quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Cinemateca de Curitiba recebe “Dores da Polônia” com exibição de documentários de Ulisses Iarochinski

By Redação Página1 On
9 set, 2024
Reportagem: Emerson Teixeira Curitiba
 
Ulisses Iarochinski

No dia 11 de setembro, a partir das 19 horas, a Cinemateca de Curitiba será palco do evento comemorativo “Dores da Polônia”, que celebrará a resistência polaca durante a Segunda Guerra Mundial. O cineasta e historiador Ulisses Iarochinski apresentará dois de seus documentários, “Levante de Varsóvia” e “Cemitério sem Tumbas – Auschwitz Birkenau”, em uma noite de reflexão sobre a história da Polônia e os horrores da guerra.
 
O evento rememora um período dramático da história polaca, com destaque para o ano de 1944, quando o país foi palco de intensos conflitos. Um dos episódios mais marcantes foi o Levante de Varsóvia, iniciado em 1º de agosto daquele ano, em que moradores da capital polaca resistiram heroicamente contra 40 mil soldados nazistas.
 
 
A revolta, que se estendeu até outubro, resultou em mais de 166 mil mortos, incluindo 11.500 polacos de origem judaica. De uma população de 1,7 milhão de habitantes, menos de 6% sobreviveu à devastação da cidade. “Este é um dos eventos mais significativos da história polaca, onde pessoas de todas as idades e origens lutaram com bravura pela sua liberdade. Mostrar essa história é um dever”, afirma Iarochinski.
 
O cineasta também recorda a relevância de discutir a ascensão do fascismo na época e seus ecos na atualidade: “O fascismo foi a maior tragédia da humanidade, e hoje, em um momento de avanço da extrema-direita no Brasil e no mundo, é essencial relembrar que esses ideais são criminosos”. 


O segundo documentário da noite, Cemitério sem Tumbas – Auschwitz Birkenau”, produzido em 2005, retrata as cerimônias de 60 anos da libertação dos campos de concentração e extermínio nazistas. O filme aborda os horrores vividos nas cidades polacas de Oświęcim e Brzezinka, locais que se tornaram símbolo da barbárie nazista.
 
Além disso, o documentário inclui impactantes imagens sobre os experimentos conduzidos pelo médico Josef Mengele e a presença de líderes mundiais nas celebrações do fim do Holocausto. Durante a exibição, serão apresentados também trechos dos poemas “Aos que vão nascer”, do alemão Bertolt Brecht, e “Manifesto 1944”, do polaco Julian Tuwim, ampliando a dimensão poética da memória dos acontecimentos.
 


Ulisses Iarochinski, que acumula uma vasta experiência como jornalista, historiador e cineasta, tem um currículo extenso com mais de 15 documentários de curta-metragem e 5 de longa-metragem. Seu trabalho é amplamente reconhecido pelo resgate histórico da imigração polaca no Brasil e pela forma como aborda temas históricos de extrema relevância. “Mostrar os horrores da guerra, especialmente para os descendentes de imigrantes polacos, é minha obrigação”, afirma.
 

 
 
Além da estreia em Curitiba, os documentários serão exibidos nos Campos Gerais, incluindo apresentações no Cineclube de Irati e na Câmara Municipal de Mallet, com outras datas previstas em Telêmaco Borba, São Mateus do Sul e Castro. As exibições e o evento “Dores da Polônia” têm como objetivo conscientizar o público sobre os perigos de ideologias extremistas e a importância da memória histórica. “É crucial nunca esquecermos o que a extrema-direita causou no passado, para que possamos impedir que a tragédia se repita”, conclui Iarochinski.
 
ENTREVISTA

Emerson Teixeira: Os documentários serão exibidos em municípios da região dos Campos Gerais?

Ulisses Iarochinski: Sim, até agora, além das estreias em Curitiba na próxima quarta-feira, dia 11, na Cinemateca de Curitiba, já estão agendadas exibições nos Campos Gerais, no Cineclube de Irati, dia 27/09, na Câmara Municipal de Mallet no dia 28/09 e em Telêmaco Borba ainda sem data definida no aguardo de uma definição de Castro. Também sem data definida será exibido em São Mateus do Sul e possivelmente em São Paulo. A exibição contém dois filmes documentários e dois vídeo-poemas. 1. Cemitério sem Tumbas - Auschwitz Birkenau, 2. Levante de Varsóvia, e trechos dos poemas: 1.⁠ ⁠Aos que vão nascer, do poeta alemão Bertolt Brecht, 2.⁠ ⁠Manifesto 1944 do poeta polaco Julian Tuwim.

 Emerson: As produções giram em torno da 2.ª Guerra Mundial?

Iarochinski: Sim. A Polônia foi o país mais devastado durante a segunda guerra mundial. E falar nestes dois documentários da principal revolta popular dos habitantes de Varsóvia contra 40 mil soldados alemães nazistas; e sobre a história dos mais icônicos campos de concentração e extermínio alemão nazista da segunda guerra mundial foi a principal motivação para a realização dos dois filmes. E o objetivo é sempre lembrar que a maior tragédia da humanidade foi causada pela extrema direita...o fascismo!

Emerson: Além da questão histórica, o que mais motivou as produções?

Iarochinski: Primeiro as comemorações que não param na Polônia neste ano de 2024. 27 de janeiro foi comemorado 79 anos da libertação dos campos de concentração nas cidade de Oświęcim e Brzezinka (respectivamente Auschwitz e Birkenau em idioma alemão)! Em 01/08 começaram as comemorações dos 80 anos do Levante de Varsóvia; em 01/09 as comemorações dos 85 anos da invasão da Polônia e a eclosão da Segunda Guerra Mundial pelas tropas de Hitler. E por fim e não menos importante o avanço da extrema direita no Brasil pregando golpe de Estado...e o ódio ter se instalado no Brasil de forma avassaladora. Fascismo é crime no Brasil e em todo o mundo.

Emerson: Perfeito!

Iarochinski: Então, mostrar os horrores da segunda guerra mundial, principalmente, aos descendentes de imigrantes da nação que mais sofreu durante a história da humanidade é meu dever. E só acrescentando...meu sobrenome assim escrito iarochinski é culpa do cartório de Castro que deveria escrever Jarosiński.

Emerson: O senhor tem origem polaca?

Iarochinski: Meu sobrenome assim escrito, iarochinski, é culpa do cartório de Castro que deveria escrever Jarosiński. Meus bisavôs Piotr e Anna Jarosiński junto com duas filhas e dois filhos chegaram em Castro e foram assentados na colônia de imigrantes do Tronco, em 1911. Um deles, meu avô Bolesław, está enterrado no cemitério de Castro. A grande maioria dos meus primos são de Castro. Já que nasceram em Castro mais duas filhas e dois filhos dos meus bisavôs. E no bairro Bonsucesso nasceu meu pai Cassemiro, que mais uma vez por erro do cartório de Castro, deveria se Chamar Kazimierz Jarosiński. Então, é quase uma obrigação minha exibir estes meus filmes em Castro.

Emerson: O senhor é natural de Castro?

Iarochinski: Não! Meu bisavô e meu avô com os filhos foram para Monte Alegre no final da década de 30 para trabalhar na construção da fábrica de Papel da Klabin. Eu nasci na Vila Operária, na Harmonia, Monte Alegre, distrito de Ventania, município de Tibagi. Que acabou virando município de Telêmaco Borba, em 1964. Meus bisavôs voltaram para Castro e foram morar na Vila Rio Branco. Meu avô também voltou para Castro para morrer em 1944. Minha avó, meu pai e irmãos continuaram vivendo em Harmonia.

Emerson: Que interessante, distrito de Ventania, harmonia, hoje se tornaram dois municípios.

Iarochinski: Sim. Mas na época eram tudo Tibagi, inclusive o município de Imbaú.

Emerson: Uma curiosidade, porque não exibir na internet?

Iarochinski: Não iriei colocar na TV, nem na Internet. As exibições serão sempre em auditórios e salas longe dos cinemas. Sempre com entrada franca. É uma terra de ninguém…desrespeito aos direitos autorais, roubo e uso indiscriminado de produções de outros. Não ganho nada com a Internet. Mas nas exibições em auditórios e salas de exibição, embora não fature nada, pelos menos posso ver e sentir a reação dos espectadores.