quarta-feira, 1 de abril de 2015

Polônia: o próximo motor europeu não pára


Enquanto vemos a tragédia da Grécia se mover entre a austeridade rígida alemã e o idealismo de Syriza, os pistões do que podem ser o próximo motor econômico da Europa não pára.
A Polônia tem 38,5 milhões de habitantes e seu PIB está classificado na 25ª posição em todo o mundo (FMI). Apesar de ter uma história atribulada e uma reputação de país pobre, poderá se posicionar como uma das próximas potências européias dentro de 10 a 20 anos.

Dirigindo pela estrada no Noroeste alemão me pergunto por que mais e mais caminhões aparecem com placa PL de Polônia. Na verdade, nas viagens para a Polônia, fiquei impressionado com as novas estradas que agora cruzam grandes regiões do país.
Não foram apenas projetos suportados por fundos comunitários como a auto-estrada Egnatia na Grécia; também apareceram projetos de infra-estruturas criados por governos anteriores a Donald Tusk.
Mas qual é o segredo do antigo país sempre afetado por invasões e extrema pobreza que desapareceu do mapa por 123 anos e agora está ombro a ombro com os maiores em seu bem sucedido silêncio?

Após a crise de 2008, a Polônia, às vezes chamada de superestrela Europeia, foi o único país da UE a não entrar em recessão. Patrocinou sua marca-país na Eurocopa, enquanto a crítica que caia para a Ucrânia, o outro país anfitrião. 

Quando o comunismo soviético caiu, foram privatizados alguns grupos estatais, e os polacos se apressaram a investir em infra-estrutura, removeram os controles de preços antigos e mantiveram a sua moeda, o złoty. O país passou a se beneficiar do mercado europeu integrado e criou um ambiente para a criação de empresas.

Enquanto o PIB real na Alemanha caiu 5,6% em 2009, na Polônia cresceu 2,6%. Em 2007, a Polônia cresceu mais do que o esperado pela China quer agora crescer, atingindo 7,2%.

A Polônia tem prosseguido uma política benéfica macro e dura com o indivíduo que estuda e é empregado. Com projetos financiados pelo banco estatal BGK e pela agência de investimento estatal PIR SA, a Polônia tem procurado aumentar o investimento em infra-estrutura.
Há alguns dias, o Grupo Azoty anunciou a construção da maior fábrica de propileno da Europa. O investimento, que totaliza US$ 450 milhões, ajuda a aumentar a produção de um dos insumos essenciais para a produção de plásticos, tintas, solventes, etc. A idéia é garantir a cadeia de fornecimento com o aumento da produção e da logística local, reduzindo riscos cambiais para as empresas que importam esses produtos.

O auge polaco também foi causada em parte por empresas que exportam com vantagens competitivas como os baixos salários.
Por exemplo, a logística europeia se move em caminhões polacos, romenos e búlgaros, mas a Polônia se destaca em reinvestimento sistemático dos recursos, enquanto seus transportadores continuam com seus fretes relativamente baixos. Mas essa fórmula de prosperidade com salários baixos tem limites.
Como os economistas A. Strazds e T.Grennes apontam em seu estudo sobre a competitividade e mercado de trabalho, os baixos salários não conseguiram explicar completamente a competitividade polaca nos últimos anos.
O país manteve as suas exportações e foi perdendo competitividade salarial, um fenômeno conhecido como o paradoxo Kaldor. A explicação pode estar na flexibilidade do mercado de trabalho, investimento e inovação.

Em qualquer caso, esses fatores fizeram pressão sobre os cidadãos que têm um poder de compra menor do que os seus vizinhos europeus. O índice GfK de poder de compra de 2014 mostra que enquanto a Alemanha ultrapassou €21.000 por pessoa, a Polônia continua se aproximando dos €6.000.
Com este valor, no entanto, a Polônia triplica seu poder de compra comparado ao da Bulgária. O que pode um trabalhador polaco compra ultrapassa largamente o que pode adquirir um trabalhador búlgaro, embora continue baixo em comparação com o que um trabalhador ganha na Alemanha, Áustria e França.

A Polônia também teve desafios que ameaçam a sua prosperidade. Alguns críticos argumentam que a política de investimento irá desencadear inflação. Por outro lado, a crise na zona do euro contribuiu para uma desaceleração que ficou evidente desde o final de 2012.

Apesar do golpe que levaram os agricultores polacos em razão do bloqueio russo, a indústria decidiu diversificar o risco de entrada para os mercados saturados da Europa Ocidental.
A Polônia promoveu a internacionalização de suas universidades e atraiu para além e charme da arquitetura de cidades como Cracóvia e Poznań. Não é alunos EE incomuns. UU. preferem estudar medicina na terra de Chopin, em vez de empréstimos em casa.

A Polônia é um modelo exemplar de progresso econômico, resistência às pressões sociais e enfrentamento de desafios constantes, que vai deixando ensinamentos para vários países ávidos por matar aula. Se alguém não pode e não vai aprender chinês, pode aprender polski język.

Autor: Erick Behar
Professor da Universidade Externa da Colômbia / CESA erick.behar@hotmail.com

Publicado no jornal El Tiempo, de Bogotá.

tradução: Ulisses Iarochinski

domingo, 29 de março de 2015

Pros lados de Nova Polônia

O jornal Gazeta do Povo, de Curitiba, destacou o jornalista José Carlos Fernandes para uma reportagem especial em comemoração ao aniversário de Curitiba. Convidou seis pessoas, que embora curitibanas, ou vivendo há muito tempo na capital paranaense não conheciam determinados locais da cidade.
Uma delas foi Vera Vianna Baptista, assistente social, que visitou a Igreja Santo Antônio de Orleans, em um dos núcleos de colonização polaca de Curitiba. A Colônia de Órleans, hoje bairro, compunha no século 19, um mosaico com outras 3 colônias polacas ao redor, Santo Inácio, Dom Pedro e Riviere. Junto com outras colônias polacas, começando pelo norte do município, em Santa Cândida e percorrendo as zonas Oeste, Sul e Leste, compunham até 1947, o maior distrito rural da capital do Paraná, distrito esse denominado de Nova Polônia.

A seguir, uma das seis reportagens de José Carlos Fernandes:

A VIAJANTE
Vera Vianna Baptista, assistente social, pesquisadora de genealogias paranaense Curitibana, morou 60 anos em Primeiro de Maio, Norte do Paraná. Em 2012, voltou para a capital, passando a residir no São Lourenço e agora nas Mercês.

DESTINO
Rua Professor João Falarz, s/n.º, para visitar Igreja Santo Antônio de Orleans e o “cemitério polonês”.

DISTÂNCIA PERCORRIDA
9,7 quilômetros

POR QUE CONHECER?
O Orleans é uma das nove colônias polonesas que formavam um cinturão ao redor de Curitiba, já no final do século 19. Terceira a ser fundada, ocupava um lugar estratégico para os imigrantes. Como os demais núcleos, abrigava uma igreja, um cemitério, uma escola e um salão de festas. A escola foi dizimada nos anos Vargas. Apesar das mudanças, o Orleans permite perceber o cotidiano da comunidade e sua organização.
Acho que conheci poucos poloneses na vida”, diz a pesquisadora e assistente social curitibana Vera Vianna Baptista, 87 anos. “Ah, não. Conheceu muitos”, rebate o jornalista e referência em cultura eslava Ulisses Iarochinski. Riem da discussão.
Não há na capital quem nunca tenha tido pelo menos um amigo ou vizinho polaco. Vera admite e cede à memória, pondo-se a listar – com sua verve de genealogista (é fina estudiosa das famílias dos Campos Gerais e de Curitiba) os imigrantes e descendentes que conheceu. É o primeiro passo. O segundo é disparar uma lista de perguntas a seu anfitrião – morador do bairro vizinho, o Santo Inácio.
Está na companhia e no lugar certo. O Orleans é como uma sala de aula sobre a imigração polaca. Figura entre os conjuntos mais bem cuidados dos tempos das colônias, iniciado em 1871. O capão, cortado pela Rodovia do Café, põe em destaque a bem cuidada Igreja de Santo Antônio de Orleans, protegida por uma pequena muralha ornada de lambrequins. Há conjuntos de pinheiros ao fundo e, ao lado, um pequeno cemitério nascido com a colônia. Nas lápides, flores em abundância. E letras o bastante para escrever os longos e complicados sobrenomes eslavos. Ulisses não se furta da eterna polêmica – “polonês ou polaco?”.
Apesar do estigma que carrega o segundo termo, opta por polaco e é com ele que conduz sua explicação sobre o local. Não se furta de personagens como Edmundo Saporski, que em 1869 trouxe 16 famílias da Silésia para as terras de Blumenau. Outra figura chave, ilustra o historiador, é o professor Jerônimo Durski.
Entre outros lugares, lecionou no Orleans do final do século 19, protagonizando um dos capítulos mais interessantes da saga – a educação em tempos de colônia. “Até 1947, tudo isso aqui fazia parte do Distrito Nova Polônia”, acrescenta Iarochinski. À visitante, soma-se a zeladora Mônica Domanski.
Tem 60 anos. Desde os 13 frequenta aquele pedaço de chão. “Meu pai ajudou a erguer a Santo Antônio”, interrompe, para depois levar os visitantes até lá. “Como pude passar tanto tempo sem conhecer esse lugar”, avisa Vera, ao pisar pela primeira vez na mais bela das igrejas polacas da capital.

Depoimentos de Ulisses Iarochinski e Vera Vianna Baptista



Texto: José Carlos Fernandes
            Gazeta do Povo

terça-feira, 24 de março de 2015

Oito Carros Inesquecíveis da Polônia comunista

Bielsko-Biala, 1979. Luz vermelha, luz amarela, luz verde, VÁ! O Maluch era um sinal de moda e conveniência. Foto do material publicitário do Fiat 126p -  Foto: Zbyszko Siemaszko / Forum
Na Polônia comunista, havia escassez de tudo. Às vezes, a situação era tão ruim que algumas lojas não tinham nada, além de vinagre em estoque. No entanto, a Polônia sob o regime comunista tinha algo que é praticamente inexistente na contemporânea Polônia democrática, ou seja, carros nacionais produzidos em massa.

Havia duas razões principais pelas quais a Polônia comunista podia produzir carros em massa. O planejamento central do governo, era o primeiro. Se o governo decidia que um determinado produto era necessário, ele era fabricado independentemente da racionalidade econômica. Portanto, a abertura de uma fábrica de automóveis de propriedade estatal era relativamente fácil, pois exigia essencialmente apenas uma decisão arbitrária da liderança do governo.

É importante notar, porém, que quase todas as marcas de automóveis comunistas da Polônia, ativas, no momento da virada política, de 1989, não sobreviveram no ambiente de livre mercado pós-1989, na Polônia democrática, onde a produção em geral tem que ser rentável.

A marca Honker pode ser considerada uma das poucas exceções, embora suas raízes remontem a bem antes de 1989 e ela ainda exista hoje. Os veículos Honkers são, no entanto, produzidos principalmente para serviços de emergência e para as forças armadas. A segunda razão era o mercado isolado da Polônia comunista.

Havia uma escolha muito limitada de produtos sob o regime comunista, e os carros que estavam disponíveis eram em sua maioria polacos. Se alguém quisesse dirigir um carro na Polônia comunista, muitas vezes não tinha outra escolha a não ser dirigir um carro doméstico. Isso garantia uma constante procura pelos automóveis polacos produzidos no próprio país.
Quando a Polônia se transformou numa economia de livre mercado e a escolha de automóveis cresceu, essa demanda por carros nacionais diminuiu drasticamente.

No entanto, alguns dos veículos produzidos sob o regime comunista são agora clássicos-retros. É uma visão que traz alegria para os corações de muitos polacos saudosos de seus antigos carros. Estes mostrados a seguir fazem parte uma lista de oito dos carros produzidos na Polônia comunista, que são considerados sentimentalmente atraentes.

Automóvel Warszawa, 1962 -  Foto: Andrzej Wiernicki/Forum
Na Polônia, pós Segunda Guerra Mundial foram produzidos em massa pela primeira vez, carros nacionais polacos.
O veículo, na foto acima, cheio de curvas foi fabricado pela FSO de 1951 a 1973, em Varsóvia, e foi nomeado com o nome cidade.
Um certo número de versões do Warszawa foi criado para acomodar as diversas necessidades do país.
Este carro assumiu formas, entre outras, de uma perua, de uma picape, de uma ambulância e de um dresina (veículo ferroviário leve).

Syrena
Carro Syrena junto ao monumento Syrenka Warszawska (a Sereia de Varsóvia), 1962.
Foto: Tomasz Prazmowski / MSIT / Forum
Em 1953, o Comitê Central do Partido Comunista Polaco baixou uma resolução que continha o seguinte conceito: "um meio de transporte popular tem que ser criado, para que economize tempo durante os negócios e também para ser usado no lazer, e será destinado a trabalhadores de choque (designação soviética para o novo homem), ativistas, cientistas e representantes da intelligentsia".
Esta resolução levou à produção do Syrena, um sedan pequeno de duas portas, que começou a ser produzido em 1957. Este carro foi fabricado até 1983.

Nysa
Nysa - Foto: Sebastian Kocoń / Forum
Era um veículo comercial leve produzido em uma fábrica na cidade de Nysa (Sul da Polônia, na Baixa Silésia, fronteira com a República Tcheca) que, antes de fazer carros, fabricava camas e cofres, entre outras coisas. Nysa usava o mesmo chassi do Warszawa. O Syrena foi produzido por mais de 35 anos.
Nos anos setenta, uma grande parte da produção dos carros era feita para exportação para mercados como a Alemanha Ocidental, China e Espanha.

Fiat Polski 125p
João Paulo II num Fiat Polski 125p, em frente da catedral de Częstochowa durante sua primeira peregrinação à Polônia, 1979 - Foto: Krzysztof Pawela / Forum
Um carro polaco produzido sob licença da empresa italiana Fiat, pela FSO foi o Fiat Polski 125p, em 1967, que continuou a fabricá-lo, sob nomes diferentes, até 1991.

As mudanças de nome eram resultado do fato da Fiat retirar a licença de fabricação deste carro em 1983. O Fiat Polski 125p era um veículo State-of-Art na segunda metade dos anos sessenta e veio para substituir o Warszawa, que nessa época, já era um projeto obsoleto.

Fiat Polski 126p 
No set de filmagem do novo filme de Paul Haggis "The Third Person", um Maluch pôde facilmente manobrar nas ruas de Roma, mesmo com os 1,85 m de altura do ator Adrien Brody.
Foto: EmanuelePhoto/ Splash News / East News
Outro carro polaco produzido sob licença da empresa italiana, foi o Fiat Polski 126p, fabricado de 1973 a 2000 pela FSM.
Este carro, imensamente popular, fez parte do panorama das estradas polacas por muitos anos. No total, foram produzidos 3,3 milhões de unidades deste veículo, sendo que 2,4 milhões foram vendidos diretamente para o mercado polaco.

Tarpan
Repórteres durante a peregrinação de João Paulo a Polônia, em 1987, estão a bordo de um Tarpan. Foto: Wojtek Łaski / East News
Em 2000, a popular banda polaca Big Cyc lançou um álbum em que incluiu "Fiat Mały", uma música "energética" sobre este carro.

"Um caminhão que é divertido e sério! A cabine tem espaço suficiente para três pessoas, atrás da divisória, uma cama e onde você pode transportar sacos de batatas. Aos domingos, você só tem que ajustar a divisória móvel e limpar o veículo e o caminhão vai estar pronto para levar uma família de seis pessoas para a igreja".

Este era o Tarpan, um veículo agrícola, que conforme mencionado. O caminhão Tarpan foi produzido de 1972 a 1994.

Polonez
Polonez, 1978 -  Foto: Arquivo Karlicki / East News
O nome para este carro foi escolhido em votação de leitores realizada pelo jornal agora extinto Życie Warszawy. Mais de um milhão de unidades foram produzidas pela FSO, de 1978 até 2002, quando a fabricação do Polonez chegou ao fim.

No início dos anos oitenta uma versão coupé deste carro apareceu e foi produzido em pequenas quantidades. Hoje em dia, o Polonez Coupé é uma grande raridade e muito procurado. Para alguns, o mais belo carro polaco já produzido.

Syrena Sport
Syrena sport, 1960 - Foto: Zbyszko Siemaszko / Forum
Este carro esportivo foi um protótipo desenhado pelos engenheiros da FSO de 1957 a 1960.
Infelizmente, as autoridades comunistas da época não apreciavam o Syrena Sport, pois o estilo desse carro não correspondia à ideologia vigente, em que não havia espaço para carros "fora de série".
Devido a isso, o Sport Syrena nunca foi colocado em produção. Como se isso não bastasse, o único exemplar deste carro foi destruído na década de setenta.

Texto: Marek Kępa (culture.pl)
Tradução: Ulisses Iarochinski

quarta-feira, 18 de março de 2015

Dobre: a cidade do meu bisavô polaco

Meu bisavô Piotr Jarosiński (pronuncia-se piótr iarochinski) nasceu justamente, aqui, em Poręby (ao que tudo indica Stare Poręby), Dobre, Polônia, em 17 de janeiro de 1880, filho de Jan Jarosiński e Wiktoria Jackowska-Jarosiński.
Poręby Stare e Nowy Poręby vistas do alto

História de DOBRE

Pelo ato real de reconhecimento emitido pelo rei Sigismundo - o Velho, de 28 de setembro de 1530, em favor de Jan Dobrzyniecki, detentor do brasão de armas Ciołek, despenseiro de Zakroczymski, proprietário de bens em Ossówno, foi criada uma nova cidade na terra livoniana chamada, Dobre.


A localidade foi a terceira cidade depois de Liw e de Nowa Liwa e uma das menores cidades da Mazóvia a serem criadas na região. Os Dobrzyniecki tinham vindo das terras de Czerska, aldeia banhada pelo rio Świder, ao Sul do Monte Calvário (Góra Kalwaria) para as bandas de Piaseczno.


Mapa de 1529
Cópia preservada de um documento do século XVI, registra a existência de Dobre pelo bispo de Płock, Adam Dębowski indicando, que o cujo nome da localidade era ateu, e que teria sido dado pelos Dobrzyniecki.
De seu clã estava Ossówno, que consistia na nova cidade fundada de Dobre com as vilas rurais de Makówiec, Nowa Wieś, Czarnogłów, Wola Czarnogłowska, Rudzienko, Rakówiec e Polków.

A localização da cidade favorecia circunstâncias políticas e econômicas. No ano de 1529, o Ducado da Mazóvia foi incorporada à República das duas Nações de Polônia - Lituânia. Tornou-se na área central da República e começou a sair do subdesenvolvimento.


Grandes propriedades foram divididas por questões familiares. Isto estava associado a uma redução da renda, cada proprietário estava tentando assegurar a existência da cidade. A principal vantagem no desenvolvimento da cidade de Dobre naquelas décadas era sua localização. Ficava em uma importante e antiga rota comercial que ligava Vilno a Wrocław.

Desta forma, tudo o que importado da Rússia e da Lituânia Europa Ocidental, como couro, peles, mel, carvão vegetal, madeira para postes e construção naval transitava por ali.
O caminho levava a Vilnius passando por Grodno, Narew, Bielsk, Drohiczyn, Węgrów, Liw, Warszawa para Wrocław via Piotrków, Brzeźnice, Wieluń i Bolesławiec. O trecho entre Liwa e Varsóvia via Pniewnik, Dobre, Stanisławów, Pustelnik, Okuniew.

Igreja de Santo Stanislaw, em Dobre
Dobre também era um centro de mineração de minério de ferro retirado do pântano, que teve uma grande influência sobre o desenvolvimento do comércio de ferro.
Registros de 1563 foi apontam que existiam em Dobre três vendedores ambulantes de ferro. A mineração de minério de ferro era explorada em Rudzienko, Rudno e Ruda Pniewnik.

Ainda em 1563, viviam em Dobre 125 pessoas, incluindo 21 artesãos, nas seguintes profissões: 5 padeiros, 3 alfaiates, 1 azulejeiro, 1 tecelões, 2 comerciantes de sal, 3 ferreiros, 9 sapateiros e 3 oleiros. Até a época das guerras contra os suecas, Dobre, foi um grande centro comercial.
Visão panorâmica de Dobre
Por volta de 1660, havia uma escola paroquial. O novo proprietário de Dobre, Piotr Leżajski, recebeu em 1752 do rei Augusto III (da dinastia Saxônica) o privilégio de explorar cinco mercados na cidade. Desde então, Dobre chegou a organizar oito feiras por ano.

Desde 1775, Dobre passou a pertencer a família Masalski. Logo em seguida, 1785, Dobre foi comprada por Szymon Szydłowski dos Masalski. No início do século XIX, Ignacy Antoni Jaźwiński adquiriu Rudzienko, Rudno e Dobre.

Após a terceira partição do Estado polaco, Dobre estava sob o domínio austríaco, ou seja da Galícia Ocidental ao redor de Siedlce, porém durante o Ducado de Varsóvia ela passou a pertencer ao departamento de Varsóvia.

Igreja Matriz, no Rynek (praça central) onde meu bisavô Piotr Jarosiński foi batizado

Em 1821, o proprietário e herdeiro de Dobre elaborou um documento intitulado "Descrição histórica e topográfica – da cidade de Dobre no circuito mazoviano de Stanisławów".
De acordo com a descrição da cidade, havia 317 pessoas, incluindo 30 judeus. Havia 38 casas de madeira, ruas de paralelepípedos, 19 artesãos, destes 2 eram ferreiros, 3 tecelões, 2 carpinteiros, 3 costureiras, 2 construtores de forno. O Conselho Municipal naquela época tinha equipamentos de prevenção de incêndio, mesa de jantar, 2 cadeiras, mesa de pesos e medidas, armário de arquivamento.
Em 1827, existiam em Dobre 38 casas e 384 habitantes. Durante a Revolta de Novembro de 1831, ocorreu uma batalha entre o exército polaco sob o comando do General Jan Skrzynecki contra o exército russo sob o comando do General Rosen.

Os acontecimentos de 17 de fevereiro de 1831, em Dobre, transcorreram sob o comando dos generais que não pouparam esforços para a vitória.O polaco Skrzynecki habilmente impulsionou a luta, mas erros não permitiram a tão grande vitória, que geralmente se acredita.


O russo G. Rosen forças marchou para Varsóvia, com 6 companhias formadas por 19 batalhões, 12 esquadrões, 500 soldados cossacos e 56 divisões contru uma divisão da General J. Skrzynecki, que foi reforçada pela divisão do General F. Żymirski num total 11 batalhões, 4 esquadrões e 12 divisões.

Os russos atacaram a estrada na direção de Wegrów localizada em uma clareira na floresta perto da cidade de Dobre. A clareira só poderia ser alcançada por caminhos estreitos que, por sua vez, permitiam uma defesa mais fácil. Skrzynecki colocou em Dobre a parte principal de seus soldados e comandou a batalha.

Ambas as partes realizaram uma série de ataques e contra-ataques, mas nem os polacos nem os russos conseguiram obter vantagem. Finalmente, depois de cinco horas de combate, Skrzynecki decidiu recuar em direção Okuniew.
Na batalha o exército polaco perdeu 300 soldados, enquanto a Rússia 750 soldados. Não há registros da participação dos moradores de Dobre nas escaramuças de batalha.

A famosa escritora Maria Konopnicka (autora do livro “Pan Balcer w Brazylii”- O Senhor Balcer no Brasil) descreveu essa batalha em seu poema: "A Batalha de Dobre".

"POD DOBREM"
(Maria Konopnicka)

Jak Dwernicki pod Stoczkiem,
Tak Skrzynecki pod Dobrem
Jak szeroki kraj polski,
Sercem wsławił się chrobrem.

Cały korpus Rosena
Przez pięć godzin odpierał,
Aż za głowę się chwytał,
Ten moskiewski jenerał.

Jak ryś skakał tam dziki,
Łamał w gniewie giwory:
Co my? krzyczał mużyki!
- Lachy, ot - bohatery!

Jak pod stoczkiem konnicę,
Tak pod Dobrem piechotę,
Wawrzynami okryły
Sławy zorze te złote.

I zdumiała się Moskwa,
Kiedy na nas patrzyła -
- Czarodzieje! wróg szeptał -
Bo skąd w garstce ta siła?

Skąd ta siła, moskalu?
Ja ci zaraz to powiem:
Polak sercem się bije-
A ty - tylko ołowiem!


Em 1844, o Governo do Reino polaco também propôs mudanças no governo de 48 cidades e 177 vilas rurais.
Em 1846, o novo proprietário de Dobre era Walenty Jaźwiński que empreendeu esforços para mudar a cidade para o campo. Por decisão do Conselho de Administração do Reino Polaco de 13 de maio de 1852, a vila de Dobre passou a pertencer ao município de Rudzienko.

Poręby Stary, nos arredores da cidade de Dobre
Dobre tinha uma hipotecado seus bens em Rudzienko e a dívida foi cobrada através de um empréstimo junto a Sociedade de Crédito de Varsóvia. Kamila Jaźwińska viúva de Walenty pagou parte do empréstimo com terras de Dobre, que consistia de 526 acres e 134 varas.
Desde 1868, Dobre passou a pertencer a voivodia mazoviana, distrito de Radzymiński e aasim permaneceu até 1918.

Naquela época, Dobre tinha uma população de 462 habitantes. Após o incêndio da antiga igreja de madeira, em 1873, foi construída em tijolos, uma nova planejada pelo arquiteto Bolesław Podczaszyński.
O patrocínio da construção foi de Kamila Jaźwińska. Foi então que provavelmente se mudou o santo padroeiro de Santo Nicolau para Santo Stanislau.

Em 1925, Dobre tinha uma população de 1079 habitantes, incluindo 373 judeus que mantinham suas sinagogas. Durante a ocupação, elas foram destruídas, e a população judaica foi levada para o campo de extermínio de Treblinka.

De acordo com a Resolução do Conselho Regional de Varsóvia, de 1º de Novembro de 1972, o município de Dobre passou a ser distrito de Minsk Mazowiecki a partir de 1º de Janeiro de 1973.
Atualmente o distrito (gmina) tem 12 mil hectares dos quais 9 mil são áreas cultivadas, e o restante por florestas naturais preservadas.
Tem uma população de 6200 habitantes, sendo que na zona urbana vivem 1799 moradores em 394 edifícios residenciais.
Dobre está a 50 km de Varsóvia, e 20 km de Minsk Mazowiecki (sede do município), e a 56 km Siedlce.
Distritos vizinhos de Dobre são: Jakubów, Kałuszyn, Korytnica, Stanisławów, Strychówka e Wierzbno. Dobre é banhada pelos rios Rządza, Boruczanka e Ossownica.

Cemitério de Dobre, nos fundos da igreja

Ao redor de Dobre existem 41 localidades: Adamów, Antonina, Brzozowica, Czarnocin, Czarnogłów, Dobre, Drop, Duchów, Gęsianka, Głęboczyca, Grabniak, Jaczewek, Joanin, Kąty-Borucza, Kobylanka, Makówiec Duży, Makówiec Mały, Marcelin, Mlęcin, Modecin, Nowa Wieś, Nowe Poręby, Osęczyzna, Pokrzywnik, Radoszyna, Rakówiec, Rąbierz Kolonia, Ruda Pniewnik, Rudno, Rudzienko, Rynia, Sąchocin, Sołki, Stare Poręby, Świdrów, Walentów, Wólka Czarnogłowska, Wólka Kobylańska, Wólka Kokosia, Wólka Mlęcka e Zdrojówki.


domingo, 15 de março de 2015

O Canto "Gorzkie żale" - Lamento amargo

Gorzkie żale, ou  Lamento amargo é um canto de devoção católica que se compõe de muitos hinos que se desenvolveram fora da Polônia no século 18.
A devoção é uma reflexão cantada e meditada sobre a Paixão de Cristo e as tristezas da Mãe Santíssima.
A devoção consiste de três partes, subdividida em cinco peças. Uma parte é realizada todos os domingos, no período da Quaresma, incluindo o Domingo de Ramos, e a cerimônia completa é realizada na sexta-feira.
A devoção teve origem na Igreja de Santa Cruz em Varsóvia e de lá se espalhou para toda a Polônia.

Gorzkie żale

Gorzkie żale, przybywajcie,
Serca nasze przenikajcie. (2x)
Rozpłyńcie się, me źrenice,
Toczcie smutnych łez krynice. (2x)

Słońce, gwiadzy omdlewają,
Żałobą się okrywają. (2x)
Płaczą rzewnie Aniołowie,
A któż żałość ich wypowie? (2x)

Opoki się twarde krają,
Zgrobów umarli powstają. (2x)
Cóż jest, pytam, co się dzieje?
Wszystko stworzenie truchleje. (2x)

Na ból męki Chrystusowej
Żal przejmuje bez wymowy. (2x)
Uderz, Jezu, bez odwłoki
W twarde serc naszych opoki. (2x)

Jezu mój, w krwi ran
Twoich Obmyj duszę z grzechów moich. (2x)
Upał serca mego chłodzę,
Gdy w przepaść męki Twej wchodzę. (2x) 


Lamentos amargos, venham logo
Transpassar nossos corações (repetir 2 vezes)
Esvair-se, em minhas pupilas,
Derramai tristes fontes de lágrimas (2X)

Sol, estrelas lânguidas
Lamentam-se encobertas. (2X)
Choram amargamente os anjos
E a quem seu sofrimento dói? (2X)

Pedras cortam-se duramente,
Das sepulturas surgem os mortos. (2X)
O que é isto, perguntam, o que acontece?
Toda a criação está aterrorizada. (2x)

Na dor da Paixão de Cristo
Lamento se preocupa sem fala. (2x)
Golpeia, Jesus, sem abdômen
Em duros corações nossas pedras. (2x)

Jesus meu, no sangue de seus ferimentos
Lave a alma dos meus pecados. (2x)
Calor do meu coração esfrie,
Quando no abismo de sua paixão eu entrar. (2x)

Tradução livre: Ulisses Iarochinski



sexta-feira, 6 de março de 2015

Território da Polônia será aumentado

Fronteira em Kudowa Zdrój

O território da República da Polônia será aumentado em quase 400 hectares. Estes hectares são pagamento de uma dívida da República da então Tchecoslováquia de 1958.
Quando, em 1958, Tchecoslováquia e a Polônia, concluíram um acordo sobre o desenho final das fronteiras entre os dois países, a Polônia cedeu mais terras do que recebeu do país vizinho.
Os tchecos agora terão que devolvê-la. Isto significa que a área polaca vai aumentar em 368 hectares, informou o jornal inglês "The Telegraph".
Em 1958, a Polônia cedeu a Tchecoslováquia 1.205 hectares, e recebeu apenas 838 hectares.

Fronteira em Cieszyn

Os tchecos não estavam dispostos a fornecer o terreno e propuseram então pagar o equivalente em moeda. Mas as autoridades polacas não concordaram com isso. Em resposta ao vizinho do Sul, a Polônia listou uma série de locais que deverão ser devolvidos.
Estes terrenos serão transferidos para o lado polaco. Os dois países já concordaram com o texto de um acordo bilateral sobre esta questão.
Não se sabe, no entanto, qual será área afetada, informa o "The Telegraph" citando Bohuslav Sobotka primeiro-ministro checo. "Polônia vai receber a terra de volta, mas por hora todos os detalhes permanecem em segredo".

Fronteira em Nachód
As mudanças planejadas significam que o atual território da Polônia (desenhado por Stalin ao fim da segunda guerra mundial) vai aumentar de 312.679 km/2 para 312.682,68 Km/2. O jornal britânico acrescenta que a proposta do governo de Praga é o desejo de "manter boas relações com seu vizinho do norte".

Fontes: Gazeta Wyborcza e The Telegraph

Embaixador polaco visita Agência Espacial Brasileira

José Raimundo Braga Coelho e o embaixador Andrzej Braiter
O Embaixador da Polônia no Brasil, Andrzej Braiter, foi recebido pelo presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo Braga Coelho, na segunda-feira, dia dois de março.
Conversaram sobre as atividades espaciais dos dois países, especialmente no âmbito internacional. Braiter falou sobre seus entendimentos com a direção da Universidade de Brasília (UnB) para a realização, ainda este ano, de uma conferência com a participação de professores e pesquisadores brasileiros e polacos, inclusive da área espacial.
O presidente da AEB confirmou o apoio ao evento em fase de preparação. Braiter lembrou que o Instituto de Aviação de Varsóvia, fundado em 1926, hoje também desenvolve equipamentos e componentes para as atividades espaciais.
Braga Coelho e o Embaixador ficaram de estudar temas de interesse mútuo capazes de gerar parcerias bilaterais em áreas espaciais de relevância econômica. Participaram também do encontro Anna Jozefowicz, assessora do Embaixador, e o chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da AEB, José Monserrat Filho.

Fonte: Agência Espacial Brasileira

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Extrema direita polaca vocifera contra "Ida"

The Guardian
Andrew Pulver

O filme ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2015, "Ida" passou a ser alvo de uma campanha vociferante de uma organização nacionalista polaca que o acusou de ser "anti-polaco" e de apresentar "falhas graves" sobre fatos históricos.
A Liga Anti-Difamação Polaca (RDIReduta Dobrego Imienia - reduto do bom nome) lançou uma petição contra o filme, endereçada ao PISF - Polski Instytut Sztuki Filmowej (Instituto Polaco da Arte Cinematográfica) que é financiado pelo Estado, e que apóia o filme, alegando que o filme "falha, ao reconhecer a ocupação alemã" e "que o telespectador sem compreensão da história é levado a pensar que a culpa pelo Holocausto recai sobre os polacos".

Ida, dirigido e co-escrito por Paweł Pawlikowski, é a história de uma noviça, na Polônia dos anos 60 que descobre que seus pais eram judeus, e que eles foram assassinados por uma família que os escondeu dos nazistas.
A petição também se queixa de que os espectadores do filme poderiam interpretar as motivações do assassino como financeiro, ao passo que "para os telespectadores ingleses, é claro, eles estavam distantes do terror de serem descoberta pelos alemães, já que eles escondiam judeus".

A RDI exigiu que informações sejam colocadas nos créditos iniciais antes do título, deixando claro que a Polônia estava sob ocupação alemã de 1939 a 1945 e que esconder judeus era um crime sancionado com a pena de morte, durante esse período.
No entanto, o livro de 2001 "Vizinhos" de Jan Tomasz Gross, assinala que havia incidentes de judeus assassinados pelos polacos étnicos (católicos).
Até o momento mais de 29.000 pessoas já assinaram a petição da RDI. Acusações de imprecisão histórica contra "Ida" ganharam impulso com seu sucesso fora da Polônia, e sua distribuição crescente no circuito internacional.
Ida ganhou o prêmio de melhor filme no Festival de Cinema de Londres, em outubro de 2013, e posteriormente foi nomeado para melhor filme em língua estrangeira foi para os Globos de Ouro e os prêmios da Academia de Hollywood.
Foi lançado na Polônia, em outubro de 2013, e ganhou o Prêmio Águia Polaca de melhor filme do governo em março de 2014.

A petição do RDI está de acordo com a acusação do deputado de direita Janusz Wojciechowski de dezembro 2014 que diz que IDA retoca a ação dos alemães na história e culpa o "primitivo camponês polaco sujo "colocando-o no lugar dos nazistas.
Os críticos liberais, por outro lado, têm-se queixado de que o filme perpetua os estereótipos do "comunista judeu" e de "Cristianizar o Holocausto".
Figuras proeminentes do mundo britânico, no entanto, surgiram em defesa de IDA.
O historiador Marcin Zaremba disse no site do jornal gazeta wyborcza: "Nem todo filme tem que ser um livro sobre a história da Polônia ... Ida não ofende ninguém ... não tem a pretensão de afirmar que os polacos são os responsáveis ​​pelo Holocausto. É um filme sobre a memória, sobre encontrar a sua própria identidade ... é inteligente e importante".

Tradução para o português de Ulisses Iarochinski

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Espiritismo em filme polaco no Festival de Berlim 2015

"Ciało" (Corpo), longa de Małgorzata Szumowska concorre na competição oficial do Urso de Ouro.
No Festival de Berlim 2015, a Polônia ofereceu uma visão irônica e delicada sobre o tema com "Ciało" (Corpo), de Małgorzata Szumowska, exibido nesta segunda (09) na competição oficial do Urso de Ouro.

O personagem principal é um legista, viúvo, que examina cadáveres todos os dias, mas repensa sua visão cética sobre a morte quando a filha passa a ser atendida por uma terapeuta com dons mediúnicos.
O filme, que alterna morbidez e humor, deixa tudo em aberto e não direciona as conclusões nem para o lado religioso e nem para o científico ao defender o valor do afeto familiar em situações de perda.
O legista é interpretado por um dos maiores atores polacos de todos os tempos: Janusz Gajos (pronuncia-se iánuch gaios). Com Maja Ostaszewska, Ewa Dalkowska e a estreante Justyna Suwała.
O roteiro é de Szumowska e Michał Engrert, que também assina a direção de fotografia.
O filme estreará nos cinemas da Polônia no próximo 6 de março.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Pequena história dos quadrinhos polacos

Jorge o ouriço
Os primeiros quadrinhos polacos remontam ao início do século 20, quando o país recuperou sua independência.
Com uma imprensa livre ela começou a se desenvolver em jornais, incluíndo quadros de ilustrações com blocos de texto abaixo dos desenhos.
Eles foram chamados filmes de ilustrações, ou estórias em desenhos, e muitas vezes eram cópias de quadrinhos estrangeiros.
O principal público dos quadrinhos nessa época eram as pessoas sem instrução das grandes cidades.
Neles eram tratados temas diversos como assuntos sociais e políticos ou de costumes, sempre com um toque de humor.
Os títulos mais conhecidos eram: Ogniem i Mieczem, czyli Przygody szalonego Grzesia (a ferro e fogo, ou as aventuras do maluco Grzes), Przygody bezrobotnego Frącka (As Aventuras do desempregado Frącek).
As melhores histórias em quadrinhos da época podem ser encontrados na série de álbuns "Dawny komiks Polski" (Antigos quadrinhos polacos), editado pelo historiador de quadrinhos, Dr. Adam Ruska da Biblioteca Nacional da Polônia.


Os quadrinhos começaram a aparecer na imprensa e logo foram avidamente consumidos pelas crianças. Houve uma série de publicações para elas, tanto em tiras de jornais como em formato de gibi.
Os mais conhecidos foram Przygody Koziołka Matołka e Małpki Fiki-Miki (As Aventuras de Koziołek Matołek e o macaco Fiki-Miki) criados por Marian Walentynowicz e Kornel Makuszyński. Estes quadrinhos ainda estão sendo republicados ainda hoje.


Após a Segunda Guerra Mundial, o Estado comunista, inicialmente, desencorajou a publicação de histórias em quadrinhos, porque segundo os dirigentes comunistas diziam, os quadrinhos mostravam sinais de um "capitalismo podre".
Até a década de 50, as histórias em quadrinhos deixaram de ser publicadas em formato de revista e fizeram o seu caminho de volta para as tiras de jornais.
Aqueles eram os dias dos fundadores do quadrinhos, os polacos Janusz Christa e Henryk Jerzy Chmielewski. Christa criou os dois marinheiros Kajtek e Koko.


A partir do final dos anos 50, por uma década, as aventuras cômicas de Christa apareceram no jornal Wieczór Wybrzeża. As façanhas dos dois marinheiros memoráveis são apresentadas na série de quadrinhos Kajtek i Koko w kosmosie (Kajtek e Koko no espaço).

Os quadrinhos também foram publicados em uma compilação de 700 páginas mais tarde. Apesar do sucesso de Kajtek e Koko, os personagens mais populares de Christa são Kajko e Kokosz, dois guerreiros que lutam contra os "cavaleiros bandidos". Suas façanhas estão em várias revistas que continuam sendo republicadas até hoje.

Chmielewski (aka Papcio Chmiel), por outro lado é o cérebro por trás de Tytus, Romek e A'Tomek, dois escoteiros e um chimpanzé  antropomorfizado chamado Tytus. Eles giram ao redor do mundo com um veículo voador, que era, por vezes, uma banheira, um trompete ou um pedaço de ferro.

Na década de 60, os dirigentes comunistas notaram o potencial de propaganda e o uso comercial que os quadrinhos possuíam e incentivou a sua produção em massa. Gibis individuais foram publicados em edições de 100 a 300.000 cópias. Os primeiros gibis de Chmielewski foram censurados. Mas após a queda do sistema político, o autor relançou-os em sua forma original, não adulterada.

Na República Popular da Polônia (1952-1989) os quadrinhos eram dirigidos quase que exclusivamente para crianças. Os quadrinhos mais famosos, além dos mencionados eram Przygody Kleksa (As Aventuras de Kleks), sobre uma criatura azul que vive em um pote de tinta, criado por Szarlota Paweł, e os quadrinhos de Tadeusz Baranowski, com os títulos de Antresolka Profesorka Nerwosolka (Mesanino do professor nervosinho), para onde vai a soda a água vem? e Uma viagem com Diplodok o Dragão.


Eles eram repletos de humor abstrato e comentários ocultos sobre a realidade que apenas leitores adultos podiam decifrar. Muitas dessas histórias em quadrinhos saíram na revista Świat Młodych (Mundo dos Jovens). Outros, os mais intelectuais, apareceram na revista Relax.
Outras histórias em quadrinhos, publicadas pelo governo, eram pura propaganda. Os títulos incluíam Kapitan Zbik (Capitão Zbik) e Śmigłowca Pilot (Piloto de helicóptero).
Um antigo oficial estrelado da milícia dos cidadãos foi desenhado por diversos ilustradores polacos: Grzegorz Rosinński, Bogusław Polch e Jerzy Wróblewski.
Przygody profesora Filutka (As Aventuras do Professor Filutek) de Zbigniew Lengren é do mesmo período, mas constitui um capítulo à parte na história dos quadrinhos polacos.
Histórias sem texto com três tiras apareceram semanalmente na revista Przekrój desde 1948 até algumas décadas atrás. Filutek é um nobre cavalheiro de chapéu-coco que vive com seu cachorro, uma fonte para ambos de alegria e angústia.

Os quadrinhos Fantásticos fizeram sua estréia nos anos 80, graças à revista mensal Fantastyka (mais tarde chamada Nowa Fantastyka).
Eles provaram ser tão populares que a editora decidiu lançar revistas exclusivamente com as características de quadrinhos. Komiks e Fantastyka - (Quadrinhos e Fantástica) eram onde os clássicos dos quadrinhos polacos se apresentavam: quadrinhos de ficção científica como Funky Koval (Funk do Koval) e  de fantasia, como Wiedzmin (do game Witcher - o bruxo - baseado nos romances de Andrzej Sapkowski).

Funk do Koval foi o primeiro quadrinho polaco para adultos e sua brutalidade e nudez chocaram o público.
Depois de 1989, os quadrinhos escaparam das sombras das instituições governamentais. Novos, jovens e independentes autores começaram a publicar zines.


Mas o mercado era dominado por publicações estrangeiras. O final dos anos 90 foi o renascimento dos quadrinhos polacos.
Novas editoras começaram a abrir promovendo autores polacos. Um exemplo é a revista Produkt liderada por Michał Śledziński.
A tira em quadrinhos cult Osiedle Swoboda, que mostra a vida de jovens que vivem em blocos comunistas, surgiu nesta revista, e foi um sucesso artístico e comercial, bem como uma descrição precisa da realidade.
A maioria dos mais importantes autores contemporâneos de quadrinhos começaram suas carreiras ou foram publicados em Produkt.

A segunda década do século 21 foi marcado por uma mudança de gerações nos quadrinhos polacos. Os autores da geração anterior foram substituídos por jovens artistas.
Para citar alguns: Mateusz Skutnik (autor de Revoluções), Michał Śledziński (Osiedle Swoboda, Anos Estranhos), Karol Kalinowski (Lauma), o duo Tomasz Lesniak e Rafal Skarżycki (George the Hedgehog - Jorge o ouriço), os irmãos Tomasz e Bartosz Minkiewiczowie (Lobo), Krzysztof Gawronkiewicz (Essência e romantismo com Grzegorz Janusz, Mikropolis de Dennis Wojda).

Outros autores promissores incluem: Marcin Podolec (Fugazi Music Club), Jacek Świdziński (Eventos 1908), Michał Rzecznik (Maczużnik com Daniel Gutowski, 88/89 com Przemysław Surma).
Muitos artistas também tentaram por suas mãos nos quadrinhos, no que ficou conhecido como quadrinhos de vanguarda. Muitos ilustradores polacos passaram a desenhar para editoras estrangeiras.


Samojlik é um acadêmico no campo da biologia que investiga mamíferos da Floresta de Bialowieża, e assim os protagonistas de suas histórias em quadrinhos são um bisão e uma megera.
Seus gibis são tanto educativos como divertidos. Seus trabalhos mais conhecidos são Żubr Ostatni (Último Bisão), Ryjówka przeznaczenia (O Destino da Megera), Norka zagłady (Extinção do Vison) e Bartnik Ignat i Skarb Puszczy (Bartnik Ignat e o Tesouro da Floresta).
Łauma de Kalinowski conta a história de Dorotka, uma menina cuja família está se movendo para o campo. Sua avó é uma bruxa e a menina se envolve em guerras entre divindades da floresta. A história é baseada em crenças populares e mitos.

Uma competição de quadrinhos para crianças foi organizada pela Egmont Publishing House com denominação em homenagem a Janusz Christa.
Foi a primeira tentativa nesse sentido em décadas para criar personagens para substituir Tytus, Kleks ou Kajko e Kokosz. O resultado da primeira edição da competição foram cinco gibis promissores.
Kubatu, Tomek e Jacek, Rysiek e Królik vale lembrar, são em vários anos, uma oportunidade de se tornarem os favoritos dos leitores mais jovens. As crianças também vão enlouquecer com as aventuras do detetive Zbyś - o Teddy.

Quadrinhos Independentes

Cada história em quadrinhos polaca pode ser considerada um trabalho autoral. Ao contrário, nos Estados Unidos ou França, não há uma tendência dominante na Polônia quando se trata de histórias em quadrinhos.
Os quadrinhos são geralmente um trabalho "fora do expediente" e não uma fonte de renda estável para os autores. Assim, o mercado e os editores não ditam como os gibis podem sair.
Muitas histórias em quadrinhos da república comunista (1952-1989), também podem ser consideradas independentes, especialmente aquelas do período livre de censura.
Apesar das condições de trabalho complicadas, a Polônia teve muitas grandes histórias em quadrinhos. Elas despontaram com Mateusz Skutnik, Karol Kalinowski, Michał Śledziński, o duo Tomasz Lesniak e Rafał Skarżycki, Tomasz e Bartosz Minkiewicz, Krzysztof Gawronkiewicz e Grzegorz Janusz bem como Dennis Wojda.
Dos mais velhos vale ressaltar os trabalhos de Tadeusz Baranowski, Szarlota Paweł, Janusz Christa, Henryk Jerzy Chmielewski (Papcio Chmiel), ou por último, mas não menos importante Jerzy Wróblewski.

Também vale a pena conferir as obras dos satíricos Marek Raczkowski e Janek Koza, que na sua maioria foram publicados na imprensa. Eles são irônicos e apresentam o mundo a partir de uma perspectiva inteiramente nova.
Skutnik criou uma série independente chamada Revoluções. Ele fez uso de steampunk e elementos de fantasia e criou um drama de aventura / crime onírico sobre os sonhos humanos, as tentativas de fazê-los se tornar realidade, e os efeitos das ações humanas.
O terceiro volume de Tomasz Bagiński (monocromático) o inspirou a criar o cinematógrafo de animação. Mikropolis é uma cidade concebida por Gawronkiewicz e Wojda. O protagonista é um menino gordo chamado Ozrabal.
Estes quadrinhos surgiram pela primeira vez na imprensa e, mais tarde, na forma de dois gibis. A série faz perguntas filosóficas e existenciais. É um comentário sobre a realidade e, ao mesmo tempo, uma obra universal em emoções e sonhos humanos, com elementos de fantasia.
Wilq é cheio de maldições e é brusco e associal. No entanto, ele é um super-herói que defende a cidade de Opole do mal - monstros, psicopatas e pombos.
A série dos irmãos e Tomasz e Bartosz Minkiewicz é uma paródia do gênero de quadrinhos de super-heróis.
Através da linguagem específica e humor, os autores conseguiram criar a sua própria visão sobre as convenções do gênero. Apesar de ser uma caricatura, é tomada de visão com uma pitada de sal e séria ao mesmo tempo. A série mostra que mesmo um desenho minimalista pode mostrar tudo.


O gibi George the Hedgehog (Jorge o ouriço) fuma, monta skate, pega pintos e envolve-se em todos os tipos de travessuras. Ele briga com a máfia russa, satanás e nacionalistas. Ele é a personificação andante da síndrome de Peter Pan, a imagem de um homem que se recusa a crescer.
Os quadrinhos de Rafał Skarżycki e Tomasz Leśniak foram transformados em um filme de animação de longa-metragem e podem ser encontrado em ComiXology.
Essência é uma história em quadrinhos sobre a busca do sentido da vida, e o Romantismo é uma história em quadrinhos de horror em que o governo quer ressuscitar os poetas nacionais mortos há muito tempo.
O primeiro recebeu o Grand Prix na Arte e Glenat Publishing House numa competição de TV. Achtung Zelig, por outro lado é uma visão onírica e conto de fadas como a do Holocausto em que a realidade se entrelaça com a fantasia.


Muitos ilustradores polacos trabalham para editoras estrangeiras. O mais famoso deles é Grzegorz Rosiński, que co-criou a série de fantasia Thorgal e os quadrinhos ilustrados como Le Grand du pouvoir Chninkel, Western e La Vengeance du Comte Skarbek.
O ilustrador Zbigniew Kasprzak também trabalha na França e assumiu a série Hans depois de Rosiński.
Entre os talentos promissores estão Szymon Kudrański e Piotr Kowalski. Kudrański ilustra Batman, Lanterna Verde e os quadrinhos New Avengers para a DC Comics, e do Spawn para a Image Comics.


Kowalski, por outro lado, foi chamado da La Branche Lincoln para Le Lombard, Badlands para Soleil Productions, Marvel Knights: Hulk para Marvel nos EUA e Sexo para a Image Comics.
Outros ilustradores que trabalham no exterior são Marek Oleksicki (ventre de Frankenstein), Robert Adler (Do Androids Dream of Electric Sheep? Dust to Dust), Anna Wieszczyk (Drug Interessante) e Janusz Pawlak (Toshiro).


A editora Centrala, com sede em Poznań, mudou-se para Londres e levou as histórias em quadrinhos de Tomek Samojlik para a ilha (Forest Apicultor e do tesouro de Pushcha), bem como os de Maciej Sieńczyk (Aventuras em uma ilha deserta), Mateusz Skutnik (Blacky: Quatro Of Us) e o duo Gosia Herba e Mikołaj Pasiński (Fertilidade).
Os italianos podem ler Sieńczyk (Avventure sull'isola deserta) e Zosia Dzierżawska em seu gibi de estreia (A testa em giù).


Essência e romantismo apareceu na França. Eles são de autoria de Krzysztof Gawronkiwcz e Grzegorz Janusz.
Juntamente com Krystian Rosenberg, Gawronkiewicz lançaram o Holocausto em quadrinhos e Achtung Zelig! no mercado francês.
Entre todos os ilustradores que trabalham no estrangeiro, há ainda Marzena Sowa, designer que lançou uma série de quadrinhos autobiográficos sobre a infância na Polônia socialista.
Nos Estados Unidos, ela foi chamada de Marzi: A Memoir. Além disso, uma história em quadrinhos sobre a Revolta de Varsóvia, L'Insurreição: Avant l'Orage, ilustrado por Gawronkiewicz, saiu em França, Suíça e Bélgica.


Quadrinhos históricos são referências fortes para os autores polacos de quadrinhos. Existem muitos tipos diferentes. Alguns eventos únicos e particulares, especialmente sobre a história recente ou a II Guerra Mundial, os outros têm enredos fictícios criados em um contexto histórico.


O gênero começou a florescer no século 21. Os primeiros tratados como eventos dramáticos da República Popular da Polônia (1952-1989). Alguns títulos incluem 1956: Poznański Czerwiec (1956: junho em Poznan) e 1981: Kopalnia Wujek (1981: A mina de carvão do Tio) sobre a repressão brutal dos trabalhadores em greve, e o gibi Cena Wolności (Preço da Liberdade) sobre o assassinato do Padre Jerzy Popieluszko pelo serviço secreto.

Também vale a pena mencionar a antologia 11/11 = Niepodległość (11/11 = Independência) e o gibi Westerplatte. Zaloga smierci (Westerplatte: Morte da equipe).
Há também a série Epizody z Auschwitz (Episódios de Auschwitz) - várias histórias do campo de concentração alemão; um sobre o Santo Maksymilian Kolbe (que se ofereceu para substituir um prisioneiro condenado à morte), ou de outra sobre um polaco e uma mulher judia que se conhecem e apaixonam-se no acampamento e conseguem escapar.


Com o apoio do Instituto da Memória Nacional (IPN) e do Museu do Levante, os quadrinhos históricos estão agora institucionalmente promovidos. IPN incentiva quadrinhos sobre a libertação nacional, o papel do exército do povo durante a ocupação alemã e do movimento subterrâneo anticomunista ativo depois de 1945.

Entre os títulos mais conhecidos estão W imieniu Polski Walczącej (Na Guerra em Nome da Polônia), Zamach na Kutscherę (O Assassinato de Kutschera) e Kampinos '44, bem como os gibis Korfanty e Łupaszka. 1939.
Acrescente a isso Wyzwolenie? 1945 (Liberação? 1945) e da série Wilcze tropy (Trilhas  de Lobos) sobre o pós-WW2" soldados malditos "movimentos de resistência.
Uma posição importante é mantida pela antologia do Museu do Levante.
Sławomir Zajączkowski e Krzysztof Wyrzykowski são os dois principais criadores de histórias em quadrinhos para IPN.
Os chamados quadrinhos de fantasia (ficção em contextos históricos) são uma categoria à parte.
Séries independentes de Jakub Kijuc sobre Jan Hardy. Żołnierz Wyklęty (Jan Hardy: Soldado Maldito) é na convenção de super-heróis, enquanto o minigibi de Jacek Fras Stan mostra lei a marcial na Polônia através dos olhos de uma criança.

Outro trabalho interessante é a história onírica e surrealista sobre o Holocausto Achtung Zelig (Krzysztof Gawronkiewicz, Krystian Rosenberg), a antologia Powstanie 44 (Uprising 44) e o gibi  Powstanie. Za Dzien, za dwa (Uprising: Em um dia, em dois) por Gawronkiewicz e Marzena Sowa, Herma św. Zygmunta (Relicário de São Sigmundo por Maciej Pałka e Bartek Biedrzycki), sobre o transporte de relíquias financiados pelo rei Casimiro Grande em Płock no Vístula e Tragedyja (Płock Tragedy por Grzegorz Janusz, e Fras) sobre um mal-humorado príncipe que sufocou sua esposa.
Entre os quadrinhos publicados na República Popular da Polônia que merece destaque é a série Historia Polski (História da Polônia), que mostra os acontecimentos históricos mais importantes do país, incluindo os míticos.


Texto: Łukasz Chmielewski
Tradutor: Ulisses Iarochinski

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Lis: anticomunistas polacos têm mentalidade soviética. Por isso criticam "IDA"

"O ministério da verdade dos simpatizantes do Kremlin e do PiS-Partido Lei e Justiça não toleram ambiguidades na esfera da Arte", diz Tomasz Lis na edição polaca da revista "Newsweek".

Lis, talvez, o mais conhecido jornalista polaco da televisão daquele país, explica as fortes críticas que dois filmes estão recebendo na Polônia. Um deles o polaco concorrente ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2015 "Ida" e em cartaz em Curitiba até está quarta-feira e o outro também concorrente ao Oscar, o filme russo "Leviathan".

"Nossos líderes anticomunistas e antiputin buscam a cada movimento trair as mentalidades soviético-comunista e de Putin", escreve Lis.
O colunista chama a atenção para dois exemplos: as reações ao filme "Ida" e ao caso da família de Witold Pilecki que não foi convidada para a celebração da libertação do campo de concentração e extermínio alemão nazista de Auschwitz.

"Ida" com as atrizes polacas Agata Kulesza Agata Trzebuchowska

Didatismo Patriótico
De acordo com Lis as reações dos conservadores polacos a "IDA" de Paweł Pawlikowski são idênticas às dos simpatizantes russos de Putin ao filme "Leviathan".
Ambas as produções vão competir por um Oscar e ambos estariam colocando sobre os dois países - Polônia e Rússia - uma luz ruim. 
O diretor de "Ida" Paweł Pawlikowski momentos antes da estreia do filme num cinema de Varsóvia

"Ida" divide os polacos: é "filme antipolaco"
De acordo com alguns críticos, "Ida" injustamente responsabiliza os polacos pelo assassinato e pela apropriação indevida da propriedade dos judeus. Exigem assim, correção no tom e nas informações no enredo do filme.
"Didática patriótica é característica de regimes autoritários e personalistas", observa Lis.

"Repolonização de Auschwitz"
Lis também escreve sobre a família do capitão de cavalaria Witold Pilecki, que não foi convidada para a celebração da libertação de Auschwitz.
Segundo o jornalista, comentaristas associados ao PiS (partido de extrema-direita do ex-presidente Lech Kaczyński, vitimado na tragédia aérea de Smolenski) ficaram alarmados que "depois de anos de propaganda da comunista PRL - República Popular da Polônia", em que se falou principalmente sobre as vítimas polacas do campo de extermínio e sua posterior "re-judialização", que foi a chamada de atenção para com os judeus que foram assassinados ali, tenha-se por isso - segundo Lis - começado a "re-polonização" de Auschwitz, e é claro, sob a "propaganda de uma batalha histórica".

"Ninguém consciente pode afirmar que em Auschwitz não tenha morrido um grande número de polacos, mas a tentativa de minar os judeus neste ponto e neste lugar é nojento", resume Lis.

Fonte:  "Newsweek Polska".