segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Brasileira suspeita de matar o filho na Polônia

Foto: Łukasz Solski
Uma brasileira de 35 anos de idade é suspeita de assassinar o próprio filho de dois anos de idade. A criança teve várias feridas no peito. Foram oito facadas desferidas.

Mãe e filho foram levados ao hospital, após o incêndio que consumiu parte da casa de ambos, na vila de Śliwnica, município de Krasiczyn, nos arredores da cidade de Przemyśl, região Podkarpacka, no Sudeste da Polônia.



A brasileira Andrea Cristina P. vivia com o marido e o filho numa vila pequena de beira de estrada, há 13 km da cidade de Przemyśl, que fica bem próximo da fronteira com a Ucrânia.

O fogo teria sido provocado pela mulher.
De acordo com a porta-voz do Ministério Público da cidade de Przemyśl, Marta Pętkowska, os ferimentos na criança demonstram que foram causados (com alta probabilidade) pela própria mãe do menino.

A brasileira, Andrea Cristina P. (a imprensa polaca não divulga o sobrenome de suspeitos) segundo vizinhos, vive há alguns anos na Polônia. A casa onde estava é de propriedade dos pais do marido.



Andrea Cristina se encontra no hospital. Sua condição foi descrita como bastante grave, mas estável. A mulher tem cortes e outros ferimentos, que teriam sido causados por ela mesma, numa tentativa de cometer suicídio.

A promotora do MP, Pętkowska acrescentou que a brasileira foi formalmente detida. A promotora aguardava, no domingo, consentimento dos médicos para ouvir a suspeita. Interrogatório que foi feito na tarde de segunda-feira. Outras testemunhas estão sendo interrogadas. A autópsia do corpo do menino estava prevista para ontem, segunda-feira.

Foto: Laskar Media
O incêndio na residência ocorreu na noite de sábado (17/Fev) ao redor das 18h40.
Como o porta-voz do Serviço do Corpo de Bombeiros Estatal da região Podkarpacka informou na segunda-feira, Brigadeiro Marcin Betleja, um bombeiro que morava no bairro foi o primeiro a atender o sinistro.

"Em dado momento, a luz se apagou na casa. O homem que colocava os azulejos no piso térreo da casa foi verificar o que estava acontecendo. Ele notou que fumaça estava vindo dos quartos na parte superior da casa. Lá estava a dona da casa e uma criança de dois anos de idade. A porta superior estava trancada. Então, o homem a forçou, derrubou e entrou", contou a promotora Marta Pętkowska.

 Os quartos já estavam muito esfumaçados, mas o homem conseguiu levar a criança para fora.

"Ele imediatamente entrou no prédio e tirou um menino inconsciente de dois anos de idade. Até a chegada da ambulância, o homem tentou a ressuscitação da criança. Os bombeiros chegaram no lugar e tiraram a mãe inconsciente para fora da casa",  disse Betleja.

Durante a ressuscitação da criança, o sangue apareceu na boca e nos cortes de feridas à faca no peito. Havia também cortes e feridas também no corpo da mãe, na caixa toráxica, no pescoço e nas mãos.

A promotora Pętkowska acrescentou que durante o incêndio o pai não estava em casa, pois estaria participando de exercícios das Forças de Defesa Territorial, onde é soldado.

O bombeiro, que foi o primeiro a realizar a operação de resgate, também chegou ao hospital com uma ferida na perna.

Bethleja informou que o fogo que atingiu um quarto no primeiro andar da casa foi rapidamente extinto. 25 bombeiros participaram da operação.  Acorreram ao sinistro, bombeiros das localidades de Krasiczyn, Przemyśl e Bircza. As causas do fogo estão sendo esclarecidas.

Os vizinhos estão em estado de choque.
Poucas horas antes, eles viram a mãe andando com seu filho. "Ele era um menino tão lindo e feliz", contam.

Os vizinhos não sabem dizer o que aconteceu. Eles conhecem pouco a mulher. O idioma é a barreira. Dizem que a brasileira conhece apenas uma dúzia de frases em polaco. "Ela conversa em inglês com o marido. Eles se conheceram no trabalho. Quando o filho Wiktor veio ao mundo, eles se estabeleceram em nossa vila e se casaram", dizem os habitantes.

Segundo os vizinhos, eles pareciam uma família normal e feliz. Quando a tragédia ocorreu, o marido da mulher deveria estar em exercícios das Forças de Defesa Territorial. Ele chegou enquanto acontecia a operação de resgate dos bombeiros. "Salvem meu filho!", gritou o pai desesperadamente para os médicos.

Numa coletiva de imprensa, nesta segunda-feira, a promotora Beata Starzecka-Skrzypiec, disse, em Przemyśl, que as investigações apontam que Andrea Cristina desferiu "oito facadas no menino".

"A versão mais provável é que esses impactos foram dados de uma posição sentada", disse Beata Starzecka - Skrzypiec, promotora adjunta em Przemyśl. "Provavelmente, a mãe segurou a criança no colo para dar as facadas".


Coletiva de imprensa no Ministério Público - Foto: Norbet Ziętal
Ainda na tarde de segunda-feira, o Ministério Público de Przemyśl, ouviu a brasileira Andrea Cristina P. e logo em seguida solicitou ao Tribunal Regional, a detenção da mulher, por 3 meses, que será cumprida imediatamente. O porta-voz do MP informou que durante o interrogatório, a suspeita não respondeu à acusação de homicídio. "Ela não confessou nem negou o crime".

O pai do menino morto também foi ouvido pela promotora. Segundo ele, mal-entendidos na família, vinham ocorrendo desde janeiro deste ano. "Eram mal-entendidos relacionados aos cuidados na criação do filho, como a alimentação e educação", disse a promotora Beata Starzecka-Skrzypiec, procuradora adjunta do distrito em Przemyśl.

O Ministério Público determinou que as demais instituições fossem notificadas, para continuar as investigações sobre as irregularidades apontadas pelo pai na criação do filho cometidas por Andrea Cristina P. O homicídio, nestes casos,  é punido, na Polônia, com prisão perpétua.

Ainda, de acordo com a porta-voz do Ministério Público do distrito em Przemyśl, Marta Pękowska, a mãe fez extensas explicações, cujo conteúdo, devido ao bem da investigação, não pode ser divulgado.


Fontes: Onet Rzeszów, TV24, Mowiny24, Polskie Radio Rzeszów, Echodnia e PAP
Tradução e redação: Ulisses Iarochinski (jornalista profissional MT-PR 1129)

sábado, 17 de fevereiro de 2018

A Balada de Janek Wiśniewski

Cena do filme "O homem de ferro" de Andrzej Wajda
Janek Wiśniewski é um nome fictício dado a uma pessoa real no poema polaco "Balada de Janek Wiśniewski".

O nome inventado por Krzysztof Dowgiałło serviu para simbolizar o trabalhador de dezoito anos assassinado na cidade de Gdańsk pelo exército polaco no dia 17 de dezembro de 1970, durante as revoltas dos trabalhadores contra o regime soviético.

A imagem de um jovem anônimo levado nos ombros através de cordões policiais e tanques inspirou  Dowgiałło a escrever a poesia.

Como o poeta não conhecia o verdadeiro nome daquele jovem anômico, decidiu dar-lhe um nome muito comum na Polônia. Janek, ou Janku são diminutivos carinhosos de João. E Wiśniewski é um dos sobrenomes bastante comuns no país.

Mais tarde se descubriu que Janek era na verdade Zbigniew Godlewski, jovem trabalhador que vivia na cidade vizinha de Elbląg.

Zbigniew Eugeniusz Godlewski nasceu em 3 de agosto de 1952, na cidade de  Zielona Góra (Sudoeste da Polônia), e morreu em 17 de dezembro de 1970, em Gdynia (Norte do país). Ele era um funcionário do Estaleiro Gdynia, antigamente chamado pelo nome de Estaleiro da Comunidade de Paris.


Godlewski foi atingido por um tiro durante os confrontos entre trabalhadores e exército nas imediações da estação de trem da Szybka Koleje Miejskiej Gdynia Stocznia (Trem rápido municipal do Estaleiro de Gdynia).

Seu corpo foi levado pelas ruas ulica Czerwone Kosynierów (hoje rua Morska), através de um túnel sob as plataformas da estação ferroviária Gdynia Główna (Estação Central de Gdynia), pela rua ulica Dworcowa, pela ulica 10 Lutego e pela ulica Świętojańska até a sede do Conselho Nacional da Cidade na ulica Czołgistów (Petroleiros), atual aleja Marszałka Józefa Piłsudskiego.

Em 1970, foram mortas a disparos quarenta e uma pessoas pelo exército nas manifestações dos trabalhadores.

De acordo com fontes oficiais, como resultado da repressão em dezembro de 1970, 41 pessoas foram mortas: 1 em Elbląg, 6 em Gdańsk, 16 em Szczecin e 18 em Gdynia. 1164 pessoas ficaram feridas.

Mas outras fontes dizem que, na verdade, foram algumas centenas de mortos. Como resultado das repressões, cerca de 3.000 pessoas foram presas. Milhares de pessoas foram perseguidas pela polícia por sua participação nos protestos.

Os documentos do IPN - (Sigla para Instituto da Memória Nacional) mostram que os incidentes de dezembro não se limitaram à Costa Báltica. As manifestações e greves também ocorreram em Cracóvia, Wałbrzych e outras cidades.

De acordo com as descobertas dos historiadores, mais de 20 mil pessoas estavam em greve no país naquele momento.

O poema de Krzysztof Dowgiałło e homenagem àquele menino-homem foi popularizado mais tarde na canção "Pieśń o Janku z Gdyni" (Canção de Janek de Gdynia) composta por Mieczysław Cholewa. 

Já a balada tornada famosa em todo o mundo foi interpretada pela atriz Krystyna Janda durante os créditos finais do filme "O homem de Ferro", do cineasta Andrzej Wajda, em 1981.

Janda foi acompanhada por Jacek Kaczmarski e Przemysław Gintrowski e a música passou a ser chamada "Ballada o Janku Wiśniewskim" (A Balada sobre Janek Wiśniewski).

Num outro filme, mais recente, agora, do cineasta Antoni Krauze "Czarny Czwartek" (Quinta-feira negra), de 2011, o cantor de rock Kazik Staszewski foi o intérprete da "Balada sobre Janek Wiśniewski".  O filme de Krauze trata exclusivamente daquela quinta-feira de dezembro de 1970. O diretor Krauze faleceu no último dia 7 de fevereiro de 2018, aos 81 anos de idade.

Um video-clip promovendo o filme de Krause foi feito especialmente para a música.
Kazik Staszewski colocou a música em seu CD "Bar La Curva / Plamy na słońcu", de 2011. Além disso, foi lançado (como uma segunda versão) fazendo parte do CD com a trilha sonora do filme, desta vez, composta por Michał Lorenc.

Depois da queda do socialismo soviético na Polônia, os nomes de Zbigniew Godlewski e de Janek Wiśniewski foram dados a várias ruas do país.

Foto original da marcha com o corpo de Godlewski
* No poema as palavras Grabówka e Chylonia,  referem-se a bairros da cidade de Gdynia.


BALLADA O JANKU WIŚNIEWSKIM
Letra: Krzysztof Dowgiałło
Melodia: Mieczysław Cholewa e Jacek Kaczmarski

Chłopcy z Grabówka, chłopcy z Chyloni
Dzisiaj milicja użyła broni
Dzielnieśmy stali, celnie rzucali
Janek Wiśniewski padł

Na drzwiach ponieśli go Świętojańską
Naprzeciw glinom, naprzeciw tankom
Chłopcy, stoczniowcy, pomścijcie druha
Janek Wiśniewski padł

Huczą petardy, ścielą się gazy
Na robotników sypią się razy
Padają starcy, dzieci, kobiety
Janek Wiśniewski padł

Jeden raniony, drugi zabity
Krew się polała grudniowym świtem
To Partia strzela do robotników
Janek Wiśniewski padł

Krwawy Kociołek to kat Trójmiasta
Przez niego giną dzieci, niewiasty
Poczekaj draniu, my cię dostaniem
Janek Wiśniewski padł

Stoczniowcy Gdyni, stoczniowcy Gdańska
Idźcie do domu, skończona walka
Świat się dowiedział, nic nie powiedział
Janek Wiśniewski padł

Nie płaczcie matki, to nie na darmo
Nad stocznią sztandar z czarną kokardą
Za chleb i wolność, i nową Polskę
Janek Wiśniewski padł



em português....

Meninos de Grabówka, meninos de Chylonia
Hoje, a polícia usou arma
Corajosamente estamos em pé, atiraram com precisão
Janek Wiśniewski caiu

Sobre uma porta o levaram pela Świętojańska
Diante dos policiais, diante dos tanques
Meninos, trabalhadores do estaleiro, vingam o druida
Janek Wiśniewski caiu

Rugem petardos, os gases se espalham
Os trabalhadores, são derrubados de uma só vez
Caem os idosos, crianças e mulheres
Janek Wiśniewski caiu

Um ferido, o segundo morto
O sangue se derrama em dezembro
Este Partido dispara contra os trabalhadores
Janek Wiśniewski caiu

O sanguinário Kociołek é o executor das Três-Cidades
Crianças, mulheres são mortas por ele
Esperai bastardo, vamos pegar você
Janek Wiśniewski caiu

Trabalhadores do estaleiro de Gdynia,
trabalhadores do estaleiro de Gdańsk
Vão para casa, a luta acabou
O mundo ficou sabendo e nada disse
Janek Wiśniewski caiu

Não chore, mãe, nada foi de graça
Sobre o estaleiro, uma bandeira com arco preto
Por pão e liberdade, e uma nova Polônia
Janek Wiśniewski caiu

(Tradução: Ulisses Iarochinski)


Canta Krystyna Janda




Canta Kazik Staszewski em seu video-clip




Kazik
(cantor, poeta e saxofonista) já se apresentou em Curitiba, Campo Largo, Ponta Grossa e outras  cidades do interior do Paraná com seu grupo de então, KULT, no início dos anos 90.