sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Polônia escolheu seu candidato ao Oscar 2015


A Polônia já escolheu seu representante para a disputa do Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira de 2015.
Trata-se de “Ida”, do diretor Paweł Pawlikowski (“Estranha Obsessão”), um drama de época feito em preto e branco, sobre uma noviça que descobre um sombrio segredo familiar.
A informação é do Site The Hollywood Reporter. O filme vem acumulando prêmios e críticas positivas, além de conseguir se destacar no circuito dos cinemas arte, tendo arrecadado US$ 3,6 milhões nas bilheterias dos Estados Unidos e US$ 9 milhões na Europa.
Isto faz dele um dos filmes polacos mais bem-sucedidos de todos os tempos no mercado internacional. Entre as muitas honrarias conquistadas, “Ida” venceu o prêmio de Melhor Filme nos festivais de Londres, Gijón e Varsóvia, o Prêmio da Crítica no Festival de Toronto e foi o grande vencedor na premiação Eagle Awards da Polônia, um dos prêmios mais importantes de cinema do país, faturando os troféus de Melhor Filme, Diretor e Atriz (para Agata Kulesza).
Ambientado na década de 1960 na Polônia, a trama gira em torno de Anna (Kulesza), uma jovem noviça, que está prestes a fazer seus votos religiosos, quando descobre um terrível segredo de família, da época da ocupação nazista no país. “Não temos dúvidas de que de “Ida” de Pawlikowski é o filme polaco que tem a maior chance nesta categoria muito competitiva”, disse Agnieszka Odorowicz, diretor-geral do Instituto de Cinema Polaco.
“Ele não serve apenas como um exemplo fantástico do trabalho de seu cineasta, mas do cinema polaco como um todo.” A Polônia é um dos primeiros países a apresentar o seu candidato ao Oscar 2015. Até então, apenas a Hungria, com o filme “White God”, de Kornel Mundruczó (“Delta”), e a Turquia, com o drama “Winter Sleep”, do diretor Nuri Bilge Ceylan (“Era uma Vez na Anatolia”), tinha divulgados seus representantes ao próximo Oscar. Ida ainda não tem data para estrear no Brasil.

domingo, 17 de agosto de 2014

Gombrowicz, ainda pouco conhecido no Brasil


Em entrevista ao sobreCultura, Marcelo Paiva de Souza questiona o estranho silêncio no Brasil em torno de Witold Gombrowicz, escritor polaco que viveu por duas décadas exilado na Argentina e deixou uma obra vigorosa e inovadora. Circunstâncias fortuitas levaram ao exílio na Argentina o escritor polaco Witold Gombrowicz, nascido em Małoszyce, em 1904.
Gombrowicz deixou seu país com destino à América do Sul e, após o desembarque em Buenos Aires, foi surpreendido com a notícia da eclosão da Segunda Guerra. Apesar das dificuldades que se descortinavam em seu horizonte, decidiu ficar.
Escritor já com boa reputação na Polônia, teve que buscar meios de renascer das cinzas em um mundo estranho e hostil no qual viveu por mais de duas décadas.
Os 50 anos de seu retorno à Europa, em 1963 – já com prestígio consolidado e obras traduzidas para várias línguas –, têm sido lembrados por admiradores e estudiosos de sua obra, como Marcelo Paiva de Souza, doutor em ciência da literatura pela Universidade Jagielloński, em Cracóvia, Polônia, e professor de literatura polaca da Universidade Federal do Paraná.
Nesta entrevista ao sobreCultura, Marcelo descreve a trajetória vitoriosa de um escritor que soube dar a volta por cima, fala da importância de sua obra no panorama da literatura mundial e tenta encontrar razões que expliquem o relativo silêncio em torno do nome de Witold Gombrowicz no Brasil.

sobreCultura: Como apresentaria Gombrowicz ao leitor brasileiro?

Marcelo Paiva de Souza: Seria interessante dar a palavra ao próprio escritor, cuja verve é pródiga em autocomentários, para se ter uma amostra de seu trabalho de linguagem. Outro modo de apresentá-lo seria remontar ao início de sua carreira. Ele estreou na literatura nos anos 1930; seu primeiro livro, a coletânea de contos "Memórias da época do amadurecimento", é de 1933. A obra despertou nos críticos uma reação ambígua: reconheceram o talento do jovem escritor, mas não fisgaram o alcance de seu projeto criativo.
Na mesma década surgiram a peça "Ivone, princesa da Borgonha" [1935; primeira edição, 1938] e o romance "Ferdydurke" [1937]. Esses textos revelam a versatilidade do autor e um universo literário inovador e inconfundível. Ferdydurke, sobretudo, é corrosivo, insolente, afronta a cultura letrada da época, mostrando, com humor, como forças exteriores formam/conformam/deformam o indivíduo.
Em suma, Gombrowicz faz considerável barulho na literatura polaca da década de 1930. Não se filia a ‘panelas’ literárias mais prestigiadas nem a grupos de vanguarda; mantém-se fora, deseja estar fora. Cabe sublinhar isso, pois de algum modo a experiência do exílio que se abateria sobre ele potencia uma situação que, intrinsecamente, já experimentava em seu país.

- Quando ele deixa a Polônia?
Em 1939, por circunstâncias fortuitas, tomou um navio que o levou a Buenos Aires. Após o desembarque, veio a notícia da eclosão da Segunda Guerra e da invasão da Polônia pela Alemanha. Gombrowicz decidiu ficar em Buenos Aires, mesmo sem conhecer ninguém ali, sem falar espanhol e com apenas 200 dólares no bolso. Tem início então o longo período, de mais de 20 anos, em que viverá na Argentina.
Oriundo de uma família de média nobreza, acostumado a uma vida confortável e já dono de considerável reputação literária na Polônia, na Argentina ele não era ninguém. Até conseguir emprego em um banco, em fins dos anos 40, viveu em hospedarias precárias e enfrentou muitos outros obstáculos. Mais tarde irá expor em seu "Diário" o outro lado da moeda. Apesar das dificuldades, aquele período teve para ele qualquer coisa de libertação. Nesse sentido, o desenraizamento e a pobreza são para Gombrowicz um rejuvenescer, um lançar-se ao voo.


- Como era a relação de Gombrowicz com o mundo letrado em Buenos Aires?
Difícil, para dizer o mínimo. O escritor falará disso em seu "Diário" e no volume "Testamento", que surgiu de suas conversas com o crítico e romancista francês Dominique de Roux. Nessas obras, Gombrowicz reflete sobre seus malogrados contatos com os notáveis do mundo literário portenho. Simplificando a questão, o desentendimento nasceu de sua recusa a fazer o papel tradicional do escritor exilado que busca convívio com o establishment cultural da localidade em que foi dar. Com calculado esnobismo, declara-se conde, desdenha da forçosa peregrinação ao salão da escritora Victoria Ocampo, olha atravessado para o escritor Jorge Luis Borges e seus acólitos...
Se, por um lado, houve desencontro, não faltou, por outro, o contrapeso das afinidades eletivas, das simpatias e amizades, especialmente entre figuras mais jovens do universo intelectual de então em Buenos Aires, como Virgilio Piñera, Alejandro Russovich e outros, que se deixam fascinar por ele. Graças a esses contatos, a literatura gombrowicziana enfim passa a existir no exílio do escritor. Primeiro, com a tradução de Ferdydurke para o espanhol, levada a cabo pelo autor, com a ajuda de ‘assessores’ locais, e publicada em 1947. O espanhol em que Ferdydurke se materializa soa anômalo, estrangeiro. O escritor Ricardo Piglia verá nessa tradução uma obra-prima, por conta das possibilidades que ela abre em termos de exploração do idioma. A essa altura, Gombrowicz conclui sua segunda peça, "O casamento", traduzida para o espanhol também com a ajuda de parceiros. O texto foi publicado primeiro na Argentina, em 1948; só em 1953 sai em polaco.


- Quando Gombrowicz alcança reconhecimento na França?
De certo modo, as traduções de suas obras para o espanhol vão auxiliar nisso. O crítico e ensaísta polaco Konstanty Jeleński, colaborador do Instituto Literacki, sediado em Paris, faz com que essas versões cheguem a seu amigo François Bondy, que publica um artigo sobre Ferdydurke na influente revista Preuves. Foi assim que Maurice Nadeau conheceu a obra de Gombrowicz, tomou-se de admiração por ela e decidiu publicá-la em tradução para o francês sob o prestigioso selo Les Lettres Nouvelles, série que dirigia na editora René Julliard.
O Instituto Literacki e sua revista Kultura eram iniciativas de intelectuais e escritores polacos dissidentes que haviam optado pelo exílio com a stalinização do país, após a Segunda Guerra. Publicavam basicamente obras de polacos dissidentes, em polaco, para que circulassem livres da censura comunista.
Gombrowicz encontra nesse grupo interlocutores fundamentais. Graças a esse apoio, vai pouco a pouco se infiltrando no universo letrado francês e, por extensão, no europeu. Em 1958, sai a tradução francesa de Ferdydurke, um momento capital na carreira do autor. Nesse meio tempo ele vinha publicando na revista Kultura, em fragmentos, textos que mais tarde comporiam os três volumes de seu "Diário". Pode-se a partir daí falar da recepção de Gombrowicz em escala mundial. Ele continuou vivendo em Buenos Aires, mas se mantinha ativamente ligado ao Instituto.

- As décadas de 1950-1960 parecem ter sido um período fértil na carreira do autor, não?
Nesse período aparecem várias de suas obras mais importantes: os romances "Transatlântico", "Pornografia" e "Cosmos". É uma verdadeira explosão criativa. Parece que as energias represadas no período inicial de exílio se desencadeiam em sucessivas obras, todas geniais. São de um vigor ímpar, em diferentes âmbitos, pois, além dos romances, publicou a peça "Opereta" e a prosa fascinante do "Diário", em que há, além de diário no sentido estrito do termo, passagens memorialísticas, efusões líricas, crítica literária e debate de ideias, além de pura e simples ficção. É uma obra em que expande com ímpeto máximo, de modo abrangente e prismático, o aspecto intelectual de seu projeto literário. Mais que mero relato autobiográfico, é um mosaico de experimentação de escrita e de pensamento, um tour de force inventivo, crítico e polêmico.

- Qual a situação do autor na Argentina após a ‘conquista’ da França?
A conquista da França e da Europa vai gradativamente alterar o modo como era visto pela intelectualidade argentina, que o ignorava. A essa altura, porém, surge a oportunidade de regresso ao Velho Mundo, e em 1963 ele segue para Paris. Passa um período em Berlim e, com a saúde debilitada, fixa residência no sul da França, em Vence, onde morre em 1969, com prestígio consolidado e obras traduzidas para várias línguas. No contexto polaco, já é tido nesse momento como um dos maiores autores do país no século 20. A partir de sua morte, até hoje, a escalada é permanente. Multiplicam-se as traduções, e a recepção de sua obra é impulsionada sem cessar pela pesquisa especializada desenvolvida na Polônia e no mundo.

- Como a obra de Gombrowicz foi recebida aqui?
"Bakakai" é seu primeiro livro publicado aqui, em 1968, com tradução de Álvaro Cabral a partir da versão francesa da obra. O volume, que saiu originalmente em 1957, reúne os contos do livro de estreia, "Memórias da época do amadurecimento", dois fragmentos de "Ferdydurke" e três contos esparsos do autor. Infelizmente, não houve o cuidado de se fazer uma introdução, apresentando Gombrowicz e sua obra ao leitor brasileiro.
Em parte talvez isso explique o pequeno impacto da obra entre nós; sem o amparo de alguma informação e esclarecimento crítico, talvez tenha ficado indefesa demais. Ainda na primeira onda de assimilação de Gombrowicz no país, temos a publicação, em 1970 – pela mesma editora que publicou "Bakakai", Expressão e Cultura –, de "A pornografia", vertido do francês por Flávio Moreira da Costa. Reproduziu-se no livro o prefácio escrito por Gombrowicz para a tradução francesa do romance.

- O que teria motivado editores brasileiros a traduzir Gombrowicz?
Seu nome já era mundialmente reconhecido quando começa a ser editado no Brasil. Ao longo dos anos 1960, a reputação de Gombrowicz no universo do teatro torna-se fenomenal. Em 1963-1964, o diretor argentino Jorge Lavelli encenou "O casamento", em Paris, e a montagem teve enorme repercussão. Em seguida, o autor foi encenado por grandes nomes do teatro europeu. Para continuar com "O casamento", sucedem-se montagens em Estocolmo e Milão. Na então Berlim Ocidental, Ernst Schröder dirige a peça com cenografia do tcheco Josef Svoboda, um dos maiores cenógrafos do século 20. Em 1972, Lavelli encena "Ivone, princesa da Borgonha", em Buenos Aires, com grande sucesso. A carreira de Gombrowicz nos palcos alcança tal dimensão que deve ser vista como uma das molas propulsoras da divulgação de sua obra literária propriamente dita.

- Quais as outras ‘ondas’ de assimilação de Gombrowicz no Brasil?
Em 1986, a editora Nova Fronteira publicou nova tradução de "A pornografia", novamente a partir do francês. Mas essa versão, de Tati de Morais, foi revista com base no original polaco pelo dramaturgo e crítico teatral Yan Michalski. O lançamento teve certa ressonância, mas, de novo, a recepção crítica ficou muito aquém da força do romance.
Nos anos 2000, pela primeira vez, temos Gombrowicz traduzido no Brasil diretamente do polaco. A Companhia das Letras publicou três romances, todos traduzidos por Tomasz Barciński: "Ferdydurke" [2006], "Cosmos" [2007, vertido em parceria com Carlos Alexandre Sá] e, de novo, "Pornografia" [2009]. Traduzi a peça "Ivone, princesa da Borgonha" – montada no Rio de Janeiro em 2001 pela companhia L’Acte, com direção de Thierry Trémouroux [o texto não foi publicado] – e o conhecido ensaio ‘Contra os poetas’, publicado na revista Poesia Sempre – Polônia, da Biblioteca Nacional, em 2008. Além disso, saiu recentemente o livreto "Curso de filosofia em seis horas e quinze minutos", traduzido do francês por Teresa Fonseca e publicado em 2011 pela José Olympio.

- Acha que o autor finalmente alcançou no Brasil o lugar que merece?
Creio que ainda há flagrante distância entre Gombrowicz e o leitor brasileiro. Penso no leitor de forma ampla, mas levo em consideração nesse juízo também o leitor especializado, o pesquisador de literatura. Gombrowicz me parece ser um nome relativamente conhecido no país hoje, mas sua obra não ‘funciona’ no sentido rigoroso do termo. Não é algo que se estude, que se discuta, sobre o qual se escreva e se publique, algo que esteja de fato presente na rotina dos eventos acadêmicos na área de letras ou no âmbito da vida literária em geral. Resta não pouco a fazer em termos de tradução – e de crítica das traduções existentes. Antes de tudo, porém, o que falta mesmo é que se leia Gombrowicz! Espero ter ficado claro até aqui, porque estou convicto de que vale muito a pena.


Texto originalmente publicado no sobreCultura 16 (julho de 2014)

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A poesia "Óculos" de Julian Tuwin


Biega, krzyczy pan Hilary:
 « Gdzie są moje okulary? »
Szuka w spodniach i w surducie,
W prawym bucie, w lewym bucie.
Wszystko w szafach poprzewracał,
Maca szlafrok, palto maca.
« Skandal! – krzyczy – nie do wiary!
Ktoś mi ukradł okulary! »
Pod kanapą, na kanapie,
Wszędzie szuka, parska, sapie!
Szuka w piecu i w kominie,
W mysiej dziurze i w pianinie.
Już podłogę chce odrywać,
Już policję zaczął wzywać.
Nagle zerknął do lusterka…
Nie chce wierzyć… Znowu zerka.
Znalazł! Są! Okazało się,
Że je ma na własnym nosie.


Em português:

ÓCULOS,
Julian Tuwin

Corre, grita o Sr. Hilary:
"Onde estão meus óculos?"
Procura nas calças e casaco,
No sapato direito, no sapato esquerdo.
Tudo derruba nos armários,
apalpa seu roupão, apalpa seu casaco.
"Escândalo! - grita - não acredito nisso!
Alguém roubou meus óculos!"
Sob a cama, no sofá,
Procura em todos os lugares, rosna, sibila!
Olha no forno e na chaminé,
No buraco do rato e num piano.
Já no chão quer se rasgar,
Já começa a chamar a polícia.
De repente, olha-se no espelho ...
Não quer acreditar ... novamente olha.
Encontrou! Ali eles estão! Encontra-o
Sobre seu próprio nariz.

Tradução livre
de Ulisses Iarochinski

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Polônia alerta sobre invasão russa na Ucrânia



À medida que as forças leais ao Governo da Ucrânia apertam o cerco aos combatentes separatistas nas cidades de Donetsk e Lugansk, no Leste do país, o Exército russo vai-se estendendo ao longo da sua fronteira, a meia centena de quilômetros, em movimentações que a Polônia e a OTAN interpretam como os primeiros passos de uma invasão.
Os números da Aliança Atlântica são revistos e aumentados praticamente todos os dias – na semana passada, falava-se em 15.000 soldados russos ao longo da fronteira, mas agora serão já 20.000, de acordo com o secretário-geral adjunto da organização, o norte-americano Alexander Vershbow.
Apesar das acusações, a disposição das tropas russas não viola os acordos internacionais – oficialmente são exercícios militares, e não há grupos com mais de 9.000 soldados fora das suas bases, em cumprimento do Documento de Viena de 2011.
Como tem sido hábito desde o início do conflito na Ucrânia, quase todas as acusações, declarações e alegadas provas da culpabilidade de um e de outro lado jogam-se nas redes sociais, e não foi de se estranhar que uma das mais sérias acusações da OTAN tenha chegado através do Twitter. "A Rússia violou a lei internacional sem qualquer justificação, invadiu a Ucrânia, apoia os separatistas, e tem agora cerca de 20.000 soldados na fronteira com o Leste da Ucrânia", escreveu Alexander Vershbow.
É uma guerra com várias tentativas de cerco – no terreno, as forças ucranianas tentam derrotar os separatistas; a liderança da OTAN tenta convencer os seus membros de que é urgente apressar os preparativos para uma guerra; e a Rússia tenta avisar a Ucrânia que uma vitória militar no Leste do país pode sair-lhe cara.
Nesta quarta-feira, o Presidente russo, Vladimir Putin, respondeu às duras sanções aprovadas na semana passada com a limitação ou proibição da importação de alimentos dos EUA e da União Europeia (UE). "Determinados tipos de produtos agrícolas, matérias-primas e alimentos com origem em Estados que decidiram impor sanções econômicas a entidades legais e/ou indivíduos russos, ou que se tenham associado a essa decisão, estão banidos ou limitados", lê-se no comunicado do Kremlin.

OTAN exige mais poder
Nas últimas horas, a OTAN não tem parado de lançar avisos. A porta-voz da organização, a romena Oana Lungescu, disse que "o mais recente reforço militar russo agrava a situação e compromete os esforços com vista a uma situação diplomática para a crise". Mas o mais sério aviso veio do próprio secretário-geral da Aliança Atlântica, o dinamarquês Anders Fogh Rasmussen.
Num artigo assinado no Financial Times, intitulado "Todos os aliados da OTAN devem pressionar a Rússia", Rasmussen apresenta uma série de argumentos a favor do reforço da capacidade da aliança, contra aquilo a que chama "o maior desafio desde o fim da Guerra Fria".
Pondo toda a responsabilidade nas costas da Rússia, por ter "rasgado os compromissos" com a OTAN – que "se esforçou para melhorar as relações com Moscou após o colapso do comunismo" –, Rasmussen voltou a apelar ao reforço dos gastos com equipamento militar por parte dos 28 membros da organização.
A próxima reunião de cúpula da OTAN, que vai decorrer no País de Gales a 4 e 5 de Setembro (a última de Rasmussen como secretário-geral, posição que vai ceder ao norueguês Jens Stoltenberg a partir de Outubro), terá de servir para "aumentar a força de resposta multinacional", porque "as ações da Rússia não podem ser ignoradas".
"A ordem mundial pós-Guerra Fria está em jogo. Por isso, a OTAN é necessária mais do que nunca. Estamos decididos a mostrar que a OTAN está a falar muito a sério", escreveu Rasmussen. A ideia de uma invasão do Leste da Ucrânia pela Rússia não é nova – desde a anexação da península da Crimeia, em Março, que o Governo de Kiev, os Estados Unidos e vários países da União Europeia têm trabalhado com esse cenário em cima da mesa.
Nesta quarta-feira, o primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, disse ter "razões para suspeitar" que a Rússia vai entrar diretamente no conflito na Ucrânia. "Temos recebido informações nas últimas horas de que o risco de uma intervenção direta é sem dúvida mais elevado do que era há vários dias", disse o chefe do Governo polaco em conferência de imprensa.
E, à semelhança do secretário-geral da OTAN, pressionou os seus aliados a prepararem-se o mais depressa possível para esse cenário: "Se se concretizar uma intervenção direta das forças russas na Ucrânia, isso seria obviamente uma situação nova e, na minha opinião, ninguém tem uma resposta boa e inequívoca sobre de que forma o Ocidente deve reagir a isso."

Fonte: jornal "Público", de Lisboa

terça-feira, 29 de julho de 2014

Inglaterra envia 1350 soldados para a Polônia

Os ministros da Defesa e das Relações Exteriores dos dois países se reuniram em VarsóviaADAM STEPIEN/REUTERS
O novo ministro da Defesa da Grã-Bretanha, Michael Fallon, foi a Polônia anunciar que o seu país vai participar num exercício da OTAN, às portas da Rússia, com uma força composta por 1350 soldados e 350 veículos militares — a maior que Londres envia para aquela região nos últimos seis anos.
Num sinal claro do maior protagonismo que o Grã-Bretanha vem assumindo em relação à anexação da península da Crimeia pela Rússia e ao conflito no Leste da Ucrânia, o ministro britânico visitou Varsóvia, acompanhado pelo seu colega das Relações Exteriores, Philip Hammond, e revelou a dimensão do contingente militar do país no exercício Black Eagle, que vai decorrer no Outono na Polônia. "Os membros e parceiros da OTAN devem demonstrar o nosso compromisso com a segurança coletiva dos nossos aliados na Europa de Leste", declarou Michael Fallon, em resposta às preocupações de países como a Polônia sobre supostas ameaças da Rússia ao seu território — Varsóvia tem manifestado receios de que o Presidente Vladimir Putin queira prosseguir uma estratégia expansionista na sequência do conflito na Ucrânia, mas Moscou sempre disse que não tem qualquer intenção de o fazer, acusando a OTAN de querer desestabilizar a região com manifestações de poderio militar. "Em particular" — sublinhou o ministro da Defesa britânico —, "a participação de um grupo de combate no exercício Black Eagle mostra o nosso apoio sustentado e substancial à fronteira Leste da OTAN".
O Reino Unido enviou quatro caças Typhoon para a missão da OTAN no Báltico, com base na Lituânia, depois da anexação da Crimeia. Depois do início dos combates no Leste da Ucrânia entre as tropas fiéis a Kiev e os separatistas pró-russos, essa missão passou a incluir quatro F-16 da Dinamarca e quatro MiG-29 da Polônia.
Varsóvia tem insistido para que a OTAN coloque no seu país uma força permanente, mas os membros da aliança têm resistido à ideia, com receio de hostilizar a Rússia. Apesar disso, este é um dos assuntos que deverá ser discutido na próxima reunião de Cúpula, que vai acontecer no País de Gales em Setembro.
Ouvido pela BBC, Michael Clark, diretor-geral do Instituto Royal United Services, considera que os exercícios da OTAN "estão a tornar-se bastante sérios. Não estamos enviando apenas uns quantos homens, estamos deslocando um grupo de combate completo — a unidade básica de combate", alertou o analista.
"O que estamos dizendo é que vocês [os russos] não se comportaram de acordo com as nossas relações da década de 1990. O que queriam que fizéssemos? Os nossos novos aliados da OTAN [da Europa de Leste] esperam que os descansemos; é isso que estamos fazendo", disse o director-geral do instituto Royal United Services.
O novo ministro da Defesa do Reino Unido, que entrou para o Governo na profunda remodelação operada pelo primeiro-ministro, David Cameron, em meados de Julho, tem sido uma das vozes mais duras contra o papel da Rússia no conflito na Ucrânia.
Pouco depois do desastre do voo MH17 da Malaysia Airlines, que ao que tudo indica foi abatido por um míssil numa região controlada pelos combatentes separatistas, Michael Fallon exigiu que a Rússia "saia do Leste da Ucrânia e deixe a Ucrânia para os ucranianos".
Descrevendo o provável derrubada do avião (também provavelmente por erro) como um ato de "terrorismo patrocinado", o ministro britânico deixou uma ameaça a Moscou: "Se a Rússia é a principal culpada, podemos tomar mais medidas contra eles e deixar bem claro que este tipo de guerra patrocinada é completamente inaceitável."

Fonte: Jornal Público, de Lisboa

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Um pouco de gramática polaca

Pequeníssimo dicionário de termos definidores na gramática polaca:

Acusativo = Biernik
Adjetivo = Przymiotnik
Advérbio = Przysłówek
Coloquial = Potocznie
Modo Condicional = Tryb Przypuszczający
Conjugação = Koniugacja
Dativo = Celownik
Feminino = Rodzaj Żeński
Genitivo = Dopełniacz
Instrumental = Narzędnik
Modo Imperativo = Tryb Rozkazujący
Verbo Imperfectivo = Czasownik Niedokonany
Modo Indicativo = Tryb Oznajmujący
Verbo Infinitivo = Czasownik Bezololicznik
Locativo = Miejscownik
Latim = po Łacinie
Masculino = Rodzaj Męski
Neutro = Rodzaj Nijaki
Nominativo = Mianownik
Verbo Perfectivo = Czasownik Dokonany
Pessoa = Osoba
Plural = Liczba Mnoga
Singular = Liczba Pojedyncza
Verbo = Czasownik
Vocativo = Wołacz

sábado, 19 de julho de 2014

Polônia derruba monumento soviético

Texto: Nacho Temiño

A demolição em uma cidade polaca de um monolito em honra ao Exército Vermelho provocou as críticas da Rússia, que qualificou a ação de "blasfemia", mas outras localidades da Polônia estudam retirar seus monumentos soviéticos e deixar assim para trás uma etapa que muitos cidadãos querem esquecer.
A cidade de Limanowa, no sul do país, se transformou em protagonista do último desencontro entre Varsóvia e Moscou por conta dos monumentos erguidos durante o período comunista. Esta cidade demoliu recentemente um obelisco levantado nos anos 60 em gratidão ao Exército Vermelho, alegando o mal estado da construção, que praticamente tinha perdido o baixo-relevo no qual se mostrava um soldado acompanhado de camponesas, um minerador e um montanhista.
Há mais de 20 anos várias associações locais tinham pedido para retirar o monumento, mas a tarefa não era fácil e a prefeitura precisou de mais de dois anos de negociações e múltiplas permissões para poder desfazer-se dele.
Após saber da notícia, o Ministério das Relações Exteriores russo qualificou a demolição de "ação blasfema" e lembrou que a decisão das autoridades municipais, sem consentimento de Moscou, viola o acordo assinado em 1994 entre ambos os países para proteger os monumentos e lugares históricos, incluindo cemitérios, vinculados à luta contra o nazismo.
As autoridades russas lembram que na Polônia existem cerca de 300 monumentos da era soviética e que em solo polaco descansam mais de 600 mil soldados russos mortos durante os combates contra o Exército nazista.
No entanto, outras localidades polacas copiaram o caso de Limanowa; a cidade de Nowy Sącz estuda retirar seu próprio monumento, embora neste caso será mais difícil porque exigirá transferir os restos mortais dos soldados soviéticos enterrados nas proximidades, já que em muitos casos os monumentos assinalam cemitérios soviéticos.


O desmantelamento da herança soviética pode não acabar em Limanowa ou em Nowy Sącz, já que as últimas tensões entre Moscou e Varsóvia por conta da Ucrânia provocaram que aflore o sentimento antirrusso na Polônia, onde se lembra que, após a teórica "libertação" e a saída dos nazistas, os soviéticos impuseram um regime comunista que durou mais de 40 anos.
Precedentes há, e na vizinha Estônia as autoridades retiraram em 2007 um monumento aos soldados soviéticos do centro de Tallinn, o que provocou uma grave crise diplomática, enquanto o governo da Polônia naquele ano, liderado pelo nacionalista-conservador Jarosław Kaczyński, anunciava a desmantelação ou realocação dos monumentos soviéticos.
Vladimir Putin criticou Kaczyński e este defendeu o apoio de Bruxelas, respondendo que a Polônia não toleraria "que nenhum outro país decidisse o que fazer com seu patrimônio histórico", por sua vez assegurando que ceder para Moscou abriria um perigoso precedente que poderia levar a que "um dia também queiram decidir o nome de nossas ruas".

Embora esse plano não tenha acontecido de maneira sistemática, o certo é que a maioria destes monumentos ficaram à sua sorte, descuidados em muitos casos e submetidos ao vandalismo constante, algo que o Kremlin denunciou em várias ocasiões. "Os monumentos aos soldados soviéticos que libertaram a Polônia dos invasores nazistas durante a Segunda Guerra Mundial foram alvo de vandalismo com mais frequência, e ultimamente houve mais tentativas para situar estes monumentos sem permissão", disse recentemente em comunicado o ministério russo.
"Inclusive levando em conta o contexto negativo, a demolição do monumento que expressa gratidão ao Exército Vermelho na cidade polaca de Limanowa é um ato verdadeiramente degradante", acrescentou.
O ponto alto desta "luta" pelos monumentos soviéticos aconteceu há dois anos, quando o ministro das Relações Exteriores polaco, Radosław Sikorski, propôs a demolição do Palácio de Cultura, um edifício de proporções colossais que a extinta União Soviética presenteou à Varsóvia, para situar em seu lugar um grande parque que afaste definitivamente a lembrança do período comunista.
O palácio, que continua de pé, é imenso, com mais de 234 metros de altura e 44 andares entre os quais se dividem diferentes instalações, desde cinemas, piscinas, ginásios, salas de conferências, museus, teatros e livrarias até áreas de lazer.

Fonte: Agência EFE

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Filme lançado na Polônia causa polêmica

A Polônia na cabeça de Pawel Pawlikowski
LUÍS MIGUEL OLIVEIRA
18/07/2014
publicado no jornal PÚBLICO, de Lisboa

O catolicismo, o Holocausto, o comunismo: Ida, talvez o primeiro filme "polaco" do polaco Paweł Pawlikowski, abre as gavetas mais traumáticas de uma identidade nacional.

Grande parte da vida do polaco Paweł Pawlikowski foi feita no estrangeiro. Saiu da Polônia no fim da adolescência, nos anos 70, e acabou por se fixar na Grã-Bretanha, onde se formou e onde encetou uma carreira de realizador de cinema, entre o documentário, primeiro, e a ficção, depois. Até agora os seus filmes mais conhecidos – como My Summer of Love, de 2004, por aqui estreado comercialmente – eram objetos perfeitamente “ingleses”, que pouco ou nada convocavam a origem polaca de Pawlikowski. Mas quase 40 anos depois de ter saído da Polônia comunista, Pawlikowski, nascido em 1957, voltou ao seu país natal. Ida é o seu primeiro filme polaco, rodado e ambientado na Polônia.
Ambientado na Polônia, mas não a Polônia de agora, antes uma Polônia “de época”, o princípio da década de 60, os anos da sua infância. Conta uma história firmemente ancorada nalguns dos momentos determinantes do século XX polaco, entre a guerra e o Holocausto e os 40 anos de regime comunista – uma jovem freira num convento católico, Ida, fica a saber, durante uma estada com a sua tia (por sua vez comprometida com a época estalinista), que é na verdade judia, que os pais foram mortos durante a guerra, e que o apagamento da sua origem foi uma maneira de lhe salvar a pele. Questões de identidade, portanto, que dominam o filme e são de alguma maneira o seu tema central.

ENTREVISTA
Paweł Pawlikowski mergulhou na Polônia dos anos 60. Foto: OSCAR GONZALEZ/NURPHOTO
Em conversa telefônica com Pawlikowski perguntamos-lhe se Ida é, depois de tanto tempo a ver o país natal de longe, o seu retrato da Polônia, a sua “visão” da Polônia. Começa por ser evasivo, diz que pensou sobretudo na narrativa, nas personagens e na relação entre elas, e que foi isso que sobretudo lhe interessou. Mas insistimos, notando que o filme convoca não poucos elementos determinantes, e alguns bastante traumáticos, da identidade polaca das últimas décadas: o catolicismo, o Holocausto, o comunismo.
Ninguém abre estas gavetas de maneira casual. Pawlikowski anui: “É o retrato da Polônia que existe na minha cabeça." Reclama uma dimensão pessoal, evacuando toda a pretensão sociológica: recusa-se a considerar Ida como um filme de tese, ou como um filme que contenha “um discurso sobre a Polônia”. “A retórica”, diz, “é uma das grandes pechas do cinema polaco contemporâneo”, a par de uma tendência “para lidar com temas”. E ele diz que não quis “abordar temas”, e que certos temas “é melhor deixar aos historiadores, aos jornalistas ou aos investigadores”.
As respostas cautelosas de Pawlikowski talvez tenham a ver com o “bruá” suscitado pela reação ao filme na Polônia. “De repente parecia que o filme era uma batata quente, foi muito mais debatido do que eu queria e esperava." Houve discussões públicas, Ida entrou na agenda “mediática” e Pawlikowski teve de ouvir um pouco de tudo, incluindo que o seu filme “era anti-patriótico” ou até “anti-semita”. Embora seja um assunto que o exaspera, Pawlikowski conta isto a rir-se.
Por acaso – ou nada por acaso –, o princípio dos anos 60 foi também a época do “ressurgimento” do cinema polaco depois da guerra, os anos em que os jovens Polanski ou Skolimowski se lançaram no trilho aberto, na década anterior, pelos mais velhos Andrzej Wajda ou Andrzej Munk. O preto e branco de Ida, de uma aspereza rica em texturas e contrastes, parece uma maneira evidente (mas não a única) de evocar esses filmes e esse período do cinema polaco, como se a matéria da evocação fosse, mais do que só na época, também o cinema da época.
É esta, afinal, a Polônia “que existe na cabeça” de Pawlikowski? “Havia evidentemente um sentido de tragédia, um sufoco, mas acho que a Polônia dos anos 60, para além disto, era um local muito porreiro, muito cool, onde se conseguia encontrar uma medida de liberdade e até uma joie de vivre”.
Ida mostra isto muito bem, nas várias cenas que reconstituem a cena boêmia da época, os bares e os clubes de jazz, que o regime tolerava (mal, mas tolerava) e os jovens cultivavam exatamente pela mesma razão (era música americana), e onde se deram alguns encontros decisivos para o cinema polaco (A Faca na Água, de Polanski, começou a nascer da cumplicidade criada entre o realizador e Skolimowski, habitués do mesmo clube de jazz). “A Polônia nos anos 60 era um sítio perfeitamente hipster”, diz Pawlikowski outra vez a rir-se, “e foi uma época culturalmente muito rica a vários níveis e disciplinas, no cinema, na literatura, no teatro, ou na música contemporânea, com Gorecki, por exemplo."
Mas no mesmo passo distancia-se de uma filiação direta nos jovens cineastas polacos de 60. “Curiosamente senti-me sempre mais próximo da ‘nova vaga checa’, Forman, Chytylova ou Jan Nemec, do que da polaca." E para este filme, “sinceramente mais interessado no retrato de duas mulheres do que em qualquer outra coisa”, diz que foram muito mais importantes outras referências alheias à Europa de Leste: Bresson “o Bresson dos Anjos do Pecado ou do Pickpocket” – ou Bergman – o de Luz de Inverno, cita especificamente.


Ida
Realização:Pawel Pawlikowski
Elenco:Agata Kulesza, Agata Trzebuchowska, Dawid Ogrodnik



Cerco e Liberdade
Se o retrato das duas mulheres é em grande medida contrapolar, todo o filme parece, do mesmo modo, jogar permanentemente com sinais contrários. Há tragédia mas também há ironia, o tom oscila entre um dramatismo severo e o seu curto-circuito, sente-se a atmosfera de cerco mas também se sente, dentro dela, aquela liberdade mais ou menos arejada.
A música é um elemento central no tratamento de todas estas ambivalências, das pop songs italianas (Celentano, por exemplo) ao uso notável, em certa e determinada cena, de uma sinfonia (a Júpiter) de Mozart. Quase sempre, se não mesmo sempre, é música “diegética”, vem de dentro dos planos, nasce de rádios, toca-discos ou atuações ao vivo.
Pawlikowski diz que a seleção musical teve muito a ver também com as letras das canções, que ele “queria que abrissem para fora daquele universo”, que sugerissem, portanto, outro mundo no mesmo em que, como um coro, comentam este. A sinfonia de Mozart é um caso diferente: “estava obcecado por ela há anos”, mas nunca tinha encontrado a maneira ideal de a fazer entrar num filme.
O seu emprego, na cena mais memorável de Ida – um suicídio, longamente preparado, com a música, percebe-se depois, a fazer parte essencial do ritual de preparação –, deixa uma impressão indelével, é como se Ida se apropriasse delas e fosse, doravante, impossível ao espectador do filme dissociá-las.
Indissociáveis de Ida – tanto quanto se dissociam elas próprias uma da outra – são as duas protagonistas do filme, Agata Trzebuchowska (a jovem Ida) e Agata Kulesza (a sua tia Wanda, mais velha, mais desencantada, mais sofrida). Nenhuma delas é muito conhecida no resto do mundo, ao que Pawlikowski acrescenta que nenhuma delas “era sequer muito conhecida na Polônia”. Agata Kulesza é uma atriz veterana, mas vem sobretudo do teatro, com pouco trabalho em cinema. Agata Trzebuchowska foi escolhida como Bresson escolhia os seus “modelos”: “No café por baixo da minha casa." Era uma estudante de filosofia, “que nunca fora atriz e não quer voltar a ser atriz."
Exatamente aquilo que Pawlikowski pretendia – em mais uma associação contrapolar, a de uma atriz profissional a uma não-atriz; “não queria técnica, não queria histrionismo, não queria à vontade com a câmara: queria alguém que fosse boa a ouvir, e boa a olhar”.
Também aí, sucesso indesmentível. 

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Professor alemão é preso roubando em Auschwitz


Sob alegação de roubo de bens de especial importância para a cultura, ouvido hoje o alemão detido no Campo de Concentração e Extermínio alemão nazista em Birkenau, após ter sido surpreendido com saco plástico com vários objetos coletados por ele, na área do campo chamado de "Kanada".
Objetos estes que eram de propriedade os antigos prisioneiros de Auschwitz. O alemão de 47 anos de idade, declarou-se culpado, disse o vice-promotor distrital de justiça Mariusz Slomka, em Auschwitz. "Ele explicou que é professor e queria mostrar os objetos furtados no campo de concentração a seus alunos na Alemanha. Ele expressou remorso", declarou Slomka.
O promotor acrescentou que o delito de que foi acusado o professor alemão, prevê uma pena de até 10 anos de prisão. O alemão solicitou submissão voluntária à pena. Ele propôs para si a suspensão da pena de prisão e uma multa, que já tinha sido parcialmente paga.
Slomka não revelou o montante da sanção. Mas garantiu, no entanto, que o valor da multa será doloroso, porque a definição do valor levou em conta a quantidade dos ganhos penuniários do suspeito do delito, na Alemanha. Após a audiência em Oświęcin (Auschwitz em idioma polaco e nome da cidade onde se localiza o campo de concentração e extermínio, o alemão foi liberado. Seu caso será decidido pelo tribunal distrital de Cracóvia.

Coisas roubadas
O professor que visitou o campo com um grupo de alunos, foi preso na terça-feira à noite, quando foi pego com um saco cheio de objetos furtados na área "Kanada". "Ele tinha coletado dez itens, incluindo garfo, tesoura e um pedaço de pedaços carbonizados de cerâmica. Ele os encontrou na área onde eram os pavilhões de armazenagem dos prisioneiros recém-chegados. Local que os próprios prisioneiros chamavam de "Kanada".
Os nazistas limpavam os prisioneiros de seus pertences. Muitos soldados muitas vezes roubavam os objetos armazenados como relógios de ouro, anéis e correntes. No final da guerra, os alemães, que para apagar os vestígios dos seus crimes, atearam fogo naqueles armazéns", disse um porta-voz do Museu de Auschwitz, Bartosz Bartyzel.

Fragmentos
O porta-voz do museu disse que na área "Kanadá" de tempos em tempos, a própria terra acaba liberando fragmentos enterrados na área, que há décadas acabaram abaixo da superfície. "Buscamos coletá-los gradualmente. Isso só é feito enquanto realizamos pesquisas arqueológicas, porque o antigo campo é tratado como um cemitério", explicou.
Nos últimos anos tem ocorrido roubos similares. Em 2011, no aeroporto de Balice, seguranças detiveram um casal de idosos de Israel que tentavam sair da Polônia com objetos encontrados no "Kanada".
Eles foram criminalizados por roubo de bens de especial importância para a cultura e pontos turísticos da Polônia e tentarem exportar para os objetos para fora da fronteira polaca. Eles se entregaram voluntariamente para sofrerem a punição. O tribunal os condenou a um ano e quatro meses de prisão, e uma multa de 4.200 złotych. A pena foi suspensa por três anos e e os valores pecuniários foram destinados a um propósito social.

O roubo mais famoso foi em 2009
Até agora, o roubo mais emblemático aconteceu no Campo I de Auschwitz, em dezembro de 2009. Ladrões roubaram a placa com a inscrição "Arbeit macht frei" de cima do portão principal de entrada. Os ladrões, entre eles o sueco Anders Hoegstroem, foram condenados à prisão.

O Campo alemão
Os nazistas alemães estabeleceram um acampamento em Auschwitz em 1940, com o objetivo de aprisionar os polacos, em antigas instalações do Exército polaco na cidade de Oświęcin (pronuncia-se ochvientchin). Dois anos após, na cidade vizinha de Brzezinka, (pronuncia-se bjejinca) construíram o campo Auschwitz II, conhecido pela seu nome traduzido de Birkenau.
O que inicialmente era um campo de concentração de prisioneiros, logo tornou-se lugar de extermínio de prisioneiros. No complexo do acampamento funcionava como uma rede de sub-campos.
Em Auschwitz, os alemães mataram pelo menos 1,1 milhão de pessoas, a maioria judeus, mas também muitos polacos católicos, protestantes, ciganos, prisioneiros de guerra soviéticos e pessoas de outras nacionalidades.
Em 1947, no local dos antigos campos de concentração e extermínio alemão de Auschwitz I e Auschwitz II (Birkenau) foi fundado um Museu Estatal. No ano passado, o museu foi visitado por 1.330.000 pessoas (um milhão e trezentos e trinta mil). O ex-campo, em 1979, foi listado como o único de seu tipo, no Patrimônio Mundial da UNESCO.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

A invasão silenciosa da Crimeia

A anexação da Crimeia foi a mais suave invasão dos tempos modernos. Ela terminou antes mesmo que o mundo se desse conta de que havia começado.


John Simpson
Editor Internacional, BBC News

E até 18 de março, quando um grupo armado pró-Rússia atacou uma pequena base do Exército ucraniano em Simferopol – assassinando um oficial e ferindo outro –, a invasão vinha ocorrendo sem derramamento de sangue.
Durante boa parte do mês de fevereiro, milhares de soldados foram mandados silenciosamente para bases russas situadas na Crimeia com base em um tratado antigo entre Kiev e Moscou. "Voluntários" civis também foram levados para essas unidades. O plano foi executado secretamente e teve sucesso.
O primeiro sinal óbvio de que a Crimeia estava sendo tomada veio em 28 de fevereiro, quando barreiras de controle foram montadas em Armyasnk e Chongar – as duas maiores estradas que ligam a península à Ucrânia.

'Bem-vindo à Rússia'
Esses pontos eram controlados por homens que usavam uma grande variedade de uniformes: do Exército ucraniano, da polícia ucraniana e fardas camufladas sem a insígnia do país. Muitos usavam roupas civis.
Quando eu tentei passar por uma dessas barreiras em Armyansk no sábado, 1º de março, com um cinegrafista da BBC, esses homens foram hostis e ameaçadores.
Eles abriram o porta-malas do táxi e roubaram as malas onde estavam nossos coletes à prova de balas. Depois abriram nossas pastas agressivamente, jogando parte do que estava dentro na estrada. Eles pegaram nossa câmera e retiraram os cartões de memória e as baterias.
Eles sabiam exatamente o que procurar. Havia mais malas contendo coletes à prova de balas empilhadas ao lado da estrada – sinal de que outros jornalistas tentaram passar por lá antes de nós. Os homens da barreira estavam parando todos, exceto os moradores locais.
Não entendi no início o que estava realmente acontecendo. Foi apenas quando um deles, que usava roupas da polícia, disse "Bem-vindo à Rússia!" que eu entendi – seus uniformes podiam ser ucranianos, mas eles estavam isolando a Crimeia em nome de Moscou.

Bases cercadas
No dia seguinte, 2 de março, tudo já estava feito. Enquanto o mundo esperava que navios de guerra russos chegassem para tomar a Crimeia, isso já havia acontecido de forma discreta.
Em dois dias, as bases miliares ucranianas foram cercadas por soldados. Eles carregavam armas russas modernas, mas seus uniformes não tinham nem símbolos nacionais ou brevês de unidades – tampouco marcas de patentes. Junto com eles estavam "voluntários" – normalmente homens mais velhos, muitos aparentemente vindos da Rússia.
Alguns deles usavam peças de uniformes ou roupas civis. Eles isolaram as bases ucranianas e impediam qualquer um de se aproximar. Presumivelmente, eles eram reservistas russos. Eram duros e agressivos, mas obedeciam ordens de superiores. Alguns eram até beberrões e foram vistos claramente alcoolizados durante a noite. No entanto, a disciplina era mantida.
Não houve notícias de pilhagens e, apesar de seu comportamento, eles não ameaçaram nem atacaram civis.

Infiltração
Nos dias seguintes, outros grupos apareceram. Eles eram voluntários genuínos, que vieram de Moscou para se juntar ao que entenderam como a liberação da Crimeia. Eu conversei com três membros de um grupo ultranacionalista cujos uniformes tinham as cores de uma organização monarquista.
Eram todos de Moscou e planejavam ir da Crimeia para as cidades de Kharkiv e Donetsk, nas quais a Rússia exerce influência.
Por quê? Solidariedade, disseram.
Mais cedo eu havia falado com um grupo de sete ou oito motoqueiros que usavam roupas de couro e brevês com títulos como "presidente", "vice-presidente", etc. Eles também vieram de Moscou e planejavam se dirigir a Kharkiv e Donetsk. "É um grande dia", disse o que ostentava a patente de "presidente". Mas esses eram apenas amadores que queriam se juntar ao processo.
Não havia absolutamente nenhum sinal de que o governo russo os havia mandado. Em tempos modernos, Moscou protagonizou três grandes invasões: na Hungria, em novembro de 1956, e na Tchecoslováquia, em agosto de 1968, quando governos comunistas começaram a demonstrar tendências ocidentais; e no Afeganistão, em dezembro de 1979, quando um regime pró-comunista estava à beira do colapso.
Essas foram operações enormes e brutais, que envolveram um grande número de blindados e, às vezes, grande derramamento de sangue. A tomada da Crimeia foi completamente diferente. Foi uma infiltração, não uma invasão.
Diferente de Hungria, Tchecoslováquia e Afeganistão, ela teria sido apoiada por uma grande parte da população local. De acordo com um conhecido opositor ao presidente russo Vladimir Putin, a votação na Crimeia para unir a região à Federação Russa foi "um referendo na mira de Kalashnikovs". Mas não foi.
O resultado foi o que a vasta maioria de russo étnicos queria, e houve pouco uso para fuzis nas ruas. Aqueles que queriam manter a Crimeia como parte da Ucrânia estavam chocados e intimidados demais para resistir. A operação toda foi bem planejada e executada. Mas não há absolutamente nenhuma dúvida sobre o que ela foi – um rápido e sem muito derramamento de sangue golpe de Estado.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Faleceu hoje o Cônsul da Polônia em Curitiba

Faleceu, nesta madrugada em Curitiba, JACEK SZCZENIOWSKI, Cônsul da Polônia em Curitiba. Morreu vítima de ataque fulminante do coração, às 4:30 da madrugada.
Viúvo de Teresa Szczeniowski há 7 anos, que também faleceu em Curitiba, logo que chegou em missão diplomática, em Curitiba, em 2008.
A poucos meses de se aposentar do serviço diplomático Szczeniowski, deixa o filho Michal de 21 anos.
O velório será hoje (01/07) no horário das 19h00 às 22h00.
Cerimônia religiosa acontece será hoje (01/07) às 20h00.
Local: Capela Vaticano R. Des. Hugo Simas, 26 Curitiba



O cônsul Jacek Szczeniowski (à esquerda) em um dos muitos eventos
em que participou da comunidade polaca do Sul do Brasil
Cônsul Jacek Szczeniowski (2º da dir. p/ esq.) esteve acompanhado do Bispo da Diocese de Novo Hamburgo, Dom Eugênio Hastenteufel (1º da esq. p/ dir.)

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Polônia: berço da vodca

A Polônia é considerada mundialmente como o berço da vodca. Isso demonstra a pesquisa histórica e etnográfica.
A informação documentada mais antiga sobre a vodca em terras polacas é datada da primeira metade do século XV. E este registro escrito é o mais antigo em todo o mundo, a respeito deste aguardente.
A palavra "wódka" foi localizada nos registros do tribunal da cidade Sandomierz de 1405. Ao longo dos séculos, a produção de vodca na Polônia cresceu tanto quanto as lendas sobre este aguardente polaco, e tornou-se parte da tradição nacional, da história, da literatura, dos costumes e da vida social.
Ao longo do tempo as tecnologias de fabricação da vodca foram sistematicamente sendo aperfeiçoadas para tornar a bebida uma das mais apreciadas pela qualidade e excelência.
Durante séculos, a vodca polaca é conhecida e apreciada em mais de 100 países em todos os continentes, em todos os lugares.

Fábrica de vodca em Varsóvia no século XIX
Tradicionalmente produzida a partir de cereais e batatas selecionadas a vodca polaca foi inúmeras vezes agraciada com medalhas, troféus e prêmios obtidos em todas as competições internacionais reconhecidas.
Os conhecedores de vodca no mundo conhecem as marcas mais famosas da Polônia como Baczewski, Luksusowa, Żytnia, Belvedere, Wyborowa, Żubrówka, Dębowa, Chopin, Królewska e muitas, muitas outras. Na arena internacional, a vodca polaca é considerada um de seus quatro ícones nacionais.

A "wódka" da Polônia está para os polacos e o mundo o que é o uísque para os escoceses, a champanhe ou conhaque para os franceses.
Atualmente, a Polônia é o quarto maior mercado de vodca do mundo, depois da Rússia, dos EUA e da Ucrânia. A produção anual de vodca na Polônia é de cerca de 260 milhões de litros.

Cronologia
Tonéis de destilação de vodca - início do século XX
1405 - a primeira menção da palavra vodca nos registros do tribunal em Sandomierz;

1534 - a palavra vodca é usada na obra de Stepan Falimirz, "As ervas e sua energia" em "A queima de vodca com ervas"; As primeiras informações sobre a produção de vodka surgem no contexto da sua utilização na medicina da época. Na segunda metade do século XVI há um desenvolvimento dinâmico da produção de vodka. Os principais centros de produção de bebidas foram Cracóvia, Poznań e Gdańsk; Também começaram as exportações de vodca para fora das fronteiras do Estado  polaco. Inicialmente, a palavra vodca determinava apenas "bebida alcoólica", mas no início do século XVIII, o termo "wódka" começa a dominar, e é usado no sentido contemporâneo. No século XVIII é introduzida a batata na produção da vodca. Devido ao grande sucesso desta matéria-prima.

1782 - em Wybranówce, perto de Lwów, é criada uma das primeiras fábricas que utilizam novos métodos de tratamento à base de álcool pela família Baczewski;

Século XIX - foi um período de prosperidade para a vodca polaca. Foram criadas várias indústrias vodcas na Polônia.

1919 - Criação da Dyrekcji Monopolu Spirytusowego (Direção do Monopólio da bebida Alcoólica) englobando todos os assuntos relativos à indústria da vodca do período do Królestwa Kongresowego (Reino Unido); A Direção foi dissolvida em 1920.

1924 - Adoção da Lei do Monopólio das Bebidas Alcoólicas, que implantou o monopólio estatal da vodca;

1933 - criação da Associação dos Produtores deVodca;

II Guerra Mundial - Foi realizado o confisco da maior parte das destilarias por parte dos invasores alemães. A vodca virou moeda no mercado negro;

Período do pós-guerra - foram feitas nacionalizações das destilarias agrícolas;

1953 - Decreto revoga a limitação de cereais como a batata e ervas como base dos ingredientes das  vodcas;

1973 - Criação do Przedsiębiorstwa Państwowego Przemysłu Spirytusowego "Polmos" (Empresas Estatais das Indústrias de Bebidas Alcoólicas);

1980 - Novamente são decretados limites na base da matéria-prima de cereais e batatas para a produção de vodcas puras;

1991 - Liquidação das Empresas Estatais "Polmos";

1998 - Comercialização das "Polmos" com a inicitiva privada;

1999 - Divisão das marcas das vodcas polacas, anteriormente pertencentes todas à "Polmos";

2001 - Começa a privatização acelerada das "Polmos".

2006 - Criação da Associação da Vodca Polaca.

2006 - É implementada a primeira definição de como deve ser produzida a vodca polaca;

2009 - Criação da União dos Empresários Polacos fabricantes de vodca;

2013 - há uma nova definição de vodca polaca, que para ser polaca produzida no território da Polônia, deve conter apenas batata ou grãos tradicionais como centeio, trigo, aveia, cevada e triticale.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Reportagem de seu enviado especial, publicada hoje pelo jornal espanhol "El Pais", de Madrid, sobre a visita do primeiro ministro espanhol Mariano Rajoy a Polônia, mostra a temperatura política altíssima entre os polacos:

Um escândalo de escutas telefônicas sacode a Polônia

O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, começa a se acostumar a chegar a países em plena revolução política. Na Itália, por exemplo, foi o último a visitar Enrico Letta antes de sua demissão. Mas nunca tinha chegado ao nível de hoje em Gdansk. Rajoy viu como o primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, aproveitava a declaração conjunta na reunião de cúpula entre Espanha e Polônia em Gdansk, a cidade onde nasceu o Solidariedade, o sindicato de Lech Wałęsa, para denunciar em tom muito grava um enorme complô "para desestabilizar a Polônia, o Governo e o partido que apoia o Governo".
Tusk, que cancelou a habitual entrevista coletiva conjunta precisamente para que a imprensa polaca não fizesse perguntas, deu uma longa declaração para tratar do escândalo político provocado pela publicação de conversas privadas de vários ministros e empresários sobre assuntos centrais para o país como relação com os EUA ou as negociações em Bruxelas. 
A revista Wprost publicou este domingo a transcrição parcial de uma suposta conversa entre Radosław Sikorski, titular do Ministério do Exterior, e o ex-ministro da Fazenda polaco Jacek Rostowski, na qual o primeiro opinava que a aliança da Polônia com os EUA não tem nenhum valor e "inclusive é prejudicial, já que cria uma falsa sensação de segurança".
Donald Tusk se defendeu atacando àqueles que estão pedindo demissões e deixou no ar a possibilidade de que por trás desta operação poderia estar inclusive a Rússia pela posição da Polônia, que reclama mais sanções pela crise da Ucrânia. Tusk não chegou a citar os russos, mas era o que se deduzia de suas palavras. "Este escândalo de escutas provoca uma crise política desconhecida. Não tenho nenhuma dúvida de que quem colocou as escutas é um grupo organizado de delinquentes . Não fizeram isto movidos pelo interesse público. O único resultado é desestabilizar o Estado polaco em um momento muito delicado, quando a posição forte da Polônia tem muita importância nas decisões que a União Europeia tomar sobre a Ucrânia.
Estas são as intenções, insistiu frente a um atônito Rajoy. "Estas escutas desestabilizam o Estado, não estão pensadas para causar a demissão de um ou outro ministro, mas para paralisar todo o governo. Os políticos que estão satisfeitos têm uma visão política muito curta", disse Tusk para criticar a oposição. 
"O interesse comum do Estado polaco é identificar o grupo que organizou estas escutas. A febre destes dias faz com que percamos a perspectiva. O elemento-chave é identificar quem organizou isto, o grupo que atua para desestabilizar o Estado polaco. As pessoas que organizam escutas não podem decidir quem será demitido. Estas gravações poderiam se converter em fonte de chantagem. Uma coisa é o aspecto ético e outra proteger a estabilidade do Estado".
A declaração era de tal importância que Rajoy foi obrigado a falar algo. "Eu não ia tratar deste tema, mas vou falar pelo que escutei. Eu me solidarizo com todas as pessoas que foram objeto de gravações ilegais, que defendem um direito fundamental, que é o da privacidade das comunicações, e quero desejar sorte a você e a seu Governo", disse olhando para Tusk "e gostaria que os autores destas gravações ilegais fossem colocados logo à disposição da justiça."
Rajoy não foi alvo de gravações ilegais, mas no PP causou muitos problemas a publicação de algumas gravações no caso Gurtel realizadas com autorização judicial. No entanto, isso é algo completamente diferente do caso polaco.
O próprio Rajoy viu como foram publicados alguns SMS no qual ele animava e recomendava que Luis Bárcenas, ex-tesoureiro do PP, aguentasse, mesmo depois de saber que este tinha pelo menos 16 milhões de euros na Suíça.

Texto:
CARLOS E. CUÉ, ENVIADO ESPECIAL

domingo, 22 de junho de 2014

Festival de Cinema de Varsóvia com inscrições abertas


As inscrições estão abertas para o Festival de Cinema de Varsóvia, na Polônia, que acontece entre os dias 10 e 19 de outubro.
O evento, que em 2014 realiza a sua 30ª edição, é um dos contemplados pelo Programa de Apoio à Participação de Filmes Brasileiros em Festivais Internacionais e de Projetos de Obras Audiovisuais Brasileiras em Laboratórios e Workshops Internacionais da ANCINE. Filmes oficialmente selecionados para as seções competitivas poderão solicitar o apoio da Agência.

Saiba mais sobre o programa de apoio aqui.

O festival aceita inscrições de obras de curta ou longa-metragem para uma série de mostras competitivas e informativas. Filmes brasileiros podem fazer parte das competições Internacional de Longas-Metragens (a principal do evento, que oferece o Grande Prêmio de Varsóvia ao vencedor), 1-2 (para primeiros ou segundos longas-metragens de seus realizadores), Free Spirit (o espaço para produções independentes e inovadoras), além das competições de Documentários e Curtas-Metragens.O evento realiza ainda uma extensa lista de mostras não competitivas para as quais também é possível se inscrever.

Como se inscrever
Os interessados devem enviar uma cópia do filme em DVD por via postal ou serviço de entrega expressa para os endereços indicados neste link.
A organização oferece também como alternativa o envio de um link para visualização da obra, protegido por senha, para os e-mails films@wff.pl (para longas-metragens) e shorts@wff.pl (para curtas-metragens).
Em ambos os casos, o proponente deve encaminhar junto ao filme as seguintes informações:
título, diretor, país de produção, produtor e empresa produtora, ano de produção e data e local de estreia, informações técnicas da cópia para exibição, dados do responsável pela inscrição, e para qual seção pretende que o filme seja selecionado. As inscrições vão até o dia 15 de julho.
O Festival de Cinema de Varsóvia oferece premiação em dinheiro para a maior parte de suas categorias competitivas, incluindo o Grande Prêmio de Varsóvia para o melhor longa-metragem, no valor de 100 mil zlotys, o equivalente cerca de 73 mil reais.
Para mais informações sobre a eligibilidade em cada categoria, o processo de inscrição e a premiação das seções competitivas, consulte o regulamento, e para mais informações sobre o Festival de Cinema de Varsóvia, acesse o site oficial.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

A seleção polaca de 1972 - 1976

Texto: Guilherme Diniz

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Grandes feitos: Terceira Colocada na Copa do Mundo de 1974, Medalha de Ouro nos Jogos Olímpicos de Munique (1972) e Medalha de Prata nos Jogos Olímpicos de Montreal (1976). Conseguiu os melhores resultados da história do futebol polaco.

Time base: 
Tomaszewski (Kostka); Szymanovski, Gorgon, Zmuda e Musial (Anczok / Bulzacki); Cmikiewicz (Maszczyk), Deyna, e Kasperczak (Lubanski); Lato, Szarmach e Gadocha.
Técnico: Kazimierz Górski.

“Olímpicos, mundiais e imortais”
Uma Olimpíada, um ouro. Uma Copa do Mundo, um bronze. Outra Olimpíada, uma prata. Jogadores velozes. Time entrosado. Disciplina tática. Talento no ataque, no meio de campo e na defesa. Uma geração de ouro. Os títulos e as qualidades descritas no trecho anterior parecem até ser de uma grande e tradicional seleção mundial, mas todos eles e muitos outros são de uma turma que vestia vermelho e branco e fez história nos anos 70 ao disputar e chegar entre os melhores de todas as principais competições do período: a Polônia.
Ninguém dava bola para aqueles jogadores de nomes complicados e quase impronunciáveis com tantas consoantes como  Szymanowski, Anczok, Cmikiewicz, Kasperczak, Szymczak. No entanto, eles foram mais do que essenciais para que os craques do time – curiosamente os donos dos nomes mais “comuns” – como Gorgon, Deyna, Lato e Gadocha devastarem adversários como Argentina, Brasil, Hungria, Itália, Suécia ou URSS. Apenas uma seleção conseguiu resistir ao talento e força daquele esquadrão: a Alemanha de Beckenbauer e Gerd Müller. Mesmo assim, eles só se saíram bem no mais importante embate (a fase decisiva da Copa do Mundo de 1974) por jogarem em casa e em um gramado terrível e encharcado que prejudicou demais a velocidade dos polacos comandados por Kazimierz Górski. É hora de relembrar as façanhas da melhor seleção polaca de todos os tempos.

O ressurgimento, três décadas depois
Kazimierz Górski: técnico responsável por formar a melhor seleção polonesa da história.
Kazimierz Górski: técnico responsável por formar a melhor seleção polaca da história.

Desde 1938 que a Polônia não conseguia aparecer para o mundo no futebol. Naquele ano, os polacos disputaram a Copa da França e deram um trabalho imenso à seleção brasileira de Leônidas da Silva e Domingos da Guia, que venceu os europeus por 6 a 5 em um dos jogos mais alucinantes dos mundiais – e com quatro gols do polaco Wilimowski.
Mesmo com a derrota, aquela foi a primeira e última Copa disputada pelo país, que sofreu com a II Guerra Mundial e passou a se esconder atrás da cortina de ferro do bloco comunista. Por conta disso, o profissionalismo no futebol do país não aconteceu e todos os jogadores eram simples amadores. No entanto, o que era para ser algo ruim para o esporte acabou tendo lá suas vantagens. Por ter apenas “amadores”, os polacos podiam enviar para os Jogos Olímpicos (que eram disputados apenas por amadores) suas equipes completas, o que representava o popular “amadorismo de fachada”.
Sem ligar para isso, a Polônia começou a mudar para sempre sua história futebolística no começo dos anos 70 quando Kazimierz Górski assumiu o comando técnico da equipe em 1971. Muito amigo dos atletas, mas também com fama de disciplinador e intransigente principalmente com relação a horários, o treinador passou a montar um time jovem que renderia frutos fantásticos. Os clubes responsáveis pela “matéria prima” eram o Górnik Zabrze (que tinha o goleiro Kocka, o defensor Anczok, o atacante Lubański e outros) e o Legia Warszawa (com os meio-campistas Cmikiewicz e Deyna, além do atacante Gadocha). Outro jogador de destaque era um jovem de 22 anos muito promissor: Grzegorz Lato, que não jogava bem apenas no verão como poderia sugerir seu sobrenome (“Lato” é “verão” em polaco), mas fazia estragos também no outono, inverno e primavera com uma velocidade absurda pela ponta-direita e a fama de correr 100 metros em menos de 11s (mais precisamente 10s8).
O técnico Górski passou a aperfeiçoar exatamente a velocidade do time e a visão de jogo estonteante de Kazimierz Deyna para fazer o primeiro teste nos Jogos Olímpicos de Munique em 1972, na Alemanha, mesmo país que sediaria a Copa do Mundo de 1974. Um bom papel em terras germânicas seria mais do que fundamental para embalar a garotada nada amadora rumo ao mundial.

Invencíveis, goleadores e dourados
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A Polônia começou sua caminhada olímpica no Grupo D ao lado de Colômbia, Alemanha Oriental e Gana. Logo na estreia, os europeus massacraram os colombianos por 5 a 1, com três gols de Gadocha e dois de Deyna. Na partida seguinte, nova goleada: 4 a 0 em Gana, com gols de Lubański, Gadocha (2) e Deyna.
Já pensando na segunda fase, os polacos suaram, mas venceram os alemães do oriente por 2 a 1 com dois gols de Gorgon. No Grupo 2 da fase decisiva, a Polônia empatou em 1 a 1 com a Dinamarca (gol de Deyna), venceu, de virada, a forte URSS de Oleg Blokhin por 2 a 1 (gols de Deyna e Szoltysik, cobrando pênalti) e se garantiu na disputa da medalha de ouro ao massacrar Marrocos por 5 a 0, com gols de Deyna (2), Kmiecik, Lubanski e Gadocha.
Faltava apenas um desafio para o trabalho do técnico Kazimierz Górski ganhar seu primeiro louro.
Na decisão, com mais de 80 mil pessoas no estádio Olímpico de Munique, a Polônia voltou a mostrar seu espírito de luta e sangue frio contra a Hungria, que saiu na frente com um gol de Varadi aos 42´do primeiro tempo. Logo no começo da segunda etapa, o craque Deyna empatou num lance genial ao despachar dois marcadores e chutar de fora da área. O mesmo Deyna virou o jogo aos 23´ com um golzinho chorado e deu a vitória e o inédito ouro olímpico ao futebol polaco.
A conquista surpreendeu a todos e mostrou a força daquele time, dono de um futebol veloz, criativo e muito consistente. Acima de tudo, o meio-campista Deyna era um virtuose com a bola nos pés ao organizar o jogo, chamar a responsabilidade e marcar gols importantes, como os da final contra a Hungria. O craque foi o artilheiro dos Jogos com nove gols.

Não foi mero acaso
Contra a Inglaterra, a Polônia jogou como gente grande e saiu de Wembley classificada.
Contra a Inglaterra, a Polônia jogou como gente grande e saiu de Wembley classificada.

Passadas as Olimpíadas, a Polônia concentrou suas ações para as eliminatórias da Copa do Mundo de 1974, que começaram já no mês de novembro de 1972. Os polacos teriam pela frente País de Gales e a sempre tradicional Inglaterra na luta por uma vaga na Alemanha. O caminho polaco começou da pior maneira possível com uma derrota por 2 a 0 para os galeses em Cardiff por 2 a 0.
No jogo seguinte, os vermelhos se recuperaram ao derrotarem a Inglaterra em Chorzów (POL) por 2 a 0, com gols de Banas e Lubański. No terceiro jogo, a vingança contra País de Gales: 3 a 0, gols de Gadocha, Domarski e Lato, agora já titular e ainda mais essencial no esquema do técnico Kazimierz Górski.
No último e decisivo jogo, a Polônia teria que segurar um empate em Wembley contra a Inglaterra, que apostava suas últimas fichas em busca da classificação. Diante de 90.587 pessoas, os polacos não se intimidaram e jogaram de igual para igual com os ingleses, que paravam no célebre goleiro Tomaszewski. No começo da segunda etapa, Domarski abriu o placar para a Polônia e deixou a missão bem mais tranquila.
No entanto, Clarke empatou oito minutos depois e colocou sufoco pra cima da Polônia, que resistiu bravamente e saiu do estádio mais emblemático do mundo com a vaga na Copa de 1974. Já os ingleses tiveram que sintonizar o mundial em suas TVs de madeira. Pelo menos elas já eram a cores…

Um onze ideal da Polônia nos anos 70: força pelas pontas, Deyna no auge e uma zaga segura.
Um onze ideal da Polônia nos anos 70: força pelas pontas, Deyna no auge e zaga segura.

Quando os garotos viraram homens
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Em 1974, a seleção polaca não era mais uma equipe de garotos desconhecidos. Ela era formada por homens jovens, mas entrosados, fortes e prontos para fazer uma ótima campanha na Copa do Mundo da Alemanha, que tinha naquele ano uma nova taça em disputa: a Taça FIFA. Todos falavam sobre os favoritos Holanda, Brasil, a própria Alemanha e até mesmo a Itália. A Polônia, mesmo com o Ouro olímpico de 1972 e a banca por ter eliminado a Inglaterra, ficava de fora muito pelo fato de as façanhas do time pouco frequentar os noticiários estrangeiros, principalmente na América, além da ausência de Lubański, contundido. Tudo isso foi ótimo, pois dava mais tranquilidade para os polacos trabalharem em busca de uma final.
Lato marca contra o Haiti: 7 a 0.
Lato marca contra o Haiti: 7 a 0.

Classificada no Grupo 4, a Polônia teria pela frente Argentina, Itália e Haiti. Os céticos apostavam, claro, na classificação de argentinos e italianos para a segunda fase. Mas todos quebraram a cara logo na estreia polaca, em Stuttgart, contra a Argentina. O veloz Lato abriu o placar para os europeus com sete minutos de jogo e Szarmarch ampliou um minuto depois. No segundo tempo, a Argentina diminuiu com Heredia, mas Lato ampliou para 3 a 1. Babington descontou para os latinos e o jogo terminou 3 a 2 para a Polônia.
Era a queda do primeiro favorito. Na partida seguinte, os polacos não tiveram dó da fraca seleção haitiana e golearam por 7 a 0, com gols de Szarmarch (3), Lato (2), Deyna e Gorgon. O último jogo era contra a Itália, que tinha nomes como Zoff, Burgnich, Facchetti, Mazzola, Capello, Chinaglia e Causio. Mas, quem esperava um triunfo dos então vice-campeões mundiais viu mais uma aula polaca recheada de toque de bola, velocidade, passes precisos e muito talento. Szarmach abriu o placar aos 38´e Deyna ampliou aos 44´do primeiro tempo.
No final da segunda etapa, Capello ainda descontou, mas quem venceu pela terceira vez em três jogos foi a Polônia, classificada para a segunda fase. A Itália ficava de fora de maneira melancólica e a Argentina conseguiu a vaga graças ao saldo de gols. A partir daquele instante, quem ainda duvidava do poder de fogo dos polacos passou a rever conceitos…
Kasperczak e Deyna conversam durante o jogo contra a Itália: craques e símbolos do meio de campo polonês.
Kasperczak e Deyna conversam durante o jogo contra a Itália: craques e símbolos do meio de campo polaco

Tinha uma Alemanha (e muita chuva) no caminho…
Nem o pênalti defendido por Tomaszewski adiantou...
Nem o pênalti defendido por Tomaszewski adiantou…

Na segunda fase da Copa, as oito seleções se dividiram em dois grupos de quatro. Todos jogavam entre si e os campeões de cada um fariam a final, com os segundos colocados disputando o terceiro lugar. A Polônia deu sorte e ficou no Grupo B, ao lado de Suécia, Iugoslávia e a anfitriã Alemanha Ocidental.
No outro grupo, Holanda, Brasil, Argentina e Alemanha Oriental teriam que se esfacelar por uma vaga no paraíso. Jogando novamente em Stuttgart, a Polônia fez o básico e venceu a Suécia por 1 a 0 no primeiro jogo, gol de Lato. Na sequência, outra vitória, dessa vez por 2 a 1 sobre os iugoslavos (gols de Deyna e Lato). Com duas vitórias, restava o triunfo contra a Alemanha Ocidental no terceiro jogo, em Frankfurt, para a Polônia disputar uma incrível final de Copa do Mundo. Mas, no dia 3 de julho de 1974, tudo deu errado para os polacos.
Para começar, uma chuva torrencial caiu no dia do jogo e deixou o gramado totalmente encharcado, o que prejudicaria o futebol de toque de bola da Polônia e facilitaria a força dos alemães.
Os polacos tentaram adiar a partida, mas de nada adiantou, afinal, eles estavam na casa da Alemanha e jogariam contra a Alemanha. No jogo, muita disputa, ótimas chances por parte da Polônia e destaque para o goleiro Tomaszewski, que chegou a defender um pênalti de Hoeness. Mas o artilheiro Gerd Müller conseguiu fazer o gol que deu a vitória por 1 a 0 aos alemães, que foram para a final.
Mesmo com a derrota, a Polônia não se abateu e saiu de cabeça erguida pelo fato de ter jogado melhor que os alemães e só não ter vencido pelas condições adversas e o território hostil do jogo.
Da esquerda para a direita: Grzegorz Lato, Andrzej Szarmach, Kazimierz Deyna, Jerzy Gorgon e Jan Tomaszewski
Grzegorz Lato, Kazimierz Deyna, Jerzy Gorgon (à direita de Deyna, ao fundo) e Jan Tomaszewski

Bronze polaco
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Na disputa pelo terceiro lugar, a Polônia encarou mais um titã do futebol: o Brasil de Leão, Marinho Chagas, Jairzinho, Rivellino, Carpegiani e Dirceu. Jogando pelo orgulho, os polacos venceram os brasileiros por 1 a 0, com um gol de Lato, que se sagrou artilheiro da Copa com sete gols marcados em sete jogos.
Era o bronze tão merecido para aquela seleção que jogava de maneira eficiente, rápida e dinâmica, muito melhor que muita equipe tarimbada da época. Como o próprio Brasil, que amargou o quarto lugar.

Nova final olímpica…
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Em 1976, a Polônia foi para os Jogos Olímpicos de Montreal, no Canadá, com a mesma base de sucesso da Copa de 1974. Os polacos despacharam Cuba e Irã na primeira fase e se classificaram para as quartas de final.
Nela, golearam a Coreia do Norte por 5 a 0 e venceram um já freguês Brasil (comandado por Claudio Coutinho e com jogadores como Carlos, Edinho, Júnior e Batista) por 2 a 0 (gols de Szarmach).

… E novo revés diante dos alemães
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Na disputa pelo ouro, a Polônia, favorita, teve pela frente a amadora Alemanha, algoz de 1974. Nunca uma vingança poderia vir em tão boa hora, mas os polacos voltaram a sucumbir diante da frieza germânica e perderam por 3 a 1, um resultado considerado zebra pelo fato de os polacos jogarem com seus titulares nada amadores e os alemães com seus verdadeiros amadores. A derrota valeu a prata, amarga, mas histórica por ser o terceiro título do futebol do país em tão pouco tempo.

Polônia imortal
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Depois de anos intensos e inesquecíveis, a Polônia perdeu sua força com a saída do técnico Górski em 1976 e só voltou a brilhar em 1982, na Copa do Mundo da Espanha, com alguns remanescentes de 1974 e uma nova estrela: Boniek.
Mesmo com outro terceiro lugar, aquela equipe não teve o brilho e a força do time dos anos 70, lembrado até hoje como a melhor seleção polaca de todos os tempos e uma das maiores que a Europa já viu. Novos talentos vêm surgindo no país nos últimos anos, mas cravar que eles devolverão ao futebol do país os momentos dourados de outrora é difícil. No entanto, inspiração não falta, basta assistir aos vídeos dos jogos disputados por Deyna, Lato, Lubanski e companhia nos anos 70, craques que formaram uma seleção imortal.

Os personagens:
Tomaszewski: foi um dos maiores goleiros da Europa nos anos 70 e um dos heróis da classificação polaca para a Copa de 1974. Foi o goleiro que parou toda e qualquer investida inglesa no empate em 1 a 1 que colocou a Polônia no mundial e eliminou o English Team. A atuação do goleiro naquele jogo rendeu a ele o apelido de “The Man Who Stopped England” (O homem que parou a Inglaterra). O jogador calou a todos naquele jogo, inclusive o então comentarista Brian Clough, que chamou o arqueiro polaco de “palhaço” antes de ter que engolir seco a atuação de gala de Tomaszewski.
Kocka: antes de Tomaszewski assumir a titularidade da seleção polaca, foi Hubert Kocka o grande responsável por garantir a meta alvirrubra intacta em grande parte dos anos 60 e começo dos anos 70. Kocka foi titular na campanha do ouro olímpico da Polônia em 1972 e um dos grandes nomes do futebol do país.
Szymanowski: defendeu a Polônia em 82 jogos durante uma década, se tornando um dos principais defensores do time comandado por Górski. Era muito eficiente na defesa e ainda ajudava o meio de campo com passes precisos e bons lançamentos.
Gorgon: se impunha não só pela presença física (tinha 1,92m), mas também pela incrível regularidade e segurança na defesa polaca. Jerzy Gorgon foi um dos maiores (literalmente!) e melhores zagueiros polacos de todos os tempos e um símbolo da equipe nos anos 70. Dominava o jogo aéreo e ainda se arriscava no ataque. Marcou seis gols em 55 jogos com a camisa da Polônia.
Zmuda: ao lado de Gorgon, formava uma dupla de zaga alta, segura e muito eficiente nas bolas aéreas e também por baixo. Tinha boa qualidade no passe, visão de jogo e transmitia segurança com a bola no pé. Disputou 91 partidas pela Polônia e esteve presente em quatro Copas do Mundo consecutivas, de 1974 até 1986. Em 1974, Zmuda foi eleito o melhor jogador jovem do torneio.
Musial: ganhou destaque durante a campanha da Polônia na Copa de 1974 e era peça chave no time do técnico Górski até se atrasar em 20 minutos em um treino e ser sacado da partida contra a Suécia, já na segunda fase. A Polônia venceu, Musial aprendeu a lição e continuou a jogar até a disputa do terceiro lugar. Porém, o atleta não jogou mais pela seleção nos anos seguintes.
Anczok: foi um dos maiores laterais-esquerdo da história da Polônia e um dos principais jogadores na conquista do ouro olímpico de 1972. Tinha velocidade e ótima visão de jogo, além de apoiar o ataque com passes precisos. Sofreu com muitas contusões na carreira, sendo que uma delas o tirou da Copa de 1974.
Bulzacki: defensor que podia jogar nas laterais ou até mesmo como zagueiro, Bulzacki esteve na Copa de 1974, fez carreira no Łódź e disputou 23 jogos com a camisa da seleção.
Cmikiewicz: um dos grandes meio-campistas da Polônia nos anos 70, Leslaw Cmikiewicz brilhou na conquista do ouro em 1972 e nas outras façanhas polacas daqueles anos mágicos. Jogava pela direita e era um dos garçons do ataque do time.
Maszczyk: meio-campista, jogou de 1968 até 1976 pela seleção e esteve nas campanhas do ouro olímpico de 1972, do bronze na Copa de 1974 e da prata olímpica em 1976. Era forte na marcação e dava proteção à zaga da equipe. Tinha técnica com a bola nos pés e era extremamente introvertido.
Deyna: muitos dizem que Boniek foi o maior jogador polaco de todos os tempos, mas e quanto a Deyna? O craque foi simplesmente o maestro e principal articulador da Polônia dos anos 70, a melhor de todos os tempos, com técnica exuberante, dribles curtos e secos e um faro de gol excepcional. Marcou 41 gols em 97 jogos pela Polônia, fez os gols que deram o ouro olímpico ao futebol do país em 1972 e era o astro que ditava o ritmo de jogo proposto pelo técnico Górski. Vestiu a camisa do Manchester City no final dos anos 70 e de times dos EUA. Kazimierz Deyna faleceu em 1989, aos 41 anos, em um acidente de carro, deixando órfãos todos os torcedores polacos que tanto vibraram com sua classe, técnica e talento. Um craque imortal.
Kasperczak: disputou as Copas de 1974 e 1978 e ainda os Jogos Olímpicos de 1976, sendo sempre uma opção de meio de campo para a equipe. Tinha força física e qualidade no passe. Jogou no futebol francês e virou técnico de sucesso no futebol africano.
Lubański: os anos se passam e ele continua lá, intacto e no topo. Włodzimierz Lubański é o maior artilheiro da história da Polônia com 48 gols em 75 jogos, a maioria nos anos de 1969, 1972 e 1973, período no qual ajudou a seleção na conquista do ouro olímpico. Iria fazer um ataque devastador ao lado de Lato na Copa de 1974, mas se contundiu e não disputou o mundial. Esteve na Copa de 1978, mas sua fase já havia passado e não brilhou. Foi um dos grandes atacantes polacos da história.
Lato: velocista, goleador, especialista em dribles largos e entrar nas zagas adversárias pela diagonal e marcar gols em profusão, Grzegorz Lato foi um símbolo polacos nos anos 70 e um dos principais responsáveis pela campanha exuberante da seleção na Copa de 1974. Esteve no grupo que venceu o ouro nas Olimpíadas de 1972, mas começou a brilhar mesmo a partir de 1974. Foi o artilheiro da Copa com sete gols e um dos principais jogadores europeus de seu tempo. Disputou também as Copas de 1978 e 1982. Pela seleção, marcou 45 gols em 100 jogos. É o segundo maior artilheiro do país. E um craque imortal.
Szarmach: sem Lubański na Copa de 1974, muitos poderiam temer pelo pior no ataque polaco, mas Szarmach aproveitou como nunca a chance que teve e cumpriu seu papel na Alemanha: fazer gols. Embora tenha sido ofuscado por Lato, o atacante marcou cinco gols e contribuiu para o sucesso do país nos anos seguintes ao brilhar, também, nas Olimpíadas de 1976. Tinha presença de área e precisão nos chutes. Marcou 32 gols em 61 jogos pela Polônia.
Gadocha: era o dono da ala esquerda do ataque polaco naqueles anos 70 e foi fundamental para as façanhas de 1972 e 1974. Era veloz e ótimo nos passes. Marcou 16 gols em 62 jogos pela seleção.
Kazimierz Górski (Técnico): montou a melhor seleção polaco de todos os tempos com o que de melhor o futebol do país produziu, além de dar ao time um estilo de jogo autêntico, competitivo e vencedor. Chegou às fases finais de todos os torneios que disputou e cravou para sempre seu nome na história com disciplina, talento e ousadia. Sem dúvida, o mais importante técnico da história da seleção polaca.


 A Campanha de 1974

 


 A Polônia de 1974 a 2013


Canção interpretada pela grande Marila Rodowicz
na abertura da Copa do Mundo de 1974, na Alemanha.



Futbol, futbol, yeah..
Futbol, futbol, futbol,
przeżyjmy to jeszcze raz
Gdy piłka w grze wyjdzie na strzał,
śledzi jej lot cały świat
Piłka jest okrągła jak ziemski glob,
jak ziemski glob
Na świecie tym są takie dni,
gdy niebo drży, bo padł gol
To był strzał, to jest szał,
To jest sport, to sport
Futbol, futbol, futbol
w to dzisiaj gra cały świat,
bo dobry mecz to piękna rzecz,
wśród wielu szans twoja jest
Czym jest futbol, futbol
to każdy wie, każdy wie
Każdy, kto wie, co znaczy to
zerwać się z miejsc, krzyknąć GOL!
Gra jest grą, play is play
Graj, graj fair, fair play


tradução livre da letra:

Futebol, futebol, yeah ..
Futebol, futebol, futebol,
Revivê-lo mais uma vez
Quando a bola no jogo sai como um tiro
O mundo inteiro mantém o controle de seu vôo
A bola é redonda como um globo,
Como o globo terrestre
No mundo em tais dias
Quando o céu treme,
É porque houve um gol
Por cauda de um chute, é um frenesi,
É um esporte, um esporte
Futebol, futebol, futebol
neste dia joga o mundo inteiro,
porque um bom jogo é uma coisa bonita,
entre muitas chances esta é a sua
O que é o futebol, futebol
todo mundo sabe disso,
todo mundo sabe
Qualquer pessoa sabe o que significa
levantar de suas cadeiras, e gritar GOL!
O jogo é um jogo, é uma brincadeira
Jogar, jogar, jogo justo justo