segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Quando a Ucrânia era uma colônia polaca

Foto de Juliusz Dutkiewicz - colonos rutenos de Kolomyja - Polônia
A revista Newsweek Polska Historia publicou em sua última edição entrevista de Maciej Nowicki com o historiador francês Daniel Beauvois sobre controvérsias históricas envolvendo rutenos (atualmente chamados de ucranianos) e polacos no século 19.
Estudioso da história da Polônia e da Rutênia, Beauvois nasceu em 9 de maio de 1938 em Annezin, na França. Autor de livros, artigos e traduções. Ele se formou em estudos rutenos (ucranianos) e língua polaca.
Ele é membro da Academia de Ciências Polaca, da Academia do Conhecimento Polaca e da Academia de Ciências da Ucrânia.
Recebeu títulos de doutor honoris causa das universidades de Wrocław, Varsóvia e da Universidade Jagiellonian de Cracóvia.
Foi condecorado com a Cruz de Oficial da Ordem do Mérito da Polônia.
Nos anos 1969-1972 atuou como Diretor do Centro Cultural Francês da Universidade de Varsóvia.
De 1973 a 1977, foi pesquisador do CNRS, em Paris. Quando então, tornou-se diretor do curso de língua polaca em Lille até 1992, e do Centro da História dos Eslavos na Sorbonne, em 1993-1998.
Como historiador, centra-se no tema ucraniano.





Quando a Ucrânia era uma colônia polaca ... 

Camponeses ucranianos, segundo Beauvois teriam sido tratados como escravos, no século XIX, em terras da Polônia ocupadas pelo Reino da Rússia.


Alguns proprietários estavam convencidos de que o homem não tinha alma.

Newsweek História: Como avalias a atitude dos políticos polacos em Maidan?
Daniel Beauvois: Entusiasmado. Admiro o apoio para os patriotas ucranianos. Se estivesse vivo, Jerzy Giedroyc ficaria imensamente alegre. Também me permite pensar que eu contribuí um pouco para esta diametralmente oposta nova atitude. Graças a Deus, a Polônia está renunciando ao antigo complexo de superioridade sobre os ucranianos. Percebendo os horrores dos velhos tempos, ela ainda pode desempenhar um papel completamente novo nesta relação.

Newsweek História: Em seu livro "Triângulo Ucraniano" há uma carta assustadora que se estende por duas páginas: O senhor feudal havia torturado o camponês até à morte, o que era conhecido então como sendo "para cumprir a vontade de Deus"; o mordomo por espancar uma mulher grávida ficou duas semanas detido. Tudo isso acontecia não no século XV, mas na década de 30 do século XIX. E apesar de escrito, o senhor exagera nos acontecimentos, dizendo que há demônios em todos os lugares.

Daniel Beauvois: Mas estes são os fatos descritos em tribunais polacos, e que em seguida foram transferidos para os arquivos russos! O Estatuto da Lituânia, que foi instituído no século XVI, ainda estava em vigor. Ele era extremamente cruel, deixava os camponeses serem tratados como escravos, como gado. Alguns proprietários estavam bastante convencidos de que o homem não tinha alma. Quem será que eram todos aqueles proprietários de terras? É claro,  que estes senhores frequentemente ajudavam seus camponeses durante as inundações, fome ou a seca. No entanto, como regra, o povo com tal referência, era citado bem baixinho e com grande desdém. Naquelas terras, onde hoje é Ucrânia foi ainda maior, o desprezo. Porque o ruteno era considerado um ortodoxo da cisma religiosa, ou seja,  o pior tipo do campesinato.

Daniel Beauvois
Newsweek História: O Padre Walerian Meysztowicz alegou que a margem direita da atual Ucrânia - regiões de Kiev, Podólia e Volínia - era como a Sicília. Ambas as terras eram as regiões mais atrasadas de seus países. A desproporção material ali foi de natureza inimaginável. Em meados do século XIX, 7000 representantes da nobreza polaca estavam na posse de três milhões de "almas".
Daniel Beauvois: Tal comparação é a mais adequada. Aquilo era um mundo, no qual, os polacos de Varsóvia eram simplesmente desprezados. Talvez nenhum lugar foi tão ruim quanto ali. Até a véspera da Revolução Bolchevique, a relação entre os aldeões e os senhores palacianos não era regulamentada e não havia normalidade entre as partes ... No final do século XIX, a terra começou a trazer mais lucros, por isso cada centímetro era contado. Quem era expulso, arrendava as terras para colonos - alemães, tchecos - que pagavam mais. Além da ganância da nobreza polaca, que foi muito grande, ela agia dessa forma contra o campesinato. Tinha o mesmo comportamento em relação à parte da nobreza que foram rebaixados de classe.

Newsweek História: Tenho colegas que pertencem a essa pequena nobreza, originária dessas regiões. Eles dizem algo bastante diferente: a de que havia respeito mútuo lá e que seus ancestrais não eram aceitos de bom grado nos órgãos jurisdicionais ortodoxos e judeus, e que em cada feriado deviam apresentar cumprimentos efusivos. Como existir assimetria nesta relação?
Daniel Beauvois: Em primeiro lugar, memória não é história. A maioria era de serviçais da nobreza. Em segundo lugar, os proprietários de terras, como bons católicos queriam se convencer de que nutriam sentimento por aquelas pessoas. Um sentimento de apreço e reconhecimento humano. Mas quando vemos como, realmente, foram tratados aqueles camponeses, fica um pouco difícil de acreditar. Eu li um monte de memórias de latifundiários. E lá todo mundo estava convencido de sua nobreza - não havia nenhum sentimento de culpa ou dúvida. Todo mundo acreditava firmemente que eram os guardiões da cultura polaca no Oriente, que estavam construindo a grandeza da nação. Isso conta, sobretudo, nos grandes palácios - e não havia tal esplendor na Ucrânia - e nas belas igrejas. E o fato de que as pessoas viviam em condições desumanas é mencionado apenas suavemente. Confraternizar-se com os povos, na maioria das vezes, resumia-se a uma coisa: que o senhor havia caído de amores pelo povo - como era então conhecido - ou de "ajustes" do campesinato. Para os senhores feudais, aquilo era absolutamente normal. O Conde Mieczysław Potocki tinha em seu palácio, em Tulczyń, um harém composto por formosas camponesas ucranianas. Em suma - não faz sentido procurar a verdade nas memórias dos latifundiários. O ódio do povo, que se manifestou ao longo dos séculos, não veio do nada.

Newsweek História: Naquelas terras, continuamente, eclodiram conflitos cujas vítimas foram os polacos: aconteceu na rebelião de Chmielnicki e foi perpetrado pelos muçulmanos; nos sangrentos acontecimentos de 1917 e após, no massacre na Volínia. Os próprios polacos selaram esse destino?
Daniel Beauvois: Em grande parte sim, infelizmente. A opção do escravo, eventualmente, era voltar-se contra ele. Para sair do mundo selvagem de submissão, não havia outro caminho para os rutenos, senão lutar e matar cruelmente. É claro que do lado polaco, as pessoas estavam gritando que não podiam mais, que era hora de acabar com a exploração. Na virada dos séculos XVI e XVII, Szymon Szymonowic pediu um tratamento humano para os camponeses, citando todos esses horrores. No século XVIII, Adam Kisiel defendeu o princípio de que as pessoas podiam ser ortodoxos e polacos ao mesmo tempo. No século XIX, existiu uma associação de camponeses com o mesmo nome, embora implicasse que outros proprietários de terras fossem taxados de loucos. Houve também um famoso "comunard" de nome Jarosław Dąbrowski, que defendia a liberdade de escolha da nacionalidade. Mas, em geral, o ódio entre o campesinato e a aristrocracia só crescia até 1917. Os motins em 1905-1906, durante a primeira revolução, foram um ensaio geral da catástrofe final.

Newsweek História: Os governos polacos na Rutênia foram colonialistas?
Daniel Beauvois: Talvez isso não seja bem a palavra correta, porque tudo começou alguns séculos antes, com essa redação, mas não usei. Talvez fosse mais apropriado dizer: "Era uma forma de expansão feudal". Mas os resultados foram mais ou menos os mesmos que nos casos de colonização. A ideia era assumir uma determinada área, no Oriente, em detrimento da população local. Alguns elementos dessa população concordaram em se polonizarem. Mas a maioria, não muito! Por isso, foi necessário impor-lhes tudo, ou seja, a cultura polaca e o catolicismo apostólico romano. Isto era política, que era naquele momento, equivalente ao que franceses e e ingleses faziam em suas colônias ultramarinas.

Newsweek História: "Vossa Majestade não deve se lamentar demais pela perda do bem público, porque és capaz de salvar o bem do indivíduo" - escreveu logo após a terceira partição, Jan Potocki para o rei Stanisław August. Esta discussão é percebida através de seu livro: as elites polacas usavam o poder tzarista russo para manter sua propriedade.
Daniel Beauvois: Esta é uma das coisas que não foram ditas antes da minha pesquisa. Os arquivos mostram que os proprietários de terras cooperaram com o tzar russo em escala maciça. Sem a ajuda da polícia, no tempo do exército russo, às vezes, os senhores polacos não podiam reprimir rebeliões ou manter a ordem em suas propriedades. Acho que isso pode ser visto claramente durante a revolução de 1905. Os proprietários de terras enviaram para Kiev vários apelos e telegramas para as autoridades, para que a polícia ali alocada, ou que centenas de cossacos viessem ajudá-los. Porque eles estavam cercados por seus camponeses. Eles próprios diziam: "As nossas residências são ilhas de civilização em um mar de barbárie". Eles próprios percebiam-se como pessoas ainda em risco.

Newsweek História: Isto foi colaboração?
Daniel Beauvois: Parece-me que a aristocracia, simplesmente, não tinha uma escolha. Desde o início das partições, ela foi ameaçada de confisco de bens e a partir de São Petersburgo continuavam a vir tais ameaças. Como resultado, a maioria dos aristocratas foram pressionados a estarem presentes na coroação de Paulo I, Alexandre I, Nicolau I, e assim por diante. A reunião da nobreza - os parlamentos distritais ou provinciais - enviavam regularmente garantias de lealdade ao tzar russo. Tinham de mostrar que eram fiéis. Era uma condição de sobrevivência. Além disso, os proprietários tinham uma espécie de álibi patriótico: patrimônio era uma pátria substituta. Terra de defesa. Ter propriedade era um dever patriótico. Mas este álibi foi muito abusado. Muitas vezes, alterado nos princípios: bene ubi, patria ibi - minha casa é o lugar de minha pátria ... Lembremo-nos de nossa origem. A Lituânia tomou parte ativa nos levantes de novembro e janeiro. A participação da Rutênia na Revolta de Novembro foi medíocre e na de janeiro inexistiu. Estes são fatos históricos, infelizmente...

Newsweek História: O senhor mencionou anteriormente sobre a nobreza "rebaixada de classe". Eram centenas de milhares de pessoas. A maior parte da nobreza polaca estava na margem direita da Ucrânia. Após a perda da posição nobiliarca, ela viveu em situação de uma pobreza terrível, muito pior do que a do camponês judeu. Sua história teve uma horrível continuação e está descrita em "Terras Sangrentas" de Timothy Snyder. Para Stalin, esse povo passou a ser objeto para uma gigantesca limpeza étnica, com fuzilamentos e deportações...
Daniel Beauvois: Iss começou ainda no tzarismo. Mas também, os compatriotas polacos não eram muito solidários. Inicialmente, tudo aconteceu com a participação nas Dietas regionais, mas no final eram baseadas apenas nos títulos nobiliarcos. No início do século XIX, o príncipe Czartoryski pensou em conceder aos pobres, pedaços de terra. Infelizmente, ele abandonou a ideia. No início da segunda metade do século, o tzarismo teve uma ideia semelhante, mas um grupo de proprietários de terras expressamente se opôs a isto. Eles diziam algo como: "A terra é nossa. Não, não daremos nada". Estes nobres sempre viveram na órbita dos poderosos: cultivar um pedaço de terra para eles, pagando aluguel, muitas vezes era simbólico. Quando, após a abolição da servidão houve explosão demográfica se podia obter terra para alugar muito mais fácil do que antes, e então começaram a expulsá-los. Eles foram subtraídos de todos seus pertences e escoltados para fora - para dentro da floresta, de carroças - para não voltarem mais. Mas eles voltaram. Novamente, eles foram expulsos, muitas vezes, com a ajuda do exército. Os proprietários de terras nos anos 80 do século XIX, tiveram suas vilas demolidas - bem como seus arredores. Sim - os polacos nas terras da atual Ucrânia não podiam ser equiparados aos exploradores. Pouco antes da Primeira Guerra Mundial, os ricos proprietários de terras eram 3.500 e os pertencentes à nobreza rebaixada, cem vezes mais. E sim - eles eram em sua maioria, pessoas mais pobres do que os camponeses rutenos (ucranianos).

Newsweek História: Em que medida os ucranianos podem ser culpados pelo fato da Ucrânia ter se tornado uma nação tão tarde? Quando, no século XVII, o marechal Filip Orlik, sucessor de Mazepa, apela para o renascimento do Principado da Rutênia, ninguém o escuta ...

Brasão Czartoryski
Daniel Beauvois: A construção do Estado ucraniano era realmente árduo e difícil. A tragédia desta nação era que eles não tinham nenhuma elite. Os magnatas rutenos ficaram fascinados com a cultura polaca - queriam a polonização e converteram-se ao catolicismo romano. E depois de algum tempo, essa gente não diferia dos polacos étnicos como Czartoryski ou Sapieha, mesmo quando se tratava do campesinato. A nova elite ucraniana originada no campo começou a surgir no final do século XIX. Ao longo dos últimos dois séculos - desde Orlik - não havia ninguém para lembrar da Rutenilidade. Mas, graças a Deus,  para os ucranianos - é claro - também existiu a Galícia. Os Habsburgos, em certa medida, foram apoiados pelo povo ruteno quando os russos eram apenas uma máfia obscura. Tudo o que é cultura ucraniana apareceu no século XIX em Lwów, na Galícia. Isto pode ser comparado com o papel desempenhado pelo Piemonte na unificação da Itália. Os historiadores ucranianos justamente colocam Lwów como o berço de sua nação.

Newsweek História: Para os russos, o polacos era seu inimigo número um. Isto ajudou um pouco os ucranianos, porque com isso, a repressão era dirigida em uma direção diferente.
Daniel Beauvois: A presença polaca naquelas terras era significativamente maior do que a russa e isso durou cinco séculos. Não surpreendentemente, os russos viam os polacos como os principais concorrentes. Especialmente porque, apesar das partições, os russos não conseguiram mudar efetivamente a situação a seu favor quando se tratava de propriedade estatal. Antes da revolta de janeiro quase toda a terra estava nas mãos da pequena nobreza polaca e até mesmo um pouco antes da Revolução Bolchevique - o que significava, a metade da terra. Isso também explica por que o principal objeto de ódio dos rutenos era apenas dirigido contra os polacos. Basta ler "Taras Bulba" de Gogol - o maior valentão é sempre um cavalheiro polaco.

Newsweek História: Mas os polacos que estenderam a mão para os rutenos foram tratados muito pior do que senhores feudais cruéis.
Daniel Beauvois: É verdade. Estudantes idealistas da Universidade de Kiev, que prometeram aos rutenos a liberdade ao se juntarem ao Levante de Janeiro foram entregues às autoridades tzaristas e a maioria deles foi morta. Eles não entendiam os pobres e que as proposições - contidas na chamada Associação Hramot de Ouro - eram muito atrasadas. Dois anos após, veio a abolição da servidão pelo tzar. Também porque os camponeses chegaram à conclusão de que era apenas uma outra lacuna polaca.

Newsweek História: Os polacos estão constantemente falando sobre a democracia nobiliarca - onde 10 por cento dos polacos tinham um direito real de decidirem de forma cooperada. O senhor rejeita esta visão argumentando que a direção do Estado polaco era decidida apenas por alguns poucos abastados, e que a máxima, "Um nobre estava ao nível da exploração do voivoda", não tinha nada a ver com a realidade, que isto era uma invenção dos Sarmatas para enganar a nobreza de classe mais baixa. No mundo esclerosado, os rutenos eram uma espécie de caricatura de uma relação pré-existente... 
Daniel Beauvois: A pequena nobreza não teve influência sobre o que aconteceu na Polônia - quer antes da anexação, ou depois dela. Eu sei que na Polônia há um grande movimento de valorização da democracia dos magnatas - e de ser um modelo para toda a Europa. Alguns chegam a afirmar que os polacos inventaram a democracia representativa, mas eu, examinando a história da Polônia, não vi nada parecido. Nunca nos sejmiks (câmaras regionais) apareciam mais de 200 pessoas. Os pobres não exerciam os seus direitos. As decisões eram empreendidas pelos mais ricos e influentes. Uma faixa pequena de uma aristocracia rica - um total de talvez 5 por cento dos nobres da nação. Era apenas um pequeno grupo.

História Newsweek: A Polônia era capaz de manter um Estado multi-étnico? O senhor, muitas vezes, afirmou que os polacos mentem sobre tendências revisionistas, que desejam retornar às fronteiras. Prefiro pensar que os polacos estão felizes de viverem em um país etnicamente homogêneo, sem minoria ...
Daniel Beauvois: Em primeiro lugar, as atuais fronteiras da Polônia não são "mérito" polaco, mas sim de Stalin, que as prescreveu. Hoje, nesses limites, ninguém quer e não pode tocar. Em segundo lugar, sob a forma de uma Polônia multinacional ou anterior às partições, ou da Polônia entre guerras, não haveria nenhuma chance de sobrevivência. Aquela foi uma vida junto a si mesma com a  passagens de diferentes civilizações. Sim - há algumas influências lituanas ou rutenas na cultura romântica. Mas nunca ocorreu um verdadeiro acordo sobre o solo - vamos chamá-lo - universal. Os polacos desperdiçaram várias vezes a chance de se reconciliar com o povo do "local", mesmo durante a rebelião Chmielnicki. Embora esta reivindicação fosse razoável, apenas os cossacos queriam se alinhar com a nobreza. Na mesma linha se recusou - na época da União de Brest - assento aos bispos no Senado Unificado, em nome do desprezo pelos ortodoxos. Espero que, na Polônia, hoje, ninguém pense assim, mas em dezembro, quando começou os conflitos em Maidan (Kiev), vi numa pesquisa do jornal "Rzeczpospolita", que apenas um quarto dos polacos têm uma imagem positiva dos ucranianos. Isso, no entanto, é tão pouco!

Newsweek história: "Triângulo ucraniano" mostra uma versão completamente diferente de um dos capítulos mais importantes da história da Polônia. Mas nessa desmistificação não há nenhuma armadilha? No final do século XIX, na onda do despertar da identidade nacional, a história foi escrita de forma a mostrar o tamanho da nação. Hoje, ela é, por vezes, escrita a fim de mostrar "que tipo fatal eramos."
Daniel Beauvois: Eu sei que os polacos preferem Norman Davies e que o que eu escrevo faz com que os inimigos se voltem contra mim... Meus textos foram  muitas vezes rejeitados - mesmo recentemente pelo Museu da História da Polônia, porque não aceitaram minha abordagem. É terrível que, muitas vezes, em vez de tentar conhecer sua própria história, os institutos da verdade histórica se escondem da realidade. Mas isso está acontecendo não só na Polônia. Escrevi um prefácio para um cântico de Prosper Mérimée dedicado a Bohdan Chmielnicki mostrando que o cântico é um plágio do historiador ucraniano Mikołaj Kostomarov. Meu editor francês não pode esconder o horror. Ele  também me censurou ...



Maciej Nowicki
Jornalista seção "O Mundo"
Revista Newsweek Polska Historia

Nota do autor: * Daniel Beauvois é um historiador francês de estudos eslavos. Na Polônia, seu mais famoso livro é o "Triângulo ucraniano - Aristocracia, tzarismo e o povo da Volínia, Podólia e região de Kiev de 1793-1914". Nele, entre outras coisas, diz que a relação entre polacoss e rutenos (atuais ucranianos) "assemelhava-se principalmente à relação existente entre senhor e escravo. (...) Eles eram cruéis a tal ponto, como nas plantações de algodão entre os norte-americanos, franceses na Martinica francês ou em outro algum lugar na África.


Antiga sinagoga em Kołomyja

P.S. Na região da Galícia, onde segundo alguns historiadores, teria nascido a atual Ucrânia, na cidade, da foto de Juliusz Dutkiewicz (no alto desta páginas), estão colonos rutenos de Kolomyja que viviam em 1913, véspera da Primeira Guerra Mundial em número de 45.000 habitantes. Com 15.000 Polacos, 20.000 polacos de origem judaica, 9.000 Rutenos (atuais ucranianos), 1.000 alemães e outros. Kolomyja era uma cidade polaca sob ocupação do Império Austríaco. Kołomyja ganhou o status de cidade durante o reinado do rei da Polônia, Casimiro o Grande, no século 12. Atualmente, a cidade Kołomyja pertence a região de Iwano-Frankiwsk, no Sudoeste da Ucrânia. No censo de 2001 contava com 65 mil habitantes, em sua grande maioria ucranianos e nenhum polaco, judeu, ou alemão.

Tradução do polaco para o português: Ulisses Iarochinski

domingo, 7 de dezembro de 2014

Irineópolis resgata cultura polaca dos imigrantes

Texto: Ellen Colombo
Fotos: Ellen Colombo
No último dia 3 de dezembro, Irineópolis recebeu a visita do cônsul geral da Polônia, em Curitiba, para reafirmar o interesse da Polônia por esse intercâmbio cultural.
Na oportunidade, será realizada uma festividade polaca de natal com apresentações de cantos, dança e encenações teatrais.
Com uma dose de boa vontade e seguindo uma fórmula que soma carinho, organização, empenho e participação da comunidade, o resgate e a valorização cultural puderam caminhar juntos no Núcleo Escolar Presidente Adolfo Konder, na localidade de São Pascoal, em Irineópolis.
Atualmente, a escola é referência no resgate da cultura polaca, sendo a única escola da rede municipal de ensino do Brasil que possui intercâmbio direto com a Polônia. Szkoła Polskiej Kultury i Tradycji w Irineópolis-Escola da Tradição e Cultura Polaca de Irineópolis, em Santa Catarina, como é conhecida na Polônia.



O início
Tudo começou quando o professor de Educação Física, Quelson Marcelo Brito, observou o grande número de alunos descendentes de polacos no município de Irineópolis, especialmente em São Pascoal. “Isso se percebe pelos sobrenomes das pessoas e, em São Pascoal, por ainda manterem a língua polonesa e seus costumes”, conta. Tendo em vista esses fatores peculiares da localidade, o professor apresentou à diretora Andreia Kaschuk Janiszewski a ideia de um projeto de resgate da cultura com danças, cantos, costumes e a língua.
A diretora abraçou a causa e há quatro anos se empenha pelo projeto na intenção de aproximar os alunos descendentes ou não da etnia polaca e divulgar o município de Irineópolis por meio do folclore Polaco. “A princípio foi uma ideia simples e amadora, mas estamos colhendo belos frutos”, disse.
A diretora comenta que o projeto dá muito trabalho, mas todo o esforço é compensado quando vêm os resultados positivos. “Quando há apresentações e títulos que elevam o nome do município, a gente se sente muito feliz e realizado.” Disciplina As principais dificuldades encontradas no início, há quatro anos, eram em relação às vestimentas, pois o material é caro e necessita ser de qualidade. Atualmente, a administração custeou todos os trajes que são confeccionados e bordados à mão. “Começamos com trajes muito simples pela falta de recurso e com o tempo fomos estudando as coreografias e aprimorando, pois cada apresentação exige um traje diferente”, explica a diretora.
O reconhecimento e respaldo dos pais é grande e é desta forma que o apoio da comunidade acontece. “Temos muita procura de pais que querem que seus filhos façam parte do projeto de dança, contudo, para entrar, é preciso que o aluno tenha alguns critérios como: boas notas, comprometimento, comportamento adequado e orgulho da cultura polaca”, comenta, indicando o perfil dos alunos que integram o projeto.
A diretora acrescenta que, mais que um projeto de dança, a escola tenta resgatar a cultura de um povo, por meio da língua, dos costumes, das histórias, da culinária, entre outros fatores. “As danças folclóricas são um instrumento tanto de preservação da cultura, como para a formação dos alunos, contribuindo na melhoria da qualidade de vida por meio do movimento e da socialização dos participantes”, destaca o professor Quelson.
O professor ressalta ainda que o projeto trabalha toda a identidade cultural polaca, além de trabalhar a lateralidade, força, equilíbrio, memória, coordenação motora, postura e disciplina dos alunos. Conquista Recentemente, o projeto recebeu um reforço especial.
Trata-se da contratação da professora de Língua Polaca, Ludmiła Pawłowski, que ministra aulas duas vezes por mês no Núcleo Escolar Presidente Adolfo Konder. Por meio de músicas, a professora, que mora há quatro anos no Brasil, tem ensinado a pronúncia da língua, que é a considerada uma das cinco mais difíceis do mundo. “Muito interessante foi a vinda da professora que aconteceu por meio de um contato informal que tive com ela em conjunto com a secretária de educação, Lilian Eliane Batschauer Ferreira, e o professor Quelson. Nessa conversa, a professora lançou a proposta e nós apresentamos ao prefeito, ele abraçou a causa e conseguimos trazê-la ao município”, conta a diretora.



Bons frutos
Encantada com as crianças do Núcleo, a professora diz que sua impressão sobre o projeto é muito positiva. “As crianças são muito interessadas em aprender a língua e os adultos também. É muito raro e inusitado que as pessoas se interessem pela língua polaca. Nestes anos que trabalho ministrando aulas, nunca tinha encontrado crianças interessadas em aprender polaco, eu encontro adultos, mas crianças ainda não”, comenta.
Para ela, o projeto é exemplo. “Irineópolis é o primeiro município brasileiro que contratou uma professora de polaco e isso é inédito, o que chama atenção é que o município é pequeno e isso mostra o caminho para outros municípios, pois no sul do Brasil a comunidade Polaca é muito grande, mas espalhada e desligada e não demonstra muito interesse no sentido de introduzir a língua para as escolas, pois pensam que só os adultos têm interesse e que a língua já é extinta”, explica. Ludmiła destaca ainda que o ensino da língua pode ser muito interessante e bem aproveitado no estudo e na aprendizagem dos jovens. “Não se trata somente da questão do idioma, mas por meio da língua vem toda a cultura de uma civilização, oportunidades de negócios e muitas chances”, disse. 



Oportunidade
No dia 3 de dezembro, quarta-feira, o município de Irineópolis recebeu a visita do Cônsul da Polônia. Conforme a professora, ele ministrou uma palestra para os alunos sobre as chances de estudos na Polônia. “Os alunos que hoje fazem aulas de polaco terão a oportunidade de continuar os estudos se formar na Polônia”, destaca.
A visita reafirma o interesse da Polônia neste intercâmbio cultural. “Polônia não é um país rico como Alemanha, ou como a França, mas o que tem melhor é a educação. O nível é muito elevado, então esses alunos poderão se formar e fazer alguns semestres da universidade na Polônia e, os que possuem descendência polaca podem ganhar bolsa de estudos”, comenta.
Ludmiła comenta que por meio de fotos, os alunos da escola polaca que fazem o intercâmbio cultural com os alunos de São Pascoal ficam surpresos por saber que existe uma escola no Brasil que demonstra interesse tão grande em aprender a língua e cultura polaca. “É algo muito original. Agora, como uma prova que nós poloneses valorizamos aquilo que demonstram os munícipes de Irineópolis, teremos a visita do cônsul polaco para mostrar que para nós isso é importante, que valorizamos como algo muito precioso.”

Dinamismo
Quanto às aulas, a professora explica que a primeira coisa que assusta os alunos é a pronúncia, pois é uma língua muito sussurrada. Contudo, o mais complicado é a gramática. “Não é difícil, mas é muito diferente do português. A língua polaca baseou-se na gramática do latim, então quem tem alguma noção de latim já entende a gramática polaca”, explica.
Desta forma, a prática será essencial. Ludmiła está preparando conversações entre os alunos polacos e brasileiros por meio de bate papo online. “Não queremos que seja uma língua morta, ou seja, a língua que o aluno só aprende na sala de aula, então preparamos um intercâmbio com a Escola da Polônia, que se chama Ginasial Escola. Uma vez por mês os alunos vão se conectar pelo Skype e já poderão praticar aquilo que aprendem na sala de aula, além de praticar o inglês também”, conta. Muito satisfeita com a oportunidade de ensinar sobre a língua e cultura de seu país, a professora parabeniza Irineópolis. “O município me surpreendeu positivamente. O interesse da administração de Irineópolis em chamar uma professora de polaco é louvável. Está sendo uma experiência incrível e espero que renda bons frutos”, finaliza.

Fonte: jornal Correio do Norte, Canoinhas -SC

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Quarteto Lutosławski abre Festival de Música de Câmara em Sorocaba


Com o objetivo de derrubar os muros que separam a música erudita da música popular, o Sesc Sorocaba recebe até sexta-feira (5) o 1º Festival Sesc de Música de Câmara.
A abertura da mostra ocorre hoje, às 20h, com apresentação do Quarteto Lutosławski, da Polônia. Formado em 2007, por jovens músicos dedicados em reverenciar o legado musical de Witold Lutosławski (1913 - 1994), considerado o mais importante compositor polaco desde Chopin, o Quarteto já se apresentou nos mais importantes festivais de música erudita do mundo, incluindo Festival Ensemble, da Alemanha, e o Festival Klara, na Bélgica.
Além de resgatar peças deixadas por Lutosławski, o quarteto é conhecido por interpretar obras do período clássico, como Beethoven e Brahms, e contemporâneo, como Shostakovich, Mykietyn e Panufnik, de maneira atual e vigorosa.
O quarteto polaco também se destaca no cenário da música de câmara internacional por executar composições próprias, assinadas pelo segundo violinista Marcin Markowicz.
No programa elaborado para o concerto de Sorocaba, o quarteto tocará "Quarteto em lá menor", de Robert Schumann; "Quarteto de cordas nº 3", de Markowicz; Cinco peças para quarteto de cordas, de Erwin Schulhoff e "Quarteto em sol menor", de Claude Debussy.


Além de Markowicz, o Quarteto Lutosławski é composto por Bartosz Woroch (primeiro violino), Adam Newman (viola) e Maciej Młodawski (violoncelo).
Todos os músicos do grupo também atuam como líderes de naipe na Orquestra Filarmônica de Wrocław, na Polônia.
Os ingressos variam entre R$ 12 (sócios do Sesc) e R$ 40 (inteira) e podem ser adquiridos na bilheteria da unidade ou no site www.sescsp.org.br.

O evento ocorre simultaneamente em 10 unidades do Sesc - SP, tanto da capital quanto do interior e litoral, e terá um total de 44 concertos.
Conforme explica Cláudia Toni, curadora do festival, a programação tem como objetivo promover a desmistificação da música de concerto e o fluir dos vários modos de fazer música. "Esses adjetivos que são dados à música de concerto, como "erudita" ou "culta" são bobagens porque criam a conotação de que é algo intransponível e difícil de entender, o que não é verdade. O prazer e o encantamento da música é acessível a todos. Esses muros que separam [a música popular da música de concerto] são artificiais. E uma das propostas do festival, com concertos na capital e no interior, é ajudar a derrubar esses muros", explica.
Amanhã, em Sorocaba, o Festival Sesc de Música de Câmara prossegue com duas apresentações do quinteto de sopros Calefax, da Holanda.

 Mais informações podem ser obtidas no site www.musicadecamara.sescsp.org.br

sábado, 29 de novembro de 2014

Países e nacionalidades po polsku

Como são grafados os países, seus habitantes e seus idiomas em polaco:


País/Państwo     Homem/Mężczyzna       Mulher/Kobieta       Falam em / Mówią po 

Argentyna             Argentyńczyk                      Argentynka               po hiszpańsku
Urugwaj                Urugwajczyk                       Urugwajka                po hiszpańsku
Chile                      Chilijczyk                           Chilijka                     po hiszpańsku
Paragwaj                Paragwajczyk                     Paragwajka               po hiszpańsku
Brazylia                Brazylijczyk                     Brazylijka               po portugalsku
Peru                        Peruwiańczyk                     Peruwianka              po hiszpańsku
Kolumbia               Kolumbijczyk                     Kolumbijka              po hiszpańsku
Meksyk                  Meksykanin                        Meksykanka             po hiszpańsku
Kuba                      Kubańczyk                          Kubanka                   po hiszpańsku
Portugalia             Portugalczyk                     Portugalka             po portugalsku
Polska                    Polak                                    Polka                        po polsku
Niemcy                  Niemiec                                Niemka                    po niemiecku (Alemanha)
Czechy                   Czech                                   Czeska                     po czesku        (Tcheca)
Słowacja                Słowak                                 Słowaczka                po słowacku   (Eslováquia)
Ukraina                  Ukraniec                              Ukrainka                  po ukraińsku
Białoruś                 Białorusin                             Białorusinka            po białorusku
Litwa                     Litwin                                   Litwinka                  po litewsku      (Lituânia)
Rosja                      Rosjanin                               Rosjanka                 po rosyjsku
Francja                   Francuz                                 Francuzka               po francusku
Hiszpania              Hiszpan                               Hiszpanka             po hiszpańsku (Espanha)
Wielka Brytania     Brytyjczyk                            Brytyjka                  po angielsku
Anglia                    Anglik                                   Angielka                  po angielsku
Belgia                     Belg                                      Belgijka                   po francusku
Holandia                 Holender                               Holenderka              po holendersku
Szwajcaria              Szwajcar                               Szwajcarka              po szwajcarsku (Suíça)
Szwecja                  Szwed                                    Szwedka                 po szwedzku     (Suécia)
Węgry                     Węgier                                  Węgierka                 po węgiersku   (Hungria)
Włochy                   Włoch                                  Włoszka                po włosku        (Itália)
Stany Zjedoczone   Amerykanin                           Amerkykanka        po angielsku
Kanada                    Kanadyjczyk                         Kanadyjka              po angielsku / po francusku
Japonia                    Japończyk                              Japonka                 po japońsku
Chiny                       Chińczyk                               Chinka                   po chińsku




sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Morre o polaco Samuel das Casas Bahia


Texto original de Ralphe Manzoni Jr.
Revista IstoÉ Dinheiro

O empresário Samuel Klein, fundador das Casa Bahia, faleceu na madrugada desta quinta-feira, 20, em São Paulo, devido a insuficiência respiratória. Klein estava com 91 anos de idade. Ele deixa três filhos, oito netos e cinco bisnetos. O velório ocorre no cemitério israelita do Butantã, em cerimônia reservada para família e amigos.
A Via Varejo, controladora da Casas Bahia, divulgou nota na qual expressou seus sentimentos de pesar e agradeceu o empresário por sua contribuição ao País. "A melhor forma de honrarmos seu legado empreendedor é continuarmos crescendo e realizando os sonhos de nossos clientes e colaboradores".


Perfil

Polaco naturalizado brasileiro, Samuel Klein nasceu em Zaklików e cresceu em Lipa, cidades próximas a capital da região lubelska, Lublin, na Polônia, como o terceiro de nove irmãos, filho de um carpinteiro de família de origem judaica.

Aspecto atual da praça central (Rynek) de Zaklików, onde nasceu Samuel Klein, na Polônia

Começou a trabalhar com o tio como marceneiro até a invasão dos nazistas, quando foi levado para Maidanek com o pai. Maidanek, em Lublin, era o terceiro maior campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial.

Uma pousada em Lipa, pequena cidade onde Samuel Klein passou sua infância
Klein foi com o pai para Maidanek, enquanto a mãe e os irmãos foram para Treblinka. Foi levado junto com outros prisioneiros para Auschwitz em 1944, após a libertação da Polônia. Caminharam 50 quilômetros a pé até o rio Vístula (maior rio da Polônia).

Aspecto atual do cemitério judaico de Zaklików
Fugiu dos soldados numa tentativa ousada no dia 22 de Julho. Suas palavras: "Fui me escondendo e entrando no trigal cada vez mais. Não sei para onde estava indo, mas tinha a certeza de me afastar do grupo." Passou a noite na plantação. Ao acordar, encontrou-se com polacos cristãos também fugidos, que o acolheram e ajudaram a fugir.

Restos de sapatos e roupas dos prisioneiros do campo de concentração nazista de Majdanek, em Lublin
Samuel chegou a voltar para sua antiga casa, que estava totalmente arrasada. Trabalhou numa pequena fazenda nas proximidades em troca de comida.
Com o fim da guerra, encontrou-se com a irmã Sezia e o irmão Salomon. Depois da guerra, os irmãos Klein foram para a Alemanha administrada pelos norte-americanos. Conseguiram reencontrar vivo o pai. Viveram em Munique de 1946 até 1951.
Nesta grande cidade alemã, Samuel conheceu Hanna, com quem se casou. Sentiram que era hora de deixar a Europa e reconstruir a vida em outro lugar. O pai foi para Israel, junto com a outra irmã Esther. Samuel queria emigrar para os Estados Unidos, mas não conseguiu. A cota de emigração estava cheia. Decidiu ir para a América do Sul, onde tinha alguns amigos.
Conseguiu visto para a desconhecida Bolívia e lá chegou com a esposa e o filho. Em 1952, a Bolívia vivia uma situação social muito complicada, com disputas políticas violentas e uma revolução em curso. Klein recordou-se de uma tia que vivia no Rio de Janeiro.
Com a mulher e o filho embarcou no primeiro avião de La Paz para a então capital brasileira. Em menos de dois meses conseguiu autorização para viver no Brasil.
Estabeleceu-se em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo com a família. Foi quando começou a trabalhar como comerciante. Tornou-se mascate, vendendo roupas de cama, mesa e banho de porta em porta, com uma charrete.

Primeira loja da futura rede Casas Bahia, em São Caetano do Sul - Sp
Em cinco anos de dedicado trabalho, conseguiu capital para comprar uma loja chamada Casa Bahia, em 1957. Era a sua homenagem a seus fregueses, na maioria retirantes baianos vindo tentar a sorte na região. Em 1964, a loja começa a vender eletrodomésticos.
Seis anos depois, o Bahianinho, o mascote que até hoje é o símbolo da Casas Bahia, foi criado. Junto com ele surgiu o slogan “Dedicação total a você”.


Samuel Klein é considerado por muitos o rei do varejo. Ele também foi o primeiro a vislumbrar o poder de compra dos mais pobres, fornecendo crédito aos que não conseguiam comprovar renda. “Compro por 100 e vendo por 200, tudo parcelado”, costumava dizer ele, o segredo de seu sucesso como empresário.
A Casas Bahia, com o tempo, foi ganhando musculatura. Em 1989, já contava com 100 lojas. Nos anos 2000, tornou-se a maior rede de varejo do Brasil, sobrevivendo ao furacão que varreu do mapa os principais varejistas do Brasil.
Por esse motivo, a Casas Bahia transformou-se no símbolo de resistência de um setor que viu antigos ícones como Mappin, Mesbla, G. Aronson e Casa Centro desmoronarem da noite para o dia. Mas foi também no fim da primeira década dos anos 2000 que marca uma virada na estratégia da companhia.
Em 2009, o controle da Casas Bahia é vendido para o grupo Pão de Açúcar, naquela época controlado com mão de ferro pelo empresário Abilio Diniz. Ela iria se unir ao Ponto Frio, seu arquirrival, comprado seis meses antes pelo Pão de Açúcar, dando origem ao maior grupo de varejo do Brasil.
O casamento, no entanto, foi tumultuado desde o início, com ameaças de rompimento de ambas as partes, logo depois do contrato assinado. Mas depois de acertarem suas divergências, surge a Via Varejo, que combina as operações de Casas Bahia e Ponto Frio.
Raphael Klein, neto de Samuel, foi seu primeiro presidente. A família Klein, atualmente, é minoritária na Via Varejo. Em uma operação de venda de ações, eles ficaram com apenas 27,3% das ações. Michael, filho de Samuel, que comandava o conselho de administração da Via Varejo deixou o posto e mantém duas cadeiras no colegiado.

Cotidiano

De hábitos simples, Samuel Klein mantinha quarto na sede da Casas Bahia Mesmo fora do dia a dia dos negócios, empresário ia até sede da empresa e tinha um espaço decorado para dormir e descansar Fora do dia a dia dos negócios há mais de uma década, o empresário Samuel Klein, fundador da rede varejista Casas Bahia, não deixava de frequentar a sede da companhia, em São Caetano do Sul, na região do grande ABC.
O edifício abriga atualmente, nos quinto e sexto andares, a sede da CB Capital Brasileiro, empresa que toca os negócios de Michael Klein, o primogênito de seu Samuel.
A Via Varejo, holding de eletroeletrônicos que administra a Casas Bahia e o Ponto Frio, fica nos andares abaixo.

Michael Klein

Em fevereiro deste ano, encontrei-me com Michael, seu filho, para uma entrevista que foi a reportagem de capa da revista DINHEIRO.
Era um dia histórico, pois ele acabava de deixar a presidência de conselho de administração da Via Varejo.
De forma simbólica, aquele gesto marcava o fim do comando de um Klein sobre o império de eletroeletrônicos que começou com uma pequena loja, em 1957, ali mesmo em São Caetano do Sul, pelas mãos de seu Samuel.
A conversa girava em torno dos novos negócios de Michael, principalmente na área imobiliária. Quis saber o que significa, do ponto de vista emocional, deixar o comando da empresa que foi fundada por seu pai. “A melhor maneira de sair é quanto você está em alta”, respondeu ele. “Pelé parou e ainda é o rei do futebol. Assim como ninguém vai tirar o mérito de meu pai de ser o rei do varejo. Podem aparecer novos reis do varejo. Mas quem apostou no varejo brasileiro lá atrás e deu crediário para os pobres? Foi ele.”
Nesse momento, ele me disse que seu pai, já com 90 anos, ainda gostava de ir até a sede da empresa, em São Caetano do Sul, embora cada vez mais com menos frequência. “Ele quer ver se as coisas dele estão no mesmo lugar”, brincou. E, para minha surpresa, me convidou para conhecer o quarto em que o seu Samuel, como ele é conhecido, mantinha no quinto andar do edifício em São Caetano do Sul.

“Um quarto?”, questionei.
“Isso mesmo”, respondeu Michael.

Fomos até a sala ao lado, onde Michael trabalha quando está por lá. Ela é decorada com fotos familiares e jatos executivos e helicópteros, paixão do filho de seu Samuel. Antes, era ocupada pelo patriarca da família. Atrás da cadeira, há uma porta que leva para o quarto de seu Samuel. “Muitas vezes ele dormia aqui”, conta Michael.
Na verdade, o espaço é muito mais do que um quarto. É um apartamento enorme, com sala, cozinha, o quarto propriamente dito e um banheiro adaptado para pessoas idosas.
Há fogão, geladeira, televisão e amplos sofás. O local é todo decorado com fotos familiares. Até os armários estavam lotados com as indefectíveis camisas listradas de seu Samuel, o seu traje favorito.


As lições de varejo de Samuel Klein em 13 frases:

1 - “Crise é coisa de rico”
2 - “Eu sei fazer conta. Compro por 100 e vendo por 200, sempre parcelado”
3 - “De um bom namoro sai um bom casamento. Da boa conversa, sai um bom negócio”
4 - “O segredo é comprar bem comprado e vender bem vendido”
5 - “Eles não perdem dinheiro. O desconto que os fornecedores dão para a gente, eles cobram dos meus concorrentes.”
6 - “Damos com uma mão, tiramos com outra”
7 - “Em nossa vida profissional, não podemos falhar. São justamente nossos erros que estragam nossos acertos”
8 - “Um mais um é igual a dois. Mas a soma de uma ideia mais uma ideia não são duas ideias, e sim milhares de ideias”
9 - “Cresci junto com o Brasil, não fiquei parado vendo o país crescer”
10 - “Bobagem. A riqueza do pobre é o nome”
11 - “Quem tem sócio tem patrão”
12 - “Eu vivo e deixo os outros viverem”
13 - “Que país abençoado esse Brasil. O povo também é pacato e acolhedor. O Brasil é um país que dá oportunidades para quem quer trabalhar e crescer na vida”

Herdeiros de Samuel Klein

O filho Michael é um dos maiores investidores imobiliários do Brasil e os netos Rafael e Natalie apostam na mídia digital e no varejo de luxo, respectivamente A família Klein terá seu nome marcado na área de varejo.
Rafael Klein

Afinal, o patriarca Samuel, que morreu nesta quinta-feira 20, ostenta há décadas o título de rei do varejo brasileiro.
A homenagem é mais do que justa, pois foi ele quem descobriu, meio século antes que o tema virasse moda, o potencial da baixa renda.
Pioneiro, Samuel trouxe a periferia para o mercado de consumo, oferecendo crediário para os consumidores de menor poder aquisitivo, que hoje constituem a chamada classe média emergente, em lojas despojadas de luxo e de produtos sofisticados.
Tanto que o celular só foi parar nas gôndolas da Casas Bahia em 1999, quando passaram a ser acessíveis ao bolso do povão.
O DNA do varejo está presente nos herdeiros de Samuel, mas eles estão se enveredando por outros caminhos. A família, que vendeu a Casas Bahia ao Pão de Açúcar, hoje detém 27,3% da Via Varejo, holding criada para administrar os negócios de eletroeletrônicos do grupo atualmente controlado pelo francês Casino.
Michael, o primogênito de Samuel, deixou a presidência do conselho de administração da Via Varejo, embora mantenha dois assentos no colegiado. Hoje, ele dedica a maior parte de seu tempo a administrar os seus negócios imobiliários. Se Samuel é chamado de o rei do varejo, Michael, no entanto, tem grandes chances de ser conhecido como o imperador dos imóveis.“Gosto de brincar de banco imobiliário na vida real”, disse Klein, em entrevista à DINHEIRO, em fevereiro deste ano.

“Em vez da cartolina, prefiro receber a escritura da propriedade.” Não se trata apenas de uma tirada espirituosa ou jogo de cena de Klein. Ele é atualmente um dos maiores investidores imobiliários do País, dono de um patrimônio estimado em R$ 4,6 bilhões e mais de 400 imóveis. Esse patrimônio, no ano passado, gerou uma receita anual de aproximadamente R$ 250 milhões. Quase três quartos desses ativos estão alugados para a Via Varejo, em um contrato que vai até 2030. Os outros inquilinos são grandes empresas, como os bancos Bradesco e Santander e as varejistas Marisa e O Boticário.
A siderúrgica Gerdau, por exemplo, aluga dois galpões industriais. A Petrobras ocupa um prédio de 13 andares em Salvador. Todo o dinheiro ganho com esses aluguéis é reinvestido em novos prédios, escritórios e lojas.
Natalie Klein
Outro interesse de Michael é a aviação. Ele tenta desde o começo do ano autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para colocar no ar sua companhia de táxi aéreo a CB Air. A empresa já conta dois hangares, um no Campo de Marte, em São Paulo, e outro em Sorocaba, no interior de São Paulo, além de helicópteros e jatos executivos.
Só não iniciou sua operação por conta dos trâmites oficiais. Os filhos de Michael também resolveram seguir caminho solo. Raphael, que foi o primeiro presidente da Via Varejo, a holding que reúne Casas Bahia e Ponto Frio, aposta na mídia digital.
Ele fundou a ROIx, uma agência online, depois que deixou o comando da operação de eletroeletrônicos.
Natalie, a outra filha de Michael, é dona da butique de luxo NK Store, uma das mais conceituadas do Brasil.



P.S. fiz algumas correções históricas, acrescentando informações e fotos. Em 2003, tive a oportunidade de trabalhar na produção do especial para a TV Bandeirantes com Roberto Cabrini, o cinegafista Paraíba, o editor Clóvis Rebello,e o também intérprete e produtor Mauro Longaretti Kraenski. Com duração de 60 minutos, o programa foi ao ar, quando o polaco Samuel completava 80 anos de idade.
Além das pequenas cidades e os campos de concentração onde Samuel viveu, também foram feitas gravações em Cracóvia com alguns entrevistados.
Ulisses Iarochinski, Roberto Cabrini e o cinegrafista/iluminador Paraíba, em Cracóvia nas gravações do especial "Samuel Klein - 80 Anos", pela TV Bandeirantes

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Pianista polaco em Campos de Jordão e Curitiba

A AMECampos – Associação dos Amigos de Campos do Jordão traz para a cidade, nesta sexta-feira, 14 de novembro, o jovem e talentoso pianista polaco Grzegorz Niemczuk. O evento acontecerá na Sede da Associação com entrada franca, a partir das 19 horas.
Nascido em Tychy, Polônia, concluiu o curso superior em música na Academia Karol Szymanowski em Katowice, com especialização em interpretação pianística na classe do Prof. Józef Stompel. Continuou sua educação musical nos Estados Unidos como bolsista de Keyboard Institute & Festiwal (Mannes College of Music), tendo a oportunidade de trabalhar com os pianistas de grande destaque e renome internacional.
Grzegorz é um dos mais ativos pianistas polacos da nova geração. Sua rica carreira internacional inclui 10 anos com mais de 350 concertos e recitais em 20 países nos 5 continentes.
Entre as salas de maior prestígio que já receberam o pianista está a Carnegie Hall e a Steinawy Hall em Nova Iorque, Teatro Puccini em Milão, Teatro Civico em Vecella, Palau de la Musica Catalna em Barcelona, Jardins Botânicos em Singapura, Collonge-Bellerive em Genebra, Museu F. Liszt em Weimar, Filarmônica Nacional em Varsóvia e Filarmônica de Cracóvia.
O pianista possui um extenso repertório que inclui mais que 200 obras para piano solo e 20 concertos para piano e orquestra, desde a época barroca até a música contemporânea. O jovem músico recebeu diversos prêmios, entre eles o prêmio principal no International Carnegie Hall Concerto Debut Competition em 2013, sendo o primeiro ganhador polaco desse concurso.
Outros sucessos incluem os principais prêmios no 7º Concurso Internacional Citta di Piove di Sacco (2014), 40º Concurso Nacional F. Chopin em Varsóvia (2010), Rencontres Internationales des Jeunes Pianistes em Waterloo (2009), 9º Concurso Internacional Stefano Marizza em Trieste (2008). Recebeu também os títulos de Janet and William Schwartz Scholarship Award em Nova Iorque (2008) e Palco de Jovens no 43º Festival de Arte Pianísitca Polaca em Slupsk (2009).
Além de suas intensas atividades de concertista, o Sr. Niemczuk desenvolve um trabalho pedagógico: desde 2011 faz parte do corpo docente do Instituto de Música da Universidade Silesiana em Katowice, Polônia.
Segundo Michael Sherwin, The Epoch Times, New York “sua interpretação se destaca pela fluência, pela ampla escala de dinâmica desde um fortíssimo ressoante até um pianíssimo sussurrante, variedade de cores e virtuosismo deslumbrante” Para este recital, o pianista escolheu um repertório de primeira qualidade.

Veja o programa da apresentação:
F. Chopin Noturno em Si Bemol Menor op. 9 nº 1
F. Chopin Três estudos: op. 10 nº 1 em Do Maior, nº 7 em Do Maior e nº 12 em Do Menor “Revolucionário”
I. J. Paderewski Minueto em Sol Maior op. 14 nº 1
K. Szymanowski Dois Prelúdios: op. 1 nº 2 em Re Menor e nº 5 em Re Menor
F. Chopin Noturno em Si Maior op. 62 nº 1
F. Chopin Polaca em La Maior op. 40 nº 1 Intervalo F. Chopin Ballada em Sol Menor op. 23 Três Mazurcas: op. 59 nº 1 a 3 e Scherzo em Si Bemol Menor op. 31

Serviço: Programa Jovens Talentos
Atração: Pianista Grzegorz Niemczuk
Data: 14 de novembro de 2014 Horário:
19h Local: Sede da AMECampos – Associação dos Amigos de Campos do Jordão
End.: R. Dr. Reid, 68 – Abernéssia – Campos do Jordão – SP
Entrada Franca Informações: (12) 3662-2611/(12) 3662-5511


Em Curitiba, Niemczuk se apresenta no domingo, 16 de novembro, 
às 19h00
na Capela Santa Maria,
Rua Conselheiro Laurindo esq./ com Marechal Deodoro

terça-feira, 11 de novembro de 2014

II Encontro de ex-estudantes brasileiros da Polônia

Foto: Daio Hofmann
Na sede da Sociedade KOSCIUSZKO em Curitiba ocorreu encontro de ex-estudantes brasileiros de universidades polacas. O encontro teve como objetivo a integração dos ex-estudantes, apoio à cooperação acadêmica entre a Polônia e o Brasil, apoio ao ensino do idioma polaco no Brasil, divulgação de possibilidades de estudos na Polônia dentro de programas de bolsas do Governo Polaco e do programa brasileiro "Ciência sem fronteiras”.
O evento teve como coordenador o médico Edward Kusztra, que havia organizado o primeiro encontro em 1991, e como convidados de honra: O cônsul geral da Polônia em Curitiba, Marek Makowski, a vice-cônsul Dorota Ortyńska, o Presidente da BRASPOL Rizio Wachowicz, Reitor da PUC-PR Waldomiro Gremski, Diretor da Organização Mundial de Família Daisy Weber Kusztra, vice-presidentes da BRASPOL, Andre Hamerski e Lourdes Kuchenny, Presidente da Sociedade Kosciuszko Denise Sielski e Presidente da Sociedade Pilsudski Antonio Turek.

Cônsul geral Marek Makowski e vice-cônsul Dorota Ortyńska
Os principais assuntos do debate envolveram a troca de experiências e informações da Polônia, que possam ser úteis para os futuros estudantes, dificuldades em reconhecimento de documentos escolares e acadêmicos entre o Brasil e Polônia, ensino de polaco no Brasil, mercado de trabalho para os diplomados das faculdades polacas.
O encontro teve muitos momentos emocionantes como depoimentos de ex-alunos como Daisy Weber Kusztra, Janina Gwadera, Ulisses Iarochinski e Josiane Faganello Lazarotto.

Rafael, Josiane (ex-estudante) Hellen Carvalho, Ulisses (ex-estudante) e Janaina Faganello
Foram feitas várias observações objetivas e sugestões úteis para a melhora da cooperação acadêmica entre os dois países e ensino de polaco no Brasil e validação de diplomas polacas mais célere. No final foi servido um delicioso coquetel.
Os presentes solicitaram que  Edward Kusztra organize novo encontro daqui a dois anos.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Museu em Varsóvia para os mil anos de judeus na Polônia

Um novo museu em Varsóvia está resgatando mil anos de história dos judeus na Polônia. Seus idealizadores querem celebrar uma cultura rica e complexa, hoje eclipsada pela sombra do Holocausto.


Os judeus começaram a se estabelecer na Polônia no início da Idade Média. Do século 17 até o início do século 20, o país foi o centro da vida judaica no mundo.

Em Varsóvia, em 1917, os judeus constituíam 44% da população. O bairro judeu da cidade era um conjunto de ruas barulhentas e movimentadas, cheias de lojas cujas fachadas anunciavam todo tipo de produto, de gravatas a flores artificiais.
Uma década mais tarde, no entanto, a Polônia e a Europa como um todo enfrentariam uma grave crise, levando muitos judeus a tentar a sorte em outros países, inclusive no Brasil. Essa onda migratória viria a se manifestar, décadas mais tarde, na ciência, na literatura e na política, entre outras áreas da vida brasileira.
Aos que permaneceram na Polônia, o futuro traria horrores nunca imaginados. A comunidade vibrante, com suas sinagogas, teatros e uma estrutura política própria foi destruída durante o Holocausto.

Gueto de Varsóvia
Para os mais de um milhão de turistas - muitos deles, judeus - que viajam anualmente para ver os vestígios dos campos de concentração construídos pelos nazistas na Polônia, essa história riquíssima tende a ser ofuscada pelos horrores da Segunda Guerra Mundial.
"A última coisa de que a Polônia precisava era de um museu do Holocausto, porque o país inteiro é um museu do Holocausto", diz Barbara Kirshenblatt-Gimblett, curadora da exposição permanente do museu.


"Temos uma obrigação moral de não apenas lembrar dos judeus que morreram - devemos lembrar como eles viveram".
Agora, isso é possível com uma visita ao Museu da História dos Judeus Polacos, que acaba de ser inaugurado em Varsóvia.
O historiador israelense Avraham Milgram, que já visitou o novo museu, disse que ele é, paradoxalmente, o maior museu da Polônia. "O edifício é uma verdadeira joia arquitetônica, da autoria de dois arquitetos finlandeses que ganharam um concurso internacional proposto pelo governo polaco. Sem dúvida, será a grande atração turística de Varsóvia nos próximos anos e será visitado por turistas de todas as nacionalidades, pois é impossível compreender a Polônia sem conhecer a comunidade judaica que existiu durante 1000 anos nos territórios polacos".
O museu foi construído no local onde ficava o maior gueto judaico, o Gueto de Varsóvia, estabelecido pelos nazistas alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Ao lado está um monumento construído em homenagem aos jovens - homens e mulheres - que, em abril de 1943, morreram resistindo a uma tentativa, pelos nazistas, de destruir a área.

Terra Prometida
As paredes do prédio são construídas de vidro. Nelas está inscrita, em hebraico, a palavra Polônia. Acima da entrada principal, uma fenda se abre até o teto, criando um vão profundo que se estende até o meio do prédio. Ele simboliza a passagem bíblica em que Moisés abre as águas do Mar Vermelho, formando um caminho para a travessia dos judeus que deixavam o Egito em direção à terra prometida.


Por meio de maquetes da cidade medieval, mapas, filmes, fotografias, áudio e telas que respondem ao toque, a exposição, inaugurada esta semana pelos presidentes da Polônia e Israel, narra toda a história, desde o primeiro assentamento judeu no país, no ano 960, até os dias de hoje.

Assunto espinhoso
Ela conta como os judeus foram expulsos ou fugiram de guerras na Europa Ocidental e vieram para a Polônia, trazendo com eles uma economia monetária e de crédito. Os governantes polacos deram a eles o direito de se estabelecerem no país, formarem suas comunidades, seguirem sua própria religião e se dedicarem a certas atividades.
Uma das jóias da exposição é uma réplica do teto de uma sinagoga de madeira que existiu em Gwozdziec, no século 17. Ele é adornado com pinturas de animais e signos do zodíaco.
O tema difícil das relações entre polacos e judeus durante a ocupação nazista é abordado com cuidado. A exposição fala dos polacos que apoiaram o projeto nazista de extermínio dos judeus mas também daqueles que arriscaram suas vidas tentando ajudá-los. Um corredor revestido de metal enferrujado, exalando cheiro de queimado, representa os campos de concentração.
As galerias dedicadas ao período do pós-guerra mostram como muitos dos sobreviventes preferiram emigrar a tornarem-se alvos de suspeita, perseguições e campanhas anti-semitas dos comunistas.
No final da exposição, o visitante descobre um pouco sobre a pequena comunidade judaica que vive na Polônia atual.


"Acho que esse museu pode fazer uma enorme diferença na renovação da vida judaica na Polônia. A renovação é pequena, a comunidade é pequena, mas isso não a torna menos importante", diz Barbara Kirshenblatt-Gimblett.
"A comunidade judaica (na Polônia) é pequena não apenas por causa de genocídio, emigração, assimilação e comunismo, mas por causa do medo e vergonha que levaram pais a esconderem ou guardarem segredo sobre as origens judaicas de seus filhos e netos", diz a curadora.

Legado no Brasil
Em meados da década de 1920, fugindo da crise europeia, milhares de judeus polacos foram parar no Brasil. O historiador Avraham Milgram, que viveu no Brasil, explica que seu legado está presente com força na vida brasileira hoje.
"A maioria falava o idische, a língua dos judeus ashkenazitas do leste europeu. Em pouco tempo estabeleceram suas instituições comunitárias: sinagogas, escolas, cooperativas e associações de ajuda mútua, partidos políticos, jornais, teatros e cemitérios", disse Milgram.

"O ideal da maioria destes imigrantes era ver seus filhos estudarem nas universidades, o que de fato aconteceu da segunda geração em diante".
Assim, explica Milgram, surgiria uma geração de descendentes de imigrantes polacos que se destacaria na cultura, ciência e política brasileiras, entre outras áreas.

"No jornalismo, encontramos o decano dos jornalistas brasileiros, Alberto Dines, o escritor falecido, membro da Academia Brasileira de Letras, Moacyr Scliar, o historiador medievalista Nachman Falbel, o escritor idischista Meyer Kuciński e seu filho Bernardo Kuciński, o historiador e escritor Elias Lipiner, o advogado e escritor Samuel Malamud, o ex-ministro Celso Lafer, o escritor (e político) Alfredo Sirkis".

"Há muitíssimos médicos, engenheiros, economistas, psicólogos, arquitetos, artistas e músicos filhos de imigrantes da Polônia que cumpriram com os ideais de seus pais", diz Milgram.

Raízes judaicas
Para o povo polaco o museu tem um papel adicional: ajudar descendentes dessa cultura a reconstruírem sua identidade. Segundo estimativas, há hoje entre cinco e sete mil judeus registrados na Polônia e talvez 25 mil descendentes.
"O museu vai ser um lugar onde os polacos que descobrem suas raízes judaicas poderão sentir orgulho de ser judeus e dar seus primeiros passos na descoberta do que significa o Judaísmo", disse o rabino chefe da Polônia, Michael Schudrich.
O empresário Piotr Wislicki, que ajudou levantar fundos para financiar o projeto, descreveu a seguinte cena, envolvendo uma família americana que saía do museu há duas semanas:
"Vi os filhos e netos sorrindo e os avós chorando. Então perguntei: 'O que aconteceu? Foi a galeria do Holocausto (que os fez chorar)?' E eles responderam: 'Não, estamos felizes porque no final de nossas vidas pudemos mostrar a nossos filhos e netos nossa história esplêndida, como a vida realmente era na Polônia'".

Fonte: BBC Brasil

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Rússia propôs dividir Ucrânia com a Polônia

Reuters

O presidente russo, Vladimir Putin, propôs ao então primeiro-ministro da Polônia que dividissem a Ucrânia entre eles ainda em 2008, afirmou o presidente do Parlamento polaco, Radosław Sikorski, em entrevista publicada no site norte-americano, Político.
De acordo com Sikorski, que até setembro serviu como ministro das Relações Exteriores da Polônia, Putin fez a proposta durante a visita do primeiro-ministro Donald Tusk, a Moscou em 2008.

“Ele queria que participássemos dessa partição da Ucrânia... essa foi uma das primeiras coisas que Putin disse ao meu primeiro-ministro, Donald Tusk, quando ele visitou Moscou."
“Ele (Putin), em seguida, disse que a Ucrânia é um país artificial e que Lwów é uma cidade polaca, e perguntou por que simplesmente não a repartimos”, teria declarado Sikorski, na entrevista de 19 de outubro último.

Lwów em 1900 era uma cidade da Polônia
Antes da Segunda Guerra Mundial, o território polaco incluía regiões do atual Oeste ucraniano, inclusive algumas grandes cidades como Lwów, conhecida como Lviv, na Ucrânia.
Segundo Sikorski, que acompanhou o premiê em sua estada na capital russa, Tusk não respondeu à sugestão de Putin por saber que estava sendo gravado, mas a Polônia jamais expressou qualquer interesse em se unir à operação russa. "Nós deixamos isso muito, muito claro para eles, não queríamos nos envolver com isso", disse Sikorski na entrevista.

Após a publicação da entrevista, Sikorski disse que esta não estava inteiramente correta. "Algumas das palavras foram mal interpretadas", escreveu Sikorski em sua conta no Twitter, na noite desta segunda-feira (20), acrescentando que a Polônia não participa de anexações.
Nem o Ministério das Relações Exteriores da Polônia, nem oficiais russos estavam imediatamente disponíveis para comentar o assunto. "Se tal proposta foi feita por Putin, então isso é escandaloso", disse Ewa Kopacz, que substituiu Tusk como premiê, na noite desta segunda-feira em uma entrevista à emissora pública TVP.
Tusk deixou o cargo para assumir o cargo de Presidente da Conselho Europeu, em Bruxelas, na Bélgica. "Nenhum primeiro-ministro polaco vai participar de uma atividade tão vergonhosa como particionar outro país", disse ela, acrescentando que não tinha ouvido falar sobre essa proposta antes.
O relato de Sikorski reafirma que não é a primeira vez que a Rússia buscou apoio da Polônia para dividir a Ucrânia. Após a anexação da península ucraniana da Crimeia pela Rússia, o presidente do Parlamento russo, Vladimir Zhirinovsky, enviou uma carta aos governos de Polônia, Romênia e Hungria propondo uma divisão conjunta do país.