you book on him. I really would like to make a short interview with you about Che. If you agree please let me know the best phone number for me to call, and when.

Thank you for your help.

Best regards,

Diogo Schelp
Editor de Internacional / Editor for International News



O post de Azevedo trouxe também as versões em inglês dos dois e-mails, e divergências sobre a tradução de alguns termos. O blogueiro também chama Anderson de canalha por divulgar a solicitação de entrevista de Schelp e afirma que a reação do autor é motivada pelo fato dele não ter sido ouvido.
“Anderson é um caso lamentável em que o caráter do biografado contamina o do biógrafo”, escreveu Azevedo.

P.S. E pior de tudo é que quem está publicando esta pendega na própria Veja é o colunista da extrema direita Reinaldo Azevedo.

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