terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Sobre Gaza

Escrito por José Saramago
e outros intelectuais



Não é uma guerra, não há exércitos se enfrentando. É uma matança.
Não é uma represália, não são os foguetes artesanais que voltaram a cair sobre o território israelense, mas uma campanha eleitoral que desencadeou o ataque.
Não é uma resposta ao fim de uma trégua, porque durante o tempo em que a trégua estava vigente, o exército israelense endureceu ainda mais o bloqueio sobre Gaza e não deixou de levar adiante mortíferas operações com a cínica justificativa de que seu objetivo era atingir membros do Hamas. Por acaso ser membro do Hamas tira a condição humana de um corpo desmembrado pelo impacto de um míssil e o suposto assassinato seletivo da condição de assassinato?
Não é uma violência que fugiu ao controle. É uma ofensiva planificada e anunciada pela potência invasora. Um passo a mais na estratégia de aniquilação da resistência da população palestina, submetida ao inferno cotidiano da ocupação da Cisjordânia e Gaza, assediada pela fome e cujo último episódio é esta carnificina que neste dias ocupa nossos televisores em meio a mensagens amáveis e festivas de ano novo.
Não é um fracasso da diplomacia internacional. É mais uma prova da cumplicidade com Israel. E não se trata somente dos Estados Unidos, que não é referência moral e nem política, mas sim parte de Israel neste conflito; trata-se da Europa, da decepcionante debilidade, ambigüidade e hipocrisia da diplomacia européia.
O mais escandaloso que se passa em Gaza é que tudo isto pode passar sem que nada de mais aconteça. Não se questiona a impunidade de Israel. A violação continuada das leis internacionais, dos termos da Convenção de Genebra e das normas mínimas de humanidade não têm conseqüências.
Mas, muito pelo contrário, tudo indica que se premia Israel, com acordos comerciais, como propostas para a sua entrada na OCSE, e que desta imoralidade resultam frases de alguns políticos dividindo as responsabilidades igualmente entre as partes, entre ocupante e ocupado, entre quem agride e quem é agredido, entre o carrasco e a vítima. Como é indecente esta pretendida eqüidistância, que equipara o oprimido com o opressor. Esta linguagem não é inocente. As palavras não matam, porém ajudam a justificar os crimes e a cometê-los.
Em Gaza está se cometendo um crime. E há tempos está sendo cometido ante os olhos do mundo. E ninguém poderá dizer, como em outros tempos se disse na Europa, que não sabíamos.


José Saramago, Laura Restrepo, Teresa Aranguren, Belén Gopegui, e outros.

Acreditando que a poesia ainda consegue ser lida, ouvida e entendida, Jorge Luiz Borges, o grande poeta argentino, escreveu um belo poema por ocasião da guerra das Malvinas. Fala de dois jovens, o argentino Juan López e o inglês John Ward, arrastados para a morte por “próceres de bronze”. Diante da brutalidade que se abate sobre a terra prometida, vale recitá-lo:

“Tocou-lhes por azar uma época estranha.
O planeta havia sido dividido em distintos países, cada um dotado de lealdades, de queridas memórias, de um passado sem dúvida heróico, de direitos, de agravos, de uma mitologia singular, de próceres de bronze, de aniversários, de demagogos e de símbolos. Essa divisão, cara aos cartógrafos, propiciava guerras.
López nascera na cidade junto ao rio imóvel; Ward, nos arredores da cidade por onde andou Father Brown. Havia estudado castelhano para ler o Dom Quixote.
O outro professava a paixão por Conrad, que lhe havia sido revelado em uma aula na rua Viamonte.
Teriam sido amigos, mas só se viram uma vez, cara a cara, em umas ilhas por demais famosas, e cada um dos dois foi Caim, e cada um, Abel.
Foram enterrados juntos. A neve a corrupção os conhecem.
O caso que lhes conto ocorreu num tempo que não podemos entender”.

Às amizades de sempre

Foto: Ulisses Iarochinski

Tenho notado um aumento considerável no número de pessoas, que inadvertidamente se deixam levar pela ânsia de violência. Pessoas que partilhavam as mesmas idéias, hoje estão distantes, já não pensam como antes.
Não, que evoluíram em seus conceitos rumo a fraternidade. Não!
Na verdade, estão voltando atrás. Mas não para aqueles tempos do comungar das idéias para um mundo melhor, longe das atrocidades e mentiras. Estão voltando para os tempos da bárbarie, dos tempos em que matar era um ato covarde de supremacia militar. Muitos parecem se esquecer, ou talvez nunca souberam realmente o que estava se passando, mas não há como negar a história, quando ela de fato aconteceu.
Assim, dialogar, tem se tornado um ato muito difícil de executar. Não se consegue dialogar com o amigo de ontem, quanto mais com o de hoje. O que não será com o de amanhã?
Acompanho diariamente o que jornalistas escrevem pelo mundo. Não só os jornalistas brasileiros, mas principalmente os polacos, os espanhois, os portugueses, os italianos, os franceses, os ingleses e aqueles tantos outros de diferentes línguas que são traduzidos para alguma destes idiomas citados.
A manipulação da informação, muitas vezes ditadas pela ignorância histórica, pela falta de compreensão da conjuntura e simplesmente porque não se concorda com o fato que se está relatando tem transformado as relações em completos abismos.
A crença de muitos de que a grande imprensa manipula a informação por interesses econômicos, políticos, geoestratégicos não impende que aceitem mentiras como verdades, que duvidem da sinceridade das amizades que apontam outros caminhos, amizades que relembram fatos, que traduzem bloqueios, censuras e preconceitos.
Se num mundo onde ainda os morteiros dos países vizinhos não se voltaram contra nós, as amizades estão se deteriorando por falta de diálogo, parceria e comunhão de idéias, imagine-se o que não pode estar acontecendo nas fronteiras de Gaza, Paquistão, Afeganistão, Sudão, Indonésia?
E quando já não restar mais sentimento será impossível resgatar a amizade. Pois nunca é possível reconstruir, seja o que for, a partir só do que ouve num determinado instante. Temos sempre de lembrar o contexto, e contexto distorcido, a ponto de se tornar irreconhecível é o que está acontecendo, por exemplo em Israel. É fácil dizer que Hamas, Talibãs, ETA, Chechenos, georgianos são terroristas, mas é extremamente díficil aceitar que constituições e exércitos de Espanha, Rússia, Israel, Grã-Bretanha, Estados Unidos são máquinas de matar das mais implacáveis que já existiram na história da humanidade. Estes países, principalmente, cometem terrorismo há décadas, mas nem por isto se ouve aqui e ali que são assassinos. Por que?
Espero poder estar contribuindo para a permanência do diálogo e que se divergir é necessário, também o é o entender.
O dramaturgo, músico e poeta alemão Bertold Brecht em sua luta contra a ascensão de Hitler escreveu um poema, que junto com amigos atores, sob a direção do ator José Maria Santos, encenamos nos palcos do Paraná. Os poemas "Aos que vão nascer" e "O hoje e o jamais" estão nesta sequência do espetáculo "Na Boca dos Poetas" . Os nomes dos "falantes" são aqueles atores da amizade perene:

(BLACK-OUT. MÚSICA: NA BOCA DA NOITE, TOQUINHO. UM ATOR SENTADO NO PROSCÊNIO, ENFORCADO. LUZ VOLTA EM RESISTÊNCIA)

ULISSES:      Apesar de todas as angústias e sofrimentos desta vida. Tudo vale a pena, como dizia Fernando Pessoa, poeta português, quando a alma não é pequena. E apesar da injustiça passear pelas ruas com os passos seguros, como dizia Bertold Brecht, poeta e dramaturgo alemão, nós preferimos a poesia.

(RETIRA A CORDA DO PESCOÇO)

Aos que vão nascer – Bertold Brecht

TODOS:  REALMENTE EU VIVO NUM TEMPO SOMBRIO!

ULISSES:      A inocente palavra é um despropósito! Uma fronte sem rugas demonstra                                           insensibilidade.

TÂNIA:          Quem está rindo, é porque não recebeu ainda a notícia terrível.

CLEY:            Que tempo é este, em que uma conversa sobre árvores chega a ser uma falta, pois implica em silenciar sobre tantos crimes?

MARISE:      Esse que vai cruzando a rua calmamente, então já não está ao alcance dos amigos necessitados?

TODOS:        É VERDADE AINDA GANHO O MEU SUSTENTO!

RENE:          Porém, acreditai-me: é mero acaso. Nada do que faço me dá direito a isso, de comer e fartar-me. Por acaso me poupam. Se minha sorte acaba, estou perdido.

CLEY:           Dizem-me: vai comendo e bebendo! Alegra-te pelo que tens!

MARCOS:    Mas como hei de comer e beber, se o que eu como é tirado a quem tem fome e o meu copo d’água falta a quem tem sede?

TODOS:       NO ENTANTO EU COMO E BEBO!

ULISSES:     Eu gostaria bem de ser um sábio. Nos velhos livros está o que é a sabedoria:    Manter-se longe das lidas do mundo e o tempo breve deixar correr sem medo.

CLEY:          Também saber passar sem violência, pagar o mal com o bem, os próprios desejos não realizar e sim esquecer, conta-se como sabedoria.

TODOS:      NÃO POSSO NADA DISSE: REALMENTE, EU VIVO NUM TEMPO SOMBRIO!

SOLANGE:    Às cidades cheguei em tempo de tumulto, com a fome imperando. Junto aos homens cheguei em tempo de desordem e me rebelei com ele.

 TODOS:       ASSIM, PASSOU-SE O TEMPO QUE SOBRE A TERRA ME FOI CONCEDIDO.

 TÂNIA:       Minha comida mastiguei entre as refregas. Para dormir, deitei-me entre assassinos. O amor eu exercia sem cuidado. E olhava sem paciência a natureza,

 TODOS:      ASSIM, PASSOU-SE O TEMPO QUE SOBRE A TERRA ME FOI CONCEDIDO.

 MARCOS:   As ruas do meu tempo iam dar no atoleiro. A fala, denunciava-me ao carrasco. Bem pouco podia eu. Mas os mandões sem mim se achavam mais seguros. Eu esperava.

 TODOS:      ASSIM, PASSOU-SE O TEMPO QUE SOBRE A TERRA ME FOI CONCEDIDO.

 SOLANGE:  Vós, que vireis na crista da maré em que nos afogamos, pensai quando falardes em nossas fraquezas, também no tempo sombrio a que escapastes.

FERNANDO:  Vínhamos nós mudando mais de país do que de sapatos. Em meio às lutas de classes, desesperados, enquanto apenas injustiça havia e revolta, nenhuma.

MARISE:        E entretanto sabíamos: também o ódio a baixeza endurece as feições, também a raiva contra a injustiça, torna mais rouca a voz. Ah!... e nós que pretendíamos preparar o terreno para a amizade, nem bons amigos, nós mesmos pudemos ser.

ULISSES:      Mas vós, quando chegar a ocasião de ser o homem, um parceiro para o homem,

TODOS:         PENSAI EM NÓS COM SIMPATIA!

                       O hoje e o jamais – Bertold Brecht

FERNANDO: A injustiça passeia pelas ruas com passos seguros.

MARISE:        Os dominadores se estabelecem por dez mil anos. Só a força os garante. Tudo ficará como está.

MARCOS:       Nenhuma voz se levanta além da voz dos dominadores.

SOLANGE:     Nos mercados da exploração se diz em voz alta: Agora acaba de começar!  E entre os oprimidos, muitos dizem: Não se realizará jamais o que queremos!

ULISSES:      O que ainda vive, não diga: jamais!

CLEY:            O seguro não é seguro. Como está não ficará. Quando os dominadores falarem. Falarão também os dominados.

ULISSES:       Quem se atreve a dizer: jamais? De quem depende a continuação desse domínio?

TODOS:         DE NÓS!

ULISSES:      De quem depende a sua destruição?

TODOS:        IGUALMENTE DE NÓS!

RENE:          Os caídos que se levantem! Os que estão perdidos que lutem! Quem reconhece a situação como pode se calar? Os vencidos de agora serão os vencedores de amanhã.

TODOS:        E O HOJE NASCERÁ DO JAMAIS!

MARCOS:     Bertold Brecht nasceu em Ausburgo, na Alemanha em 10 de fevereiro de 1898 e faleceu em Berlim em 14 de agosto de 1956. É o mais influente dramaturgo universal do século vinte. A violência em sua poesia é uma constante. Injustiça social, crimes, alcoolismo, nada foi esquecido por ele. Num de seus poemas ele diz: “Eu, Bertold Brecht, sou das negras florestas. Para a cidade minha mãe me trouxe no ventre ainda e o frio das florestas em mim se há de encontrar até eu morrer.” Hoje, podemos dizer que este frio transcendeu a sua morte.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Judeu contra o governo de Israel


Em Abril de 1943 os judeus do Gueto de Varsóvia foram massacrados pela máquina militar do III Reich nazi. Em Dezembro de 2008 os palestinos do Gueto de Gaza são massacrados pela máquina militar do IV Reich nazi-sionista. Ambos os povos exerceram o seu direito inalienável à revolta contra a opressão. Foto: Instituto Judaico de Varsóvia.


O historiador francês de origem judaica André Noushci, ex-combatente antinazista da France Libre, de 86 anos, ex-professor da Universidade de Tunis e professor honorário da Universidade de Nice, mandou uma carta ao embaixador israelense em Paris durante os bombardeios na Faixa de Gaza dizendo o seguinte: 


3 de janeiro de 2009

Senhor Embaixador:

Para vós é shabat, que devia ser um dia de paz mas que é o da guerra. Para mim, e desde há vários anos, a colonização e o roubo israelense das terras palestinas exasperam-me. Escrevo-vos como francês, judeu de nascimento e artesão dos acordos entre a Universidade de Nice e a de Haifa.

Não é mais possível calar diante da política de assassinatos e de expansão imperialista de Israel.

Vós vos conduzis exatamente como Hitler se conduziu na Europa com a Áustria, a Tchecoslováquia (hoje República Tcheca e Eslováquia). Desprezais as resoluções da ONU tal como ele as da Sociedade das Nações e assassinais impunemente mulheres e crianças; não invoqueis os atentados, a Intifada. Tudo isso resulta da colonização ilegítima e ilegal; o que é roubo.
Vós vos conduzis como ladrões de terras e virais as costas às regras da moral judia. Vergonha para vós! vergonha para Israel!
Cavais a vossa tumba sem vos dar conta. Pois estais condenados a viver com os palestinos e os estados árabes.
Se vos falta esta inteligência política, então sois indigno de fazer política e vossos dirigentes deveriam ir para a cadeia.
Um país que assassina Rabin, que glorifica seu assassino, é um país sem moral e sem honra. Que o céu e que o vosso Deus leve à morte Sharon, o assassino.
Haveis sofrido derrota no Líbano em 2006. Sofrereis outras, espero, e enviais à morte os jovens israelenses porque não tendes a coragem de fazer a paz.
Como os judeus que tanto sofreram podem imitar os seus carrascos hitlerianos? Para mim, desde 1975, a colonização recorda-me velhas lembranças, aquelas do hitlerismo. Não vejo diferença entre vossos dirigentes e os da Alemanha nazi.
Pessoalmente, vou combater-vos com todas as minhas forças como o fiz entre 1938 e 1945 até que a Justiça dos homens destruísse o hitlerismo que está no coração do vosso país.
Vergonha a Israel!!
Espero que o vosso Deus lançará contra os seus dirigentes a vingança que eles merecem. Tenho vergonha como judeu, antigo combatente da II Guerra Mundial, por vós. Que o vosso Deus vos maldiga até o fim dos séculos!
Espero que sejais punidos!

Historiador, 86 anos, originário de Constantine (Argélia). Foi combatente da "France Libre" e é autor de um livro sobre o nível de vida das populações rurais de Constantine durante o período colonial até 1919 (PUF, 1961). Este livro foi saudado na época pelo ministro do Governo Provisório da República Argelina (GPRA) e historiador argelino Ahmed Tafiq al-Madanî como "a gota de água que se oferece ao viajante após a travessia do deserto". Foi professor na Universidade de Tunis e é professor honorário da Universidade de Nice, na França. Seu livro, "Iniciação às Ciências Históricas", foi traduzido para português e editado por Livraria Almedina, em 1986.

Segundo, o jornalista carioca de origem polaco-judaica Mário Augusto Jakobskind, "André Noushci certamente interpreta o sentimento de muitos cidadãos de origem judaica e não judaica que se indignam com a solução final contra os palestinos decretada por um governo extremista como o de Israel, que envergonha a quem tem um mínimo de consciência.".  Jakobskind tem sido alvo de emails e comentários raivosos por parte de judeus e não-judeus de extrema-direita pela sua posição antimassacre de palestinos. A tradução em português da carta de Noushci retirei do mais recente artigo de Jakobskind, "Recado aos fundamentalistas", publicado no sitio "Direto da Redação", mas também está no site francês "Le Post".  

"Opór" ou "Defiance" = Resistência

Foto: Karen Ballard

- Então? Já foi assistir "Opór"?
Perguntei a um jovem universitário polaco sobre o filme que entrou em cartaz nos cinemas da Polônia, na última sexta-feira, e que vem causando polêmica pelo menos há duas semanas por aqui. O filme estrelado pelo atual ator de James Bond - agente 007, Daniel Graig, conta a história de 4 irmãos polacos judeus que durante a Segunda Guerra Mundial defenderam centenas de judeus nas florestas da Polônia do Leste. Embora o filme sugira que ocorreu na Bielorrússia.
- Não, não fui e nem vou. Filme hollywoodiano mentiroso. Este judeu foi um bandido e não herói.
O estudante do curso de "Estudos Europeus", da Universidade Iaguielônia, reflete um pouco o que é a geração pós-comunismo sob o governo fascista de Kaczyński na Polônia. "Não vi, não quero ver e sou contra", parecem bradar a todo instante quando questionados sobre o passado. Não sofreram os horrores da hectacombe provocada pelos direitistas do nazismo, nem passaram pelos anos duros dos esquerdistas do comunismo. Muitos nasceram nos estertores finais da República Popular da Polônia e querem mais é consumir. 
A resposta sobre o filme, portanto, impediu o início de uma conversa cinematográfica-histórica-política. Queria ressaltar para ele, o que tinha assistido e sentido durante a projeção do filme, na sala 5 do Cinema City da Galeria Kazimierz, no último sábado.
Fui porque já tinha lido nos jornais polacos sobre esta produção de Hollywood com o ator do 007. Fui por que li se tratar de judeus combatentes. Fui porque Israel ataca sem piedade os palestinos na Faixa de Gaza. Mas fui principalmente porque gosto de cinema.
Fotografia impecável, atuações muito boas, atrizes muito bonitas. Embora a ação se passe o tempo todo num bosque da atual Lituânia sem grandes variações de cenário.
Fora os figurinos, armas, caminhões, carro e tanque da segunda guerra mundial dá para perceber que a produção não foi assim tão dispendiosa.
Roteiro com nuances de altos e baixos, com momentos de explosões entrecortados por uma calma angustiada.
Direção segura e competente que impele o expectador a vivenciar aqueles 90 minutos (ou mais) de projeção na grande tela da sala escura com muita emoção. Há momentos para risadas contidas, emoção suspendida e de lágrimas que teimam em cair, mesmo depois que as luzes se acendem e as portas se abrem indicando que a sessão terminou.
O filme tem criado polêmica na Polônia por tratar de uma questão que está inserida nas veias ainda quentes dos que morreram na segunda guerra mundial.
Nas minhas leituras antes da projeção, soube que se tratava dos guerrilheiros Bielski - quatro irmãos judeus - que viraram bandoleiros depois que polacos católicos colaboracionistas entregaram os pais deles para os alemães nazistas e se negaram a ir para os guetos e campos de concentração.
O filme já começa com uma patrulha noturna nos arredores de uma cidadezinha do que seria hoje a Bielorrússia (mas na época era Polônia). Os irmãos Bielski falavam polaco e iidich e ao emigrarem depois do fim da guerra, portavam passaportes polacos. Mas voltando á patrulha: Um grupo de polacos judeus conduzidos por um polaco católico é retido por um grupo de policiais polacos à serviço dos alemães nazistas. O policial que comanda a patrulha pergunta se fazem parte dos protegidos de Tewje Bielski. O guia diz não saber quem é este Bielski. Quando tudo parece que vai acabar mal, aparecem guerrilheiros polacos quase que do nada e impedem que o grupo seja detido.
Nas cenas seguintes, Tewje vai até uma casa e atira contra o velho policial da patrulha que estava jantando com a esposa e dois filhos. A esposa implora para ser morta, mas Tewje sai sem matá-la, como se fugisse de si mesmo. O polaco judeu finalmente estava vingando as mortes de seus pais, entregues que foram aos nazistas por aquele polaco católico colaboracionista.
No desenrolar do filme, sempre na mesma floresta, os quatro irmãos vão discutir, brigar entre si, mas sobretudo vão defender um número cada vez maior de judeus que chegam em número cada vez maior pedindo abrigo.
Os irmãos Bielski lutaram ao mesmo tempo contra tropas dos exércitos alemães e russos e contra guerrilheiros ucranianos e bielorussos, além dos polacos da Army Krajowej só para proteger familias polacas judias.
Durante a projeção, ri das ironias, emocionei-me, chorei... E saí do cinema ainda com os olhos lacrimejando. Tentava enxugar os olhos, mas as lágrimas teimavam em cair lendo as frases finais junto com as fotos dos verdadeiros irmãos Bielski. "Eles salvaram 1200 pessoas e nunca lhes foi dado crédito". 

Foto: Karen Ballard

Cinema sempre é uma obra de ficção, seja baseada em livro, fatos, depoimentos, história real. Não fosse ficção seria documentário, mas tem tantos documentários por aí que são pura ficção também, que a gente se pergunta se não está sendo sempre enganado.
Para parte da imprensa polaca, que assistiu o filme, que leu livros, que fez reportagens, considera os irmãos Bielski heróis.
Contudo, para aqueles que não assistiram, nem leram e quando muito, souberam alguma coisa da opinião dos investigadores do IPN - Instituto da Memória Nacional da Polônia de Kaczyński, os judeus Bielski foram apenas bandoleiros, verdadeiras carnificinas ambulantes e assassinos de polacos.
Nos jornais pude ler: "O mais importante é dizer claramente: os guerrilheiros Bielski atiraram nos polacos, mas não nos civis de Naliboków, somente contra os soldados da Armiej Krajowej". 
Em outro li, o que escreveu Piotr Zychowicz do jornal Rzeczpospolita, "o problema nisto é apenas um, o efeito causado pelos Bielski: eles salvaram 1200 pessoas contra 130 que mataram." O título do artigo de Zychowicz foi "Herói na escuridão do crime". Outras frases do jornalista no mesmo artigo puderam esclarecer melhor qual a opinião dele sobre os irmãos judeus:
- "Tewje bebeu, bateu e até matou, mas não violou, porque não foi obrigado."
- "Tewje Bielski bebeu continuamente, depois da vodca (particularmente à luz da lua) se fazia agressivo. Segundo depoimentos salvou muitos da morte - por pouca coisa - pelo menos um de seus agredidos: o especialista de sobrenome Połoniecki."
- "Teve três esposas e incontáveis amantes. No refúgio onde defendeu os seus, também se comportou de modo muito erótico, tendo se relacionado com várias das moças que ali estavam".
Estes comentários, entretanto, foram rebatidos por outro jornalista, mas do outro jornal importante da Polônia, o Gazeta Wyborcza. Marcin Kowalski que lançou um livro com o título de "Odwet. Prawdziwa historia braci Bielskich" (pode ser traduzido como Vingança, ou como Retaliação - a verdadeira história dos irmãos Bielski), fruto de dois anos de pesquisa e entrevistas na região onde a história real de fato aconteceu discorda dasd afirmações apressadas de seu colega de profissão. Kowalski entre outras coisas rebate a posição de amante inveterado colocada em Tewje, "Esta afirmação não é verdadeira, faltam fontes para que se afirme que estas relações amorosas ocorreram naquelas circunstâncias. É verdade que Bielski era jovem, bonito, verdadeira lenda-viva para aquelas mais de mil pessoas, entre homens e mulheres. Sua terceira esposa Lilka, naqueles bosques de Iwy, Lida e Nowogród, muito pouco tempo de carinho experimentou nos braços do Tewje." Sobre o rimão mais velho dos Bielski ter assassinado polacos, Kowalski também apresenta uma explicação: "pelo menos algumas dezenas de membros de Naliboków pertenceram ao mesmo tempo para o Exército Nacional (Army Krajowy) da Polônia, enquanto eram colaboracionistas dos alemães. À luz do dia defendiam a Polônia, na calada da noite entregavam companheiros para os nazistas. Foram estes que morreram nas mãos dos irmãos Bielski." 
No centro da polêmica, o prof. Krzysztof Jasiewicz deu entrevista para o Rzeczpospolita dizendo que "para nós este assunto não tem sentido, se eram guerrilheiros judeus e se pessoalmente os irmãos Bielski mataram muitos polacos em Naliboków, em 8 de maio de 1943, ou se também lutaram ao lado dos soviéticos, ou não." 
Ou seja, a Polônia, ainda não sabe lidar com seus fantasmas. Muitos não querem saber do passado, muitos não leem, muitos não discutem, muitos afirmam o que não sabem. Uma simples obra de ficção cinematográfica (embora baseada em fatos reais) consegue provocar reações quase sempre equivocadas, como as que se estão vendo na Polônia, nesta semana. Cinema é cinema, história é história. Agora falsear a história para dizer que o cinema é mentiroso é pior ainda.

Não sei que título o filme tem ou terá no Brasil, mas no título deste texto já coloquei nas três línguas o que sugere o nome para este filme, dirigido por Edward Zwicki, música original de James Newton Howard e com as participações de Liev Schreiber e Jamie Bell.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Polacos: uma só família

A expressão „Bayer Full" nos anos 80 não possuía qualquer significado. Era 19 de novembro de 1984, quando quatro músicos resolveram denominar seu grupo com estas duas palavras.
Depois de mais 15 discos gravados, mais de 15 milhões de discos vendidos, disco de ouro após 100 mil vendidos, disco de platina após 750 mil vendidos e terem cantado em todos os continentes e se tornado embaixadores da canção polaca, Bayer Full tem um forte significado. É provavelmente o mais popular grupo de música dançante (disco polo) da Polônia. 
Da formação inicial com Sławek Świerzyński, Arek Kamiński, Jacek Łyziński e Tomek Rudziński, restou atualmente apenas o líder Sławek Świerzyński que canta com Beata Matuszewska, Roman Matuszewski, Paweł Opasiński e o filho Sebastian Świerzyński. No vídeo abaixo,  cantam um de seus maiores sucessos e logo mais abaixo a letra da música em polaco e a tradução em português:



Wszyscy Polacy
Todos os Polacos
(tradução livre: Ulisses Iarochinski)

Wieczorem, wieczorem,
À noite, à noite

kiedy gwiazdy mocno lśnią
quando as estrelas fortemente brilham

Wieczorem, wieczorem
zaśpiewajmy razem song
cantamos juntos uma canção

Bo wszyscy Polacy
porque todos os polacos

to jedna rodzina
são uma só família

Starszy czy młodszy,
mais velhos ou mais jovens

chłopak czy dziewczyna
rapaz ou moça

Bo wszyscy Polacy
porque todos os polacos

to jedna rodzina
Starszy czy młodszy,
chłopak czy dziewczyna

Hej , hej bawmy się,
oi, oi brinquemos

hej, hej śmiejmy się
oi, oi sorriamos

Hej , hej bawmy się,
hej, hej śmiejmy się

A nocą, a nocą
e noite, e noite

gdy po pracy w domu śpisz
quando depois do trabalho em casa dormes

A nocą, a nocą
każdy ma szczęśliwe sny
cada um tem felizes sonhos

Bo wszyscy Polacy
to jedna rodzina
Starszy czy młodszy,
chłopak czy dziewczyna

Bo wszyscy Polacy
to jedna rodzina
Starszy czy młodszy,
chłopak czy dziewczyna

Hej , hej bawmy się,
hej, hej śmiejmy się
Hej , hej bawmy się,
hej, hej śmiejmy się

A rano, a rano
e de manhã, e de manhã

kiedy słońce jeszcze śpi
quando o sol ainda dorme

To wtedy, to wtedy
isto então, isto então

zaśpiewamy ja i ty
cantamos eu e você

Bo wszyscy Polacy
to jedna rodzina
Starszy czy młodszy,
chłopak czy dziewczyna

Bo wszyscy Polacy
to jedna rodzina
Starszy czy młodszy,
chłopak czy dziewczyna

Hej , hej bawmy się,
hej, hej śmiejmy się
Hej , hej bawmy się,
hej, hej śmiejmy się

A kiedy, a kiedy
e quando, e quando

z Polski wyjechałeś gdzieś
da Polônia viajas para qualquer lugar

To nawet po latach
e isto até mesmo depois de anos

my rozpoznamy się
nós nos reconhecemos

Bo wszyscy Polacy
to jedna rodzina
Starszy czy młodszy,
chłopak czy dziewczyna
Bo wszyscy Polacy
to jedna rodzina
Starszy czy młodszy,
chłopak czy dziewczyna.

Hej , hej bawmy się,
hej, hej śmiejmy się
Hej , hej bawmy się,
hej, hej śmiejmy się

Corredor de sal em Wielicka

Foto: Ulisses Iarochinski

Não, não é uma foto de neve... Não! Esta é uma das tantas galerias na mina de sal de Wielicka, nos arredores de Cracóvia. Considerada patrimônio da humanidade pela Unesco, desde 1978, a mina produziu sal por mais de 700 anos. Hoje serve apenas como local turístico, não porque o sal acabou, mas por ter sido enserida na lista do organismo da ONU. Mesmo porque, o sal este continua ser explorado a 20 km de distância em uma mina vizinha, em Bochnia.
Uma das atrações turísticas mais visitadas dos arredores de Cracóvia, a mina de sal, recebeu 2006, 1 milhão 65 mil e 857 pessoas, destes 58% estrangeiros. Entre os estrangeitos, os britãnicos com mais de 57 mil foram os que mais visitaram seguidos do alemães com mais 50 mil turistas
A rota turística dentro destes tuneis e galerias de sal tem cerca de 3 km. São 20 câmeras entre 64 a 135 metros de profundidade. O passeio dura cerca de duas horas. Mas a mina é maior que o percurso visitado. Depois de séculos de exploração ela tem aproximadamente 10 km de extensão, 600 a 1500 m de largura e cerca de 400 m de expessura.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Nova empresa na reforma do estádio

Foto: divulgação do clube

A empresa construtora que estava reformando o estádio do clube Wisła Kraków será substituída. O Departamento de Serviços Públicos confirmou decisão do poder municipal de Cracóvia, o qual determinou leilão para construir a nova tribuna (arquibancada) leste do estádio do Wisła Kraków beneficiando a empresa Polimex-Mostostal. Na segunda-feira próxima será assinado o contrato.
A reconstrução do estádio é respondabilidade do Departamento de Infraestrutura Comunitária e Transportes. Primeiro cancelou uma de reformar a arquibancada leste e em segundo lugar, por ter apresentado um preço melhor, escolheu como executor da obra a empresa Polimex. A firma ofereceu o preço em 144 milhões de złotych. Esta decisão condenou a Budimex-Dromex, a qual neste momento trabalha na construção das arquibancadas Norte e Sul. O protesto do Dept. Serviços Públicos foi abandonado na sexta-feira à tarde. "Na segunda-feira assinamos o contrato com a Polimex. E logo na quarta-feira decidiremos sobre o leilão público para a segunda arquibancada", confirmou Jacek Bartlewicz, porta-voz do ZIKiT (departamento de infraestutura). A oferta de preços mais barata no segundo leilão também foi apresentada pela Polimex. Se esta oferta também estiver dentro das condições, também deverá reconstruir a arquibanda oeste.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Casas do Bosque do Papa recuperadas

Foto: FCC

Tratadas e recuperadas da infestação de cupins, as casas do Memorial Polaco, no Bosque do Papa, em Curitiba começaram a ser remontadas. Equipes contratadas pela Prefeitura estão terminando a instalação da Capela Nossa Senhora da Częstochowa, a santa padroeira da Polônia. Na segunda-feira, dia 26, começa a montagem da Casa Furman, outra edificação recuperada.
As duas casas de pioneiros polacos no Paraná, foram desmontadas em dezembro último pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente para que pudessem ser recuperadas, pois o patrimônio estava ameaçado por infestação dos insetos "cupins". Todo o trabalho de desmontagem, tratamento e remontagem têm acompanhamento de um arquiteto especialista em patrimônio histórico. "É um método tradicional e fora do convencional, por isso o trabalho é diferente", diz o diretor de Parques e Praças, Sérgio Tocchio.
Composto por sete casas de troncos de pinheiro encaixados, o Memorial é reconstitui o ambiente viviam os imigrantes polacos que começaram a chegar em Curitiba em 1871 e foram trazidas de colônias ao redor de Curitiba, logo que o Bosque foi aberto, em 1980, após a vinda do Papa João Paulo II a Curitiba. A capela que foi tratada e está sendo remontada acolheu sua Santidade, no gramado do Estádio Couto Pereira, de propriedade do Coritiba FootBall Club, perante mais de 50 mil pessoas.
As equipes de restauro trabalharam no telhado e no piso. A madeira recebeu aplicações de produtos preventivos para evitar novos ataques das pragas. Alguns troncos muito comprometidos foram substituídos por madeira nova. O telhado de barro também foi trocado. Os objetos que estavam dentro das casas foram recolhidos e estão sob os cuidados da Fundação Cultural de Curitiba. Os objetos voltarão após a remontagem das casas. O trabalho de recuperação e tratamento será feito gradativamente em todas edificações que compõem o Memorial Polaco.
O Bosque do Papa abriga anualmente as festas culturais da tradição polaca, como a Święconka (Benção dos Alimentos), no Sábado de Aleluia, e a festa da Nossa Senhora da Czestochowa, em agosto. Ambas as festas faz parte do calendário cultural e de eventos oficial do Estado do Paraná.

P.S. texto publicado no sitio do Jornal "O Estado do Paraná", ao qual acrescentei algumas alterações.
P.S.2 O modelo do Memorial de Curitiba é o mesmo dos "Skansen",  museus étnicos ao ar livre, presentes em algumas regiões da Polônia. O de Nowy Sącz e o de Lublin se parecem muito com o do Bosque do Papa de Curitiba. Como mostro nesta foto abaixo, feita durante uma de minhas visitas.

Skansen de Nowy Sącz - Foto: Ulisses Iarochinski


Interior das casas do Skansen de Nowy Sącz, com destaque para o forno-fogão-aquecedor.
Foto: Ulisses Iarochinski

Nowa Huta faz 60 anos

Nowa Huta

A cidade projetada pelos comunistas nos arredores de Cracóvia está fazendo 60 anos. Nowa Huta, hoje um bairro de Cracóvia, está organizando as festividades, mas ainda faltam 500 mil złotych (cotação= 1 dólar/3,27 zl). Semana que vem acontece de tudo ali, inclusive congressos de partidos políticos. Mas a idéia é festejar com cultura e esporte.
A idéia inicial era um grande espetáculo de estrelas internacionais, mas o dinheiro arrecadado até aqui, foi pouco e assim acontecerá apenas o "koncert dla Nowej Huty" (Concerto para Nova Houta) com alguns artistas polacos. O espetáculo está sendo organizado pelo Krakowskie Biuro Festiwalowe (escritório dos festivais de Cracóvia), que trabalha com 300 mil złotych para a festa musical. Ainda não está confirmado, mas a estrela deverá ser o roqueiro Kazik, líder do grupo Kult (alguns anos atrás eles estiveram em Curitiba e Ponta Grossa, onde fizeram 5 espetáculo).
A festa cultural, no total, conseguiu reunir 1 milhão e 725 mil złotych. No Teatro do Povo deverá acontecer espetáculos de teatro e dança, segundo o diretor do teatro Jacek Strama.Mas ainda não foi divulgado quem vai se apresentar. 
Para a festa esportiva restou 190 mil złotych e são justamente para os jogos e corridas que faltam ainda os 500 mil. "Estamos procurando patrocinadores, apesar de saber que pode parecer um pouco tarde, mas temos interessantes propostas e veremos o que podemos conseguir", disse um dos organizadores Włodzimierz Pietrus.

Cidade-Bairro


Avenida Central de Nova Huta

Nowa Huta é o bairro mais a Leste da cidade de Cracóvia e no qual vivem mais de 200.000 habitantes, certamente a área mais populosa da cidade.
Descobertas arqueológicas demonstram que a área vem sendo habitada desde o período neolítico, tendo sido encontrado vestígios dos Celtas no local. Uma aldeia teria sido erguida pelos vistulianos (tribo às margens do rio Vístula) nos anos 700. De acordo com uma lenda bastante popular, a tumba da princesa Wanda, filha do rei Krak - o mítico fundador de Cracóvia foi eregida onde hoje está a cidade comunista de Nowa Huta.
Antes da Segunda Guerra Mundial estava localizado ali um dos mais antigos campos de aviação da Europa, o Aeroporto Kraków-Rakowice-Czyżyny, hoje utilizado pelo Museu da Aviação Polaco.
Depois da implantação da República Popular da Polônia no fim dos anos 40, as autoridades comunistas encontraram forte resistência da classe média da cidade em seus planos de construir nos arredores da histórica e cultural cidade um distrito industrial. Foi organizado um referendo popular e o resultado foi embaraçoso para os comunistas, os "cultos" de Cracóvia simplesmente não queriam operários à sua volta. Mas estava decidido, Cracóvia teria sua classe operária também.
A construção de Nowa Huta começou em 1949, como uma cidade separada de Cracóvia, numa área desapropriada pelo governo comunista nas vilas de Mogiła, Pleszów e Krzesławice. Planejada arquitetonicamente e urbanisticamente segundo os princípios comunistas, Nowa Huta, muito deve ter ensinado a Oscar Niemayer e Lúcio Costa quando dos projetos de Brasília. Pois, andar pelas longas avenidas de Nowa Huta é quase tão parecido quanto passear pelos "eixões" da capital brasileira.
Em 1951, a cidade dos operários, foi ligada ao centro histórico de Cracóvia por uma linha de bonde elétrico e até hoje a linha 1 do "Tramwaj" conecta o bairro do Salwator, em Cracóvia, com Howa Huta.
Em 22 de julho de 1954 a Fábrica de Aços Vladimir Lenin foi inaugurada e em menos de 20 anos se tornou a maior produtora de aço laminado da Polônia. Com a abertura da fábrica e de outras, como a maior fábrica de tabaco da Polônia, ao redor dos edifícios residenciais, milhares de polacos vieram ocupar os apartamentos, que mais tarde seriam denominados no Brasil de condomínios. O interessante é que a ditadura militar brasileira inimiga do comunismo incentivou muito a construção deste tipo de apartamento, no período do "Brasil, ame-o ou deixe-o".
A arquitetura monumental da Praça Central (Plac Centralny) com os blocos de apartamentos ao seu redor se tornou símbolo e ícone de muitos arquitetos ao redor do mundo e no Brasil seus maiores divulgadores foram justamente Niemayer e Costa. 
Em 1970, a produção de aço chegou a 7 milhões de toneladas por ano. Foi aberta então uma grande fábrica de cimento e o regime parecia satisfeito com a condução de seus planos.
As razões para a construção do distrito industrial nas proximidades de Cracóvia foram mais de ordem ideológica do que econômica. Isto porque o carvão mineral vinha da Silésia e o ferro da União Soviética. Quando a crise atingiu o país nos anos 80 ficou bastante visível a inviabilidade econômica de se produzir tanto num local onde faltava matéria prima.
A cidade comunista era atéia e portanto nada de religião deveria ser assentado nela. Mas o então bispo Karol Wojtyła, junto com os operários e enfrentando o poder de polícia do regime comunista conseguiu, em 1966, construir a igreja chamada Arca de Deus. A igreja contudo só foi consagrada em 1977. Wojtyła depois de eleito Papa, quis visitar Nowa Huta durante sua primeira perigrinação à Pátria, em 1978, mas os comunistas não permitiram.


Maquete de Nowa Huta

A doutrina do realismo socialista na Polônia teve um esforço bastante grande entre os anos de 1949 a 1956 para se impor. Embora se preocupasse com todas as áreas culturais e artísticas, a arquitetura teve um desenvolvimento muito maior. As principais linhas desta tendência foram precisamente indicadas no Conselho Nacional do Partido dos Arquitetos em 1949. Arquitetura tinha um importante papel a jogar nesta nova ordem social. Os arquitetos polacos visitaram Estocolmo para aprender sobre novas soluções de design urbanístico, onde os blocos estavam sendo construídos segundo as diretrizes de Le Corbusier.
Não foi só o comunismo que caiu em 1989, também a estátua de Vladimir Lenin, na avenida central, foi ao chão. As antigas avenidas com nomes de Lenin e Revolução Cubana tiveram seus nomes trocados para João Paulo II e pelo do líder polaco exilado Władysław Anders. Em 2004, a Plac Centralny, onde existiu a estátua de Lenin foi renominada como Ronald Reagan Central Square, mas a decisão enfrentou muitos protestos e o nome tradicional permanece até hoje.
O filme de Andrzej Wajda, "O homem de Mármore" foi baseado em Nowa Huta e as crônicas reais da vida dos operários que construíram a cidade socialista.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Poznań preocupada com Cracóvia

Lotnisko=aeroporto

"Chorzów e Cracóvia lutam para serem escolhidas para organizar a Euro2012. Se isto acontecer provavelmente Poznań pode ficar de fora dos jogos. Precisamos trabalhar. Como? Vamos discutir a respeito na próxima segunda-feira no Gazeta Cafe."
Foi esta a chamada do jornal "Gazeta Wyborcza" de hoje, na edição local da cidade de Poznań. A chegada dos delegados da UEFA a Cracóvia nesta semana, acendeu a luz amarela entre os poznanianos. Ao saberem que os emissários da Confederação Europeia já teria, inclusive, escolhido hotéis em Cracóvia, sobressaltou os organizadores da cidade sede (titular até aqui) dos jogos da Eurocopa de 2012.
A matéria do jornal diz que as duas cidades do Sul, Chorzów (ao lado de Katowice) na Silésia e Cracóvia na Małopolska fizeram ontem, à noite, em Bruxelas, uma apresentação dos que estão preparando para serem sede do campeonato de seleções de futebol em 2012. As duas cidades até aqui são consideradas reservas e são as duas, neste momento, mais adiantadas no cumprimento das exigências da Uefa.
As quatro cidades polacas titulares Varsóvia, Gdańsk, Poznań e Wrocław estão tendo vários problemas, a começar pela construção de seus estádios. Chorzów, possui o maior estádio da Polônia, onde justamente a seleção costuma realizar suas partidas nas eliminatórias da Copa do Mundo e mesmo das últimas Eurocopas. O estádio está sendo adequado às exigências e em breve ficará pronto. Já em Cracóvia, além da rede hoteleira, aeroporto, o estádio do Wisła Kraków dentro de alguns meses também ficará pronto. 
A edição do jornal se pergunta, "qual é o milagre? Cracóvia está com a reforma de seus estádio bastante adiantado e a infraestrura e aeroporto da capital da Pequena Polônia é muito melhor do que Poznań". 
E depois de tecer uma série de comentários convida o público e interessados para o encontro no Gazeta Cafe com o prefeito da cidade Ryszard Grobelny, o membro da Federação Polaca de Futebol - PZPN, Stefan Antkowiak, o vicepresidente da comissão Euro Poznań 2012 Michał Prymas, e os deputados Waldy Dzikowski (PO), Jan Filip Libicki (PiS) e ex-ministra de esportes Krystyna Łybacka (SLD). O encontro começa às 17:00 horas no Gazeta Cafe na ul. 27 Grudnia 3.

Gaúcho expõe em Varsóvia

Carroção, carregado com fumo. Uma das principais fontes de renda dos pequenos agricultores. Munícipio: Santo Antônio do Palma. Localidade: Santa Ana. Data: 22.01.2007. - 
Foto: Tadeu Vilani

A exposição "Retalhos do Além-Mar, A Saga dos Poloneses no Novo Mundo", será aberta hoje, em Varsóvia, no Ministério de Esporte e Turismo da Polônia, na ulica Senatorska 14. A mostra ficará aberta até 30 abril. Na "vernisage" haverá também o lançamento de um livro catálogo da mostra fotográfica, nos idiomas português e polaco.
A mostra é uma seleção de trabalhos do fotógrafo gaúcho Tadeu Vilani e resultado de suas andanças pelo universo dos descendentes de polacos na região das Missões, no Rio Grande do Sul. 
Vilani deu inicio a sua jornada de trabalho com os polacos brasileiros em 1996, quando ainda trabalhava no jornal "Zero Hora" sucursal de Santo Ângelo. 
Tadeu cobriu várias reportagens nesta época nas colônias polacas na região das Missões, principalmente na cidade Guarani das Missões. Assim, ao longo do tempo o artista conta que foi fotografando os descendentes de imigrantes polacos, principalmente a forma como viviam os pequenos produtores rurais, o cultivo da produção agrícola, a gastronomia, a religiosidade etc.
A exposição que chegou a Polônia já aconteceu 2005, quando se comemorou os 130 anos da imigração polaca no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre e outras cidades daquele Estado. A exposição em Varsóvia conta com o apoio do Muzeum Historii Polskiego Ruchu Ludowego e Cesla - Centro de Estudos Ibéricos e Iberoamericanos da Universidade de Varsóvia. 
Maiores informações em idioma polaco podem ser obtidas no sitio do museu em http://www.mhprl.pl e no Cesla da UW.
Algumas das fotos podem ser vistas no blog do fotógrado em

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Cracóvia mais perto da Euro2012

O maior shopping center da Europa vai abrigar ainda mais dois hotéis.

Apesar não estar entre as 4 cidades polacas sedes do campeonato de futebol de seleções europeias de 2012 - o Euro2012, Cracóvia está cada vez mais perto de deixar a condição de cidade reserva e ser definitivamente titular.
A UEFA está neste momento acertando com um hotel standard e conta o número de quartos disponíveis para abrigar seu pessoal em Cracóvia durante a Eurocopa. Sinal de que Cracóvia com seus mais de 30 mil lugares para hospedagem e a permissão da justiça para se construir mais 17 hotéis na cidade está praticamente eleita. São dois novos edifícios junto a Galeria Krakowska ( o maior shopping center da Europa), três próximos ao Rondo Grunwaldzki e dois na ulica Reymonta (no terreno do Wisła). Além da infraestrutura o estádio do Wisła Kraków é o que está mais adiantado no cronograma de construção. Falta pouco, apenas finalizar um dos lados que fechará o quadrado de arquibancadas da arena projetada para 40 mil lugares.
segundo Janusz Piechociński, vice-chefe da comissão de infrastrutura da prefeitura, a cidade está muito mais servida em todos os quesitos que Poznan. Neste fim de semana, uma grupo de delegados da UEFA visitam uma vez mais Cracóvia. Os delegados já estiveram em Poznań e Wrocław, e verificaram justamente o quesito hospedagem e as facilidades de transporte como aeroporto (em Cracóvia fica a 15 minutos do centro) trens e transporte coletivo. O mais certo é que antes os delegados da Uefa visitassem Gdańsk e Varsóvia as outras duas cidades titulares.
Na lista da UEFA foram colocados três hoteis: Sympozjum, Crown Piast e Best Western Premier. A decisão final sobre as cidades polacas e ucranianas para sediarem a Euro2012 será em 15 de maio próximo.

Montanhas mais baratas para esquiar

Albergue "Schronisko Śląski Dom" em Równi pod Śnieżką - Foto: Jerzy Sadownik

Com os preços cada vez mais altos nos centros de esqui da Polônia como Zakopane e Szczyrk, os polacos estão procurando outras montanhas no sul do país.
O albergue da foto fica na região da Silésia, nas Montanhas Izerski, onde os preços são bem mais acessíveis. A diária, por exemplo, é de 30 złotych e tem a vantagem de já se estar praticamente na pista de esquiar. Além do que oferece uma sopa muito boa acompanhada de nalaśniki (panqueca doce) de amoras.
Schronisko (srrronisco - Albergue) da foto foi construido nos anos 20, em cima das fundações de um casa de 1847. Além de histórico e todo em madeira, está localizado num local de maravilhoso panorama, na região de Karkonoszy, Kotły Wielki e Mały Staw e das regiões tchecas de Studniczne Hory e Kozi Hrbety.

Justiça acéfala na Polônia

O já ex-ministro da Justiça Zbigniew Ćwiąkalski - Foto: Sławomir Kamiński / AG

O primeiro-ministro aceitou a demissão do ministro da Justiça Zbigniew Ćwiąkalski e perdeu na sequência também o vice-ministro, o promotor da República e o diretor geral do departamento de penitenciárias. A decisão de demitir o ministro da justiça aconteceu ontem de manhã, depois de algumas horas de reunião do primeiro-ministro com seus conselheiros.
A demissão do ministro está diretamente ligada ao suicida Robert Pazik, um dos assassinos de Krzysztof Olewnik. Enforcou-se segunda-feira no departamento penal de Płock. Este foi já o terceiro suicidio ocorrido em relação a aquele crime.
"Políticos devem saber quando sair. Até mesmo quando o respondente não tenha cometido erro", afirmou o ministro demissionário. Ćwiąkalski acrescentou que no caso Olewnik não tem nenhuma culpa. Ao mesmo que o ministro saía, a viceministra Mariana Cichosza, o promotor da República, Marek Staszak e alguns funcionários do Departamento de Penitenciárias junto com seu diretor geral Jacek Pomiankiewicz pediam demissão também.
"Não posso aceitar desistências, desleixo e fraqueza do pessoal da penitenciária, que respondem por este suicidio", explicou sobre sua decisão o chefe de governo Donald Tusk.
A equipe do primeiro-ministro ainda na noite de ontem procurava encontrar um substituto para Ćwiąkalski. As especulações são de que poderiam ser escolhidos o prof. Andrzej Zoll, ou Marek Safjan, ex-presidente do Tribunal Constitucional.
Para os especialistas a demissão do ministro da justiça é um erro. Segundo o prof. Zbigniew Hołda, chefe da seção Direito e Política Penitenciáia da Universidade Iaguielônia, "a demissão do ministro é um erro inaceitável". E acrescentou que suicidios acontecem nas prisões e nem por isto é necessário demitir os funcionários das penitenciárias "e muito menos o ministro". 
Também o prof. Andrzej Zoll se manifestou dizendo que, "esta decisão é um erro bastante importante. E foi causado apenas como efeito dos cínicos ataques da oposição, principalmente de Jarosław Kaczyński, ao desempenho do ministro Ćwiąkalski". 

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Cracóvia: sempre algo mais a dizer

Rynek de Cracóvia às 17 horas - Foto: Ulisses Iarochinski

Cracóvia (em idioma polaco Kraków) localiza-se no sul do país, nas margens do rio Vístula. Possui uma população de 756.336 habitantes, segundo estimativa de 2007. É capital da Voivodia (divisão administrativa equiparada a Estado) da Małopolska (Pequena Polônia). 
Tem uma área de 327 km2 (126.3 m²) e está a 219 metros de altitude. Possui temperaturas médias no verão de 17 °C a 29 °C e de 0 °C a 20º C negativos no inverno. Normalmente de 23 a 58 dias por ano a cidade convive com temperaturas muito baixas, em torno de 15ºC negativos. 
A cidade é dividida em 18 bairros, incluindo o centro histórico. Com 7 universidades a cidade possui 170 mil estudantes universitários.
É cidade parceira de outras 31 cidades ao redor do mundo, sendo que Curitiba, no Paraná, é considerada cidade-gêmea de honra. 
É servida por um sistema de transporte que inclui ônibus e bondes elétricos. Ligada internacionalmente por trens de passageiros e pelo Aeroporto Internacional Papa João Paulo II (voos diretos para Tel Aviv, Chicago, Nova Iorque, Dublin, Munique, Viena, Londres, Paris e Barcelona, entre outras).

Curitiba a 11.500 km de Cracóvia - Foto: Ulisses Iarochinski

O nome Kraków é derivado de Krakus (ou Krak), legendário fundador da cidade e chefe tribal dos Lechitians (o povo de Lech, um dos três irmãos da lenda que formou o povo Polaco). Outra origem seria em função da palavra protoeslava Krak que significava pessoa do juiz, além da associação com palavra krak que significava a árvore carvalho.
A primeira menção sobre o Príncipe Krakus data de 1190. Mas ninguém tem provas de que ele realmente existiu, bem como sua filha Wanda e o dragão de Wawel. Tudo seria lenda.
A cidade, contudo, foi fundada por volta do ano 700 e habitada nesta época pela tribo dos vistulanos, embora descobertas arqueológicas comprovem já existir povoamento no local há mais de 5 mil anos. 
Foi capital da Polônia entre 1038 a 1596. Em 1257, baseado na lei de Magdeburg, foi elevada a categoria de cidade podendo exercer os benefícios de imposto e privilégios de comércio para seus cidadãos. Foi atacada e devastada pelos tártaros (mongóis) nos anos de 1241, 1259 e 1287. Invadida e ocupada pelo Império Habsburgo fez parte da Áustria, com o nome de Krakau entre 1795 e 1809 e mais tarde de1846 a 1914. Neste intervalo, Napoleão Bonaparte, em 1809 capturou territórios polacos dos austríacos e separou a cidade do Ducado de Varsóvia, independente, 
entretanto subordinando o estado polaco ao Rei da Saxônia, Frederick Augustus I. Com a derrota de Napoleão na Rússia, o Congresso de Viena restabeleceu seu poderio sobre a cidade, em 1815, porém com o status de cidade livre. Em 1846 estourou a Insurreição de Cracóvia, imediatamente reprimida pelos austríacos e assim ela voltou a ser anexada ao Império Austro-húngaro como sede do Grande Ducado de Cracóvia sob tutela dos Habsburgos.
O centro histórico de Cracóvia junto com o bairro do Kazimierz e colina de Wawel foram inscritos pela UNESCO, em 1978, na lista do Patrimônio Mundial. 

Uma nova Plac Nowy?

Foto: Grazyna Makara / AG

Como deveria ser a Plac Nowy, no centro do bairro do Kazimierz? Com mais flores e verduras? Ou com um jardim cheios de mesinhas para a se tomar café, ou uma boa cerveja polaca?
A prefeitura está preparando um concurso para modernizar a praça do comércio do bairro judeu do Kazimierz. Alguns moradores do bairro já se adiantaram e trouxeram George Nicholson, membro do conselho do mercado londrino para discutir as mudanças e aproximá-lo do formato do mais antigo mercado de Londres, o Borough Market.
A prefeitura embora deseje modernizar a praça já designou o artista plático e membro do departamento de conservação da cidade e da voivodia, Jacek Stokłosa para coordenar os trabalhos.
Seja como for, cada vez mais o bairro como um todo se volta para o turismo e com certeza, turista não vai ali para comprar alface ou um quilo de tomate. As discussões se alguns setores da cidade, após o anúncio da prefeitura, defendem a permanência da feira-livre com a colocação de alguns serviços e estabelecimentos como farmácia e padaria 24 horas.
A idéia de alguns moradores de transformar a praça em algo parecido com o Borough Market também compromete a idéia de que o Kazimierz cada vez mais se aproxima do Soho e não do Borough, mais do Village do que do Chinatown e muito mais do Quartier Latin do que um centro de verdureiros. Embora tenha que se pensar nos moradores, servir apenas a eles é um contrassenso para quem está gastando milhões em promoção turística da cidade em redes mundiais como a BBC e a CNN.