Texto: Nacho Temiño
A demolição em uma cidade polaca de um monolito em honra ao Exército Vermelho provocou as críticas da Rússia, que qualificou a ação de "blasfemia", mas outras localidades da Polônia estudam retirar seus monumentos soviéticos e deixar assim para trás uma etapa que muitos cidadãos querem esquecer.
A cidade de Limanowa, no sul do país, se transformou em protagonista do último desencontro entre Varsóvia e Moscou por conta dos monumentos erguidos durante o período comunista.
Esta cidade demoliu recentemente um obelisco levantado nos anos 60 em gratidão ao Exército Vermelho, alegando o mal estado da construção, que praticamente tinha perdido o baixo-relevo no qual se mostrava um soldado acompanhado de camponesas, um minerador e um montanhista.
Há mais de 20 anos várias associações locais tinham pedido para retirar o monumento, mas a tarefa não era fácil e a prefeitura precisou de mais de dois anos de negociações e múltiplas permissões para poder desfazer-se dele.
Após saber da notícia, o Ministério das Relações Exteriores russo qualificou a demolição de "ação blasfema" e lembrou que a decisão das autoridades municipais, sem consentimento de Moscou, viola o acordo assinado em 1994 entre ambos os países para proteger os monumentos e lugares históricos, incluindo cemitérios, vinculados à luta contra o nazismo.
As autoridades russas lembram que na Polônia existem cerca de 300 monumentos da era soviética e que em solo polaco descansam mais de 600 mil soldados russos mortos durante os combates contra o Exército nazista.
No entanto, outras localidades polacas copiaram o caso de Limanowa; a cidade de Nowy Sącz estuda retirar seu próprio monumento, embora neste caso será mais difícil porque exigirá transferir os restos mortais dos soldados soviéticos enterrados nas proximidades, já que em muitos casos os monumentos assinalam cemitérios soviéticos.
O desmantelamento da herança soviética pode não acabar em Limanowa ou em Nowy Sącz, já que as últimas tensões entre Moscou e Varsóvia por conta da Ucrânia provocaram que aflore o sentimento antirrusso na Polônia, onde se lembra que, após a teórica "libertação" e a saída dos nazistas, os soviéticos impuseram um regime comunista que durou mais de 40 anos.
Precedentes há, e na vizinha Estônia as autoridades retiraram em 2007 um monumento aos soldados soviéticos do centro de Tallinn, o que provocou uma grave crise diplomática, enquanto o governo da Polônia naquele ano, liderado pelo nacionalista-conservador Jarosław Kaczyński, anunciava a desmantelação ou realocação dos monumentos soviéticos.
Vladimir Putin criticou Kaczyński e este defendeu o apoio de Bruxelas, respondendo que a Polônia não toleraria "que nenhum outro país decidisse o que fazer com seu patrimônio histórico", por sua vez assegurando que ceder para Moscou abriria um perigoso precedente que poderia levar a que "um dia também queiram decidir o nome de nossas ruas".
Embora esse plano não tenha acontecido de maneira sistemática, o certo é que a maioria destes monumentos ficaram à sua sorte, descuidados em muitos casos e submetidos ao vandalismo constante, algo que o Kremlin denunciou em várias ocasiões.
"Os monumentos aos soldados soviéticos que libertaram a Polônia dos invasores nazistas durante a Segunda Guerra Mundial foram alvo de vandalismo com mais frequência, e ultimamente houve mais tentativas para situar estes monumentos sem permissão", disse recentemente em comunicado o ministério russo.
"Inclusive levando em conta o contexto negativo, a demolição do monumento que expressa gratidão ao Exército Vermelho na cidade polaca de Limanowa é um ato verdadeiramente degradante", acrescentou.
O ponto alto desta "luta" pelos monumentos soviéticos aconteceu há dois anos, quando o ministro das Relações Exteriores polaco, Radosław Sikorski, propôs a demolição do Palácio de Cultura, um edifício de proporções colossais que a extinta União Soviética presenteou à Varsóvia, para situar em seu lugar um grande parque que afaste definitivamente a lembrança do período comunista.
O palácio, que continua de pé, é imenso, com mais de 234 metros de altura e 44 andares entre os quais se dividem diferentes instalações, desde cinemas, piscinas, ginásios, salas de conferências, museus, teatros e livrarias até áreas de lazer.
Fonte: Agência EFE
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