Mais uma vez um filme polaco fica de fora das salas de cinema de Curitiba. Antes foi "Lech Wałęsa" e agora "Ida".
Sim, porque alguns brasileiros privilegiados (sem nenhuma ligação com a Polônia) já podem comprovar todo o talento envolvido na criação de “Ida”.
A obra-prima de Paweł Pawlikowski foi o melhor presente de Natal que os cinéfilos receberam este ano. Infelizmente, este prazer é para poucos, restrito a oito salas apenas – quatro em São Paulo, três no Rio e uma em Goiânia (em Goiás por que?).
O drama polaco “Ida”, um dos filmes mais premiados do ano, já foi eleito o Melhor Filme Europeu de 2014, venceu o Festival de Londres, foi votado o Melhor Filme Estrangeiro do ano pelas associações de críticos de Los Angeles e Nova York, indicado ao Globo de Ouro e ao Critics’ Choice de Melhor Filme Estrangeiro, e é favoritíssimo ao Oscar da categoria (na qual já está pré-selecionado).
Já são mais de 30 troféus no currículo, mas o diretor e roteirista Paweł Pawlikowski (“Meu Amor de Verão”) ainda se surpreende com a repercussão de sua obra. “Eu pensei que estava fazendo um filme pequeno sobre um tema grandioso, mas não esperava isso.
"Tem sido uma grande surpresa”, declarou ele em conversa com a imprensa.
Segundo Pawlikowski, filmar esse longa foi diferente. “Todos acharam um suicídio profissional voltar à Polônia e fazer uma produção falada em polaco. Mas esse era um filme que queria fazer. Paradoxalmente, ‘Ida’ se tornou o trabalho mais ressonante e bem-sucedido da minha carreira”, apontou.
E o sucesso não se dá apenas entra a crítica. A produção vem tendo também boa recepção do público, em países em que não é exilada em um punhado de salas apenas.
Nos EUA, por exemplo, ela arrecadou US$ 3,5 milhões, um valor respeitável para um longa estrangeiro.
Na França, ele teve 600 mil espectadores e se tornou o longa polaco de maior bilheteria já conquistada no país. “Não é todo dia que um conto de fadas como esse acontece”, celebra o diretor.
Filmado em deslumbrante preto e branco – sua fotografia também é premiadíssima – , “Ida” se passa nos anos 1960 e acompanha a história de uma noviça órfã que, prestes a ser ordenada freira, descobre que é judia e sobrevivente do holocausto.
A história de “Ida” é a mais pessoal da filmografia de Pawlikowski. O diretor nasceu na Varsóvia e viveu lá até os 14 anos, quando sua família se mudou para o Reino Unido.
“Primeiro você pensa: ‘Quem se importa com as raízes? Não é nada demais. Eu posso transcender minhas raízes e cultura’. Mas chega uma hora em que você começa a olhar para trás e foi isso que me levou a fazer esse filme.”
A filmagem gerou no cineasta um sentimento de nostalgia. “Queria filmar um longa sobre a Polônia que não existe mais, aquela em que passei minha infância. Meu desejo era dar vida a um universo e a um certo tipo de personagens que existiam naquela época. Mas, principalmente, queria fazer um filme sobre a identidade, o que nos leva a ser o que somos, sobre fé e o que significa ser cristão. Tudo gira em torno das diversas pessoas que somos ao longo da vida e o quanto somos complicados. Nós podemos cometer atos criminosos e, ainda assim, sermos pessoas queridas.”
Mais do que uma história sobre suas raízes, Pawlikowski buscava explorar o significado de ser cristão. “Muitas perguntas rondavam a minha mente enquanto desenvolvia o roteiro: ‘Você pode ser um bom cristão sem ser um polaco católico? A religião é uma demarcação tribal ou é algo espiritual dentro de você? O que define a sua identidade é o sangue que corre em suas veias? Você pode escapar de todas essas definições e ter uma existência puramente espiritual?’. A Polônia é cheia dessas questões.”
Para levantar tais questionamentos em “Ida”, o cineasta optou por filmar de forma diferente, tanto na narrativa quanto na estética. “Precisava fazer um filme como forma de meditação. Estava cansado do cinema, de todos os seus truques, closes, enquadramentos, tomadas aéreas, iluminação perfeita… Eu me senti seguro em não mover a câmera, fazer planos estáticos, não revelar todas as informações nos diálogos. Deu certo e foi a forma que encontrei para escapar do tédio que o cinema estava me dando. Claro que os produtores reclamaram muito disso, me perguntando: ‘Por que você não move a câmera um pouco mais, por que a cena não pode ser mais emotiva? Eles achavam que seria um desastre e agora acho que mudaram de ideia.”
Fugindo das técnicas “tediosas”, o diretor também optou por filmar em preto e branco, algo que tinha em mente desde o início do projeto.
“Quando desenvolvia o roteiro, já via que esse mundo precisava ser mostrado dessa forma. Às vezes, os cineastas optam por filmar em preto e branco para tornar seus trabalhos mais interessantes. Mas vi que em alguns desses filmes a cor poderia torná-los ainda melhores. Eu senti que o certo seria realizar ‘Ida’ em preto e branco, em parte porque se passa num tempo antigo, mas também porque não queria que o filme fosse realista, precisava removê-lo da realidade.”
Para realizar a fotografia em preto e branco, foi originalmente escalado Ryszard Lenczewski, habitual colaborador de Pawlikowski. Mas ele acabou entrando em conflito com o diretor e deixou o projeto por diferenças criativas.
Assim, o operador de câmera Lukasz Zal (documentário “Joanna”) foi promovido a diretor de fotografia, fazendo sua estreia na função num longa de ficção. “Eu não tinha escolha”, declarou o cineasta. “Ele é quem estava disponível naquele momento e se tornou uma grata surpresa. Lukasz tem boa energia, coragem e empolgação e isso é o que importa.”
De fato, foi uma revelação. Zal venceu diversos prêmios pelo trabalho, incluindo os prestigiosos European Film Awards, Cameraimage e até um troféu do Sindicato dos Cinematógrafos dos EUA (ASC).
Outra revelação da obra é a atriz Agata Trzebuchowska, que interpreta a personagem-título e foi indicada ao European Film Awards.
O diretor fez diversos testes antes de encontrar a sua Ida, até que uma amiga, a diretora Małgorzata Szumowska (“Elles”), viu a jovem na rua e a convidou para o teste. “Essa jovem nunca atuou, mas eu via que era perfeita para o papel, apesar de não seguir nenhuma religião e não acreditar em Deus. Foi um desafio. Mas, graças a Deus, desculpe o trocadilho, ela foi ótima na pele de Ida”, concluiu o diretor.
A Trama
A Trama
A trama conta a história de Anna (Agata Trzebuchowska), uma noviça que está em vias de selar seus votos como freira e recebe a missão de conhecer sua única parente viva, a tia Wanda, interpretada pela excelente atriz também polaca, Agata Kulesza.
Para decepção da jovem, sua tia é uma juíza que leva uma vida livre e bem distante dos preceitos católicos seguidos pela religiosa. Enviada ao convento quando criança depois que os pais morreram, Anna não se lembra do passado, que acaba vindo bruscamente à tona nos primeiros minutos com Wanda, que conta sem rodeios que o nome da moça na verdade é Ida e que ela é judia.
Tal revelação vira a vida da jovem de cabeça para baixo já que, ao buscar o paradeiro de sua família, ela começa a questionar sua vocação. O filme vira uma espécie de road-movie quando a dupla decide ir em busca do túmulo dos pais de Ida.
Além da nova identidade, a noviça acaba encontrando o amor e muitos questionamentos sobre o futuro.
O filme apresenta a relação conflituosa de tia e sobrinha, suas descobertas sobre si mesmas e a busca pela dignidade de seus familiares, mortos durante a Segunda Guerra Mundial.
Mais do que as doloridas histórias pessoais de Ida e Wanda, o filme de Pawlikowski consegue resgatar a história da Polônia: a invasão nazista e o extermínio de polacos judeus, os anos sob o stalinismo e o poder da igreja católica no país.
Trata-se de um resgate histórico brilhante, intenso e de beleza estética impressionante. A fotografia em preto e branco assinada pelos polacos Lukasz Zal e Ryszard Lenczewski intercala closes com cenas abertas, compondo uma verdadeira obra de arte. Em alguns momentos, tem-se a impressão de que o que está na tela são quadros estáticos, capazes de emocionar qualquer espectador.
Direção: Paweł Pawlikowski
Roteiro: Paweł Pawlikowski e Rebecca Lenkiewicz
Direção de fotografia: Lukasz Żal e Ryszard Lenczewski
Edição: Jarosław Kaminski
Produção: Eric Abraham, Piotr Dzieciol, Ewa Puszczynska
Elenco: Agata Kulesza, Agata Trzebuchowska, Dawid Ogrodnik e participação especial de Joanna Kulig
Distribuição brasileira: Zeta Filmes
Duração: 80 minutos
País: Polônia e Dinamarca
P.S. NA ÁREA DA MÚSICA, CURITIBA FOI PRETERIDA PELAS APRESENTAÇÕES DO GRUPO POLACO "MOZART" EM 2013 E 2014.... VÁRIOS PIANISTAS POLACOS SE APRESENTARAM EM SÃO PAULO, BRASILIA, BELO HORIZONTE, PORTO ALEGRE...A ORQUESTRA DE BIDGOSZCZ EM SÃO PAULO E ATÉ O QUARTETO LUTOSŁAWSKI DE WROCŁAW DE APRESENTOU EM SOROCABA.....E KURYTYBAAAAAAA??????
Um comentário:
Isso é um desrespeito com os descendentes de polones de Curitiba!
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